Cap.11
- Como e ? - ele me olhou incrédulo, e aos poucos foi se separando - você tem AIDS ? Você já transou ? Você... - eu já ia tentar explicar, mas ele saiu correndo. Eu não iria atrás, pois não tinha condições. De cara não entendi porquê tanta raiva. Mesmo se eu tivesse contraído com o sexo, qual o problema de eu ficar com outra pessoa ?
TEMPO DEPOIS
O sol se pôs, a escuridão tomou conta do céu, e eu continuava cheio de dúvidas em relação a aquela visita do Pedro. Ele havia dito umas coisas... O que será que se passava dentro dele naquele momento ?
"... De início eu estava com os pensamentos todos embaralhados, ainda estou, mas vejo que foi um erro ter me separado de alguém que sempre me fez tão bem, de forma tão brusca. Você não merece isso..."
Será se seria ilusão imaginar que talvez uma relação entre nós não esteja tão longe assim.
" Ele sente algo por você - disse Michel"
Será se era uma hipótese impossível ? Em que eu devia acreditar ? Como solucionar as dúvidas ? Eu não sabia como...
TEMPO DEPOIS
No dia seguinte acordei um pouco mais cedo que o normal. Me espreguicei, estava me sentindo um pouco melhor. A tosse havia diminuído, parece que o tratamento estava fazendo efeito. Caminhei até a janela e vi aquela linda imagem que se vê quando o Sol acaba de nascer, no céu. Nada mais revigorante para começar o dia. Caminhei até o banheiro, liguei o aquecedor da água. Fiz todas as minhas necessidades, tirei a barba. Tomei um bom banho para animar. Vesti apenas uma cueca e coloquei a toalha na cintura como forma de me cobrir até que eu pudesse chegar ao quarto. Quando sai do banheiro, a surpresa. Pedro acabara de entrar em meu quarto.
- Pedro ? - minha primeira reação foi voltar para o banheiro, pois estava quase nu. Mas não adiantou de nada, ele já havia visto. Só me restou corar.
- Atrapalho ? - perguntou, erguendo a cabeça e me olhando nos olhos.
- Não, eu só estava tomando banho... - baixou a cabeça, respirou fundo. Eu acompanhava cada movimento que ele fazia, buscando não perder nenhum momento da sua estada na minha casa.
- Me desculpa, de novo ?
- Pelo que ?
- Por ter fugido. É que é muito estranho para mim saber que você já transou e eu não, não parece mais o garoto inocente e doce que eu conheço... - eu ri.
- Eu não transei...
- Não ? Mas como contraiu essa doença então ? Agulhas ?
- Não... Quem transou foi a minha mãe... E ela me passou de forma hereditária o vírus. E eu acabei desenvolvendo a doença já na adolescência.
- Sério ?
- Humrum. Eu tenho AIDS por causa dela. Mas não a culpo, ela era muito inocente na época, muito leiga, e meu pai não era alguém legal... - ele acabou sorrindo quando eu terminei de falar aquilo.
- Por um momento fiquei triste...
- Porquê ?
- Sei lá... Você parece uma coisa tão frágil, que precisa ser cuidada tão bem, eu não consigo te imaginar fazendo isso com alguém.
- Eu entendo... - falou. Visivelmente os dois estavam nervosos, e envergonhados com sempre ficávamos quando estávamos perto um do outro - vira de costas ?
- Para que ?
- Para que eu possa me trocar. Ou quer ver ?
- Eu posso ? - ri.
- Não, eu tenho vergonha - tá bom - ele virou de costas e durante alguns segundos eu permanecia olhando para o seu rosto - eu estou vendo você olhar !
- Desculpa - dizia ele, virando o rosto novamente. Até que me descuidei, enquanto eu procurava uma camisa para vestir. Não demorou muito e eu Achei uma. Quando terminei de me vestir, olhei pelo espelho e percebi que ele me olhava atentamente, com os olhos brilhando e uma cara de cachorro apaixonado...
- Pedro ?! - ele ruborizou quando escutou eu falar.
- Ah, desculpa... É que eu... Você... - era engraçado e fofo ao mesmo tempo ver ele se atrapalhar ao falar. Assim que terminei de me vestir, peguei o desodorante e começei a espirrar em sua direção - não ! EI... - como nos velhos tempos, voltavamos a nos divertir juntos. E subimos na cama, descemos, até que ele decidiu sair do quarto. Travava uma espécie de luta comigo, tentando tirar o desodorante das minhas mãos, quando nem ele, nem eu vimos uma caixa super pesada jogada no chão. Tropeçou, caiu e acabou me puxando junto para o chão. Quando abrimos os olhos juntos, a surpresa. Um em cima do outro. Olhos colados, um sentindo a reputação do outro.
- Vai continuar sendo meu amigo mesmo eu tendo AIDS ? - perguntei, fazendo ele revirar os olhos.
- Eu não consegui terminar o que eu tinha para dizer ontem. Você e muito importante para mim e... Eu não consigo viver sem você. Eu sei que não é o normal para os outros, mas... Algo além de amizade está surgindo dentro de mim... Por você...
Continua
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