Folhas Secas - Capítulo 9

Um conto erótico de Hunno Saggie
Categoria: Homossexual
Contém 2498 palavras
Data: 12/11/2015 21:34:37

Folhas Secas

Capítulo 9 – Um Pouco de Descoberta, Um Pouco de Vida, Um Pouco de Entendimento E Muito a Contar.

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“Então vai me contar ou não?”, dizia Humberto insistentemente.

Eliza encontrava-se assustadoramente nervosa com Humberto diante dela, perguntava-se se ele teria escutado toda conversa com Igor, se fosse, precisaria de uma resposta rápido e convincente para enganar Humberto. No entanto, Humberto estava bastante interessado e decidido, como se adivinhasse não ser pouca coisa, teria que ser tudo e exato. Então Eliza olhando fixamente para o chão, de braços trêmulos e se afastando vagarosamente para trás, ouviu em um tom de voz mais inquietante que aquele homem pudera ter.

“Eliza....”, sussurrou ele com entonação grave.

“Ah Doutor Humberto!”, falou ela suando nervoso. “É-é-é”, gaguejava quando olhava pata seus olhos aterrorizantes. “Não é nada demais, não. Coisa íntima do Igor, nada a ver com o trabalho. Então não vou fofocar.”, responde ela olhando para baixo não passando convicção.

“Vamos, Eliza. Seja uma boa enfermeira. Sei que é algo sobre a Casa, ouvi bem Igor falar em mentir. “, falava Humberto com um tom amigável.

“Ai, doutor! “, Exclamou ela quando Humberto tocou em seu ombro com aqueles olhos, suava mais e mais de medo. “Eu sou amiga do Igor, não posso contar”, disse ela fechando os olhos.

“Tudo bem.”, falou ele para surpresa de Eliza enquanto se afastava e passava as mãos em seu jaleco.

“Como?”, suspirou Eliza em súbito.

“Bom, se não é nada, não haverá problema de eu informar a Lourdes sobre a conversa dos dois, não é?”, indagou ele com um estranho sorriso.

Humberto sabia como contornar a situação e encurralar Eliza, que agora estava mais medrosa que antes, temia que Lourdes soubesse de tudo, mas não entendia porque Humberto queria saber sobre aquilo, que intenções ele poderia ter? Não vendo escapatória, Eliza não pensou duas vezes.

“Não, não”, clamava Eliza percebendo que Humberto sairia. “Eu conto tudo.” Disse ela receosa.

“Boa garota!”, falou ele sorrindo e se aproximando..

“Começou com Igor e sua interna, Hilda que sei...”, contara Eliza pacientemente.

“Interessante”, suspirou ele interessado.

Seguiu-se de Eliza contando cada detalhe que sabia sobre Igor, suas inverdades, e seus intermédios na vida dos familiares e Idosos, para deleite de Humberto, que se interessava misteriosamente pelo assunto, mas não fazia menção de entregar Igor, para alívio de Eliza, esta que pediu para não contar nada.

“Por favor, Doutor, não conte para ninguém, não. Especialmente para Igor, eu te imploro.”, suplicava Eliza se sentido culpada.

“Pode ficar fria, Eliza. Não vou fazer mal a ninguém, nada que ninguém queira. Nada acontecerá a você, e Igor com certeza continuará aqui.”, falou ele com um sorriso malicioso.

Assim Humberto se foi com as ideais nefastas e escusas, para temor de Eliza que só se lamentava de tanto remorso, não conseguiria encarar Igor tão cedo.

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Próximo dali, Igor chegava ao hospital municipal, ansioso para ver Robson Neto, que dava melhoras significativas em poucos dias. Igor não pôde visitá-lo desde de seu derrame, porque trabalhava a maior parte do dia, tendo tempo só para ele de noite. Muito tarde para fazer uma visita a um enfermo. Com o pedido concedido por Lourdes, ele finalmente poderia, chegou no local nervoso, trazia um bolo comprado para dar de presente a ele, já que passará o aniversário de Robson e não ir de mãos vazias para visita. Todo alegre, com a encomenda em mãos, entrou no quarto e deparou-se Ângelo ali, estirado em uma cadeira, mostrava-se visivelmente cansado, inesperado para tanto para Igor quanto para Ângelo, também observou Robson ainda seu leito, aparentemente melhor do que estava.

“Olá”, disse Igor entrando.

“Oi”, respondeu Ângelo indiferentemente.

“Oi Igor”, disse Robson percebendo Igor ali com sua voz turva. “Esse é o enfermeiro que te falei, filho”, comentou Robson para Ângelo que apenas olhava para Igor analisando-o.

“Desculpa se eu tiver incomodando”, dizia Igor envergonhado com a presença de Ângelo.

“Não, tudo bem. Você cuidou do meu pai, vai saber o que aconteceria se você não tivesse lá. “, falava Ângelo sinceramente agradecido se levantando da cara.

“Pois é, deixa disso. Cadê aquela enfermeira?”, indagou Robson animado para os risos de Igor e Ângelo.

E o ambiente se descontrair na presença dos três, que de antemão poderia ser conflituoso para Igor, Ângelo era realmente era uma boa pessoa, e seu Robson mesmo enfermo mostrava-se bastante vivido e alegre no seu quarto, para felicidade de Igor e Ângelo, conversavam banalidades.

“Eu adoro bolo, muito obrigado.”, agradecia Robson com Igor entregando para seu filho guardar. “Meu filho trouxe um pra mim também no dia que fiz aniversário no hospital junto de flores”, revelou o senhor senil para Igor.

“Oh desculpa “, expressou Igor constrangido por trazer ainda mais um bolo.

“Relaxa, cara. Esse velho adora um bolo, e de chocolate, melhor ainda.”, dizia Ângelo batendo nas costas de Igor.

“A mais pura verdade hehe”, comentou Robson acamado e rindo com dificuldade. “Nunca me senti tão amado. Igor!”, chamou ele para mais perto, ao passo que Igor se aproximou.

Robson lentamente ainda com dificuldade de fazer movimentos pegou na mão de Igor, com suas mãos cobrindo sua palma, e olhou profundamente nos seus olhos, enquanto Ângelo só observava.

“Graças a você, meu filho passou o aniversário comigo no hospital, mesmo com eu doente.”, confessou o velho com olhos marejados. “Eu não saberia te agradecer mais que meu sincero obrigado.”, agradeceu suspirando.

Nesse momento tão terno, Igor se emocionava, pois via que o que fazia não era completamente errado, tinha um motivo, e por ver Robson feliz, estava feliz também, ele não seria mais um abandonado da Casa de Repouso de São Leopoldo das Graças.

“Não precisa agradecer, Seu Robson.”, balbuciava Igor emocionado. “Eu sempre ajudo aqueles que precisam, sem esperar nada além de seu bem estar.”, explicou Igor com uma lágrima caindo de seu olho.

“Meu filho Ângelo, passou até uns dias aqui dormindo no meu quarto, como não agradecer de me sentir tão próximo dele?”, Robson dizia com toda sinceridade.

Igor olhou para Ângelo, um jovem de quase sua idade, senão mais velho, com olheiras e cabelos desarrumados, ao que Robson contou emocionado e feliz, ele não era um filho ruim certamente. E Igor até sentiu um pouco de culpa por julgá-lo.

“É, só pude por alguns dias. Tenho um negócio novo aqui na cidade, e toda hora preciso estar presente, ninguém podia me substituir ainda. Esses dias que consegui uma secretária para cuidar de tudo e ficar mais com meu pai.”, explicava Ângelo com a mão atrás na cabeça.

“Finalmente entendi.”, suspirou Igor. “me desculpa por ter pensado errado de você, Ângelo.” Dizia Igor educadamente.

“Que nada, acontece.”, falou ele para o alívio de Igor.

Igor ficou mais um tempo conhecendo mais de Ângelo, Robson e sua família, eles também souberam mais sobre a vida de órfão de Igor. O que fez Robson entender porque havia tanta esperança naquele jovem. Igor também soube de porque Ângelo colocar seu pai em um asilo, achou que teria os cuidados necessário e estaria cheio de companhias, algo que uma enfermeira em casa não teria. Robson também entendera, e estava ansioso pela volta.

“Mal posso esperar para o asilo hehe”, disse Robson rindo dolorosamente.

E eles riram amistosamente, e Igor iria embora do hospital, passado seu tempo de visita, voltaria ao trabalho naquela tarde.

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Chegava à Casa de Repouso, no meio da tarde, fugindo como de praxe de seu cursinho, Cristóvão, como estava virando rotina, foi visitar sua vó no quarto. Mas entrando no quarto, percebeu algo diferente além de Igor não estar na localidade, mas sua vó Hilda em pé com a bengala, não acamada, com um xale, penteando seu cabelo grisalho e quebradiço, e vestida não como uma enferma, parecia uma senhora da igreja que se preparava para sair, com muito mais classe.

“Oi vó”, suspirou ele surpreso.

“Olá Cristóvão”, disse Hilda virando a cabeça e voltando para se pentear diante do espelho.

“Igor não está?”, perguntou ele curioso.

“Não. Foi visitar um amigo no hospital.”, respondeu ela ainda se olhando.

“Por que tá assim?”, questionou ele indiscretamente.

“Quero me sentir bonita e arrumada, não estou morta ainda, apesar de velha e frágil.”, respondeu Hilda enquanto passava o pente e via Cristóvão atrás com uma expressão estranha sentado em sua cama.

Cristóvão com certeza não entendera Hilda, tanto tempo naquele local, na cama, teimando em viver tanto tempo, mas se sentindo morta. Isso não era para ela, era forte demais para viver assim.

“Não entendo.”, Suspirou Cristóvão em sua incógnita.

“Cristóvão, quando você fica muito tempo na cama, triste, você se cansa, é como um pássaro na gaiola que almeja voar novamente.”, falava ela em seu profundo pensamento.

Por um momento vendo sua vó, de pele manchada e enrugada, transgredindo o esperado por todos, em seus olhos nos espelho, sentiu curiosidade, era desconhecido para ele, esse desejo, esse sentimento.

“Quer que eu ajude?”, ofereceu Cristóvão prestativo.

“Não, não. Eu consigo sozinha, já estou terminando.”, falava ela confiante. “Terminei. “, avisou ela.

“Bom, eu acho que vou... “, dizia Cristóvão se levantando até ser interrompido.

“Cristóvão, poderia acompanhar num passeio pelo campo daqui?”, pediu Hilda guardando seu pente.

Cristóvão ficou confuso com o inesperado pedido de Hilda, não queria parecer ruim negando, mas se sentiu sem vontade também, não teve outra alternativa, pensou na dica de Igor.

“Claro.”, Cochichou ele olhando para o chão. “vó.”, e olhou para ela que sorriu.

Assim Cristóvão acompanhou sua vó, sendo prestativo, saindo do quarto e conhecendo o grande campo da residência, grande e pomposo, sem tantos obstáculos para os idosos passearem, sempre limpo e verde. Os dois caminhavam em passos morosos vendo cada planta e árvore, junto com toda fauna de aves e insetos que poderia ter nesse bioma. E Cristóvão não se sentiu entediado mesmo caminhando devagar, era uma experiência nova sair de sua área de conforto.

“Eu gosto disso.”, disse Hilda se sentindo bem. “Ver toda essa vida e me sentindo parte dela, não estou sozinha. “, falou olhando para Cristóvão.

Cristóvão pensou no que sua vó disse, observando a natureza a seu redor, percebeu o tanto de vida havia. Mas ele não sentia parte dela. Por isso lembrou de que sua mãe dissera.

“Vó!”, chamou Cristóvão. “ Por que minha mãe disse que a senhora não foi uma boa mãe?”, perguntou Cristóvão intrigado.

“Ela disse isso?”, Indagou Hilda pensativa.

“Sim, disse”, respondeu Cristóvão prontamente.

Hilda ficou um tanto temerosa, Cristóvão ficava a mão atrás de sua costa caso precisasse, ficou um tempo de silêncio, seu semblante alegre mudou para um pouco mais triste.

“Bom... Na minha época, as mulheres eram praticamente eram escravas de seus maridos, era assim com seu avô, foi quando Lorena já era adolescente, e como de sua geração queria transgredir junto da moda, rock e feminismo. “, explicava Hilda minuciosamente. “E eu apenas controlava ela para ser uma moça comportada, meu marido era da alta sociedade, e eu obedecia. Lorena nunca sentiu que eu fosse sua mãe realmente, pra ela, eu era só esposa e escrava de seu pai, em inúmeras desavenças tivemos até o pai dela, com minha permissão colocá-lo em um internato. Seu pai morreu, e nunca tivemos uma relação boa novamente. “, falava ela detalhe por detalhe do que houvera. “É o que eu me lembro.”, disse por fim.

“Sério? “, indagou Cristóvão boquiaberto.

“Sério. “, replicou Hilda.

E Cristóvão percebeu como sua Lorena poderia ser mais parecida com ele do que imaginava, para sua surpresa, Hilda mais parecido com sua mãe. Era um ciclo. E ele não queria fazer parte dele. Mas pôde compreender mais seus entes consanguíneos.

“Nem podia imaginar, minha mãe age do mesmo jeito, mas por causa da imagem.” Confessou Cristóvão.

“Eu não me orgulho isso.”, suspirou Hilda tristonha. “Perdi um tempo valioso com minha filha, amando-a de menos e me preocupando demais, não tem volta. E hoje velha me flagelo por cada erro e tempo perdido no meu restante de vida.”, dizia ela parando com a Bengala. “Quando você nasceu, eu tentei ser mais próxima, mas já estava velha e sua mãe dificultava.”, revelava ela surpreendendo mais seu neto.

Era uma tristeza incompressível para Cristóvão, não era como a dele e seu grande desdém por tudo, um grande mundo nonsense, era uma tristeza antiga e cheia de remorsos, e a sentiu claramente perto de sua vó. Isso o intrigava, mostrava o quanto a vida era cheia de curvas e abrangente.

“Às vezes sinto que sou menos importante na vida dela também “, comentou Cristóvão reflexivo.

“Tenho certeza que no fundo, do jeito dela, ela tenta te mostrar o contrário, só não sabe que não é o suficiente pra você, e não tenta te entender. Até que um dia pode ser tarde demais, assim como foi pra mim”, suspirou ela confrangida.

E Cristóvão refletiu mais sobre, em seu grande emaranhado de vida e toda sua história envolvendo Lorena, Hilda, seu pai e seu avô. E entendeu que ele também tinha de ser compreensível e lutar pelo melhor, pela mudança.

“Que tipo de música você gosta?”, perguntou Hilda aleatoriamente.

“Ah, Rock, Jazz, metal.”, respondia ele sem pensar.

“Não conheço esse metal não.”, falou ela ranzinza. “Mas sabe, um dia Lorena fugiu pra ver o show do Barão vermelho, deu a maior briga em casa depois.”, contava Hilda nostálgica.

“Não creio. Ela fiz isso? Barão é mó legal. “, falava Cristóvão entusiasmado.

“Sério, tive que amansar o pai dele.”, falava ela gesticulando. “Na minha época o Frank Sinatra veio aqui, até fui ver com meu marido “, contava mais ela para interesse do neto.

“Frank Sinatra? Sério?”, expressava Cristóvão boquiaberto.

Entre uma tarde cheia de histórias do passado de Hilda e interesse juvenil de Cristóvão, seu neto, em uma paisagem cheia de vida natural, que Cristóvão fora conhecendo mais de sua vó, tão desconhecida para o jovem, assim como de sua mãe, sua família inteira. E principalmente de si mesmo.

Não demorou muito, mas logo Igor chegara procurando Hilda no quarto, e depois no campo onde estava, para sua surpresa com Cristóvão, o garoto insuportável, que parecia rir tranquilamente.

“Oi Hilda, passeio, é?”, indagava Igor resfolegando.

“Sim, eu não tô morta ainda. “, e eles sorriram junto, os três.

Assim acabou o passeio e Igor voltou ao seu trabalho o resto da tarde com Hilda, e Cristóvão sempre acompanhando os dois apenas observando em silêncio, intrigando Igor, quando acabou, parecia que Cristóvão tinha algo a falar para Igor.

“Igor, quero conversar com você em particular”, avisou Cristóvão causando mistério para ele.

“Podemos ir lá de novo se quiser”, respondeu Igor.

“Não aqui. Não agora. Em outro lugar, amanhã pode ser?”, pedia Cristóvão para estranheza de Igor.

“Tá, pode ser, é meu domingo de folga.”, falava Igor confuso.

“Ótimo. Toma meu número, daí liga, e eu te falo local”, deu a Igor papel e foi embora.

Igor não sabia dos planos que Cristóvão tinha, pensou em ser mais cuidadoso, mas mesmo com a confusão que o garoto fizera em sua cabeça, Igor também queria falar Cristóvão. As coisas começam a se contornar em rumos inversos entre os dois personagens dessa história.

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Comentários

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Esse doutor Humberto, continua muito suspeito para mim, ele tem uma aura muita estranha...

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