(Cabeça-dura x Mente aberta)
Uma manhã nublada, na verdade Carol estava toda dolorida, sentia a cabeça quente, e o estomago nauseado.
Cá, me ouve, você precisa comer, está ficando pálida – disse Miguel preocupado.
Não tenho vontade, estou enjoada – respondeu.
Eu sei, está sem comer por muito tempo, por isso o enjoo, já é dia e você passou a noite em claro, vamos lá vai, o médico já avisou que Alicia vai acordar em algumas horas, então temos tempo – apontou Miguel já levantando.
Está certo, preciso mesmo de um café forte. Ah, a Anna-Lú ligou pra você, pra saber noticias, quero dizer. Não sei onde deixei meu celular, acho que foi na casa dela – perguntou Carol meio sem graça.
Hm, então é isso, desculpe, mas ela não ligou! Estás pensando nela não é? – concluiu.
Ah, Miguel apesar de tudo que está acontecendo comigo, não consigo tirá-la da cabeça, eu sei que é um erro, algo totalmente sem noção, tipo, eu jamais tive um relacionamento assim, é loucura, eu não sei o que pensar – lamentou.
Eu sei meu amor, mas saiba que estou aqui pra te apoiar.
Obrigada! Quer saber, vamos lá comer alguma coisa, eu preciso estar forte pra quando Alicia acordar.
Era sexta-feira, a manhã já ia a meio e o trabalho de Anna-Lú na agência não rendera nada, ainda mais depois da conversa que tivera com Marina e Caio, não conseguia, por mais que tentasse se concentra sua cabeça fervilhava e sua consciência coxeava em dois pensamentos: em um ela cogitava a possibilidade de estar apaixonada e no outro ela tentava se convencer de que não estava, prometera a si mesma que não deixaria isso acontecer novamente, não se apaixonaria outra vez. “Que saco, será que não vou mesmo conseguir pensar em outra coisa”, dizia Anna-Lú a todo instante em seu pensamento.
Depois de analisar diversas fotos para uma campanha de lingerie, Anna-Lú voltou para sua sala e pôs-se a apreciar a vista de seu escritório no 18° andar do prédio onde ficava a agência, perdeu-se em pensamentos ao olhar a imensidão de água da baía não muito longe dali. Fechou os olhos e foi como ter imaginado a mulher de seus sonhos desprendendo-se daquela vidraça, contemplou-a vir até ela, parar e sorrir com aquelas covinhas lindas, Anna-Lú sentiu um frescor passear por seu corpo, uma paz que há muito não sentia. O que ela sentia era a respiração alterada ou estava presa, não sabia discernir, podia imaginar o rosto de Carol tão perto do seu que o ar lhe faltava de tal forma que não conseguia controlar o calor que provinha de seu corpo, totalmente hipnotizada pelo brilho azul, sentia ou imaginava, ou apenas queria com todas as forças que Carol pudesse realmente estar ali.
E por aqueles instantes sentiu mesmo como se ela estivesse ali, o rosto apenas há alguns centímetros do seu, se aproximando e deslizando sua mão pelo braço de Anna-Lú, ardente, delicada e então, puxando-a pela cintura com os lábios entreabertos prontos para dar-lhe o que mais desejava naquele momento: um beijo, não um beijo qualquer, mas daqueles que ao mesmo tempo em que faz você respirar e se sentir viva, te tira o folego. Que te coloca no chão e te faz levitar. Claro que ela não poderia desprender-se daquela parede de vidro, mas em vez de assustar-se com aquilo, Anna-Lú apenas deixou-se levar. Uma, duas, três vezes ou mais, não sabia dizer, a figura de Carol se dissipava para logo em seguida desprender-se novamente e estar na sua frente prestes a beijá-la.
Ao cabo de 10 minutos o celular começa a vibrar no bolso da calça jeans tirando Anna-Lú de seus devaneios. Ainda entorpecida ergueu a mão sem um comando exatamente cônscio, apenas no automático mesmo, já como o celular e o levou até a orelha, espalmando a outra mão na vidraça como se inconscientemente quisesse que aquela imagem voltasse.
Alô! – disse sem animação alguma na voz.
Credo Lú, quem morreu?! Que voz de velório é essa?! – gritou Melissa ao telefone fazendo Anna-Lú voltar a orbita.
Respirou fundo antes de responder e virando-se caminhou para sua mesa.
Ninguém, ninguém morreu eu é que estava aérea – respondeu ainda sem muita animação, mas de forma mais casual.
Nossa! Estava pensando na morte da bezerra é? Se não te conhecesse diria que está apaixonada – falou debochando.
Sem graça! – revirou os olhos - Apaixonada eu?! – falou mais para si do que para Melissa.
“Será que todo mundo resolveu me persegui dizendo isso, oh Céus!” pensava Anna-Lú.
Você vai sair hoje?! – Melissa inquiriu animada.
Oi pra você também Melissa! – disse sarcástica - Mas, respondendo sua pergunta, não eu não irei sair.
Agora você vai! – disse Melissa ainda mais animada – Nem que eu tenha que ir te buscar a força! – completou.
Olha só Mel, acho que dessa vez vou ter que deixar para uma próxima, não estou muito a fim de sair – tentou achar uma desculpa sem sucesso.
Melissa respirou profundamente do outro lado da linha e Anna-Lú quase podia ver a cara que ela deveria esta fazendo.
Ah! Qual é Lú! – suspirou – por isso mesmo, ainda mais com essa voz de deprê que você está. Eu sei do que estou falando, você precisa sair e beber um pouco, já basta você passar a semana toda trancafiada nesse escritório! – tentou argumentar.
Acho melhor não, desculpa – respondeu.
Por favor, Lú! – suplicou – faz mó tempão que você não sai comigo e você prometeu – disse Melissa quase dengosa.
Eu sei que prometi Mel, mas já nos vimos essa semana, esqueceu?
Claro que não esqueci você foi maravilhosa como sempre – disse suspirando como se relembrasse nitidamente a noite de prazer entre elas – mas, não conta! – completou enfática.
Como não conta?! Passamos a noite juntas! – insistiu Anna-Lú.
Não conta porque você prometeu sair comigo e naquela noite ficamos na sua casa – disse satisfeita – e só vamos sair pra beber já disse e pegar algumas gatinhas como nos velhos tempos – falou sorrindo e tentando convencer Anna-Lú – olha só vamos fazer assim, você pensa um pouco e depois se mudar de ideia me liga ok! – concluiu Melissa.
Está bem Mel – Anna-Lú suspirou – eu vou pensar ok! Agora me deixa trabalhar.
Ótimo! Agora sim, então, até mais tarde, beijo minha linda!
Beijo Mel! – Anna-Lú sorriu ao desligar.
“Melissa realmente não aceita não como resposta” pensou Anna-Lú sorrindo e balançando a cabeça negativamente. E então, lembrou que já deveria ter ligado para Carol há muito tempo, pegou o celular novamente e discou o numero de Carol, mas apenas chamou e caiu na caixa postal, tentou outra vez e nada, decidiu que iria ao pronto-socorro ver como Carol estava, “é se Maomé não vai à montanha...” pensou Anna-Lú ao repousar o aparelho sobre a mesa. A tarde já terminava quando finalmente o expediente acabou, tivera que ficar por mais uma hora e meia e já estava impaciente.
Chegando ao pronto-socorro filas de pessoas serpenteavam pelos guichês de atendimento com a mesma confusão de sempre. Anna-Lú logo se dirigiu a ala das UTI’s e não demorou muito para encontrar com Carol, que ainda estava com as mesmas roupas do dia anterior.
Olá, boa noite – cumprimentou Carol e Miguel que estavam assentados lado a lado.
Boa noite senhorita Garcia – respondeu Miguel em tom amigável – eu vou até a cantina tomar um café – concluiu se retirando.
Oi, boa noite Anna-Lú – respondeu surpresa, mas feliz ao mesmo tempo – o que faz aqui? – perguntou.
Vim ver como você estava, e como está sua filha! – respondeu.
Eu pensei que não viria, já que não ligou – concluiu Carol sarcástica.
Ah Carolina, você NÃO EXISTE, claro que liguei você é que não atendeu! – respondeu com sorriso sínico sentando ao seu lado – estava com saudade da minha voz Carolina? – perguntou de um jeito cafajeste bem perto do ouvido de Carol.
Um fogo denso, e abrasador espalhou-se pelo corpo de Carol ao ouvir a voz rouca e sexy que Anna-Lú usara, a respiração quente sapecando sua pele, queimando, instigando os seus sentidos. Carol sentia seu coração palpitar tanto, que chegava a doer, mas não deixaria que Anna-Lú percebesse.
Você é muito convencida sabia?! – respondeu fechando a cara.
Eu sei. Sei que sou irresistível – respondeu Anna-Lú em tom debochado e com um sorriso malicioso brincando em seus lábios – Mas, me diz, como você está?
Eu estou me sentindo um lixo, e precisando de um banho urgente – respondeu ainda com cara de brava.
Hm, isso é verdade não sei como ainda não te expulsaram daqui – tentou brincar – estou brincando ainda dá pra aguentar você assim por mais algumas horas – completou sorrindo.
Veio aqui pra debochar de mim é?
Não, claro que não Carolina – levantou as mãos – me fala, e a menina como está?
Alicia está bem, graças a Deus, acordou e estar a dormir novamente.
Que bom! E a outra moça você foi ver?
Sim – respondeu Carol – ela está bem, apenas uma fratura no braço esquerdo.
E sua filha quis vê-la?
Você faz muitas perguntas – apontou Carol – Mas, sim ela quis, porém eu disse que ainda não podia que ainda estava em observação.
Porquê? A moça não queria ver a Alicia?! – perguntou um pouco surpresa.
Sim ela queria, mas eu a proibi! – disse Carol cheia de si.
Como assim, você a proibiu? – perguntou ainda mais surpresa.
Proibindo oras, aquela sap.... aquela irresponsável não vai mais chegar perto da minha filha! – disse indignada como se fosse a coisa mais certa do mundo.
Você vai continuar com esse discurso preconceituoso Carolina?! – indagou Anna-Lú muito revoltada com a atitude de Carol.
Não é discurso, eu sei o que estou fazendo! Ela minha filha e sei o que é melhor pra ela! – respondeu bufando e achando o cumulo Anna-Lú meter-se daquela forma na vida dela.
Você é simplesmente INACREDITÁVEL Carolina! – disse Anna-Lú se levantando – será que você sabe mesmo o que é melhor pra sua filha? Porque eu acho que não!
Não é problema seu, a filha é minha, você nunca foi mãe, o que pode saber sobre as coisas da vida hein Anna-Lú?! – respondeu Carol mais afirmando do quê perguntando.
É verdade eu nunca fui mãe, mas ainda lembre como é ser adolescente e você devia fazer o mesmo e abrir mais essa sua cabeça pra vida, pro mundo atual! – respondeu Anna-Lú indignada.
Ah, claro e com certeza prefere que eu deixe aquela sap...menina chegar perto dela novamente pra quê exatamente? Pra influenciar ainda mais a cabeça dela? Não obrigada! Ou melhor, ainda, você preferia que Alicia fosse como certas pessoas que se acham mente-aberta, até demais pro meu gosto, e não passa de umas cabeças de vento isso sim e que posam de rebelde sem causa e não cresceram até hoje?! – Carol cuspia as palavras.
Nossa Carolina está se referindo a mim?! Eu sou a rebelde sem causa que ainda não cresceu?!
Se a carapuça serviu! – respondeu Carol irônica.
Quer saber, chega, não vai adiantar nada mesmo ficar aqui discutindo com um cabeça-dura feito você, pra mim já deu. Tchau Carolina! – bufou Anna-Lú e saiu pisando duro.