Fui expulso da minha casa embaixo de muitas ofensas, agressões verbais e físicas.
Meus pais deixaram muito claro que eles não tinham mais filho, que eu era uma aberração, doente e que aquilo não era coisa de Deus.
Eu não pedi para nascer, não queria ser assim e não gostava de ser apontado como estranho ou diferente, mas fazer o que se o gene, um cromossomo brincalhão quis me pregar uma peça.
Eu passei um tempo morando na casa do Ricardo e do Dani, foram de três a quatro meses eu não me recordo, mas eu precisava de um lugar meu, eu precisava da minha intimidade e das coisas do meu jeitinho.
Estava sim desolado pela falta que sentia dos meus pais, dos abraços, das refeições, dos gritos pela manhã para eu levantar e ir correr, dos beijos de boa noite, do perfume da minha mãe e da maneira carinhosa que meu pai massageava meu cabelo toda vez que a gente conversava no sofá.
Era impossível imaginar que todo aquele amor havia acabado, que eles deixaram de me amar de uma hora para outra.
Mas eu não era um coitado, eu tinha força, tinha desejos, vontade e muita disposição para correr atrás dos meus objetivos.
Eu precisava lembrar que as coisas mais difíceis são as mais importantes para nossa vida, e a felicidade era meu objetivo principal.
Eu ergueria a cabeça e começaria do zero, sem problema algum.
Naquele momento a ajuda do Ricardo me foi primordial, não sei se era pena, consideração ou mesmo medo de que algo ruim me acontecesse, o fato é que a delicadeza, dedicação e a atenção que ele dirigia a mim, me ajudaram muito.
Foi meu maior incentivador, ele chegava do trabalho me colocava no carro e juntos percorríamos ruas por ruas, avenidas, bairros atrás de casas para alugar.
O Danilo tinha as obrigações dele, aulas de artes marciais, faculdade, trabalho já tomavam uma boa parte do seu tempo.
Mas sempre que podia ele ia junto conosco, dando palpites dizendo que era algo nosso,"meu e dele".
E que tinha que ser a nossa altura, para mim sendo uma casa já estava ótimo.
Consegui encontrar uma casa na rua da faculdade e aquilo seria de grande ajuda, eu não chegaria atrasado rs.
Dois quartos, sala, cozinha, lavanderia e uma varanda linda com garagem.
Se não fosse o Ricardo entrar como fiador, eu não teria assinado o contrato de locação.
Naquele mesmo dia, nós três percorremos algumas lojas, as quais eram de eletrônicos, móveis e decorações.
O Ricardo me dizia que eu poderia escolher tudo que fosse do meu gosto.
Eu não tinha grana para bancar nada daquilo, mas ele dizia que era um empréstimo e que eu poderia pagar aos poucos.
O Danilo me ajudou a escolher tudo, sempre fazendo comentários positivos: olha essa peça vai ficar linda na nossa sala e aquela na nossa cozinha!
Aquilo me levantava o astral, aqueles dois tinham vindo para mudar totalmente a minha vida.
Enfim tudo no lugar, sala, quartos, cozinha e uma rede na varanda.
Minha casa estava pronta e eu fiz um jantar de comemoração, jantar de casa nova, com o Danilo, Ricardo e a Michelle que se sentiu a vontade para passar a primeira noite lá comigo rs.
Ela ainda sentia aquela preocupação com meu emocional, e não me deixava ficar um minuto sem rir ou sem conversar.
Eu precisava esquecer, apagar todas as coisas ruins que haviam me acontecido, estava recomeçando do zero.
Mas nem tudo são flores, quando está tudo às mil maravilhas, e eu podia dizer que estava.... O quesito amor, então, talvez seja o campeão em tirar a gente do sério, abalar as estruturas e, principalmente, monopolizar nosso pensamento.
Muitas vezes, tudo o que a pessoa está precisando é, "simplesmente", esquecer ou tentar esquecer aquele amor doloroso e instável, procurando em outros corpos um novo amor que supere o anterior.
Trava se uma batalha consigo mesmo para conseguir tirar aquela pessoa amada da cabeça.
Já não bastasse o sofrimento natural que o fim de um relacionamento proporciona, continuar se sentindo aprisionado por um amor que já passou - ou deveria ter passado – pode chegar a ser desesperador.
E o que fazer para enterrar de vez um sentimento que continua vivo?
Eu me vi nessa situação com o Danilo.
E nos dias que sucederam eu percebi que o Danilo que eu conheci estava se distanciando de mim, sempre preocupado com alguma coisa.
Apesar de toda a dedicação dele para comigo, as demonstrações de amor e a atenção.
Ele não era de todo meu e eu tive certeza disso num dia em que o peguei chorando no telefone.
Ele me olhou nos olhos, enxugando as lágrimas e um sorriso tristonho brotou naquele rosto magoado.
Eu: aconteceu alguma coisa Dani?
Ele se recompôs e me disse que eram problemas com a mãe, mas que aquilo passaria.
Ele sempre me disse que tinha uma relação bem conturbada com a mãe, por isso não me aprofundei na conversa.
Mas a partir daquele momento ele mudou.
Se viu distante, não me procurava e quase não se alimentava.
Seu pai me perguntou sobre ele, se tinha acontecido alguma coisa entre a gente....e as palavras que eu pude dizer foram, que numa ligação eu o peguei chorando e a resposta, foi que o problema era com a mãe.
Ricardo ficou surpreso, mas a princípio não me disse nada.
Eu já comecei a ficar desconfiado que algo não estava certo.
E quando se trata de amor antigo, não resolvido, aí é pior ainda!
Não se contentando em ocupar nossas mentes durante o dia, a chama desses antigos relacionamentos – que cismam em permanecerem acesas – acabam invadindo nossos sonhos.
E um dia me recordei da tal foto com o João Vítor, perguntei para o Danilo quem era aquele rapaz abraçado a ele.
É um ex-namorado que me deixou para ir embora, fazer a vida nos EUA.
Danilo você ainda gosta desse rapaz?
A maneira com que ele me respondeu: parece que o tal João o havia deixado , mas o Danilo não.
Você ainda o ama?
Ele respondeu com raiva no olhar:
“Já faz mais de dois anos que terminamos, estou super apaixonado por você".
Ele estava apaixonado, mas não era amor e não era tão super.
Continuou: “Ele anda me ligando, mas não fala nada, liga de madrugada, escuta a minha voz por um tempo e desliga”.
Então aquele dia você não estava falando com sua mãe!
Era ele Danilo?
Era o João Vítor?
Um baixar de cabeça com os olhos fechados foi minha resposta positiva.
Ele está voltando Fábio!
Minha vida está completa ao seu lado, mas eu tenho medo.
Fiquei com muita raiva do Danilo, mas engoli tudo pra não discutir.
Se ele estava completo ao meu lado como dizia, então pra quê o medo?
Naquela noite eu pedi que fosse embora, liguei pra Michelle para passar aquela noite comigo.
Como é possível estar apaixonado por alguém e mesmo assim ter que continuar lutando para esquecer uma relação antiga?
Eu disse com lágrimas nos olhos, esperando que a Michelle me desse uma resposta positiva.
Não se culpe Fábio!
Por que deveria se culpar?
Afinal de contas, imaginar que o Danilo vai ter o comando pleno de todos os sentimentos passados é, no mínimo, ingenuidade da sua parte meu amor".
A gente tem que entender que esse tipo de sentimento não nasce de uma hora para outra e também não termina como tal.
Mas os dias foram passando e as mudanças de comportamento aumentaram, começou a se arrumar mais, perfumar, cuidar melhor da aparência e saia sem me dizer pra onde estava indo, estava sempre com pressa.
E numa noite ele veio me dizer, veio abrir o jogo, me contar que tanta mudança era pra outro cara…um cara que preferiu ir embora a ficar com ele, que escolheu a liberdade ao invés de uma relação sólida com o Danilo que o amava, enfim naquela noite eu conheci o João Vítor.
Um cara lindo, descolado, falava bonito, independente e seguro de si, firme com as palavras…Enfim a minha vida que estava se assentando, que aos poucos estava sendo reorganizada, voltou ao ponto de partida!
Me humilhei ao Danilo, pedi pra não me deixar, porque eu o amava.
Que aquele cara ia deixa lo na primeira oportunidade, mas tanta humilhação não serviu de nada.
Ele saiu de casa, disse que não me amava mais, que o amor por João era superior e ele não poderia deixar aquela chance escorrer por entre os dedos.
E acabamos nosso relacionamento de quase um ano naquela noite.
Tanto tempo de dedicação, companheirismo, amor, segurança e confiança foi despedaçado por um romance antigo.
Amor não é a mesma coisa que paixão e tesão.
Amor é complicado e exige submissão e resignação, já a paixão e o tesão são livres para irem e virem de acordo com as necessidades emergentes.
Eu estava triste, mas superaria, passaria por cima de tudo aquilo, da mesma forma que me reergui sem a presença dos meus pais, aquele sentimento de vazio seria preenchido novamente e eu ainda seria feliz.
Era apenas mais um obstáculo que a vida colocou em meu caminho para atrasar a minha felicidade.
Os dias foram passando, deixei de ir na casa do Danilo, as conversas foram diminuindo, se tornando "ois" e por fim sumiram, comecei a focar no trabalho e com isso fui efetivado, junto veio uma promoção com quarenta porcento a mais em meu salário.
Algo bom estava acontecendo, chamei a Michelle para uma comemoração e aproveitei para chamar o Ricardo também, ele me ajudou tanto que o mínimo que eu podia fazer era convidá lo para um jantar de comemoração.
Ele aceitou e disse que passaria na minha casa para nos pegar.
Me arrumei todo, tomei um vinho antes para ficar um pouco mais solto nas conversas.
A Michelle com um tubinho preto salientando seu lindo corpo, um salto fino também escuro, e uma bolsa estilo carteira linda fechava o look, logo chega o Ricardo, com aquele estilo social que deixava a mostra um belo volume no meio das pernas e o desenho daquele peitoral duro feito rocha.
Ele me deu um abraço muito apertado, daqueles de amigos de longa data que não se vêem a anos, me felicitou por meu feito e eu agradeci.
Antes de saírmos de casa eu me sentei para trocar algumas palavras com meu ex sogro.
Tudo que havia gasto comigo, eu faria questão de devolver, centavo por centavo, e também faria questão de tê lo presente nas minhas conquistas, afinal ele depositou confiança quando eu mesmo achei que estava perdido.
Ele sorriu e me disse que o mérito era todo meu, com a mão no queixo se levantou e me deu um aperto de mão e logo saímos para nossa noite de comemoração.
Comemos muito, rimos de monte e após algumas taças de vinho, nossas conversas tomaram outro rumo.
Michelle contou das longas noites de sexo com homens mais velhos, das vezes em que o Duda não conseguiu fazer o serviço "broxou" e do tempo que perdeu tentando ser feliz com alguém que não a completava.
O Ricardo ria e nos dava alguns conselhos amorosos, repreendia algumas atitudes e comentava sobre suas aventuras.
Em momento algum tocamos no nome do Danilo, e aquilo foi pra mim o melhor daquela noite.
Eu não precisava saber sobre a felicidade dele, assim como ele também não precisava saber da minha.
O jantar havia sido maravilhoso, mas já estava na hora de irmos embora.
Ricardo se propôs a pagar, mas era um convite meu e portanto eu paguei a conta, enquanto ele pegava o carro no estacionamento.
No caminho a Michelle pegou no sono e dormiu.
Já em casa ele a carregou até o segundo quarto e a pôs sobre a cama e a cobriu.
Voltamos para a sala e continuamos a nossa conversa sobre coisas supérfluas.
Eu fiz um cafezinho enquanto ele dizia que estava tarde e que precisava ir embora.
Tome um café antes!
Ele riu e voltou a sentar no sofá a espera do café.
Quando entreguei a xícara em sua mão, ele me fez uma pergunta um tanto estranha, notei o nervosismo nas palavras:
Fábio, quando você estava com meu filho, já teve interesse em outro homem?
Já havia pensado em traí lo?
Eu me assustei com a pergunta e fui o mais sincero possível.
Nunca Ricardo!
Eu nunca teria feito isso com ele, ou com qualquer outra pessoa.
Nesse momento ele coloca a mão direita sobre minha perna e segura com certa firmeza.
Aquilo me deixou meio sem graça, nervoso e desconcertado.
Eu acabei deixando, mas só por alguns instantes, até me levantar sem reação e um pouco constrangido.
Com a voz bem sexy e aquele sorriso sedutor, ele também se levantou me perguntou:
Você ficaria comigo?
Passaria uma noite comigo?
Eu respondi assustado: você está louco Ricardo?
Até pouco tempo eu namorava seu filho.
Não namora mais! Ele retrucou.
Eu sempre tive um carinho especial por você Fábio.
Só você que não percebeu!
Até o Dani sabia que eu sinto uma forte atração por você.
Ouvindo ele falar, eu fiquei tão sem chão que praticamente o expulsei de dentro de casa.
Como eu iria olhar para ele?
Era uma piada só podia!!?