CAPITULO 2: JULIA
Eram duas horas da tarde quando levantei da cama, depois de uma noite regada a drogas e outro sonho estranho com a mesma garota.
Ultimamente, havia uma garota que perpetuava em meus sonhos. Uma garota que eu nunca vi na vida e estranhamente no sonho parecia que nós eramos um casal. Querem saber como é a garota dos meu sonhos? Vou lhes descrever exatamente como ela é. Ela tem uma pele bronzeada, cabelos pretos um pouco acima dos ombros, olhos bem verdes e uma boca linda. Opa, eu disse linda? Ta... Eu admito... A garota em si é linda, mas não faz meu tipo.
Estava na cozinha curando minha larica quando o Caio me ligou e pediu pra mim ir encontra-lo. O Caio era um traficante que me fornecia os melhores "bagulhos". Segundo ele, tinha acabado de chegar uma maconha da boa, a melhor que ele ja tinha usado. Fui até o quarto dos meus pais e comecei a caçar alguma coisa de valor. Encontrei um relógio Rolex banhado a ouro do meu pai. Guardei no bolso e saí.
Cheguei na pracinha aonde o Caio tinha um ponto de drogas louca pra dar um "tapa". Entreguei o relógio e me entregaram a maconha. Senti a textura da erva, peguei a seda e enrolei. Antes que eu acendesse o cigarro, avistei uma garota sentada em um dos bancos da pracinha e tive a leve impressao que eu a conhecia de algum lugar. Forcei bem a vista e não pude acreditar, parecia ser a garota dos meus sonhos. Aquela maconha realmente era boa, eu nem tinha experimentado e ja estava tendo alucinações. Num impulso me aproximei, acho que pra ter certeza, sabe?! E realmente era a garota. Meu corpo inteiro se arrepiou, fiquei totalmente pertubada. Como era possivel?! Eu só podia esta ficando maluca! Me afastei o mais rapido possivel dela, minha cabeça estava muito confusa. Me juntei ao grupinho de viciados e comecei a fumar.
De longe eu pude ver a Fernanda se aproximando da tal garota. Elas pareciam ter se desentendido, pois a garota saiu andando na frente pisando forte. Bem feito pra Fernanda. Ri descaradamente da cara dela e ela me olhou furiosa (risos). E pensar que um dia já fomos melhores amigas...
Voltei minha atenção pro cigarro de maconha e relaxei.
Nos ultimos meses, eu virava as noites usando drogas. Passava dias fora de casa. Meus pais ficavam uma fera comigo. Sempre que nos encontravamos nos corredores de casa havia discursões. Eu admito... A droga estava me controlando, me consumindo, mas ela me fazia bem.
Meus pais ja me internaram três vezes, mas eu sempre dou meu jeito de fugir. Na ultima vez que fugi da clinica fiquei um mês morando na rua, mendigando... Um amigo policial do meu pai me encontrou dormindo em frente a uma igreja e me levou pra casa.
Amigos eu já não tinha mais nenhum. Todos se afastaram de mim. E pra ser sincera, nem me importei. Quem precisa de amigos? Não preciso de ninguem pra ficar me julgando.
Todos os dias eu ia pra praça "fazer a mente". Era todo tipo de droga: maconha, cocaína, heroína, ecstasy, . A unica que eu não tinha experimentado ainda era o crack e não foi por falta de oportunidade. Mas algo começou a me incomodar... Todos os dias a tal garota dos meus sonhos aparecia la na praça, sentava no mesmo banco, colocava os fones de ouvido e ficava... Pensando? Refletindo? Ah, tanto faz! Uma vez ou outra eu a olhava e ela me encarava de uma forma diferente, como se fosse arrancar a minha alma. Aqueles olhos escondiam algo, um mistério que estava aguçando a minha curiosidade.
Ja fazia semanas que eu a observava, ja sabia o horario que ela chegava e ficava a esperando contando os minutos. Um certo dia cheguei na praça decidida a falar com ela, não usei nada, estava limpa até aquele momento. Eu sei que provavelmente alguem deve ter falado coisas super negativas sobre mim, mas não custava nada tentar. Quando ela chegou meu coração disparou, desejei fumar um baseado pra relaxar, tomei coragem e fui até ela.
- Oi -- Falei assim que sentei ao seu lado.
Ela me encarou e não disse nada. Sabia que ela ja devia ter ouvido falar de mim. Merda! Não sei por que mais eu fiquei triste com a mudez dela. Acho que coloquei muita expectativa e acabei me decepcionando. O que estava acontecendo comigo?
Quando eu estava me levantando ela me respondeu:
- Oi.
Pensei que meu coração ia explodir. Ela me respondeu! Acho que eu fiquei feliz depois daquele simples 'oi'.
E agora? O que eu falo? Eu não ensaiei nenhuma pergunta.
- Você é nova por aqui, né?
- Sou sim. Prazer Alexia. -- Disse estendendo a mão direita que eu prontamente apertei junto a minha.
- Prazer é todo meu. Sou a Julia.
- Eu sei.
- Sabe?
- Sim. Ja ouvi falar muito de você.
- Suponho que mal.
- Falaram a verdade.
- Que verdade?
- A que eu vejo sempre, oras. Uma menina linda envolvida com porcarias.
- Você não pode acreditar em tudo que dizem.
- Eu não acredito em fofocas. Acredito em fatos e principalmente nas coisas que vejo.
Fiquei totalmente sem palavras.
- Você é melhor que isso Julia. -- Disse segurando a minha mão e esboçando um leve sorriso. Sorri de volta.
- Alexia! Você esqueceu do que te falei? -- Disse uma voz bem conhecida. Era a Fernanda. Que ruivinha petulante.
- Não, não esqueci.
- Então porque esta falando com essa garota?
- Porque eu quis! Me desculpa Julia pela falta de educação da minha amiga.
- Descupa nada. Ja falei pra não se aproximar dessa viciada.
Aquela palavra me atingiu como um soco, pois me doeu muito. Senti vontade de chorar. Porque aquilo me doeu tanto? Eu nunca fui de me impotar com a opnião alheia...
- Fernanda! Pare ja com isso! -- Disse a Alexia furiosa. Pensei que ela ia esbofetear a Fernanda naquele momento.
Alexia me olhou com ternura e pena. Isso mesmo, com pena! Meus olhos começaram a lacrimejar dando fortes sinais de que eu iria começar a chorar. Ela pegou em minha mão e disse:
- Me desculpe.
Balancei a cabeça afirmativamente e saí o mais rapido possivel daquele lugar.