Pra que servem os sonhos?
A uns dias vinha com uns sonhos estranhos que me acompanhavam todas as noites, eram sempre muito confusos, muito sem sentido e que ao acordar apenas deixava vestígios de um lugar muito verde com belas paisagens e uma voz que não conseguia identificar o dono. Era uma voz grave e melódica, que deixava apenas os resquícios na lembrança de um inglês com muito sotaque e pouco compreensível. Andava com a cabeça a mil, a poucos dias para entrar de férias o expediente na empresa se arrastava além do normal, quando se sabe que está a poucos dias de realizar uma viagem dos sonhos e a quase um ano planejada acaba relevando tudo e apenas aguardando o dia da tão esperada viagem.
Os sinais de cansaço e estresse já batiam a um dia de entrar de férias, tenho meus 21 anos, me exercito com frequência, me alimento corretamente e muito raramente perco uma noite de sono em uma balada, mas o psicológico bate forte no corpo quando a pressão é muita.
Agora faltava poucos para as tão sonhadas férias, meu destino era a Irlanda, a Ilha Esmeralda, para começar às férias com pé direito haveria shows da minha banda favorita em comemoração ao aniversário da minha cidade, tudo corria perfeitamente bem, dias antes do show novamente aquele sonho, só que dessa vez eu me lembrava de tudo com detalhes:
“Estava eu num pub/bar desses que tem música ao vivo, estava meio vazio e aparentava que iria ter uma apresentação, alguém conversava comigo como se fôssemos velhos amigos em um canto do citado bar. Em dado momento íamos em direção do palco como se fosse iniciar o show e a pessoa que conversava comigo me acompanhava, próximo ao palco via que o show era do Rodrigo Amarantes. Ficava louco ainda mais por ouvir ele cantar Último Romance ( https://youtu.be/6w3uAKabfFg )
É nesse momento que vinham dois braços brancos e bem torneados me abraçando por trás e como em uma valsa nossos corpos entraram em um ritmo perfeito, onde até mesmo nossos corações batia em sincronia, podia sentir aquela respiração na minha nuca o que me dava um misto de tesão e amor pleno. Não conseguia ver a face do meu amante mas sentia que ele me completava e eu o completava, durante aquela valsa lenta que nossos corpos bailava era como se fôssemos um só! Aquelas braços lindos e alvos exalavam um perfume amadeirado e viril com nuances florais que adentrava as minhas narinas de forma intermitente. ”
Enquanto me deleitava com aquela valsa e aqueles barcos grandes e fortes me envolvendo fui acordado pelo despertador, já eram 7h da manhã de uma sexta feira morna. Meu último dia de trabalho antes das férias e um dia antes do show dos Hermanos, a sensação não era de ter acordado, mas sim de ter sido arrancado de um lugar para o outro, tudo naquele sonho havia sido real demais para ser só um sonho, o perfume daqueles braços estava impregnado no meu nariz e passei o dia inteiro o sentido. Não comentei com ninguém esse sonho afinal iriam me achar tolo demais em estar levando um sonho tão a sério.
No sábado de manhã já curtia a preguiça e o marasmo das férias, o dia acontecia de modo natural, completamente diferente da correria dos últimos dias. Alegria se misturava com ansiedade para o show a noite e a viagem no dia seguinte. Chegada a grande noite, as malas já estavam prontas sabia bem que iria beber horrores e que não voltaria em condições de arrumar nada, logo chegava em minha casa Ju e seu irmão Matheus, que seriam minha companhia da noite, o show estava incrível não tinha uma música que eles tocassem que eu não sabia cantar, um canto que saia do coração, um canto que vinha da alma. Como esperado chegou a hora do Amarantes tocar “Último Romance” a música do sonho. Essa música em especial não cantei como as demais, apenas fechei os olhos e todo aquele sonho que me parecia tão real me passava na cabeça como um filme perfeito, como uma lembrança ávida e recém vivida, por alguns instantes jurava sentir aquele perfume amadeirado, sentia falta daqueles braços me envolvendo e junto ao meu corpo, confesso que não contive algumas lágrimas de saudade, sim saudade algo que eu sabia que não era real, mas que de tão bom deixou saudades, antes da canção acabar senti um peso em meu ombro olhei para lado e vi Matheus palhaço como sempre me zuando de maricas por esta chorando com uma música, mal sabia ele o que estava passando na minha cabeça. Aquele sonho mesmo após dias ainda vinha a minha memória de forma muito viva, já estava começando a crer que de alguma forma aquele sonho havia sido real, pura besteira da minha cabeça, era apenas um sonho, apenas mais um devaneio da cabeça de um solitário que poucas boas lembranças tinha do amor.
Como previsto bebi tudo que podia e o que não podia, cheguei em casa já com o sol raiando, completamente pilhado não tinha condições de dormir, mesmo precisando já que em poucas horas iria encarar mais de 15 horas de voo. Resolvi ficar mexendo no computador já que não conseguiria dormir, por incrível que pareça eu não estava bêbado, estava alto mas não bêbado, fui conferir alguns vídeos sobre a Irlanda e algumas dicas do que fazer por lá e achei um que falava justamente sobre o que fazer em Dublin minha primeira parada.
Jess a simpática blogueira que falava com entusiasmo sobre sua cidade, tinha um riso frouxo e contagiante caracterização singular dos irlandeses em geral, durante seu vídeo uma trilha sonora em especial me chamou a atenção, primeiro pela melodia, mas algo me perturbava além do normal, a voz. Aquela voz era muito familiar, o cantor era um independente que tinha apenas três faixas no soundcloud, o qual o link estava na descrição do vídeo, a foto do perfil não era muito visível mas algo me perturbava para que buscasse mais sobre aquele cantor. Em uma busca rápida vi que não era nenhum popstar, e achei sua conta no Instagram. A primeira foto que vi me deixou louco, ele estava segurando um senhor no colo que me parecia ser seu pai, ele é jovem aparentando ter entre 22 e 26 anos por aí, ruivo como bom irlandês, se chamava David e tinha belos braços. Opa! Braços!!!!! Não podia ser aqueles braços, eram os mesmo braços do meu sonho! Senti meu coração disparar é um frio que mais parecia uma massa polar tomar conta do meu estômago ! Será que eu estava delirando ? Será que era a bebida? Aqueles braços eu reconheceria até em outra vida, quanto mais em uma foto.
Continua...
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