A campainha sempre toca na hora mais errada. Vesti a bermuda, deixei o Merinho no quarto e corri atender a porta. O Leandro entrou antes que eu pudesse fazer qualquer coisa:
- Preciso falar com você...
- Mas assim... agora?
- Tem que ser. Amanhã eu tô voltando pra Itália.
Meu coração gelou.
- Senta, Leandro... vou vestir uma roupa, você espera?... –
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- É o Leandro...
- O que é que ele quer com você agora? – era só ouvir falar do Leandro que ele logo fechava a cara.
- O que você acha, Merinho?...
- Eu não vou aceitar isso não, Betinho! Depois de tudo que ele te fez, é só ele chegar e estalar o dedo, que você sai correndo atrás dele, com o rabinho abanando, é? Não! Eu vou lá falar com ele!...
Ah, não Merinho! Não vai começar agora, né? Hoje não!
- Como assim, Merinho?... O que é que VOCÊ ACHA que pode falar com o Leandro?... Por quê?... Vai falar O QUÊ?... E quem disse QUE É VOCÊ que tem que aceitar ou não aceitar alguma coisa aqui dentro?... Só porque eu te dei o cu HOJE, você já acha que já é meu dono, é? Eu não tenho dono não, seu Merinho! NÃO TENHO NÃO!... Nem VOCÊ e nem ninguém, viu?
O Merinho pulou da minha cama e me agarrou pelos braços.
- Você tá comigo, Betinho! Você tá comigo agora, não tá? VOCÊ TÁ COMIGO OU SÓ TÁ ME USANDO PRA FAZER CIÚME NAQUELE MERDINHA LÁ EMBAIXO?
- Me solta, Merinho! Não tô gostando nada disso!...
- NÃO SOLTO PORRA NENHUMA! E agora eu vou lá embaixo ACABAR com aquele filho da puta de uma vez, duvida?... DUVIDA?...
- Para, Merinho! Deixa de ser BESTA!
O tapa virou a minha cabeça pra trás, igual a menina do filme “O Exorcista”. Girei sobre mim mesmo e fui me estatelar quase debaixo da cama. Ao mesmo tempo a porta se abriu e o Leandro entrou feito um furacão. Aí deu merda!
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O Leandro entrou metendo porrada no Merinho e eu fiquei desesperado. Entrei no meio dos dois, tentando separar, gritando e chorando e só conseguindo tumultuar mais a coisa.
O Merinho não era fraco, mas o Leandro era um atleta, né? Quem é que ia mesmo levar a pior? Então aconteceu. O Leandro acertou uma bem acertada, bem em cheio no olho do Merinho, e o Merinho despencou. Minha reação foi pular no Leandro gritando: “Sai daqui!” e correr pra socorrer o Merinho...
Nem sei como o Leandro saiu. E talvez nunca vá saber o que ele queria me dizerFoi difícil colocar o Merinho de novo na cama, mas eu ainda consegui dar conta. Pra nossa sorte, o maior prejuízo dele foi só um olho roxo mesmo. Enquanto eu cuidava do olho, o idiota ficou de cara fechada e em silêncio o tempo todo. Será que essa bronca era comigo?
- Vai ficar assim, com essa cara agora?
- Não. Eu vou embora pra minha casa!...
- De jeito nenhum, Merinho! Espera a minha mãe olhar você primeiro. Cê sabe que ela é enfermeira, né? Você tomou uma surra!...
- Não precisa me lembrar... – ele tentou sorrir, mas só conseguiu gemer – Cadê minha roupa? Me ajuda a por minha roupa... Sua mãe eu não sei, mas eu acho que o seu pai não vai gostar nem um pouquinho de me ver aqui no seu quarto desse jeito... todo pelado... todo quebrado...
- Deixa de fazer drama, Merinho... Você até que mereceu! Lembra que você me bateu, seu bosta? Eu devia ter acabado de te matar e não ter te feito curativo!... – e olhei pra ele com minha cara mais brava.
- Ah!... Me perdoa... é que você me chamou de besta, né?... e também ficou na minha frente. Eu ia descer lá embaixo e quebrar aquele veado todinho!... esse boiola ia se foder na minha mão!
-Tá. Tô vendo...
- Tá legal, então, Betinho... chega de discussão, vai!... Pega a minha roupa, aí, que é melhor eu ir embora logo, antes que o teu pai chegue... e aí já viu, né?...
- Tá bom, eu deixo você ir, então... Mas ainda não... espera só mais um pouquinho... – e enfiei a cabeça por baixo da coberta, procurando aquele espetáculo de pinto pra preencher a minha boca. De repente me deu uma sede de porra!
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O Merinho ia ficar de molho uns dias. Por isso não tinha nenhum motoqueiro me esperando na saída da escola, pra me encher o saco. Acredita que eu até senti falta? Lembrei do dia anterior, do passeio, do cinema, daquela rola enorme arrombando o buraquinho da minha bunda sem dó... Nossa! Que rola esse Merinho tem!...
Também me lembrei do Leandro na minha casa, da briga com o Merinho... e me senti culpado. Não tinha como negar nem pra mim mesmo, que tudo o que estava acontecendo era culpa minha.
Subi para o ônibus pensando: se eu ficasse só na minha, comendo o meu Túlio lindo e fofo, nada disso estaria acontecendo... Mas eu tive que dar mole pro Merinho, né? Mas gente: vocês não tem noção! Vocês NÃO VIRAM aquela pica!... Também tem o Leandro que...
AH, DROGA! Tá bom, eu admito! Eu sou muito galinha, mesmo! Não posso ver um pintão pela frente! Pronto! Eu sou assim mesmo... O que é que eu vou fazer?... A culpa é toda da minha bunda, tá?...
Com toda essa minha briga íntima, acabei passando do ponto. Ai, meu Deus! Avenida dos Eucaliptos! Longe pra cacete! Desci correndo e atravessei a rua, em direção ao ponto do ônibus que voltava. Olhei rua acima. Era bem ali que a gente descia pra Biquinha...
Não sei o que me levou pra lá, mas de repente eu me vi no mesmo caminho que havia tanto tempo eu não passava, sentindo as mesmas emoções antigas, voltando pra um tempo em que a minha vida estava bem menos complicada, e dar o meu cuzinho ainda não me trazia nenhuma espécie de culpa.
A Biquinha já não existia mais. Já estava tudo aterrado. Só tinha sobrado a pedra onde a gente subia pra pular na água. Nessa pedra tinha um garoto sentado. Eu já ia virar as costas pra ir embora quando ele me viu. E sorriu.
Mas que merda! Por que até hoje eu não consigo resistir ao sorriso do Leandro?
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- Você tá tão lindo!...
Ele me abraçou do mesmo jeito que sempre fazia, trazendo o meu traseirinho bem pra junto dele e encaixando o pinto duro bem no vãozinho do meu reguinho. Então eu ficava doido pra sentir aquela coisa quente direto na minha pele.
Depois foi abaixando a minha roupa bem devagarinho...
Por que até hoje eu não consigo resistir ao caralho do Leandro?
CONTINUA...