Capítulo 01
Aos 16 anos uma tragédia mudou meu mundo, em menos de algumas horas uma família inteira foi desfeita, deixando um rastro de dor e de total tristeza. Hoje penso que apenas uma conversa, uma aceitação, um mínimo de amor que fosse poderiam ter salvo aquele trágico fim de ano. Porque precisamos seguir as regras de uma sociedade fútil e politicamente incorreta? Será que amar verdadeiramente pode ser pecado? Será que temos mesmo o poder de julgar o que é certo ou o que é errado?
Meu nome é Bernardo, até os 16 anos eu era um garoto digamos que normal, tinha muitos amigos, jogava futebol, fazia natação, morava com meus pais e meus dois irmãos, Diego era o mais velho tinha 19 anos e Eduardo que era apenas 13 minutos mais novo que eu. Éramos além de irmãos, éramos melhores amigos.
Depois que perdi Diego e Dudu, meu mundo se tornou vazio, frio, nada tinha graça sem eles, perdi meus amigos, deixei o futebol, natação, escola... me isolei do mundo. Até conhecer a Luíza, uma gaúchinha que mudou minha forma de viver, me tirando do escuro e me trazendo a vida novamente, preenchendo o vazio que ocupava em meu coração. Já tinha passado quase 1 ano desde o acidente, estava saindo de uma última consulta ao psicólogo. Quando esbarro com uma linda loirinha.
- Mas bah! Olhe por onde andas guri... - A garota loira esbravejou.
Eu apenas murmurei um pedido de desculpas e virei as costas saindo porém a garota segura meu braço sorrindo, me fazendo mergulhar naquele olhar.
- Me desculpe se fui grossa contigo, acho que to de TPM, sei lá... - Aquele sotaque e aquele sorriso me desarmou, eu sorri, após 1 ano eu consegui sorrir novamente.
- Prazer meu nome é Bernardo, você não é daqui certo? - Olhei mais atentamente e vi o quanto aquela loirinha era linda, olhos castanhos claros, branquinha e um corpo perfeito.
- Me chamo Luíza e sim me mudei a poucos meses aqui para Brasília.
- Prazer Luíza... Posso me desculpar te chamando pra tomar um sorvete?
Ali começou uma amizade verdadeira e alguns meses depois um namoro feliz. Eu achei que iria casar, ter filhos com essa garota mas muita coisa ainda iria mudar em minha vida e eu nem imaginava.
Naquela época eu tinha muitos problemas em casa, meus pais são advogados e ambos quase não paravam em casa, pois o trabalho foi uma válvula de escape para a dor dos dois. Dois anos se passaram meu namoro com a Lu cada vez mais sólido, eu estava feliz, ela era porto seguro, linda, inteligente, perfeita. Eu tinha conseguido me formar no ensino médio, fiz um curso pré vestibular, meus pais estavam um pouco mais presentes, mais ainda a morte dos meus irmãos era um assunto proibido na minha casa. Isso acabou fazendo o abismo entre eu e meus pais cada vez maior. Eu nunca cheguei a me abrir sobre a morte deles com a Lu, eu simplesmente não conseguia, ela sabia que tinha sido um acidente de carro em um dia de ano novo, porém eu me limitava apenas a dizer isso.
Fiz alguns vestibulares para medicina, esse sempre foi meu sonho, meu objetivo. Tinha sido aceito em uma universidade aqui mesmo, porém Luíza resolveu voltar a morar em Pelotas e me fez um convite para tentar o vestibular lá. Ela sentia falta de sua família, fora criada pela avó e seria apenas temporário morar com seu pai em Brasília. Já eu, eu não tinha nada a perder, talvez uma mudança de ares fosse boa para mim.
- Pra que mudar para tão longe garoto? - esbravejou o homem que me deu seu nome e me criou.
- Pra tentar ser feliz pai! - Eu respondi e com aquela frase eu consegui desarmar meu velho, ele me abraçou e chorou como uma criança, não me contive e chorei também lágrimas de dor, lágrimas de saudade, lágrimas de perdão.
- Me perdoa meu filho! Não tem um dia em que eu não me arrependa do que fiz ao seus irmãos. - Vi aquele olhar de sofrimento, aquele momento eu enxerguei que quem estava na minha frente era o meu pai que tanto nos amou e não um estranho qualquer.
- Pai não tem o que perdoar, antes de partir eles já te perdoaram. - Eu disse dando um grande abraço naquele grande homem que eu tanto amava.
Então assim aconteceu após algumas semanas estava morando no Rio Grande, meus pais me deram um apartamento de presente, ele ficava em um bairro nobre de Pelotas perto da universidade onde cursaria meu sonho. Já a Luíza foi morar com seus avós, eu a convidei para morar comigo porém ainda éramos muito novos para um passo tão grande, nós tínhamos acabado de completar 19 anos.
Assim a vida se seguiu Luíza cursando jornalismo e eu medicina, nos víamos todo dia na faculdade, o amor e cumplicidade sempre presente entre nós. Ela me carregou pelos 4 cantos de Pelotas. Gostei da cidade, mas era difícil me acostumar com o frio. Eu estava feliz mas tinha algo em mim que me faltara, na época eu não entendia bem o que era, mesmo estando rodeado de pessoas, eu me sentia sozinho.
Os finais de semana passava na casa da Lu comendo churrasco e tomando chimarrão, seus avós me acolheram como da família, sua casa vivia movimentada além da Lu mais 3 primas dela moravam naquela casa Ana Lúcia, Clara e Elisa, todas muito bonitas e muito divertidas. Em uma tarde de domingo Clara pediu para ter uma conversa comigo, pela cara feliz da Luíza ela já sabia o que era.
- Primo eu estava conversando com a Lu e ela me disse que tu mora sozinho - ela me perguntou com aquele sotaque carregado tchê.
- Sim mas porquê da pergunta prima? - eu perguntei
- É que um guri da minha sala está a procura de alguém para dividir uma casa e a Lu comentou que você está morando sozinho.
Na hora eu fiquei meio assim de colocar alguém que não conhecia dentro de casa e fiquei de pensar. Minha namorada me tranquilizou e disse que conhecia Felipe, me contando que ele era ex namorado de Elisa, mas como ele era muito galinha resolveram ficar apenas na amizade mesmo.
Felipe ficou de passar em casa num sábado para me conhecer e acertar a sua mudança, aquele fim de semana eu estava praticamente devorando os livros, eu teria minha primeira prova e precisava me sair bem. Quando foi umas 4 horas da tarde eu ouço o barulho do interfone, me levanto no automático, ainda balbuciava o conteúdo que acabara de ler. Abro a porta e tenho uma enorme surpresa.