Ola leitores querido... como estão? Espero que bem. Obrigado por comentarem, amo, e por lerem. Estão gostando? Se cuidem e até o próximo... ;)
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O corpo do nosso pai retornou da serra três dias antes do que ele havia previsto. Meus tios, irmãos do meu pai, cuidaram do funeral. O Quim era de dar pena, não parava de chorar. Eu não entendia como era possível, uma pessoa da idade dele morrer tão subtamente de um infarto. Nem problema de coração meu pai tinha. Era o que a gente achava. Conversava com um amigo de trabalho dele e me disse que era excesso de trabalho, cansaço, exaustão, e noites mal dormidas. Tudo isso contribuiu. Sem contar que ele tinha pressão alta e nunca comentou nada conosco.
— eu te disse Guto. Ele foi pra não morrer perto da gente.
— pára!
— sabe aquilo que você me disse? Sobre ele suspeitar da gente?
— sei e fala baixo.
— será que ele se foi com raiva da gente?
— não, ele não parecia ter falado com raiva e sim com compreensão, como ele mesmo disse. Ele disse que compreendia muitas outras coisas... não tava com raiva meu amor, não tava.
Sepultamos nosso pai às quatro e meia da tarde de uma quarta-feira de julho. Era muita dor. Meus avôs estavam sofrendo demais. A família toda se mantinha unida naquele triste momento de despedida ao homem que amava a família incondicionalmente. Ele se foi, mas antes, deu aos seus filhos e seu melhor sorriso; e deixou claro que sabia do amor que um sentia pelo outro e que não se opunha. Tínhamos sua bênção eterna.
Nosso mundo desabou. Era apenas nós dois agora. Sem pai, sem mãe. Meus tios queria que fossemos pra casa deles por uns tempos. O Quim disse que não. Ele foi enfático dizendo que não iríamos pra lugar nenhum. Respeitaram nossa decisão e não tocaram mais no assunto.
Conforme os dias iam passando, a dor da perda parecia diminuir. Tudo parecia estar voltando ao normal. O Quim tava mais calmo, mais centrado e eu também. Ele assumiu um documentário, junto com um professor da faculdade. Estava empenhado, como sempre. Eu me dedicava aos estudos, tinha que ser o Juiz que sempre sonhei. Mas o mais importante: eu tinha o Quim.
Quatro meses se passaram e já era quase Natal. Resolvi mexer nas coisas do meu pai e doar suas roupas. O Quim tinha acabado de chegar e disse que não queria mexer em nada. Preferia que eu ajeitasse tudo a meu modo. Assim o fiz. Tirei todas as roupas e fui colocando em sacos pretos, era muita roupa. Terminei tudo em um dia.
Nosso pai se foi, mas não nos deixou desamparados. O dinheiro que tinha na poupança, não era pouco. Sem contar a apólice de seguros que tinha feito quando se casou com nossa mãe, era um bom dinheiro. Ele tinha álguns imóveis e todo mês era depositado os alugueis em nossas contas. Mas de que valia tudo isso, perto da falta que ele nos fazia?
Fim de semana tava próximo. Queria fazer alguma coisa com o Quim. Ele chegou em casa animado e fiquei feliz por ele estar superando nossa perda.
— cheguei. — ele disse eufórico.
— que cara é essa?
— terminamos o documentário. Já editamos.
— foi rápido.
— ficou muito bacana. O que vamos fazer pra comemorar?
— bom, eu ia te chamar pra sai...
— saímos então, to muito feliz.
— que bom..Seria demais eu ganhar um beijo teu?
— seria de menos....quero te dar tantas coisas. A gente acabou se esquecendo um do outro com tudo isso que a gente passou.
— não esquecemos, só não tinha clima...
Ele se aproximou e me beijou com a mesma paixão de antes. Que bom ter o Quim tão próximo de novo. Me levantou e rodou comigo no ar. Parecia uma criança, de tão feliz que estava. Olhou pra mim e perguntou onde iríamos passar o Natal e Ano Novo.
— a vó nos chamou, acha melhor a gente passar o Natal com nossa família. Seria mais sensato.
— tudo bem. Ano novo a gente podia passar num hotel, aqui mesmo. Eu e você, só nós dois. Tem uma coisa que precisa ser feito.
— hahaha tem é?
— tem! Mas não quero fazer aqui em casa não, quero que seja num lugar bacana. Aguenta até lá?
— aguento né. Se não morri até hoje sem...
— enquanto isso, a gente pode ir brincando.
Veio pra cima de mim cheio de dedos. Me joguei no sofá da sala e mordeu meu ombro. Adorava aquilo. Soltou todo o peso do corpo dele sobre o meu e acomodou o cacete na minha bunda. Ali ele ficou, roçando pra cima e pra baixo.
— vai acabar gozando. — disse.
— te vi de bunda pra cima, não resisti. Posso te fazer uma pergunta?
— faça.
— com quantos caras já transou?
— só com o Betinho, mas como ele era passivo convicto, bom...entendeu né?
— você é o que?
— eu? Eu sou o tipo que aproveita o momento.
— então pra você tanto faz?
— sim...
— quantas vezes com ele?
— hum, algumas. Depois ele se mudou e a gente nunca mais se viu.
— quem diria, que aquele garoto marrento, dava tanto valor numa rola.
— hahahah, e como dava... Mas esquece ele.
Eu, virgem de cu. Meio tosco falar assim, mas era a pura realidade. O Quim, tirando eu, nunha teve nenhuma outra experiência homoxessual. Eu nem sabia se ele se considerava gay, bi ou seja lá o nome que ele escolhera. A única coisa que me importava era que eu amava tanto ele, que nada e ninguém, poderia mudar isso.
Como previsto, passamos o Natal na casa dos meus avós. Casa cheia de gente e primos correndo por todos os lados. Eu adorava o clima familiar, mesmo com as saudosas lembranças de meus pais. Sentia o Quim um pouco desconfortável, mas aos poucos ele foi se abrindo.
Árvore de Natal gigantesca no meio da sala e todos os presentes em volta. Eu queria saber que presente me aguardava e o Quim não me dava pistas do que podia ser.
— fala!
— não! Vai esperar como todo mundo. Você não é criança pra ficar desse jeito.
— eu sou seu irmão caçula, isso faz de mim uma criança. — disse e ele deu risada.
— menos quando mama meu cacete.
— isso é só um pequeno detalhe.
— hahaha, sem vergonha.
Todos admiravam como éramos tão amigos, sem brigas, sem discussões. O que ninguém desconfiava, era que essa afinidade como irmãos, ia além das paredes da sala.
Hora da troca de presentes, os menores pegaram os seus e saíram correndo desesperados em abrir e verem o que tinham ganhado. Eu, na minha, aguardando ansiosamente pelo presente do meu irmão amado. Onde está o Quim? Droga, cadê meu presente? Só havia mais uma caixa na árvore, mas era o meu presente pra ele.
De repente, atrás de mim, ouvi um barulho na TV. O Quim me chamava. Eu me virei e vi um vídeo nosso. Mostrava nossa infância. Provavelmente gravados pelos nossos pais. Ele editou, inseriu a Música do David Gray - This years Love. Cada aniversário, passeio, brincadeiras, tentativas de flutuar, imaginando ser super-heroi, estavam naquele video que fez derramar em lágrimas não só a mim, mas todo o resto da família. Ele sabia me impressionar, me tirar do controle, me por nos eixos e sabia muito bem como fazer de mim o cara mais feliz do mundo. Chorei muito, chorei demais, não só por lembrar dos nossos pais, mas por saber que ele era meu único parente próximo. Ele me abraçava e dizia no meu ouvido o quanto me amava.
— você é o cara mais importante da minha vida. — ele disse pra todo mundo ouvir, mas só eu sabia o quão importante eu realmente era.
— eu nem sei o que te dizer. Foi a coisa mais linda que alguém poderia ter feito. Te amo mano.
Abracei ele, e via por cima de seus ombros os rostos chorosos de cada um ali naquela sala. Sinceramente, foi o meu melhor presente de Natal.
Eu tava tão emocionado que esqueci completamente de dar o presente dele. Ele também já tinha se esquecido que também seria presenteado. Fui até a árvore e peguei a caixa. Levei até ele e disse que quase chegava aos pés do presente que ele havia me dado. Ele abriu e sorria ao mesmo tempo que chorava. Bestão, não era pra tanto, mas tinha um valor sentimental muito grande. Era ele eu, numa foto ampliada que nosso pai tinha tirado quando viajamos pro Chile um ano antes de nossa mãe morrer. Lembro que foi a viagem que mais gostamos. O Quim adorava o Chile, era completamente apaixonado pelo imenso deserto do Atacama e pelo gigantesco deserto de sal, onde céu e terra se tocavam.
— eu nem sabia que essa foto ainda existia. Caramba, foi as melhores férias da minha vida.
— da minha também. Feliz Natal!
— Feliz Natal pra gente. — me abraçou forte e me beijou. Calma, não na boca, mas me beijou as bochechas e todos se riam.
Foi um Natal de emoções, choro, risos e lembranças das pessoas amadas que partiram. Foi o recomeço de uma nova etapa em nossas vidas.
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Continua...