Folhas Secas - Prólogo

Um conto erótico de Hunno Saggie
Categoria: Homossexual
Contém 5301 palavras
Data: 04/11/2015 16:19:38
Última revisão: 04/11/2015 16:30:28
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

Folhas Secas

Folhas Secas - Prólogo.

Janeiro

Cristóvão, rotineiramente em seu tédio, naquele fim de manhã de Janeiro em seu quarto fechado. O jovem só se lamentava por mais um ano tedioso e chato na sua vida estar se iniciando, como um castigo divino. Acordando tarde devido a falta de horários e responsabilidades, pensou em se sentar na frente do computador, o modo como ele passava a maior parte do seu dia, era como se fosse seu mal e seu único prazer na vida, de fato, era mais seu vício pessoal, no entanto, Cristóvão passara a madrugada anterior inteira em sites, Facebook, YouTube e fóruns. Percebeu que estava demasiadamente saturado de internet para voltar naquele momento. Por isso ficou um tempo com as mãos na mesinha de seu PC e monitor, atrás da cadeira e curvado olhando e pensando em o que fazer de diferente no seu dia chato, porém nenhuma ideia lhe aparecia, uma mente sem exercícios de criatividade devido ao comodismo e falta de experiência.

“Merda!”, Cristóvão xingava a si mesmo em seu quarto, era um costume dele xingar sem motivo a todo momento. Por súbito e cansaço por inúmeras tentativas de pensar em algo diferente de seu infeliz cotidiano, Cristóvão foi ao banheiro para fazer suas higienes, pisando descalço naquele piso molhado, ouviu do seu quarto o seu celular tocando.

“Trimmm! Trimmm!”

“Quem será?”, Cristóvão se indagava surpreso e boquiaberto, quase ninguém ligava para ele, tinha pouquíssimos contatos. Então impulsivamente saindo do banheiro, quase escorregando entre a porta do banheiro de seu quarto, saiu do banheiro e pegou o celular na escrivaninha, ao ver no display que se tratava de seu amigo virtual Cauã, que morava há alguns quilômetros da sua cidade, atendeu imaginando se tratar de uma notícia importante pra ele.

“Fala!”, dizia Cristóvão ríspido esperando algo.

“Cara...”, falava Cauã com a voz turva no outro lado da linha. “Por que não respondeu minhas mensagens no WhatsApp e no Face?”

“Cauã, eu desinstalei o WhatsApp, estava me enchendo o saco!”, Cristóvão respondia esfregando a mão nos olhos. “E Eu não tava afim de entrar no Facebook agora cedo”, dizia ele mal humorado.

“Humm. Tá certo.”, suspirava Cauã desconfiado.

“Vamos, anda!”, Cristóvão estava muito impaciente com aquele lengalenga logo de manhã de um mero amigo. “Alguém morreu?”, perguntou interessado.

“Cara, eu não sei... “, Cauã replicava confuso. “Vi hoje de manhã naquele noticiário da TV, aconteceu um acidente numa rodoviária perto da sua região aí, acho que pode ter morrido alguns, não só feridos.”, Cauã explicava pacientemente.

“Entendi...”, sussurrava Cristóvão reflexivo enquanto olhava para o chão. “Ótimo! Vou dar uma pesquisada aqui depois!”, disse ele mais entretido com a trágica notícia, tirando o celular de seu rosto. “Tchau!”

“Ei, cara! Se você for fazer, me avisa antes para irm...”, Cristóvão nem se interessou pelo o que amigo falava. Apenas cortou a ligação.

Por um momento, ao desligar o display de seu celular e pôr de volta na escrivaninha, Cristóvão expressou um estranho sorriso, e tinha um motivo: o trágico acidente que acontecera; O jovem pensou em abrir a janela do seu quarto, para dar espaço à luz do sol, que teimava em se fazer presente com seu calor e refletida claridade sob o tecido da cortina. Porém, seria algo para outra hora na cabeça de Cristóvão. Voltou ao banheiro, pôde ver sua imagem no espelho da porta do armário, cabelos negros bagunçados de quem acabara de acordar, olhos sombreados de quem pouco dormia, uma pele pálida de quem não saía, esse era Cristóvão, e ele só pensava que era sua “beleza adquirida”, reflexo de quem ele era por dentro. Abriu a portinha, viu cada frasco de remédios que ali estava: Dalmadorm, Dormonid, Brozepax, Calmociteno e outros calmantes; além de produtos de higiene, barbeadores, creme dental, escova. Contudo, ele focou sua visão no barbeador, pensando pegá-lo, tocou-o. Analisou o objeto minuciosamente, pôs seu dedo polegar fragilmente na gilete dupla. Sentindo o aço gélido e seu fio cortante, era difícil entender suas intenções, até para o próprio Cristóvão. Logo colocou o barbeador de volta, pegou sua escova e espremeu o tubo de creme dental. Escovava seus dentes vagarosamente, enquanto inconsequentemente ouvia o barulho da pia aberta e água corrente caindo vorazmente. Cuspiu e lavou a boca e seguidamente a escova. Repentinamente seu celular tocou novamente.

“Trimmmm! Trimmmm! Trimmmm! “

O garoto pegou a toalhinha perto da porta, e enxugou seu rosto com pressa. Entrou no quarto, pegou o celular hipotético de que seria Cauã novamente, mas não era. Ao ver de quem se tratava, pôs em seu rosto uma expressão entediada e atendeu.

“Qual o grande acontecimento dessa vez?”, perguntou ele impaciente.

“Que mal humor é esse, Cristóvão?”, indagava a mulher intransigente enquanto se ouvia um som de trânsito.

“Nada. Tá dirigindo enquanto fala no celular?“, Cristóvão questionou supondo.

“Ainda não. Tá um congestionamento desgraçado da porra aqui”, a mulher resmungava incomodada com a situação. Apenas pensava em sair logo. “Escuta Cristóvão!“, anunciou ela.

“Sim?”, Rebateu Cristóvão.

“Consegui um tempo livre agora de tarde do departamento”, dizia ela pegando um maço de cigarro de seu casaco enquanto deixava seu celular preso entre o ombro e a cabeça e depois um isqueiro. “Vou fazer umas compras, e vou poder almoçar você, isso não é ótimo?”, finalizava seu aviso pondo um cigarro entre os dentes, deixando sua mão livre agora, apenas com um isqueiro na outra, assim o acedendo.

“Uma maravilha, Dona Lorena!”, Cristóvão disse sarcástico com a novidade.

“Imagino que logo saio daqui, então prepara tudo aí, beijos da mamãe!“, Lorena dizia enquanto dragava de seu cigarro e esfumaçando seu carro.

“Tá, tá. Tchau Dona Lorena”, disse Cristóvão por fim muito ranzinza enquanto a ligação se encerrava.

“Queria algo diferente do meu cotidiano, e ganhei. Obrigado Deus!”, Cristóvão clamava algo e sarcasticamente com os braços abertos e olhava para o teto, colocou o celular de volta e deu uma cuspida no chão, pondo seu braço a limpar sua boca. E voltou para o banheiro, para finalizar sua higiene defecando e tomando um banho rápido e totalmente pelado.

Depois de acabado o banho, vestiu uma camiseta preta baby look e um short preto também, não penteava o cabelo, pois gostava dele desarrumado. Cristóvão não queria nem saber da mãe chegando, mesmo sendo um fato raro, sua mãe o entediava, mas não como a maioria dos adolescentes de sua idade, era um desgosto inexplicável, pelo menos era o que ele se dispunha a acreditar. Sentou na cadeira da mesa do seu PC, pensou no que faria primeiro, foi quando decidiu apenas jogar um jogo online no PC por horas. Passado algumas horas, Cristóvão continuava entretido com seu jogo de aventuras violenta pela cidade, até ouvir a buzina do carro de sua mãe do lado de fora.

“Filha da puta... “, resmungava ele por sua mãe o atrapalhar.

Cristóvão olhou pela cortina da janela, Lorena estava cheia de sacolas e impaciente, com certeza esperando que Cristóvão aparecesse abrir a porta para ela. Prontamente Cristóvão desligou o monitor, saiu do quarto, desceu a escada rapidamente e abriu a porta da frente, onde sua mãe estava em frente, e o olhava com um olhar suplicante, Cristóvão estava muito desligado que nem percebia que sua mãe precisava de ajuda.

“Filho de Deus...”, Lorena murmurou revirando os olhos. “Vai ficar parado aí que nem um poste ou vai me ajudar a levar essas compras?”

“Ah tá.”, Cristóvão cochichou se dando conta da situação.

Lorena estava com seu casaco cor salmão, muito fino e salto alto, cheia de sacolas e pacotes seus braços. Mas com cheiro de cigarro, o cheiro não incomodava mais Cristóvão.

“Pega esses aqui, que vou pegar o resto lá no carro”, dizia ela jogando todas as compras que havia com ela em cima de Cristóvão descuidadamente, ficando apenas com sua bolsa, que fazia um esforço pra se equilibrar e segurar tudo.

“Caramba... Fez a limpa no supermercado!”, Cristóvão dizia com dificuldade entre as compras.

O jovem conseguiu levar tudo com cuidado e devagar a caminho da cozinha, onde pôs tudo no balcão, sentido-se aliviado. Organizou as coisas em cima do balcão, e iniciou a retirada das coisas para guardar. Ao passo que sua mãe Lorena, visivelmente bastante cansada, mas ainda mantendo a pose aparece de óculos com duas sacolas, mais sua bolsa no ombro.

“Almoço em família às três da tarde, é?”, Cristóvão comentou descontraidamente e desacreditado.

“Cristóvão, você não imagina que fiquei mais de uma hora naquele engarrafamento! “, dizia ela de sobressalto colocando as sacolas no balcão. “Parece que aconteceu algum acidente ou alguma coisa assim. Um deus nos acuda!”

“Sei.”, pronunciava Cristóvão incrédulo com a mãe.

“É verdade. Pensei que morar numa cidade mediana seria mais calmo, não teria dessas coisas”, dizia Lorena em um tom abrupto.

“Mediana, mas ainda estamos em área metropolitana.”, ressaltou Cristóvão pegando algumas verduras e legumes, rindo porque ele não cozinhava, muito menos sua mãe.

“Também, com esse governo comunista que temos que fica ajudando pobres pra ganhar votos, agora todo pobre pode comprar carro, e nós trabalhadores de classe média e ricos que temos que pagar o pato!”, Lorena reclamava inconsolavelmente enquanto também passou a retirar as compras das sacolas junto do filho.

“Humpf”, Cristóvão ria.

Cristóvão achava a situação engraçada, sendo que sua mãe não era rica, apenas de classe média e se achava, mas ele passou a não se importar com os comentários indelicados de Lorena. Lorena por sua vez, só queria chegar do trabalho e acreditar que estava se esforçando para não se afastar do filho, pelo menos socialmente teriam que parecer uma pequena família feliz para ela.

“Ah, mas não foi só isso.”, Lorena continuava, enquanto Cristóvão tentava tirar tudo o mais rápido que podia. “Acredita que quase duas horas comprando tudo isso? A fila do supermercado mais cheia que fila para o bolsa-família, por Jesus... Gente pobre fedorenta e suada perto de mim, fora que tinha uma velhinha perto de mim, pior que uma tartaruga!”, Lorena tirou um vidro de azeite e logo pôs a mão na testa como se estivesse sofrendo, Cristóvão tentava não dar ouvidos a mãe, mas ria descontroladamente. “Ela tirava as coisas do carrinho, era uma morte! Acho que nunca esperei tanto na vida, quanto ela pegou aquela galinha congelada, a última, minha paciência já tinha ido para o espaço, quase não fiz uma reclamação, mas como eu sou uma dama, não posso ficar me dando para barraco qualquer por aí não! Mas quando pensei que tudo tava acabado.”, Lorena fez uma pausa, tomou fôlego, Cristóvão parou o que fazia e a olhou. “A velha me aparece com uma bolsa cheia de moedas, filho. Moedas! Moedas? Quem diabos usa centavos hoje em dia? Só podia ser pobre! “, Lorena parecia aborrecida com o acontecido. “Ela teve que contar lentamente uma por uma na hora de pagar, aí foi o fim da picada”, dizia um pouco mais raivosa. “Tive que interceder, empurrei a velha, peguei a bolsa dela, contei as moedas o mais rápido possível, o atendente ficou espantado, nem sei se a velhinha caiu no chão quando tomei o lugar dela, mas finalmente consegui minha vez e saí de lá. Nunca mais volto, supermercado mal frequentado, eu hein”, finalizando sua reclamação, Lorena se recompôs e voltou a fazer seu trabalho de tirar as coisas de suas sacolas, quase acabando.

“Lorena e seus dilemas”, Cristóvão comentou fazendo piada da situação.

“Ah Cristóvão, se tem uma coisa que não sou é obrigada.”, disse Lorena rispidamente.

Em outro, Lorena só pensava em como ficaria sua imagem diante da sociedade, mesmo não sendo rica, tinha contatos importantes e seu trabalho exigia isso. Algo que a moldou de modo tão profundo que a transformou em uma boneca supérflua. Cristóvão não exigia mais atenção dela como mãe, por isso. Era um momento que não importava mais pra ele, era o que pensava ao analisar cada produto.

“Atum enlatado, milho enlatado... Carne enlatada!”, Cristóvão sussurrava ao contar as compras, olhou para Lorena que estava confusa com a atitude do filho.

“Que foi?”, indagou ela inocentemente olhando abertamente.

“Nada, Dona Lorena.”, replicou Cristóvão chateado porque era bastante comum esse tipo de coisa. “Comida enlatada e pronta”, comentou ele subitamente.

“Que frescura, Cristóvão”, Lorena expressou não dando importância ao filho. “Sabe que não tenho tempo para cozinhar, muito menos talento para isso. Fique feliz que tô aqui e comprei comida chinesa pra nós em um restaurante hoje”, Lorena proferia rígida e levantando uma sacola.

“Pra variar”, Cristóvão cochichou enquanto se abaixava para abrir um armário e guardar coisas na dispensa.

“Sabia que um primo seu morreu faz quase uma semana?”, Lorena comentou puxando assunto.

“Morreu? Que primo?”, de súbito Cristóvão perguntava muito interessado. Levantou e pegou mais alguns produtos e olhou para sua mãe se virando.

“É, é...”, suspirava Lorena tomando fôlego. ”Ah sei lá, é um primo distante de parte do pilantra do seu pai. Só sei que ele era de família muito nobre da capital, como seu pai”, dizia ela já com interesse nas palavras e brilhos nos olhos por fazer parte de uma família importante. “Ele se matou no natal”, revelou Lorena mais introspectiva.

Cristóvão riu, parecia animado com a notícia, foi quando disse:

“Sorte a dele”, expressava ele indiferente, mas com desejo passional dentro de si.

“Cruz Credo!”, Lorena exclamou estupefata com o filho. “Que há com você? É alguma influência da internet ou esses metal ou sei lá o que você anda ouvindo?”, Lorena indagava olhando fixa para Cristóvão que continuava a guardar as coisas na dispensa.

“Deixa pra lá, mãe.”, Cristóvão disse se controlando, não tinha paciência para neuras de Lorena que o enchiam o saco. “E o velório e o enterro?”, Cristóvão questionava com brilho nos olhos.

“Já foi”, respondeu Lorena bruscamente.

“Como assim?”, indagou Cristóvão surpreendido.

“Foi tudo no mesmo dia”, respondia Lorena guardava mais algumas coisas e indo para sacola de comida de chinesa.

“Droga! Por que a gente não foi?”, Cristóvão reclamava exigindo de sua mãe, que logo pôs suas mãos na cintura e olhou inflexiva.

“Por favor, né, Cristóvão!?”, disse Lorena indignada. “Eu não iria viajar para capital no Natal só por causa de um velório, mesmo sendo de alguém importante.”, explicou ela pausadamente e apontando o dedo. “E só soube disso ontem, por uma amiga da capital, ninguém daquela família pra nos avisar mesmo.”, dizia ela com certo rancor ao colocar uma caixa de macarrão no balcão.

Cristóvão se mostrou bastante decepcionado, apenas se absteve de não falar e continuar guardando os alimentos, estava reflexivo pensando que perdeu o enterro de um primo que nem conhecia, o que poderia ser muito estranho. Não prestava atenção às reclamações de Lorena sobre a família do pai de Cristóvão, que eram distantes deles, o que causava indignação e raiva por parte de Lorena, sentia-se rejeitada. Logo Lorena se calou, estava terminando de guardar as coisas.

“E o seu cursinho? Foi se inscrever?”, Perguntava Lorena repentinamente mudando de assunto ao abrir um armário em cima e guardar alguns doces.

Cristóvão lembrara que dormiu a manhã inteira, e se esqueceu que tinha que fazer, mas esquecer não o deixou preocupado.

“Sim, eu fui. Devo começar em Fevereiro”, Cristóvão mentiu sabendo que teria todo tempo do mundo.

Lorena o olhou de cima para baixo seu filho, parecia desconfiada, não seria a primeira vez que ele mentia para ela, mas ela apenas quis acreditar.

“Tá Certo”, disse ela em morosas palavras. “Eu não quero que filho meu perca mais um ano na vagabundagem, nem parece gente”.

Cristóvão agora ficava visivelmente irritado com sua mãe, odiava suas críticas, ela não poderia entender o que se passava com ele sem julgá-lo, isso os distanciava mais que tudo.

“Tá, tá, tá mãe, vou me esforçar, não precisa ficar reclamando”, Cristóvão tentava apaziguar a situação para seu lado enquanto guardava frios e congelados na geladeira. “Eu sempre dou meu jeito...”, sussurrou ele sentido o ar gélido.

“Quero só ver, no fim vou ter que acabar pagando um faculdade para um filho desinteressado que nem trabalha, nem nada”, Mas Lorena continuava, enquanto arrumava louças em cima da mesa. Era comum da mãe, então Cristóvão viu que não tinha jeito. “Quero um filho que seja motivo de orgulho pra mim e seja invejado por todos...”

“Chega! Então procura ou faz outro filho!”, esbravejou Cristóvão achando tudo aquilo insuportável.

Lorena se assustou com o ato repentino do filho, o barulho da porcelana que segurava soltou-se da sua mão na mesa, foi o estopim de um silêncio enigmático entre os dois. Lorena boquiaberta não conseguia entender o filho, olhou para ele tentando encontrar respostas e nada, pensou em perguntar o que ela fazia de errado, mas titubeou. Não queria uma discussão naquela hora. Cristóvão apenas a olhava com fúria, foi quando constatou seu estado descontrolado, e se sentiu mal. Estava decepcionado.

“Tô sem fome”, disse Cristóvão baixinho depois da explosão, saindo da cozinha.

“Cristóvão! “, Lorena clamava na mesa. “Cristóvão! “, aumentou o tom. Seguiu para abertura da cozinha e seguiu ele. “Cristóvão, vem aqui, moleque! “, esbravejava enquanto via ele subindo a escada rapidamente ignorando-a.

Cristóvão não queria ouví-la, nenhuma palavra a mais de sua boca. Entrou no seu quarto vorazmente, fechou a porta com toda força e se jogou na cama, pensando em sua vida e suas decepções, onde caiu num sono profundo. Lorena sempre fora decidida, mas quando se tratava do filho, era indecisa, era tão forte de personalidade quanto o filho. Por um momento se sentiu triste por estar comendo sozinha na mesa da sala seu Frango do General Tso. Refletia sobre, mas logo afastava seus pensamentos, voltaria ao trabalho, era onde ela se empenhava e a maior parte de sua vida.

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Início da noite, Igor andava vagarosamente pelos quarteirões perto de seu prédio, depois de quase um hora e pouco de ônibus até chegar em seu bairro, acabara de sair de seu trabalho, antes de ir para casa, comprou algumas coisas para suas necessidades básicas, já que morava sozinho, então Igor com um casaco, seu uniforme por baixo, mochila e duas pequenas sacolas na mãos seguia adiante por uma calçada um tanto movimentada, mas sua cabeça só tinha foco para um lugar, ou melhor, uma coisa, era como se lhe tirasse sua paz, atormentava-o intensamente. Seu emocional estava sinceramente abalado, logo começou a pensar em coisas do passado, no que houvera algumas horas antes, alguns dias... Algumas vidas. Tudo se resumia em Igor, e seu novo trabalho.

“Eu devo fazer isso?”, indagava Igor a si mesmo. “Não, se eu já consegui isso, tenho que fazer. “, sussurrava a si mesmo. “Mas não é certo... Porém, eu não me sentiria estar fazendo o certo me calando.”, Igor finalizou em um breve debate consigo mesmo.

Sem perceber, já estava perto de seu prédio, por um momento andaria alguns metros ultrapassando o local em sua discussão intrapessoal, mas não. Havia algo diferente naquele dia, havia alguém ali em frente ao portão de sua casa, parada.

“Ei, Igor!”, Ela gritava lhe chamando atenção.

“Hã”, Igor percebeu algo estava vagando sem destino ao ouvir a voz lhe chamar, totalmente sem atenção, alguém poderia lhe assaltar sem ao menos se dar conta, mas Igor acordou. Virou-se, e viu de quem se tratava na frente de seu prédio, deu um repentino sorriso com a pessoa, e foi se aproximando de seu destino.

“Você é um pateta mesmo, hein”, a Moça dizia ao sentir ele próximo.

“Desculpa, estava perdido em uns pensamentos. Mas o que faz aqui?”, Igor perguntava surpreendido com a visita.

“Menino, nem te conto!”, Iniciou a moçoila tomando fôlego. “Tô aqui te esperando os 5 minutos mais eterno da minha vida”, falava com uma expressão de sofrimento.

“Ahahah, Tá certo, rainha do drama.”, respondia o jovem trabalhador rindo.

“Ivan me deixou aqui faz uns minutos”, esclarecia ela mais séria.

“Entendo”, Igor sussurrou.

A conhecida mulher o analisou da cabeça aos pés, percebeu como Igor se distraiu novamente, e fez uma expressão brava cerrando as sobrancelhas e franzindo a testa.

“Vamos entrar ou não?”, exigia impaciente.

“Ah, certo, Pâmela”, respondeu Igor se dando conta, pegando uma chave no casaco e a moça dando espaço para ele em frente ao portão.

Igor estava animado com sua velha amiga de infância, Pâmela, que no momento se encontrava na mesma cidade que ele, Pâmela que por sua vez estava muito saudosa de seu melhor amigo, era um reencontro muito almejado, entretanto, condicionado ao cotidiano de cada um. Igor abriu o portão, subindo a escadaria da frente, até chegar na porta de seu pequeno apartamento, entrando em seu lar escuro.

“Pode entrar”, Igor disse colocando seu corpo para dentro do breu e ligando a luz em um interruptor dando espaço para luz.

“Meu filho, eu entraria aqui sem mesmo sua permissão”, disse Pâmela indelicada logo atrás do amigo.

Igor apenas sorria com o humor da amiga, foi explorando a casa, ligando a luz do corredor, banheiro e cozinha, onde deixou suas compras. Pâmela o acompanhava, mas deu uma parada na cozinha. Igor se direcionou ao seu quarto.

“Imaginava algo diferente”, esbravejava Pâmela da cozinha.

“Desculpa se eu não tô adequado aos seus luxos”, disse Igor rindo abrindo a porta.

Igor ligou a luz no interruptor na parede, caminhou até a beira de sua cama, sentou-se aliviado por ter um momento de descanso naquele dia, expressado em um repentino gemido. Tirou sua mochila e o casaco e os jogou em cima da cama.

“Que quarto pequeno e bagunçado!”, comentava Pâmela na porta coma uma colher entre os dentes e um pote de doce de leite.

Pâmela se impressionou com a incúria do quarto de Igor, muito tempo convivendo com Ivan, seu namorado bem de vida e se sentindo uma dondoca do século XXI, fizera a ficar desacostumada com lugares mais humildes. Poderia ver uma pequena cama de solteiro desarrumada onde se encontrava Igor, um ventilador logo em frente com muitos livros e apostilas ao lado no chão espalhados de forma desorganizada, uma pequena penteadeira, não tinha armário. Roupas um pouco espalhadas por atrás da porta em uma cesta. Um verdadeiro cubículo de um jovem sem tempo.

“É uma kitnet, queria o quê?”, replicou Igor incomodado com o desaforo da amiga. “E está assaltando minha geladeira, sua piranha!”, disse ele vendo a amiga com seu doce de leite.

“Bobeou, dançou”, Pâmela tirava com a cara do amigo, e dava uma virada e uma colherada fazendo cara de orgasmo.

“Ricos sempre roubando dos pobres”, cochichou Igor fazendo piada da situação e começando a tirar seus tênis sentado na cama.

“Nem sou ainda, monamour. Mas meu bofe é”, respondeu a mulher percebendo um espelho e indo em sua direção.

“Ah, sim. O Ivan. Por que ele não veio com você?”, Questionou Igor virando a cabeça e reparando a amiga se exibindo no espelho com um pote de doce e uma colher.

Pâmela era uma jovem mulher esbelta, pele morena, cabelos loiros com alguns cachos na ponta que chegavam até os ombros, muito vaidosa sempre com maquiagem e poses, gostava se sentir bonita e era bonita, mantinha uma obsessão por sua aparência desde pequena para tentar conseguir coisas.

“Ah, Ivan tem amigos aqui. Ele é daqui, lembra? “, disse ela mexendo em seu cabelo, Igor apenas concordou com a cabeça. “Então como ele tava de férias, deixou Ribeirão da Cruz e veio para capital fazer uma visita e me trouxe junto. Se não me levasse também, a cobra ia fumar”, disse ela colocando dois dedos da mão em frente ao olhos fazendo sinal de vigia. “Pedi para ele me deixar aqui na frente da casa do meu miguxo, e ele foi para um bar com os amigos, depois volta pra me buscar”, disse ela se aproximando de Igor e dando um rápido e leve abraço.

“Ahah, você deu sorte de achar um boy perfeito”, comentou Igor rindo da amiga espontânea.

“Meu filho, minha buceta é o poder!”, respondeu ela descendo um pouco até o chão se agachando com o pote e a colher em cada mão, dando um beijinho no ombro. “Homem é a coisa mais fácil do mundo de prender e dominar”, revelou Pâmela se sentindo a tal e sentando perto do amigo que ria da amiga. “E você? Já pegou algum boy magia da cidade? Vi que aqui tem muitos gatos”, disse ela suspirando encostando o ombro no amigo enquanto comia seu doce de leite.

“Não, claro que não “, respondia Igor um pouco constrangido com a pergunta.

“Ah migo! Não faz a Virgem Maria, que sei tu não é santa.”, comentou Pâmela espontaneamente se levantando e se afastando.

“Sua puta!”, exclamou Igor xingando a amiga descontraidamente enquanto se espremia na cama para pegar um travesseiro e arremessar em Pâmela, que percebendo logo se esquivou.

“Cuidado com teus pertences”, comentou Pâmela indiscreta após seu reflexo.

“Eu não tenho tempo para sexo ou namorado”, explicou Igor um pouco mais sério. “Desde que vim pra cá, só tenho tempo e mente para o trabalho “, dizia Igor com um semblante de introspecção.

Pâmela rapidamente percebeu que a aura de seu amiga mudara, parecia tenso e triste. O que dominou todo clima naquele quarto, seu olhar fixo pra ele investigando o que poderia estar acontecendo. Logo percebeu seu uniforme branco de enfermeiro.

“Tá trabalho naquele asilo, né? Como tá sendo?”, perguntou ela mudando de assunto.

“Asilo não. Casa de Repouso.”, afirmou Igor convincente.

“Tanto faz, é a mesma coisa “, disse Pâmela deliberadamente.

“Pode até ser, mas asilo traz uma carga pesada para um lugar como aquele...”, murmurou Igor olhando fixo para frente. “Tô trabalhando lá faz pouco mais de um mês, e já me sinto tocado... Aquele lugar tem muito de mim”, disse por fim causando espanto na amiga que ficará paralisada e pensativo com a colher à altura de seu pescoço.

“De você?”, repetiu ela com a voz turva.

“E de você também.”, disse ele voltando seu olhar estanho para Pâmela, que de sobressalto se afastou um pouco, estava pensativa.

“De mim...”, sussurrou ela compreendendo o amigo atônita.

“É, e de todo orfanato.”, Completou Igor suspirando e mudando para uma expressão aliviada, porém triste. Cabisbaixo.

“Entendi agora.”, Pâmela se limitou a dizer isso, não queria postergar o assunto.

“Como tá o orfanato e todo mundo?”, indagou Igor levantando a cabeça sedento por informação.

“Ah, tá normal, tudo como sempre está”, Pâmela respondeu vagamente causando estranhamento e frustração em Igor.

“Sei”, sussurrou Igor desconfiado enquanto Pâmela avulta olhava para os lados.

Pâmela não queria tocar no assunto de seu passado em comum, aquilo lhe trazia tristeza, era uma norma que ela seguia, no entanto, só ela sabia. Apesar de conviver com ele, ela suportava, fugia, fazia de tudo para não chegar naquele ponto. Mas no fundo, Pâmela só pensava e temia que seu futuro seria o mesmo.

“Onde fica o banheiro desse quarto?”, perguntou Pâmela repentinamente.

“No fim do corredor.”, respondeu sorrindo e apontando para porta de entrada.

“Eu hein”, expressou Pâmela desgostosa com a situação precária.

Pâmela saiu do quarto, deixando o amigo só e indo para o banheiro. Quase simultaneamente Igor deitou-se ainda uniformizado na cama, e pensou sobre o que acabara de acontecer e seu trabalho no asilo, aquilo o tocou profundamente. Foi quando se lembrou o que fez mais cedo, ao se deparar com sua mochila do lado. Prontamente abriu o feixe e tirou uma pequena agenda dela, folheando parou em uma folha específica, uma folha que mantinha alguns números anotados, números recentes. Voltou-se a sentar e refletir novamente se aquilo era certo, se devia ou não fazer. Por impulso pegou no bolso de casaco na cama, seu celular, desbloqueou e ficou olhando a folha da agenda e seu celular lado a lado tentando tomar uma decisão. Nervoso e apreensivo discou o número ali anotado e seu celular, e ansioso fez uma chamada.

“Tumm tummm”

“Tumm Tumm”

“Tumm Tumm Tumm”

“Vamos”, Igor esperava ansiosamente.

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“Trimmmm Trimmmm”

“Trimmmm Trimmmm Trimmmm “

“Trimmmm Trimmmm Trimmmm “

“Droga, que merda”, xingava Cristóvão com uma voz fina e sonolenta ao tirar a cara do travesseiro e acordar. Sentou-se na cama e acordou ouvindo o telefone da casa tocando incessantemente, aquilo estava o incomodando. Tentando compreender e despertar sua mente, percebeu que dormiu profundamente e ao sair do quarto para procurar o som do telefone se deparou com a casa escura, dormiu até parte da noite. Aos poucos foi acendendo as luzes da casa, descendo a escada e esfregando suas mãos nos olhos. Foi quando constatou que era o telefone da cozinha que tocava sem parar.

“Lorena?”, Chamou o garoto se precavendo se sua mãe ainda estava em casa. “Mãe? Tá aí? “, esbravejou ponto sua cabeça na sala.

Então sem outro modo, Cristóvão teria que atender o telefone, dirigiu-se lentamente para cozinha na esperança do telefone parar de tocar. Não funcionou, acabou atendendo.

“Quem é?”, resmungou o garoto os olhos semifechados.

“Oi, Oi, Oi”, disse a voz de Igor do outro lado da linha apreensivo porque pensava já em desistir quando foi atendido.

“Quem é, droga!?”, xingou o garoto impaciente.

“Oi, desculpa “, Igor respondeu se reprimindo com a resposta que ouvira. “É da Casa da Senhora Lorena Martinelli Sousa Campos?”, perguntou Igor direto lendo a agenda.

“Não, não é!”, resmungou Cristóvão desligando o telefone com brutalidade.

“Tumm tummm”

“Ei, esperrr”, foi só o que Igor tentava dizer ao perceber que não falava mais com ninguém.

Cristóvão por acabar de acordar, mal conseguia raciocinar. Mentiu, mas mentiu por estar mal humorado por causa do telefone, não queria postergar assunto nenhum, ainda mais se fosse lhe respeito à mãe. Apenas lavou o rosto na pia da cozinha, procurou algo para comer na cozinha e seguiu para seu quarto, onde ficou outra madruga seguidamente na frente do computador.

Igor por sua vez, estava aborrecido com a situação recente, sua esperada ligação não deu certo, caiu em uma rápida inconformidade, pensando se o número estava errado.

“Mal educado”, Cochichou Igor irritadiço com o garoto ao olhar o celular e ainda com agenda em mãos.

“Quem?”, Perguntou Pâmela aparecendo de repente na porta, causando espanto em Igor.

“Ah, que susto!”, expressou Igor fechando a agenda e bloqueando o celular e colocando atrás dele. “Nada não, só uma ligação que não deu certo “, respondeu Igor não entrando em detalhes.

“Se for um boy, tem que me dizer, viu?”, disse ela se aproximando.

Igor apenas sorriu com a fala de Pâmela, que era bastante indelicada em muitas circunstâncias, às vezes totalmente opostas. Mas Igor por dentro se encontrava irado com a falta de educação de quem o atendeu, não entendia o que aconteceu, tinha plena certeza que aquele era o número certo, começou a pensar se escreveu o número errado, fora outras dúvidas: quem o atendeu para ser tão ranzinza? Tentou afugentar esses pensamentos, sua amiga ainda estava ali e estava cansado.

“Migo! O Ivan me ligou, logo tá chegando, vou ter que ir embora, tá?”, disse ela se aproximando de Igor o abraçando e dando um beijinho na bochecha, retribuindo posteriormente. “Ele vai me levar para um baile funk que é só o glamour”, revelou ela animadíssima já dançando. “Não te convido porque sei que tu não curte essas coisas “, disse ela se recompondo.

“Tá, tá.”, expressou Igor se divertindo com Pâmela. “Divirta-se!”

“E eu vou, muitooo!”, disse Pâmela fazendo biquinho e já pensando no camarote que Ivan reservara. “Vou indo, beijo beijo! Nos vemos outra hora e te conto todos os babados”, disse ela mandando beijos com a mão e saindo.

“Tá, Tchau “, sussurrou Igor se despedindo.

Assim que Pâmela saiu, Igor se jogou na cama cheia e desarrumada, seu corpo não aguentava mais por aquele dia, adormeceu ali mesmo, pois amanhã tinha mais um dia de trabalho, mas ainda com os pensamentos da ligação em sua cabeça.

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E voltei!, antes do esperado rsrs. Mas essa estória não tá terminada, resolvi postar porque não me aguentei. Não se deixem levar por esse prólogo não. Vou tentar escrever todo dia e postar no mínimo a cada dos dois. Quero críticas também, gente!

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Comentários

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Adorei , ja to ligado esperando o próximo cap . Eu tenho uma obs mt grave ! se tu demorar mt pra postar eu irei te torturar kkk's brinks , teu prológo ta incrivel . Beijos de sangue e fogo de um targaryen .

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Bla bla bla sobre contos longos kkkkkk... Pelo ao menos é mais original que aqueles contos que pendem para escrever um conto maior kkkkk... Apesar de eu tbm ter dificuldade em ler um conto grande - no celular o conto parece ser enorme - a sua escrita me fez fluir pela leitura, cheguei ao final e pensei"ué já acabou" hahaha...

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Interessante, só ficou muito, muito longo e não entendi muito bem

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Narrado em 3° pessoa. Interessante. Já pensei em fazer isso mas nao sabia se iriam gostar. Achei da hora!

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Concordo totalmente com Ru/Ruanito contos longo sao intediante, saio pulando tudo. Divide em dois esse mesmo tamanho, ai ficara bom.

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ai contos longos me irritam. gostei mais não conte comigo na leitura. porque eu irei ler pulando tudo e não vou acompanhar nada.

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