Boa noite gente, então, isso não é um conto, muito menos um conto erótico, estou compartilhando com vocês minha historia, espero profundamente que vocês me ajudem, não sei o que fazer/o que pensar.
Bom, essa mensagem que vou compartilhar com vocês, eu mandei pra pessoa que eu estou gostando, não sei dizer se é amor, ou apenas uma afeição muito grande, por isso estou pedindo a ajuda de vocês.
"“Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço." – Fernando Pessoa.
Bom, é assim que vou começar a me explicar pra você, por que afinal, eu te devo uma explicação/satisfação.
Tem umas 2 horas que estou tentando escrever o que eu penso, mas tudo é em vão, minha vida é em vão, nunca fui bom com palavras, e não vai ser hoje, agora, com você que eu irei virar um Voltaire, vou tentar ser o mais breve possível com você, pra não perder o seu tempo, afinal, depois de tudo o que eu fiz, me surpreende você estar lendo até este ponto.
Há uns anos atrás, quando eu tinha por volta de uns 14 anos, um vizinho me iniciou, ele com seus 17 anos, enfim, não vou entrar em mais detalhes, após isso, minha vida mudou completamente, ele espalhou isso pra os amigos dele, que espalharam pro meu irmão, que assim, chegou no ouvido dos meus pais. Nunca mais fui o mesmo, meus pais me olhavam com outros olhos, meu irmão começou a me odiar, e eu passei a me esconder de todos, afinal, virei motivo de chacota por todos os meus lados, onde eu morava, escola, cursos, minha família.
À partir daí entrei em depressão, não queria saber de nada, era da escola pra casa e da casa pra escola, perdi a maioria dos meus amigos, passei minha adolescência em casa, por isso, passei a engordar, dobrei meu peso, eu não tinha nada, não tinha com quem me abrir, não tinha alguém confidente, não tinha um ombro amigo, foi assim até meus 17 anos, quando entrei na faculdade, aí conheci o mundo de outra forma, onde eu era julgado não por ser diferente por dentro, mas exteriormente, me julgavam por eu ser gordo, até que chegou um dia que eu não me amava, sentia vergonha de andar por aí, não me aceitava pelo fato de ser homossexual (bi) e nem por ser gordo. Aos 18, conheci um aplicativo chamado Grindr, que era nada mais nada menos que um aplicativo entre relacionamento de gays. Nesse aplicativo, passei a ser eu mesmo, um cara monótono, um cara manipulável, um cara sem vida, foi nesse aplicativo que conheci um rapaz, bonito, bom de papo, além disso, não me julgava, até me ver pessoalmente, depois disso? Não me respondia mais, não queria atender minhas ligações, até que um dia ele me manda uma mensagem “não quero saber de gordo viado na minha vida”, foi a gota d’água pra mim, eu não quis levar mais essa decepção pro meu quarto, e ficar me lamentando, então, apaguei esse aplicativo.
Todos sempre me falaram que eu tinha um rosto bonito, que era “só” eu emagrecer e etc, então aprendi a tirar fotos especialmente que demonstravam meu rosto, que evidenciavam meu rosto, sendo assim, baixei outro aplicativo homoafetivo, o Hornet, nesse aplicativo, foi diferente, não coloquei uma foto de corpo, não coloquei meu peso na descrição, coloquei uma foto de perfil, na qual tinha uma mancha no meu rosto, pra gerar curiosidade, eu realmente tinha um plano em mente, eu não estava na busca de sexo casual, eu queria alguém pra levantar minha autoestima, alguém que me aceitasse de uma forma completa. Então, nas conversas que eu tinha nesse aplicativo, eu nunca mostrava o rosto (mesmo as pessoas falando que meu rosto era bonito, eu sabia disso, eu era/sou fotogênico nas fotos que eu tiro), eu sempre mostrei pras pessoas que elas podiam me querer por eu ser quem eu de verdade, por saber quem eu sou por dentro, por saber o que eu sinto. O que eu desejava era alguém que gostasse de mim, sendo gordo, sendo gay, sendo o Matheus que se escondeu durante tantos anos por medo.
Até que um dia apareceu um cara educado, culto, que falava extremamente difícil, um cara que não pediu pra ver minhas fotos, um cara que queria conversar comigo pelo cru, um cara que se interessava por minhas palavras. Mas nisso vinha o medo, “será que ela vai se interessar por mim?”, inventei inúmeras desculpas para não ver essa cara pessoalmente, afinal, ele poderia ser igual o anterior, o do Grindr, mas eu não podia julgar, eu realmente estava me interessando por um cara que era bom demais pra mim. Comecei a fazer ele me odiar, o tratava mal, não queria que ele me visse pessoalmente, fazia de tudo para não nos falarmos mais. Afinal, eu poderia ser apenas mais um “gordo viado na vida dele”.
Sei que isso foi um desabafo meu, peço desculpa por isso, não era necessário você perder seu tempo comigo, com minhas tristezas. Peço desculpa, por não ser uma pessoa corajosa, uma pessoa que eu tenho medo de ser, uma pessoa que tem raiva do passado, que não vive o presente e que tem medo do futuro. Peço desculpas, por ser eu."
PS: Peço desculpas se houver algum erro, mandei essa mensagem por WhatsApp, estava nervoso e apreensivo na hora.
PS 01: Peço realmente a ajuda de vocês, ajuda pra decidir o que fazer da minha vida, sobre esse cara, sobre minha família, sobre tudo.
PS 02: Tenho 19 anos atualmente.
Obrigado.
ML