Olá!! Obrigado pelos comentários e agradeço a todos que estão lendo, obrigado mesmo. Espero que estejam gostando...abraços!!
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Pela manhã acordei e tomei um banho, havia suado a noite toda e não podia sair daquele jeito. Fui até a cozinha e tomei um copo de suco. Meu pai ainda não havia levantado e fui até seu quarto pra saber se ele ainda dormia. Abri a porta devagar e ele lia o jornal. Dei bom dia e ele perguntou onde eu ia.
— na feira. Esqueceu que vou a feira aos sábados?
— verdade. Quer que eu te leve?
— não, eu queria te pedir uma coisa.
— peça...
— como o senhor tem plantão hoje no hospital, tudo bem se eu passar o dia na casa do Cleyton?
— sente aqui...
— o que foi?
— o que aconteceu com seus amigo? A Nanda e o Luís, faz um tempo que você não sai com eles. Eu só vejo você com o Cleyton.
— eles estão namorando e não sair com eles e dar uma de vela, capaz. Eu não estou entendo, qual o problema da gente estar saindo juntos? O senhor disse que ele parecia uma pessoa legal...
— Lucas, lembra daquela conversa que tivemos uma vez?
— pai...por favor, agora não.
— filho, eu não sou bobo. Eu percebo as coisas, o jeito que fica quando está com ele, a forma como você falou do quanto maravilhoso foi seu dia e não foi só o almoço com todas aquelas batatas que colocaram um sorriso do tamanho do mundo na sua cara.
— eu não estou preparado pra falar disso agora, mas independente do que eu te responder, eu sei que o senhor vai me entender e dizer que sou seu filho e que me ama, mas eu preciso organizar meus pensamentos, sabe?
— de qualquer forma, eu me preocupo com vocês. Vocês estão se protegendo?
— meu Deus pai... nem nos beijamos ainda.
— mas vão e depois tem o sexo e....
— pai! Por favor, não da pra gente falar sobre isso uma outra hora? Que conversa mais sinistra. Olha, se o senhor preferir, eu ligo pra ele e digo não vou mais.
— não precisa fazer isso. Eu só queria entender o que está se passando nesse coração.
— nem eu sei direito, pai. Eu não vou mentir, a gente está em outra sintonia, tipo, não é só amizade, mas eu sinto que ele não quer forçar nada antes de ter certeza se eu quero também ... pai, o senhor sente vergonha de mim?
— não, eu não sinto. Quando você tinha treze anos e me disse que achava que era gay por achar os homens bonitos, lembra o que te falei?
— lembro. Que se e um dia eu viesse a ter certeza o senhor seria o primeiro a saber. Disse que me amava independente de qualquer coisa.
— então... a gente vai conversar, os três, não abro mão de falar com os pais dele também, caso vocês começam a namorar. Eu sou seu pai e me preocupo.
— tudo bem pai. Posso ficar com ele hoje?
— vá! Você iria ficar sozinho em casa mesmo. Se comporte. — ele disse rindo.
— tudo bem pai... — o beijei e fui saindo.
Mandei um SMS pro Cleyton dizendo que não ia demorar. Ele respondeu dizendo que já estava lá me esperando. Troquei rapidamente de roupa e me despedi de meu pai. Ele estava calmo, mas eu estava nervoso só de ter a tal conversa com a família toda reunida. Por que tudo isso?
Cheguei à feira e fiquei procurando por ele. Olhei por todos os lados e nada. De repente tudo ficou escuro e senti o cheiro bom do perfume dele. Suas mãos postas em meus olhos como uma venda que me fez ficar imóvel por alguns segundos.
— bom dia, garoto do abraço mais gostoso do mundo. — disse e ele descobriu meus olhos.
— bom dia, garoto do abraço mais gostoso do mundo. Por que demorou tanto?
— longa história. Depois te conto, vamos comprar livros?
— vamos sim.
Olhamos vários lançamentos e eu me perdia em tantos livros. A arte da capa, o cheiro de livro novo e o prazer em ler uma boa história. Eu sabia que o Cleyton estava lá somente como coadjuvante e pouco lhe interessava os livros, mas eu comprei cerca de cinco. Ele me seguia e me mostrava alguns que pareciam ser interessantes.
— Luquinha, o que acha desse?
— tema muito apropriado.
— esse eu vou levar.
— vai?
— vou, quem sabe os dois ficam juntos no final?
— todos deveriam ter finais felizes. Vou levar um também. Quem sabe um dia eu possa escrever a nossa própria história?
— com final feliz...
Ele me trazia segurança, vindo de alguém que até algum tempo eu não suportava, ele me acalmava e as coisas pareciam não ser tão complicadas com ele. Seu olhar, seu sorriso, tudo nele se tornou indispensável e eu definitivamente estava....ahh meu Deus!! Será?
Pedi que fôssemos até uma lanchonete no outro lado da rua. Ele pediu dois sanduíches de peito de peru e suco. As vezes eu sentia uma vontade imensa de beijar ele ali mesmo e o modo como ele me olhava me fascinava.
— com tantos livros, como você vai ter tempo pra gente? — ele disse e eu caí na gargalhada.
— não se preocupe, a gente vai ter tempo de sobra.
— quero só ver. Me diz porque você demorou tanto.
— meu pai, ele queria saber se a gente está transando.
— como assim? — ele quase cuspiu todo o suco.
— calma, não vá se engasgar.
— como você me fala isso desse jeito?
Contei a ele tudo que meu pai e eu conversamos e ele estava quase se escondendo embaixo da mesa. Eu ria controladamente com o jeito dele de desesperado e talvez até de medo.
— seus pais não sabem que você é? — disse.
— sim, mas...você é diferente. Se bem que vendo por outro ângulo, isso é muito bom. Eu estava já imaginando você tendo que sair comigo escondido dele e aquele medo dele descobrir tudo e te expulsar de casa e você tendo que ir morar comigo. Não que eu não queira, mas vamos com calma.
— eu não sei de onde você tira tudo isso, mas eu me divirto com o modo como você fala. Mas preste atenção, ele quer ter a conversa com seus pais, disso ele não abre mão.
— interessante. Minha mãe disse a mesma coisa.
— sua mãe?
— sim meu querido. Ela perguntou aquele dia no restaurante se a gente estava namorando e eu disse que não sabia se você sabia sobre mim, mas ela nos viu daquele jeito, eu fazendo carinho em você e você deitado no meu colo... ela viu a gente se abraçando depois e quando você foi embora disse que achou lindo e que se a gente namorasse ela queria conversar com seu pai.
— nossa, a gente nem se beijou e já estão querendo casar a gente. Em que planeta eles vivem?
— te pergunto o mesmo. Ela me deixou maluco lá em casa. Queria saber tudo sobre você e eu fugia dela. Foi uma loucura.
— nossa. Eu terminei, podemos ir?
— pra minha casa né?
— claro.
Ele quase explodiu de alegria e pediu a conta, que dividimos. Sinceramente, eu parecia estar muito controlado, mas estava em pânico. Eu não sabia como agir se ele me beijasse. Já tinha beijado uma garota, bom, eu precisava ter certeza se era gay e acabei ficando com uma amiga da Nanda e no mesmo dia eu tive certeza absoluta. Depois desse dia eu nunca mais beijei ninguém, eu tinha quinze anos. Chamamos um táxi que nos deixou na casa dele. Quando chegamos a diarista já estava saindo e avisou que a mãe dele ia mandar entregar o almoço.
— pensei que ela estaria aqui, sua mãe.
— ela chega depois do almoço. Tem medo de que?
— de nada, só pensei que ela estaria aqui.
— vem comigo... — ele me puxou pela mão me levando até seu quarto.
A casa era enorme e eu me perdia facilmente dentro dela. Seu quarto não era muito diferente do meu, muitos CDs, notebook, computador, poucos livros, comparado aos meus, uma cama de casal, escrivaninha e um closet que dava dois do meu. O ruim de apartamento é que mesmo que ele pareça ser maior que os outros, sempre acaba sendo menor que uma casa. Ele ligou a TV e deixei minhas coisas numa poltrona perto da janela. Me sentei na beira da cama e ele disse pra eu me deitar, se eu quisesse.
— vou trocar de roupa.
— tudo bem. Se importa se eu me trocar aqui também? Trouxe na mochila.
— não, fique a vontade.
Tranquei a porta e ele foi até o closet. Coloquei uma camiseta e um shorts mais folgado e chinelos. Ele voltou e estava de shorts sem camisa. Não me contive e fui em sua direção. Antes que chegasse mais perto fui recebido por ele de braços abertos. Meu corpo se uniu ao dele e eu senti tanta falta daquele abraço que o apertava com força.
— saudade de você. — disse.
— pensei que não fosse te ver hoje, nunca mais se atrase, nunca mais.
Ele beijou meu pescoço e eu me entreguei por completo. Sua mão procurava minha nuca e seus dedos entraram em meu cabelo me segurando firme. Nos olhamos e sua boca desejava a minha tanto quanto a minha desejava a dele. Devagar ele me deitou na cama e se pôs ao meu lado. Chegando mais perto e entrelaçando seus dedos nos meus ele me beijou. Meu mundo parou. Seus labios passeavam livremente entre minha boca e meu pescoço, do mesmo modo que a minha a seguia. Eu estava eufórico e ele tentava me acalmar.
— desde quando você gosta de mim? — disse e ele sorriu.
— já disse, desde o primeiro dia que te vi. Eu entrei na sala e você conversava com a Nanda. Eu esbarrei em você e não pedi desculpas. Eu estava tão nervoso e você me olhou como se quisesse me matar, mas você veio até mim e perguntou de onde eu era...
— você respondeu e eu disse " legal" e saí.
— você lembra?
— lembro.
— e você, desde quando gosta de mim?
— desde o dia que você me encontrou atrás da arquibancada e foi lá em casa. Desde antes de ontem. — disse rindo.
— eu disse que estava mudando. Eu mudei por você. Mudei pra tentar te conquistar mesmo sabendo que podia dar em nada, mas olha a gente aqui.
— seu danado, fez tudo de caso pensado...
— falando assim até parece que sou um psicopata. — ele disse e rimos.
Nos deitamos na cama e coloquei minha cabeça em seu peito. Como ele foi capaz de me conquistar em tão pouco tempo? Eu estava envolvido demais por ele e arrisquei meus sentimentos sem medo do que ele pudesse dizer.
— eu to apaixonado por você. Digo, completamente. — disse e ele ficou em silêncio por alguns segundos.
— agora você já sabe como venho me sentindo desde o início do ano. Agora você sabe...
— e eu nunca encherguei você, como?
— e nem poderia, eu soube me esconder muito bem. Tanto que te fiz sentir raiva de mim. Me perdoe?
— esqueça isso. O importante é que estamos juntos. Sabe, nem sei como dizer isso a Nanda.
— e ao Luís também. Eles vão surtar.
— não e pra sempre, mas eu não quero que ninguém do colégio saiba. Pelo menos até a formatura.
— tudo bem, eu também não estou preparado pra tantas perguntas. Sabe o que eu quero agora? — ele disse e eu olhei pra ele sorrindo.
— nem imagino, mas vindo de você eu quero.
Ele se inclinou e me beijou. Me tomou em seus braços e devagar foi tirando minha camiseta. Suas mãos deslizavam suave e me apertavam com força. Ele veio me beijando e me deitou ficando sobre meu corpo. Senti sua mão alcançar o cordão do meu shorts e foi soltando devagar até que estava livre o suficiente pra que ele enfiasse a mão toda por dentro. Minha respiração começou a aumentar e segurei sua mão fazendo com que ele pegasse meu pênis.
Ele começou a me masturbar e instintivamente comecei a fazer o mesmo com ele. Seu pênis estava duro e foi a melhor sensação que eu já havia sentido. Tocar seu corpo e sentir ele me tocando foi intenso e excitante. Ele me beijava, eu o beijava e estava maravilhoso. Ficamos nús e nossos corpos se entrelaçaram. Fiquei por cima, ele sorria e mordia meu braço. Ele sentou e me aconcheguei em seu colo trançando minhas pernas em volta de sua cintura.
— meu beijo é bom? — perguntei e ele riu.
— é muito bom. Seu beijo, seu abraço, seu corpo, tudo em você é bom.
— você é uma graça.
— sou?
— uhum. Seria muito estranho se eu te pedisse uma coisa?
— não, o que é?
Eu pedi que ele beijasse minhas costas até ás nádegas. Vi uma vez num filme. O rapaz estava deitado de bruços entre as pernas do namorado. Assim fizemos e ele se inclinou começando a beijar meu pescoço e orelha. Desceu até as costas e vezes beijava e outra passava a língua devagar. Segurou meu quadriu e apertou forte. Empinei um pouco a bunda e ele a segurou com as duas mãos apertando e mordendo. Eu estava em transe e não queria sair dali. Sentia seus dentes cravados em mim e ele sugava dizendo que havia deixado várias marcas. Ele passou uma das mãos por baixo e segurou meu pênis e me masturbava.
Ele deu um tapa de leve na minha bunda e pediu que me sentasse. Me encostei na cabeceira e ele ficou de lado, foi descendo a cabeça devagar até meu pênis e iniciou um oral. Meu corpo se retesou e conforme ele me chupava fui relaxando. Comecei a acariciar seus cabelos, ele parou, me olhou e veio me dar um beijo.
— goza pra mim?
— gozo! Continua que está gostoso.
— safado. — disse e me beijou de novo.
Sua língua passeava pelo meu pênis e ele sugava a baba que escorria, ele lambeu os lábios saboreando meu pré-gozo e ver ele se deliciando me fez gozar.
— espirrou no seu rosto.
— vem aqui que vou te lambusar.
Eu estava fraco e ele veio pra cima de mim e esfregou o rosto dele no meu.
— ai garoto, que negócio grudento. — disse e ele me lambusava cada vez mais.
— o gosto não é tão ruim.
— não? quer mais?
— quero, mas só depois que você me fizer gozar.
Ele se levantou e ficou em pé na cama. Abri a boca e ele se abaixou um pouco e acolhi aquele pedaço de carne delicioso. Suguei a cabeça e ele gemeu baixo. Segurei sua bunda e iniciei um movimento de vai e vem. Olhei pra cima e ele acariciava seu corpo. Como ele era bonito. O cheiro de seu pênis me embriagava, tinha pêlos ralos e bem curtos, não sei bem o que senti, mas adorei sentir o cheiro de suor, me excitou. Seu pré-gozo derramava e entendi porque ele sugava tanto meu pênis, era delicioso e levemente salgado. Fiquei um bom tempo bebendo aquele mel que escorria e ele se abaixou e me beijou.
— ta gostando do melzinho?
— muito. — disse e lambi sua virilha.
— então tira mais, aperta forte que quero sentir meu mel na sua boca.
Fiz como ele disse e quando derrava eu sugava e ele me beijava. Ele disse que ia gozar e me encostei na cabeceira fechando nos olhos. Senti seu gozo quente no meu rosto e peito. Ele se deitou sobre mim e espalhou com a mão a porra que estava no meu peito. Passei o dedo no meu rosto e limpei com o dedo. Levei meu dedo até a boca e provei de seu gozo.
— o seu também não é tão ruim, gostei. — disse e provei mais um pouco e o beijei.
— verdade, o meu não é ruim.
Ele deitou ao meu lado e estava cansado assim como eu. Ficamos olhando pro teto e rindo do que havíamos acabado de fazer.
— me deu sono. — ele disse.
— eu também. Acho que está ai uma vantagem quando é dois homens. A gente deita e dorme. Se fosse com uma mulher, agora, ela ia querer conversar.
— boa observação. Se importa se eu fumar um cigarro?
— um pouco. Vai ter que perder esse péssimo vício. Eu vou deitar ai, você vai me fazer carinho até a gente dormir. — disse e ele ficou me olhando.
— jura?
— juro, chega de cigarro, você fuma demais pra sua idade. Vai, abre esses braços que vou dormir cheirando seu pescoço.
— que mandão, gostei.
Ele riu e eu me deitei colocando a cabeça em seu pescoço. Nunca me senti tão bem e confortável com uma pessoa. Contudo que eu viria enfrentar, ele me acalmava e fazia tudo parecer fácil. Ainda tinha a conversa com meu pai e eu não queria lembrar dela. Ele me abraçou e beijava meu rosto. Rapidamente dormi.
Meu sono estava calmo e parecia que não ia acordar, até que senti algo úmido em meus lábios e quando abri os olhos o Cleyton me beijava. Abracei o travesseiro não querendo levantar e ele se deitou atrás de mim e ficamos de conchinha.
— quer almoçar? — ele disse e beijou minha nuca.
— quero, mas preciso tomar um banho. Estou cheirando porra seca.
— ta mesmo, mas só um pouquinho.
— seus pais estão em casa?
— estão e minha irmã também.
— como assim irmã? Nunca me falou dela.
— ela já é casada e mora na última quadra do condomínio. Depois a gente vai lá. Ai fazemos uma caminhada e tem um bosque bem bonito com bancos e podemos ficar lá se você quiser.
— eu estou com vergonha de descer. Ainda mais que está todo mundo aí. Não sei o que vão pensar de mim.
— deixa eu ver....que você é lindo, educado, simpático, meio nerd e que gosta de mim.
— gosto mesmo. Sua irmã sabe da gente?
— claro. Quem você acha que me ajuda a convencer a mamãe quando quero alguma coisa? — ele disse e me puxou pela mão.
— hummmm, só mais um pouco.
— vem, vou te dar um banho.
— ah não, vou ficar com vergonha.
— depois do que a gente fez você vai ficar com vergonha de mim? Que isso.
— então, vai entrar comigo.
— eu entro.
Assim que ele me deu banho, trocamos de roupa e descemos. Os pais dele e irmã estavam na sala e eu de cabelo molhado. Eu fiquei imaginando o que eles estariam pensando quando o Cleyton e eu estávamos de portas fechadas no quarto. Eles me cumprimemtaram. Sinceramentre não sabia como agir. Era estranho demais e ele agindo como se fosse a coisa mais natural do mundo. Normalmente os pais vêem o filho saindo com a namorada do quarto, não com um namorado. Mas independente de qualquer coisa me trataram super bem.
Eu disse pro Cleyton que ia almoçar na cozinha mesmo. Não faria sentido porem a mesa só pra nós dois. Almoçamos e ele me chamou para caminhar pelo condomínio. Passamos pela casa da irmã dele e chegamos até o bosque que ele havia me falado. Realmente era muito bonito e tinha um pequeno lago no centro onde passava uma passarela que dava acesso a uma pequena ilha onde ficava a casa os patos. Subimos pela passarela e ficamos vendo os patos nadarem.
— quando ela volta?
— daqui dois meses. Da pra gente não falar dela?
— desculpa, é que eu vejo você quieto as vezes e acho que está pensando nela.
— as vezes penso, mas não precisa ficar preocupado por isso. Só que eu quero você comigo quando eu for falar com ela, nem que você fique de longe. Eu vou precisar muito de você. Olha eu com meus problemas, a gente mal começou a namorar e já estou te enchendo.
— não está me enchendo. Agora, eu estou meio preocupado com seu pai. Sério!
Comecei a rir e ele me olhando feito bobo. Meu pai sempre foi a melhor pessoa do mundo e mesmo sabendo sobre as duvidas que eu tinha e agora a certeza, não deixou de me apoiar e ainda tenta fazer piada da situação. Eu sei que não deve ser fácil pra ele, mas como ele mesmo disse: você é meu filho e eu te amo.
Conversamos muito sobre ele ir falar com meu pai.
Sentamos em um banco e meu celular tocou. Era a Nanda.
— oi Nandinha.
— menino...por onde você anda que ninguém mais te encontra? Está acontecendo alguma coisa contigo? Você está doente?
— não, não está acontecendo nada e não estou doente. Eu estou na casa do Cleyton.
— eu sabia! Eu falei pro Luís que você só poderia estar ai. Eu preciso te contar uma coisa.
— sobre?
— sobre esse garoto.
Pedi licença e o Cleyton disse que tudo bem. Fui até a lagoa dos patos.
— pode falar.
— Lucas, se eu fosse você se afastaria dele.
— como assim, qual o problema?
— eu tenho uma amiga no terceiro B e ela mora aí no mesmo condomínio. Ela falou que uma vez viu ele beijando um menino ai na porta da casa dele. Dizem que os país dele sabem e nem se importam. Se eu fosse você não saía mais com ele. Imagina se ele tenta te agarrar?
— não viaja Nanda e ninguém vai me agarrar. A gente ficou amigo só isso.
— você nunca gostou dele. Nossa, e saber que eu gostava dele e ele nem gosta de mulher. Que nojo!
— a gente conversa no colégio. Eu só quero que você não fique espalhando isso por aí. Não é problema nosso.
— só falei pra você, não quero que você fique mal falado só porque você é amigo dele. Agora entendo porque ele nunca ficou com nenhuma menina. E ainda mentiu pra você dizendo que gostava de uma que não é do colégio.
Quando ela falou, lembrei que na verdade nunca houve menina nenhuma mesmo, na verdade era um menino e esse menino era eu. Eu ri sem querer.
— você está rindo? Eu no seu lugar ficaria preocupado.
— ta bom. Nanda, a gente se fala no colégio e muito obrigado por me avisar.
— sou sua amiga né!
Desliguei e voltei onde o Cleyton estava. Sinceramente não havia gostado da ligação da Nanda e pior ainda foi descobrir como ela era preconceituosa. Definitivamente não poderia contar a ela sobre o Cleyton e eu, seria uma péssima opção. O Cleyton notou que eu estava preocupado.
— o que ela te falou? Você ficou estranho.
— uma amiga dela do terceiro B, que mora aqui, viu você beijando alguém na porta da sua casa uma vez.
— só pode ser a Cláudia.
— quem era ele? Desculpa te perguntar.
— não tem problema e nem preciso te esconder nada. A gente só ficou duas vezes e ele nem mora mais aqui. Se mudou pra outro estado. Nunca mais nos falamos.
— entendi. Na verdade eu nem fiquei chateado por isso, não me interessa com quem você saía. Eu estou chateado pelo modo que ela se referiu a você. Ela não te xingou, mas ela é bem preconceituosa.
— nossa, nem parece.
— pois é. Eu estou bem decepcionado.
— amor. Nunca vamos agradar todo mundo. Sempre vamos encontrar pessoas que vão nos olhar de cara feia. Sabe o que importa?
— eu sei disso. O que importa?
— é que temos uma família que nos ama como somos. Seu pai conhece tanto você que mesmo antes de você falar alguma coisa, ele já sabia que a gente estava ficando. Ele é um homem incrível, criou você sozinho, te educou e deu o amor que você precisava.
— isso é verdade. Só que é muito estranho, eu conheço a Nanda desde a quinta série e o modo que ela falou foi como se eu não a conhecesse.
— as pessoas são assim. Não fique triste por causa dela. Quem sabe um dia ela muda, ela gosta tanto de você.
— não vou ficar triste. Eu tenho você. — a gente tem um ao outro. Sabe, eu estou muito feliz por estar aqui contigo.
Como eu queria poder abraçar ele sem as pessoas ficarem nos olhando de cara feia e reprovação. Segurei sua mão por instantes, ele segurou a minha e sorriu. Ficamos um bom tempo conversando e decidimos que não íamos contar pra ninguém do colégio sobre a gente, nem mesmo pra Nanda, principalmente.
Passamos o resto do dia jogando conversa fora. Voltamos pra casa dele e antes de eu voltar pra casa a mãe dele praticamente me obrigou a jantar.
O Cleyton pediu um táxi e disse que ia comigo até em casa.
— amor, não precisa.
— fala de novo?
— não precisa...
— não, não. A parte do amor foi tão fofo.
— bobo. A gente se vê amanhã... — nos despedimos e ele me beijou.
Cheguei em casa e meu pai ainda estava no plantão. Liguei pra ele perguntando se ele já estava chegando e disse que o plantão acabaria às duas da manhã. Ele disse que eu podia dormir, mas eu queria esperar por ele. Na verdade eu queria conversar sobre meu dia e como fui bem tratado pela família do Cley.
Fui pro quarto tomar banho e tirei minha roupa suja da mochila. Na hora eu dei risada de mim mesmo, pois sabia que havia muito do Cley naquela roupa, seu cheiro esta por toda parte. Tomei meu banho e levei tudo pra lavanderia.
Meu pai iria demorar mesmo. Mandei um SMS pro Cleyton e nos desejamos boa noite.
Pela manhã vi meu pai na cozinha. Queria muito falar com ele, mas eu estava atrasado. Ele me levou rápido pois ainda ia atender no consultório e como chegou tarde do hospital também se atrasou. No carro ele só me perguntou se meu dia tinha sido bom. Disse que sim e que queria conversar melhor com ele a noite.
Quando cheguei no colégio o sinal já havia batido. Subi rapidamente e a porta da minha sala já estava fechada. Bati e pedindo licença, entrei. Vi que o Cley sorriu meio que disfarçando a felicidade por ter me visto. Certamente estava preocupado pelo meu atraso. O professor começou a passar a matéria e o Cley se inclinou pra frente.
— que aconteceu?
— nada, só perdi a hora.
— hum, está bem. — disse e voltou a sentar.
Do outro lado da sala a Nanda e o Luís não paravam de cochixar e sempre olhando pra nossa direção. Eu fingia que não estava vendo e já estava ficando irritado. Como as duas pessoas que eu mais gostava pudessem estar falando de mim pelas minhas costas?
As aulas pareciam se arrastarem e o intervalo não chegava. Queria conversar com o Cley, na verdade eu queria poder olhar pra ele, estar perto dele. Enfim o sinal tocou e todos saíram da sala ficando apenas nós dois. Peguei meu dinheiro na mochila e coloquei no bolso, o Cley veio até mim ajeitando minha roupa.
— estou desarrumado? — disse rindo.
— não amor, você está ótimo. Eu só queria tocar em você.
— beijo, rapidinho...
Ele me pegou pela cintura e nos beijamos rápido, vai que alguém entrasse? Descemos e fomos pegar nossos lanches. Eu esperava ele comprar na lanchonete e o Luís veio falar comigo.
— tudo bem? Você anda meio sumido.
— tudo bem... não estou sumido, só não estou com vocês. Não quero ficar segurando vela.
— entendi. Agora você tem seu novo amigo.
— não vejo problema algum.
— que isso, também não vejo, mas é que as pessoas falam e...
Eu o interrompi e não estava gostando nenhum pouco daquela conversa. Como assim as pessoas estavam falando? Falando o que? Certamente a Nanda já havia espalhado o que ela ficou sabendo sobre o Cley e se ela fez isso eu nunca mais iria olhar na cara dela.
— eu não estou nem aí pro que os outros falam. E se eu fosse vocês também não.
— a Nanda não falou contigo? Por que, caramba, o Cleyton é gay!
— se ele é gay ou não, não é problema meu, seu e nem de ninguém, cada um tem o direito de namorar quem quiser. E eu não sabia que vocês eram tão preconceituosos.
— não sou preconceituoso, só não quero ele perto de mim, imagine se ele desce em cima de mim? Que horror.
— vou lá pegar meu lanche...
Sai e deixei ele falando sozinho. Eu não era obrigado a ficar ouvindo um monte de besteiras. O Cley estava vindo com os lanches e nos sentamos pra comer. Eu estava um pouco chateado por saber que meus dois melhores amigos estarem falando todas aquelas coisas. O Cley percebeu e perguntou o que eu tinha.
— nada.
— eu te vi falando com o Luís. Olha, ontem depois que você saiu lá de casa eu fiquei pensando umas coisas.
— que coisas?
— o modo como eu entrei na sua vida. Se você pensar bem, eu fiz tudo de caso pensado, já te disse isso e querendo ou não acabei bagunçando sua cabeça.
— não tem nada haver. Você gostava de mim, em segredo, era meio chato as vezes, mas era seu jeito de se defender, até porque você não sabia se eu era gay ou não. Aí você decide partir pro tudo ou nada. Você me pediu desculpas, eu aceitei, você me apoiou aquele dia que eu estava mal e eu me senti tão bem com você por perto. Depois me chamou pra ir almoçar no restaurante da sua mãe e ... — ele me interrompeu.
— e senti que você não se importou em deitar no meu colo, em eu fazer carinho no seu rosto. Eu toquei seus lábios, você beijou minha mão e se encostou no meu peito... porque você retribuiu? Você poderia ter recusado todas as minhas investidas, mas não.
— eu sou como você, e me senti atraído de uma forma que nem eu mesmo sei explicar... eu me apaixonei por você. Eu quis me apaixonar por você, quis ficar com você, e se você fez de caso pensado ou não, não faz a menor diferença porque você foi sincero em mostrar que estava mudando por mim. De certa forma eu sabia que a gente estava se envolvendo de uma maneira diferente e deixei ser conquistado. Eu quis!
— cara, você me deixa cada dia mais louco por você, a vontade que eu tenho agora é de te beijar aqui mesmo.
— você é maluco mesmo.
— maluquinho...
— então, não se culpe por ter aberto mais olhos. Você fez a melhor coisa da minha vida. Deixem eles falarem. Ninguém sabe o que a gente sente, pensa ou faz e se imaginam, eu não estou nem aí. Acho que é o melhor que fazemos.
— você está certo. Agora termina seu lanche senão vai acabar esfriando.
Terminamos o lanche. Fomos no banheiro lavar as mãos e o sinal tocou. Voltamos pra sala e a Nanda e o Luís não ficaram mais olhando pra onde a gente estava.
O final de semana chegou e meu pai queria ir pra chácara. Enquanto tomávamos café da manhã ele comentou que sairíamos no sábado bem cedo.
— tudo bem pai.
— você não tem aula hoje?
— não. Hoje tem conselho de classe.
— entendi.
Pedi licença e fui pro meu quarto. Não queria ir pra chácara e ficar o fim de semana longe do Cleyton. Deitei na cama e liguei pra ele. Claro que ele ia ficar chateado e eu mais ainda.
— eu sei, eu sei, eu também queria ficar contigo, mas meu pai precisa descansar e vamos todo fim de semana pra lá. Eu queria ficar, mas não posso deixar ele ir sozinho, entende?
— entendo amor. Ele só tem você, imagine ele sozinho lá? Não quero que você chateado perto dele. Não fique de cara feia amor.
— não estou de cara feia amor e nunca ficaria assim, eu amo o seu Jorge demais. Fique tranquilo. Você me espera?
— claro que espero. Olha, eu não vou sair, e se eu for, vou ficar no restaurante com a minha mãe, mas amanhã. A gente se vê mais tarde?
— nos vemos sim, beijo.
Quando desliguei e me virei pra porta, quase morri de susto. Meu pai estava parado me olhando. Não estava bravo, parecia meio pensarivo. Sentei na beira da cama e ele entrou se sentando ao meu lado.
— faz tempo que o senhor está ai?
— cheguei quando você chamou ele de amor. — ele disse e coçou a cabeça. Mas eu não queria ouvir a sua conversa, a porta estava aberta.
— eu sei, o senhor nunca faria isso. A porta estava aberta porque nunca precisei deixar fechada. Alguma vez escondi algo do senhor?
— não filho e isso é muito importante pra mim, saber que você não me esconde nada me deixa muito orgulhoso.
— obrigado pai.
— você está gostando desse garoto...digo, vocês estão namorando?
— acho que sim, bom...estamos.
— ele gosta de você?
— gosta sim pai. Na verdade ele gosta de mim desde o começo do ano.
— que bom filho.
Ele saiu e fiquei arrumando meu quarto. Tirei umas roupas que não usava mais do armário e separei pro meu pai levar pro hospital. Lá eles tem uma assistente social que arrecada roupas e leva até um orfanato.
Tinha também um casaco da Nanda que ela havia esquecido e separei pra devolver. Coloquei na minha mochila e entregaria pra ela na segunda-feira. Recebi um SMS e era o Cley.
" você é assim, um sonho pra mim e quando não te vejo, eu penso em você desde o amanhecer até quando eu me deito".
Ele sabia que eu gostava dessa música. A cada dia que passava eu me apaixonava mais por aquele maluquinho. Queria deixar minhas coisas arrumadas. A gente ia se ver a tarde e depois eu ainda tinha que fazer uma mala pra levar pra chácara. Em meio a arrumação e sinceramente meu quarto já começara a virar um caos. Parei e olhei em tudo que já estava bagunçado e deicidi parar ou não ia dar tempo de limpar até a hora de ir encontrar o Cleyton. Senti meu celular vibrar no bolso do shorts e fiquei feliz por ele estar me ligando. Quando olhei o visor era um número estranho, que nunca vi. Atendi e uma mulher me disse oi.
— oi, é o Lucas? Lucas Sampaio?
— sim, quem fala?
— desculpa ligar sem avisar. Prometi a seu pai que falaria com ele antes, mas não aguentei e precisava falar contigo. Sou eu, a Beth.
Eu fiquei mudo, era ela, era a Elizabeth. Era a minha mãe. Nunca em todos esses anos eu sequer ouvi sua voz. Desliguei o celular por impulso e ela ligou mais duas vezes seguidas. Não atendi. Fiquei em estado de choque apenas olhando pro aparelho e desejando que ela nunca mais ligasse. Fui até o quarto do meu pai e ele estava assistindo um filme. Me deitei ao seu lado e meu choro veio com toda a força. Ele perguntava o que eu tinha, mas não conseguia parar. Era como se as lágrimas tivesse me sufocando e toda minha mágoa quisesse gritar. Eu queria explodir, de raiva, de ódio, mas nem isso eu conseguia. Por tanto tempo eu reprimi tantos sentimentos, mas eu tinha que dar um basta.
— ela ligou. Aquela desnaturada, sem coração, aquela pessoa que me abandonou e nunca quis saber de mim. Como ela teve a coragem de me ligar?
— shhhhi, fica calmo. Fica calmo. Ele saiu e foi pra sala.
Ele estava nervoso e acabou ligando pra ela. Hora ele falava calmo e hora ele esbravejava. Nunca escutei meu pai tão furioso e ouvi uma pequena parte da conversa.
" eu disse que o garoto não queria falar contigo e pedi pra você não ligar pra ele sem me avisar. Eu ia ter uma conversa com ele antes Beth. Você sempre foi precipitada em fazer as coisas, sempre foi assim. Como você quer que eu te ajude a reconquistar seu próprio filho se você mete os pés pelas mãos? São quinze anos, você sabe o que isso significa pra ele?"
Parei de chorar. Fiquei deitado quieto esperando ele voltar. Ela conseguiu estragar com meu dia e também com nosso fim de semana. Eu queria sumir pra bem longe pra quando ela voltasse eu não ter que ver aquela mulher. Era demais pra mim. Meu pai voltou e me abraçou, me beijou e perguntou se eu queria um calmante, disse que não.
— eu não quero ter que ver ela nunca.
— um dia isso vai acontecer, mas fique calmo.
— eu não quero pai. — novamente comecei a chorar.
Ele pegou meu celular que estava em cima da cama e ficou mexendo. Foi pra sala e ficou uns dez minutos falando com alguém. Eu tentei ouvir, mas ele falava baixo. Eu me senti cansado e acabei pegando no sono.
Quando acordei senti alguém acariciando meus lábios, o cheiro amadeirado havia tomado conta do quarto do meu pai. Virei o rosto e beijei novamente aquela mão perfeita e o abracei o mais forte que pude. Não sei como ele veio, mas ele estava comigo e era o que importava. Seus braços me aconchegavam em seu peito e eu nunca me senti tão seguro. Eu precisava dele, na verdade, eu necessitava da presença da pessoa que acabara de se tornar a mais importante naquele momento de minha vida.
— só me abraça.
— calma...calma. Eu estou aqui contigo.
— como você veio parar aqui?
— seu pai me ligou. Ele disse que você estava nervoso e que, bom..
que ela tinha te ligado e perguntou se eu podia vim pra cá. Troquei de roupa e vim.
— como ele te recebeu?
— super bem, pode ficar tranquilo. Ficamos conversando na sala enquanto você dormia. Eu acabei de entrar, coloquei sua cabeça no meu colo e você acordou.
— obrigado por ter vindo.
— eu viria correndo se fosse preciso, mas nem precisou, meu sogro pagou o táxi.
— bobo. Eu não quero falar dela. Só fica comigo...me abraça, me beija.
— nem precisa pedir.
Ele me beijou com tanta delicadeza que pensei estar no céu. Aquele momento me trouxe paz, conforto e ele me proporcionava tudo isso.
— eu amo você. — disse e o beijei de novo.
— você não imagina o quanto eu sonhei com você me dizendo isso. Eu te amo, meu amor.
— eu amo mesmo, de verdade. Eu preciso de você comigo.
— calma meu amor, não precisa ficar assim. Te amo, te amo. Eu estou aqui.
Meu pai entrou e o Cleyton me beijava enquanto trocávamos declarações de amor. Ele se desculpou e o Cley quis se levantar. Meu pai é uma pessoa tão maravilhosa que fez sinal pra ele ficar e ainda perguntou se ele queria beber alguma coisa.
— não senhor, muito obrigado. Eu só queria agradecer por ter me ligado.
— não precisa agradecer. Eu só achei que o Lucas precisava de você e pelo jeito eu não errei. Venham os dois, venha filho. Venham comer pelo menos um lanche.
Eu não poderia fazer uma desfeita, ainda mais depois dele ter chamado o Cley. Fomos até a cozinha e era engraçado como meu pai tentava agradar o Cleyton. Eu estava impressionado. Nunca imaginei que ele fosse capaz de ficar tão calmo diante de nós dois, afinal, ele viu o filho beijar um outro garoto.
— pai, está tudo bem?
— está sim.
— pai...
— desculpa, eu só preciso me acostumar com vocês dois aqui em casa. Não estou bravo, mas eu entrei e vocês estavam se beijando e não queria atrapalhar e vocês estavam dizendo que se amam...muito bonito isso, caramba, desculpa Cleyton.
Começamos a rir, os três. Meu pai cada vez que falava se atrapalhava ainda mais e o Cleyton de certa forma se divertia.
— o senhor não precisa me pedir desculpas.
— eu vou deixar vocês lanchando. Estou na sala, se precisarem é só me chamar. — ele disse e se retirou nos deixando a sós.
O Cley me serviu o lanche. Pedi que fosse até a geladeira e pegasse um suco de uva integral que eu gostava. Quando ele se levantou eu fiquei observando o cuidado que ele tinha comigo. Ele me serviu o suco e colocou um guardanapo na lateral do prato para que eu me limpasse. Pedi que se sentasse e comesse alguma coisa.
— amor, eu não estou com fome, por enquanto, acabei de comer em casa, mas vou beber um pouco do suco.
— tudo bem, pode beber junto comigo.
— sobre você ter dito que me amava, é verdade mesmo?
— não, foi só pra ver sua cara de bobo. Claro que eu te amo. — disse e ele me deu uma chave de braço.
— ai garoto, quer me matar asfixiado?
— quero te matar de tesão te dando algo que eu tenho aqui atrás.
— minha nossa, depois dessa...
Senti uma direta bem dada no meu estômago, por mais risadas que dessemos era evidente que ele estava querendo transar. Eu não sabia como enfrentar esse momento e juro, eu estava com um pouco de medo.
— baixa essa bola. — disse baixo.
— desculpa, mas é que eu não paro de pensar no que fizemos lá em casa.
— eu também. Eu gostei muito.
— gostou mesmo?
— gostei sim. E se você se comportar eu dou um jeito de te levar pro meu quarto e faço de novo. Faço bem gostoso. — disse em seu ouvido e ele ficou me olhando.
— certeza que é você? Seu safado. Você me deixou duro. Se seu pai vier aqui eu estou ferrado.
— hum... tomou banho faz tempo? Lembra daquele cheiro de suor que eu gostei, então...
— vou acabar te dando aqui.
— dando? Isso é jeito de falar? Fala assim....vou de dar o cu aqui...
— pára Luquinha... — ele estava se contorcendo na cadeira.
Terminamos de lanchar e fomos pra sala. Meu pai assistia o jornal e nos sentamos no sofá lateral. Ficamos conversando baixo para não atrapalhar meu pai.
Eu notei que o Cley estava meio envergonhado e parei com a brincadeira que começou na cozinha. Ele deu uma relaxada e
segurei sua mão.
— parei com a brincadeira.
— obrigado. Acho que está na hora de eu ir.
— nãaaao... fica mais um pouco, por favor.
— eu não quero incomodar. Seu pai me ligou porque você estava triste. Agora você está melhor. Eu sei que ele deve estar constrangido. Imagine, ele viu eu te beijando.
— não se preocupe. Fica só mais um pouco?
— só mais um pouco...
A gente sussurrava e por mais recente que fosse, parecia que a gente se conhecia a anos. Eu não sei como, mas eu sentia uma ligação muito forte por ele e sei que ele sentia o mesmo. Ele encostou a cabeça no sofá e eu fiz o mesmo e ficamos nos olhando. Meu pai se levantou, foi para a cozinha e voltou. Senti que o Cley estava meio desconfortável. Ele disse que ia pra casa. Ele se levantou e foi até meu pai, se despedindo.
— sente aí vocês dois. — meu pai disse e nos sentamos novamente.
— pode falar pai.
— eu não entendo muito disso, digo, dessa relação entre dois homens...
— pai...
— deixa eu terminar. Eu não entendo, mas não desaprovo e nem sou contra, o Lucas é meu filho e você Cleyton, pelo jeito faz bem a ele, por isso te liguei. Eu vi aquele beijo, confesso que foi meio estranho, mas se é para você vir aqui e o Lucas ir na sua casa e vocês realmente se amam, é assim que vai ser. Eu sou médico, preso pela vida. Não sei a que pé está o relacionamento de vocês e sinceramente me preocupo. Então, usem camisinha.
— meu Deus, pai. Que vergonha.
— oras... vergonha? Vergonha nada. Eu sou seu pai e acho que é meu dever. E outra coisa, se esse amor que vocês sentem é forte o suficiente pra enfrentar certas pessoas, então vocês têm minha bênção. Mas por favor, não quero ver vocês pelados pelo apartamento.
— pai, o senhor nunca verá esse tipo de coisa. Nossa!
— e mais uma coisa... Cleyton, pode vir quando você quiser. Eu passo muito tempo fora de casa e prefiro que vocês namorem aqui em casa do que por aí.
— obrigado pai. Tenho certeza que depois que o Cley voltar desse transe ele irá te agradecer pela sua compreensão...
— desculpe, mas eu ainda estou me recuperando. — disse o Cley cheio de vergonha e meu pai e eu rimos.
Meu pai sempre muito sincero, espontâneo e engraçado. Dei um beijo no rosto do Cley e ele quase desmaiou na frente do meu pai. Tirando o fato dela ter ligado, eu estava feliz por meu pai me respeitar pela pessoa que eu era e apoiar minha relação. Ficamos conversando e o Cley disse que ia pra casa.
— obrigado por ter vindo e desculpe qualquer coisa. Meu pai é assim, vai se acostumando.
— vim por você. Eu te amo, garoto.
— também te amo garoto. A gente se vê na segunda. Poxa, vou ficar com saudade.
— não fale assim, eu já estou até imaginando o fim de semana sem você.
— garoto chato, fala desse jeito não.
Nos abraçamos e demos um selinho antes dele entrar no elevador. Entrei e antes de eu ir pro meu quarto fui até a cosinha e meu pai tomava uma xícara de café. Sentei e ele perguntou se eu queria. Disse que sim e ele me serviu.
— obrigado pai.
— eu sabia que você ia ficar feliz
com ele aqui. Ele é um bom garoto.
— é sim pai. Eu gosto dele, muito mesmo e sei que pode não ser o que o senhor sonhou pra mim, mas eu sou feliz desse jeito.
— eu não tenho direito de dizer com quem você pode ou não namorar. Eu sempre soube quem você era mesmo antes de você ter aquela conversa comigo anos atrás. Um pai conhece seu filho e meu sonho é que você seja feliz com quem você ama, e se essa pessoa é o Cleyton, eu o amo por ele te amar. Agora vá dormir, amanhã saímos bem cedo.
— verdade. Boa noite pai.
— boa noite. Seus sonhos também são os meus.
Que pai incrível. Meu herói, meu amigo e confidente. Não havia pessoa melhor nesse mundo para me apoiar do que meu pai. Fui pra cama e troquei o último SMS da noite com o Cleyton. Eu estava mais calmo e resolvi que não ia mais pensar em nada que me fizesse mal. Adormeci.
De manhã acordei e peguei minha mochila levando até a sala. O cheiro do Cley ainda estava no sofá e ali fiquei. Meu pai terminava de se arrumar e levou suas coisas pra sala e colocou perto da minha mochila.
— está animado filho?
— estou sim pai.
Eu não estava tão animado quanto ele queria que estivesse, mas não queria estragar o descanso dele e melhorei minha expressão. Ele pediu as chaves do carro e fui no quarto dele pegar. Voltei e entregando as chaves pra ele disse que queria comprar um repelente por haver muitos mosquitos na chácara. Ele disse que passaríamos na farmácia e que se eu quisesse poderia pegar uns dois porque ele usaria também. Tomamos um breve café e ele disse que iria atender uma ligação e já voltava. Terminei de me arrumar e ele voltou pedindo pra eu chamar o elevador e ir levando minhas coisas pro hall. Sai e fiquei esperando o elevador chegar. Como estava subindo o outro, apertei também e o primeiro que chegasse seria lucro.
Meu pai já trancava a porta e eu avisei que havia chamado os dois. Ele deu um sorriso seguido de uma piscadela e o elevador chegou.
Quando a porta abriu eu quase morri. Na verdade eu morri e fui pro céu. Era o Cley com uma mochila nas costas todo equipado. Ele sai do elevador e veio ao meu encontro.
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Continua.....