Max narrando
Eu estava me sentindo péssimo! Além do meu rosto estar ardendo bastante pelo tapa que o meu pai meu deu, a minha consciência estava pesando uma tonelada naquele momento. Ele disse que estava decepcionado comigo, e talvez isso tenha doído mais que o tapa. Ouvir aquilo do meu pai foi horrivel, pois ele é o meu exemplo, é nele que eu me espelho. Eu me encontrava deitado na minha cama, no quarto escuro. As lágrimas não conseguiam parar de descer. quando vi meu irmão alí, caido no chão e com o rosto sangrando, a minha ficha caiu. Eu tinha batido nele. Eu tinha chegado nesse nível. Nós em toda a nossa vida nunca brigamos de fato, meu pai odeia esse tipo de coisa e agora eu o entendo. Eu me sentia a pior pessoa do mundo. Como eu pude fazer isso com ele? logo com o meu irmãozinho?
Eu nem lembro como isso tudo começou. Isso de tratá-lo dessa maneira tão horrivel. Acho que foi quando eu entrei no futebol, lembro-me que nós três éramos inseparáveis quando crianças e um cuidava do outro, ou seja, no fim eu e o Gus cuidavamos do Gabe. Foi quando entrei para o time da escola que tudo mudou. Amizades novas começaram a entrar na minha vida, fui crescendo e as gatas aparecendo, coisas de adolescente. Porém, essas coisas foram me distanciando dele, por conta de não frequentarmos os meus lugares e não termos o mesmo circulo de amigos. Com o Gus não tinha problemas, pois viviamos o mesmo mundo de esportes e gatas, o que fez com que nossa camaradagem só aumentasse. teve uma vez que até pegamos duas irmãs muito gatas ao mesmo tempo. Mas enfim, com um tempo eu e o Gus começamos a tratá-lo como uma pessoa desconhecida, como se ele não tivesse valor, só pelo simples fato de não ter uma personalidade igual a nossa. Talvez tenha sido imperceptível de nossa parte os danos que causamos a ele, ja que eramos tão acostumados a fazer bullying com pessoas iguais a ele na escola, acabamos nos acostumando a tratá-lo assim, sem levar em consideração seus sentimentos, sem levar em consideração a dor que isso causa a ele... AAAHHH.. eu queria gritar... eu me sinto um monstro, a pior pessoa do mundo. Quem é que trata um irmão dessa forma? com esse desprezo todo? com aquele tipo de palavras ofensivas? Meu Deus, o que eu fiz?? Ele nunca vai me perdoar, ele nunca mais vai querer olhar pra minha cara. Eu sei que vocês devem estar pensando que isso é um exagero, que brigas entre irmãos acontecem sempre, mas na minha casa é diferente. Meus pais são totalmente contra a violência, a não ser que ela seja extremamente necessária e pra eles a família é o maior símbolo de união na terra. A primeira vez que apanhei foi hoje e não tiro a razão do meu pai de ter me batido. Eu definitivamente aprendi a lição.
Eu comecei a me desesperar e senti uma falta de ar muito grande e tive que correr para a janela do quarto para pegar um vento e me acalmar... desci as escadas e fui na geladeira beber agua pra ver se eu me sentia melhor. Sentei na cadeira da cozinha quando ouço o barulho do portão sendo aberto. Mas já? passei tanto tempo pensando que perdi a noção da hora? Bom, não perdi tempo e corri até a sala. La estava ele abraçado com a mamãe e com um curativo na região do nariz, com os olhos vermelhos de quem tinha chorado e uma feição triste. isso me partiu o coração, pois lembrei que a culpa daquilo tudo era minha. quando ele me viu, arregalou os olhos e me olhou assustado, ficando atras da nossa mãe e se escondendo de mim. Nossa... ele ficou tão mal assim, a ponto de estar com esse pavor todo de mim? logo sou cortado de meus pensamentos e trazido de volta a realidade pois minha mãe está me estapiando fortemente e sem parar por todas as partes do meu corpo.
- Ai, ai, ai mãe, para por favor ai- comecei a chorar, mas não pelos tapas e sim por estar me sentido cada vez mais culpado. Consegui me desvencilhar dela e correr para tras do sofá.
- O QUE DEU EM VOCÊ GAROTO, PRA FAZER ISSO COM O SEU IRMÃO E AINDA POR CIMA O OFENDER?- Ela falou me fuzilando com os olhos.
- Mãe por favor, me perdoa. Eu ja estou me sentindo horrivel com tudo o que eu fiz, não faz eu me sentir pior...- falei soluçando.
- E é pra se sentir assim mesmo! onde ja se viu? alguem tratar o próprio irmão dessa forma? cadê os ensinamentos sobre família que você aprendeu na igreja meu filho?- Seu rosto passou de raiva para decepção na velocidade da luz e parecia que ela segurava o choro. olhei para o lado e vi o gabe agora abraçado com o nosso pai, o Gus ja havia subido pra dormir. - Eu não vou te colocar de castigo porque imagino que não tem castigo pior do que a culpa e a crise de consciencia que você está tendo. Eu vou dormir, pois amanhã acordo cedo e já são 2:00 da manhã.- subiu as escadas para seu quarto.
comecei a andar até Gabe e seu rosto mostrava cada vez mais espanto.
- Gabe por favor, me escuta. Olha, me perdoa, por favor... eu não sei o que deu em mim, eu-e-eu preciso de teu perdão Gabe, diz que vai me perdoar, eu-eu te amo muito, só agora percebi isso... eu não quero ficar sem falar com você, por favor. Eu prometo ser o melhor irmão do mundo. Te proteger, cuidar de você... só não fica de mal comigo não, eu so percebi depois de hoje o quanto eu fui idiota e preciso reparar os meus erros...- Eu falava rápido e enrolado enquanto chorava.
Gabriel narrando
Eu estava em estado de choque por tudo o que tinha acontecido. Eu estava realmente com medo dele. Ele sempre me odiou e chegou a me bater. Como é que eu vou conseguir dormir no mesmo quarto que ele? É claro que ele vai tentar fazer algo comigo enquanto eu estiver dormindo. O melhor de tudo era aquele teatrinho que ele estava fazendo para tentar convencer os meus pais de que tinha se arrependido. Tá bom, vou fingir que acredito... ninguem muda assim de uma hora pra outra. Até parece que agora ele estava morrendo de amores por mim, sendo que ele sempre me tratou mal. Eu ja estava cansado de tudo aquilo e comecei a falar com um misto de raiva e tristeza:
- Até parece que eu vou cair nessa Max, você só está falando isso pra não sair tão ruim nessa situação. Eu sei que a partir do momento em que você entrar pela porta daquele quarto, essas suas lágrimas de crocodilo vão parar e você vai continuar sendo o mesmo idiota de sempre.
- Não faz isso comigo Gabe, me perdoa por favor...- Ele continuou com aquele choro falso.
- Não faz isso comigo? E o que VOCÊ fez comigo? Essas coisas a gente não esquece do dia pra noite. E quer saber de uma coisa? eu cansei de ouvir essa ladainha, vou subir e ver se o Gus deixa eu dormir com ele, porque hoje eu não durmo no mesmo quarto que esse daí.- falei me retirando.
Subi as escadas, mas antes de ir no quarto do Gus, fui no meu pegar minha toalha para tomar um banho e o meu pijama. Fui ao banheiro, tomei o banho, vesti o pijama e voltei no quarto pra deixar a toalha e pegar o meu edredom. Ele estava deitado na sua cama com a cabeça virada pra parede. Nossa pra quem estava se sentindo o pior dos seres humanos, até que ele dormiu rápido. Se bem que eu não sabia se ele estava dormindo ou não, mas enfim, sai de la sem dizer nada e entrei no quarto do Gus, ele ja estava dormindo. Toquei em seu braço e chamei seu nome:
- Gus... Gustavo, ei, acorda.-falei mexendo nele até que ele acordou meio assustado.
- Porra garoto, o que você quer? Ja não basta o trabalho que você me deu hoje pra te levar no hospital? Deixa eu dormir em paz!- Falou virando seu corpo pra parede.
- Gus deixa eu dormir aqui com você, por favor... eu não quero dormir no mesmo quarto que o Max, vai que ele tenta fazer algo comigo?
- Você ta louco é pivete? ta achando que o nosso irmão é marginal ou algo do tipo? Ele não vai fazer nada com você, para de frescura! Agora sai daqui e me deixa dormir.- falou com raiva fazendo com que eu saísse do seu quarto.
Eu não poderia esperar menos que isso do meu irmão, ja estava acostumado... Bom se eu tinha uma certeza, era que pra aquele quarto eu não voltaria hoje. Desci as escadas e me deparei com o sofá e ele me pareceu bem convidativo. Deitei me cobri e dormi.
Na manhã seguinte sou acordado com alguém tocando o meu braço de leve. Era a minha mãe:
- Filho você dormiu aí por quê?
- É... é que, bem eu... eu fiquei com, c-com medo...- falei de cabeça baixa pela vergonha de admitir isso pra ela.
- Calma filho, olha eu não sabia que o seu irmão agia desse jeito com você.- Ela disse com ar de decepção.
- Mãe eu nunca te falei nada por vergonha. Eu não queria parecer fraco nem nada disso... eles nunca fizeram nada na sua frente, mas os meus irmãos me odeiam. Eles só me tratam mal, não gostam de mim por eu ser mais na minha e eu não aguento mais esconder isso de você, faz alguma coisa por favor, eu ja cheguei no meu limite. Eu não quero mais ser tratado assim... você não quer me mandar pra morar uns tempos com a minha tia, na outra cidade?- falei vendo uma luz no fim do túnel.
- Que outra cidade garoto? Você é meu filho e a minha irmã não tem que ter responsabilidade nenhuma em cuidar de você, onde ja se viu sair de casa por causa dos irmãos. Mas pode deixar que eu vou ter uma conversa muito séria com aqueles dois, que é para o dia deles começar bem.- falando isso, me abraçou e subiu. O dia mal começou e eu ja queria que ele terminasse. La vem bomba.