Cap.19
NARRADO POR MAURICE
Eu estava noivo. Sim, era isso que havia acontecido. Eu havia noivado com uma moça francesa. Na verdade ela não era uma moça comum, era uma amiga minha de infância. Minha mãe insistiu tanto que acabamos noivando. Eu até estranhei o porquê daquela pressão enorme que ela fez para que nós dois noivassemos já que ela não gostava muito da minha noiva quando ela era menor. Mas ela foi a que mais fez pressão. Quase nos juntou a força. Seu nome é Marine. Ela é bonita, loira, de olhos verdes, branca, alta, corpo de modelo. Descendente de alemãos, ela herdou a boa aparência de seus pais. Tinha um ano a mais que eu. Já havíamos namorado por algum tempo, porém tudo foi desfeito quando eu fui para o Brasil, e vivi o melhor momento da minha vida.
- Você está noivo ? É isso ? - ele falava, incrédulo
- É... Mas...
- Como assim ? Você noivou ? E nós ? Quer dizer que tudo o que você disse para mim era mentira ? Eu criei expectativas para nada.
- Não, Não é isso !
- Não é ? Então o que é ? Você me enganou !?
- Não ! Você tem que me escutar agora !
Eu só parei de escrever para ele porquê já sabia que em um momento aquilo iria acontecer. Minha mãe não iria acreditar que eu fiquei sozinho para sempre, ainda mais porquê, modéstia parte eu sou bonito e já tive muitas namoradas. Um momento ela iria me pressionar, iria me cobrar uma esposa e eu não teria como a enfrentar. "Ah, mas e o amor ?" . Sejamos francos, não se vive apenas de amor. Se eu enfrento minha Mãe, conto a verdade. Possivelmente ela me deserdaria. Ela é uma mulher influente, em diversos países. Logo todos saberiam que eu fui deserdado e todas as chances de eu criar uma vida em outro lugar cairiam por Terra. Além disso, eu não iria querer tirar ele da proteção da família para viver na incerteza dos deserdados. Eu tinha um bom senso. Eu preferia ficar longe dele, mas saber que ele estava bem, em segurança, aquecido e bem alimentado, do que ao meu lado passando necessidades em busca de um firmamento em outra parte do mundo. E como eu não seria capaz de fazer uma injustiça com Marine, já que ela não tem culpa de eu gostar de outra pessoa eu decidi deixa-lo. Ainda não era noivo aquela época, mas isso aconteceria logo. Imaginei que... se fizesse isso naquele momento as coisas seriam mais fáceis para eu e para ele.
- Você devia ter me dito isso !
- Você não me ouviria ! - ele ficou em silêncio em alguns segundos - eu não ficaria feliz se nós dois tivéssemos que enfrentar duras penas juntos por causa do amor. Eu pensei em você ! Eu não me importei de sofrer ! Eu só queria que você estivesse bem !
- Mas você devia te me dito isso. Ao menos ter se despedido... Doeu não saber nada de você por 4 anos.
- Você não me ouviria. Os poucos meses que eu passei com você foram os suficientes para eu saber disso. Eu não menti para você. Pelo contrário, acho que teve coisas que eu não disse e devia ter dito. Eu te amei, mais que tudo na minha vida. Te amei tanto, que fui capaz de abrir mão do nosso amor apenas para que você continuasse bem de vida - ele virou-se, olhou para mim.
- E você ? Não sentiu nada com isso ?
Óbvio que eu senti. Pelo amor de Deus, quem gosta de ficar longe da pessoa que ama ? Ainda mais, não poder nem se comunicar com ela ? Os primeiros dias foram torturantes. Quantas vezes eu não pensei em mandar uma carta planejando um plano louco de fuga para que pudéssemos viver o nosso amor em algum lugar do mundo. Mas, sempre que eu pensava em algo assim eu imaginava nós dois, vivendo na pobreza extrema. Ele, um garoto com um futuro promissor jogado no esgoto da sociedade por que escolheu ficar ao lado de um homem. Quem iria querer que isso acontecesse ao seu amor ? Que eu saiba, quando amamos alguém nós queremos o melhor para essa pessoa sempre, mesmo que isso não represente o melhor para nós. Ninguém pode me julgar por querer algo assim.
- Você está certo. Eu sei que está - falou, indo até o quarto. De repente ele pegou um vaso e jogou na parede, de raiva.
- EI ! Porquê isso ?
- Eu preferia ter nascido mulher, se soubesse que iria ter que sofrer tanto por causa de um amor... Porquê tem que ser assim ? Porquê tem que existir tantos esteriótipos ? Porquê a sociedade tem que interferir tanto no amor das pessoas ? Porquê não se pode apenas amar ?... - ele chorou mais ainda após desabafar daquela forma. Vê-lo chorar daquele jeito acabou me levando as lágrimas também em pouco - você nem parece feliz em me ver. Tem certeza que ainda sente algo por mim ?
- O sentimento nunca morreu dentro de mim - falei, fazendo ele virar e olhar em meus olhos - eu nunca menti quando disse que te amava. Não vivemos apenas uma paixão... É amor de verdade ! O sentimento pode ter adormecido esses anos mas... Eu nunca iria esquecer você. Você não tem noção do quanto eu estou feliz de te ver e do quanto eu quero repetir tudo o que fizemos no Brasil.
- E porquê não o faz ?
- Porquê iria apenas dificultar as coisas. Já foi difícil te deixar mesmo você estando longe, imagine agora que está a poucos centímetros de mim. Eu tenho muita saudade daquilo que nós vivemos. Acho que nunca viverei algo igual. Mas... Se eu me entregar ao que quero fazer agora, vou acabar jogando tudo pro alto e botarei a sua integridade em risco.
- Você pode me dar um abraço, ao menos ? - perguntou, olhando em meus olhos. Se aproximou de mim antes de cair em meus braços. Me abraçou com uma força descomunal. Porém não era a dor física que me incomodava naquele momento. Era tudo o que eu estava sentindo que me fazia gemer de dor. Aos poucos ele foi se separando de mim. Nossos rostos ficaram poucos centímetros separados um do outro. Ele chorava. Ergui a mão, limpei as lágrimas.
- Você não mudou nada... - disse, arrancando de mim um dos poucos sorrisos que aquele momento proporcionou. De repente então, ele juntou os nossos lábios novamente. Fez o que eu queria fazer. Durante alguns segundos tudo o que nós vivemos no Brasil voltou a minha mente. Os sorrisos, os abraços, as ajudas, os beijos. O casal perfeito, agora estava separado. E só Deus agora poderia junta-los novamente - está bom... Por favor Antoine... Não torne essa situação ainda mais difícil - aquele momento, em que eu vi ele chorar por minha causa foi o mais perto que eu estive de largar tudo e vir juntar-me a ele, como dois adolescentes loucos. Mas eu não podia. Eu não tinha o direito de arruinar as nossas duas carreiras.
- Podemos ser amigos, ao menos ?
- Pro resto da vida... - dizia eu, enquanto nós dois nos olhavamos.
"A atitude mais nobre do amante, é trocar a sua felicidade, para que o amado seja feliz"
Continua
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