Cap.22
NARRADO POR ANTÔNIO
Durante os momentos em que eu estivesse ali sentado, esperando para ser chamado para receber o canudo com uma enorme honra, pensei bastante. Refleti sobre tudo o que eu havia feito da minha vida até ali. E do que faria no futuro. Até ali, não havia feito muita coisa, nem vivido muita coisa. Ainda era jovem, tinha apenas 22 anos. Uma vida inteira pela frente. Uma vida que eu já tinha plena noção que seria sofrida, por causa dos meus sentimentos. Eu sabia que desistir do amor dessa forma, poderia ser uma atitude muito ruim. Nem sei se conseguiria encontrar outro amor como esse um dia. Mas... Aquilo parecia o mais coerente a ser feito. Pelo jeito, o nosso amor não conseguiria ser vivido.
NARRADO POR MAURICE
Fui até a casa dele, a pé. Eu não sabia o que ele iria dizer. Não sabia se ao menos iria me receber, se não havia ficado com raiva de mim. Cheguei no local, bati uma, duas, várias vezes. Pelo jeito ele não estava em casa. Foi quando vi uma senhora aparecer de uma porta no fundo do quintal.
- Diga senhor. O que quer ?
- A senhora sabe aonde está o homem que mora aqui ?
- Ele está na Universidade. É o dia da colação de grau do curso dele.
- Hoje ?
- É. Quem é o Senhor ? Quer que eu guarde um recado ?
- Não... Não precisa. Obrigado ! - sai da casa dele e na rua parei. Será se eu seria bem vindo na colação ? Decidi arriscar. Caminhei até a Universidade de Paris. Meu coração estava acelerado. Parecia que eu esperava aquilo a muito tempo. Parecia que aquilo era o que eu mais queria. Ve-lo. Tê-lo para mim. Entrei e começei a procurar.
- Com licença ? Aonde que os alunos de Astronomia estão se formando ?
- É por aqui. Venha, me acompanhe - falou um homem. Fui o acompanhando, aproveitei para arrumar o cabelo e o terno que eu estava vestindo. Como eu estava me sentindo ansioso e nervoso. Parecia que eu iria ver o Papa, de tão nervoso que estava - é aqui !
Adentrei o auditório, que obviamente estava cheio de pessoas. Familiares e alunos, todos muito bem vestidos para a ocasião. Quando entrei, olhei ao redor e não o encontrei. Quando foquei o olhar no palco foi o que o vi. Ele recebia o diploma, com uma cara triste e um sorriso tímido. Parou o olhar quando viu que eu estava ali, e sorriu.
NARRADO POR ANTÔNIO
O que ele havia vindo fazer aqui ? Como ele havia descoberto a minha formatura ? Ele não tinha dito que devíamos ficar afastados ? Eu não sabia. Mas isso não importou. Ver que eu não estava sozinho ali me animou. E que uma das pessoas que eu queria que estivessem ali estava, era animador. Desci com o canudo na mão e sentei-me no lugar aonde eu estava. Não resisti, e acabei virando o meu rosto. Vi quando ele sentou-se na parte dedicada aos parentes. Queria saber o que ele estava fazendo ali.
NARRADO POR MAURICE
Sentei me e fiquei acompanhando, até que aquela cerimônia acabasse e ele estivesse livre. A todo momento uma voz pulsava dizendo na minha mente, "Você não devia estar aí !". " Você vai casar !". "Isso só vai piorar as coisas !" . Mas pela primeira vez em muito tempo eu preferi não dar valor a essa voz. Ela só estava me fazendo sofrer. A cerimônia acabou, todos os alunos saíram. Enquanto tirava a beca, ele me encontrou na saída.
- Espera, deixa eu te ajudar - falei, vendo que a roupa havia engatado num acessório que ele usava.
- Nossa, não sai !
- Sai sim, é só você ter calma ! - consegui soltar, e então ajudei ele a puxar a beca. Durante alguns poucos segundos meus dedos deslizaram pelo seu rosto, causando um frenesi em nós dois.
- O que você está fazendo aqui ?
- Precisava ver você. Tinha algo aqui me dizendo isso. Algo que estava me deixando inquieto, que não me deixava parar de pensar em você.
- Engraçado... Comigo também aconteceu isso...
- Então agora e devidamente um astrônomo.
- Bem... É isso que diz esse diploma - falou, segurando o mesmo com a mão.
- Que bom ! Eu fico feliz de ver que você está conseguindo alcançar os seus objetivos.
- E você... Como me encontrou aqui ?
- Uma senhora, acho que é a Dona do local que você mora, me informou... - falei, vendo ele se despedir de algumas pessoas, antes que saíssemos da universidade. Ver ele sorrir me fazia quase chorar, sabendo que teria que deixar aquilo de lado.
NARRADO POR ANTÔNIO
Cumprimentava todas aquelas pessoas com pressa. Eu realmente queria ficar mais tempo com ele. Senti que aquele seria o nosso último momento juntos. Depois de agora ele não mais olharia na minha cara. Será se eu estava errado ?
- Fiquei muito feliz com a sua presença - dizia, enquanto andávamos na rua.
- Jura ?
- Sim... Já que a mamãe não pode estar presente... Ao menos eu não me senti tão sozinho - falei, me retraindo.
- Achei que você estivesse com raiva de mim, por causa do que eu estou tentando impor a nós dois.
- Não teria porquê eu ficar com raiva. Infelizmente você está certo. Nós dois não podemos viver de amor. Precisamos de um sustento e de um bom nome na sociedade. Eu só... Estou sofrendo um pouco.
- Porquê ?
- Por ter que ficar longe da pessoa que eu amo e... Não saber se vou encontrar alguém tão bom quanto você de novo... - disse, para que em seguida um silêncio se formasse entre nós, enquanto sentíamos o vento bater em nossos rostos, trazendo consigo as últimas folhas do outono, buscando levar consigo todas as nossas tristezas.
- A gente pode ficar juntos hoje ? Sei lá, conversar, rir um pouco, jantar. Tentar descontrair. Porquê eu não sei se terei forças de concretizar este plano - falou, olhando para mim.
NARRADO POR MAURICE
E eu realmente não sabia se teria forças para dizer sim em 7 dias depois. A minha vontade era esquecer aquele plano e entregar-me a ele. Será se existia alternativa ?
- Claro - vi aquilo como o dia da despedida. O último dia que poderíamos desfrutar juntos. E como doía em mim dizer isso.
MINUTOS DEPOIS
O acompanhei até a sua casa, ele me deixou entrar. Tudo estava bem arrumado, como sempre. O clima ficou estranho entre nós, enquanto estávamos sozinhos. A verdade é que estávamos tímidos um com outro. A separação que impusemos nos tirou a intimidade.
- Você vai se casar daqui a uma semana, não é ? - falou ele, escorado na porta que leva até a varanda.
- É. Infelizmente...
- Porquê infelizmente ?
- Não é o meu desejo casar. Só o faço para tentar deixar você livre.
- Sabe... Eu tenho sofrido tanto com isso. Tanto, você não tem noção - falou, virando para olhar para mim. Seu olhar já estava marejado.
- Eu também... Eu também... Mas devemos nos manter firmes.
- Será mesmo que essa é a melhor forma para manter a nossa integridade ?
Continua
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