ENTRE PRIMOS - PARTE 04

Um conto erótico de Lord D.
Categoria: Homossexual
Contém 8295 palavras
Data: 21/01/2016 13:49:19
Última revisão: 21/01/2016 13:50:47

4. O CONFRONTO INICIAL

- Você pode não acreditar, mas eu vim fazer exatamente isso – disse, enquanto fiquei de pé. – Caso você não saiba, a vovó me convidou para vir.

- Como se essa fosse a primeira vez que ela te convidou – Giuliano lembrou, demonstrando não está convencido com a minha resposta. – Você nunca se interessou pelo bem-estar da vovó. Aliás, você nunca pensou em ninguém que não fosse você.

- Giuliano, quer saber? Eu não preciso ficar dando satisfação da minha vida para você – eu estava irritado com insistência dele.

- Foi remorso?

- Remorso? Pelo que? – eu o desafiei a responder. – Se for por causa da vovó, talvez eu não tenha me sentindo bem mesmo por ter me afastado dos assuntos daqui. Mas a minha consciência está muito tranquila quanto ao resto.

Nesse momento, por impulso, eu olhei pela janela do quarto, que estava aberta, e meus olhos avistaram a cajazeira, não sabia que a vista dava para lá, e Giuliano acompanhou o meu olhar, achando que eu fazia alguma referência subliminar sobre a árvore.

- Deve ter se sentido poderoso, ao vê-la não é? Eu vi você indo até lá. Eu devia ter a derrubado há muito tempo. Mas acho que esse é um problema que eu possa resolver ainda.

- Eu não me senti “poderoso”, - rebati. – Apenas me lembrei do passado. É disso que você quer falar não é? Desde o momento que me viu aqui, calculou como deixaria as palavras pesadas para atirar em cima de mim.

- Acha que você ocupa tanto espaço assim na minha cabeça? Pois se enganou completamente – ele disse batendo no peito, espumando de raiva. Engraçado, que mesmo naquela situação tensa, era impossível não perceber como ele ficava mais bonito ainda, quando estava zangado. Parecia um tigre feroz, a aponto de devorar sua presa. E isso, estranhamente, me excitava.

- Olha, a vovó está doente, e eu não quero causar nem um estresse a ela, então é melhor...

- Você ir embora! – Giuliano bradou, interrompendo minha fala agressivamente.

- Só porque você quer? – eu ergui uma das sobrancelhas.

- Você nem devia estar aqui. É um completo estranho – ele estava implacável. Parecia que nada que fosse menos do que um trucidamento de mim, não o contentava.

- Desiste, eu não vou embora – falei com firmeza. – Mas se o preço para você me deixar em paz e cuidar da sua vida é dizer tudo queria ter dito há dez anos. Vai em frente. Me xingue, me esculache, cuspa em mim, vamos! Contanto que você fique na sua e me deixe na minha, eu libero você para dizer o que sente.

- Eu não tenho nada para te dizer – ele fez menção de sair, mas parou próximo a porta. – Acho que a sua memória já faz esse trabalho muito bem.

Dei uma gargalhada profunda e sarcástica, o que pareceu fazer o sangue dele ferver ainda mais. Se ele estava tentando usar chantagem psicológica, iria se arrepender da tentativa.

- Eu não quis que aquela tarde terminasse daquele jeito! Se eu pudesse...

- Cala a boca! – ele gritou. Giuliano não queria uma reprise do nosso passado de forma alguma. – Não me fez sentir mais nojo de você, do que eu já sinto.

- Você achava que eu te amava? Aquilo foi só diversão. Nós éramos crianças. Você era um passatempo de féri...

Não conclui a frase, pois senti uma pancada tão forte no rosto, que achei que o teto do quarto havia caído sobre a minha cabeça. Mas, não. Fora Giuliano que desferira um soco em mim, guardado e acumulado por dez anos. Foi um soco de dez anos de ódio e raiva. E como doía. Eu achei que ele tinha dividido a minha cara em duas. O sangue brotou do meu nariz feito um veio de água. Chorei muito de dor e raiva. Ele me observou por alguns instantes, parecia hesitante, passando a impressão de querer me socorrer, mas se o fizesse, imagino que ele tenha pensado, seria como se seu ódio fosse uma encenação, que o que aconteceu há dez anos teria sido pouca coisa diante de alguns espirros de sangue. E vendo que eu estava vivo e consciente, ele se decidiu por sair do quarto e me deixar, no chão, me contorcendo de dor.

O homem parecia ter reunido toda a sua vontade naquele soco. Era um touro mesmo.

Reuni forças para me levantar, mas quase não o consegui fazer. Estava muito tonto e com a visão turva. Mas a minha preocupação, era como eu ia explicar o machucado para minha avó. Não dava para tentar enrolá-la com papinho de que eu tinha sofrido uma queda, ou coisa do tipo. Mas, no momento, tinha que me preocupar em chegar ao banheiro.

Com muito esforço, alcancei a pia, e joguei minha cabeça em baixo da torneira e a liguei, deixando a água refrescar a minha nuca, que estava em brasa, assim como o meu rosto. Logo uma cachoeira rubra descia pelo ralo da pia. Ardia muito, mas eu achava que não tinha quebrado nada. Mas com certeza eu ficaria com a face inchada e roxa. Havia começado aquela viajem muito bem.

Resolvi tomar logo um banho de vez, para tentar lavar a alma. Mas a água era muito pouco para aquilo. Enquanto deixava-a me isolar do mundo externo, minha mente trouxe à tona detalhadamente, os principais eventos do meu passado com Giuliano.

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Não me lembro direito quando foi a primeira vez que eu vi Giuliano, mas sei que quando isso aconteceu, as coisas nunca mais voltaram a ser como eram.

Giuliano sempre morou com a vovó Elisa em seu sítio, desde que sua mãe, minha tia Helena, faleceu em um acidente horrível. O pai dele, pelo que soube, agiu como um canalha. Assim que soube que tia Helena estava grávida, ele a abandonou, para nunca mais dar notícias. Nessa época, minha avó já era viúva, e deu todo o apoio para mãe de Giuliano, assumindo a responsabilidade de cuidar do neto, como se fosse seu próprio filho. Ele tinha nove anos, quando ficou órfão, e eu oito, na ocasião. Me lembro vagamente, de ter viajado com os meus pais para a casa da vovó, mesmo ainda sendo período de aulas. Eu não sabia ao certo porque estávamos fazendo aquela viagem. Mas sentia que não poderia ser algo para diversão.

Era uma segunda feira sem sol, quando chegamos até o sítio. Uma densa camada de nuvens, abafava o dia, tornando mais ainda desconfortável, o terno escuro que eu usava. Foi a primeira vez que eu vi uma pessoa morta. Era estranho. Apesar de saber que se tratava da minha tia, a imagem que meus olhos captavam, me davam a ideia de estar vendo algo artificial. Como uma boneca.

O sítio estava tomado por pessoas, e a atmosfera carregada por lamentos e dor. O cheiro das velas e o choro mútuo, me deixaram um pouco tonto, e com o estômago bastante ácido. Mas o que mais contribuía para o meu mal-estar, era ver Giuliano, aos prantos, debruçado sobre o caixão. Aquela cena me fez tomar uma inciativa, que até hoje me surpreende quando eu lembro, haja visto que era muito tímido. Me aproximei do meu primo, e passei o braço sobre seu ombro. Por impulso, ele pegou na minha mão, sem olhar, ainda permanecendo sobre o caixão aos prantos. Minha avó, então, foi até nós dois, e pediu para que eu fosse com meu primo para o quarto. Eu nunca tinha a visto tão abalada. Nesse momento, eu apertei bastante a mão de Giuliano, e curiosamente, ele atendeu ao pedido da vovó, e fomos para o seu quarto. Era engraçado. Eu me sentia como se conhecesse ele a bastante tempo, e tinha certeza que o sentimento era recíproco.

Chegando em seu quarto, Giuliano deitou-se em sua cama, e ficou soluçando bastante. De pé, no meio do quarto, eu apenas o observava, admirado com a intensidade de seus olhos verdes, brilhantes pelas lágrimas correntes, e seu cabelo loiro, volumoso e suado. Giuliano também usava um terno, como meu. Fiquei pensando que continuar com aquela roupa pesada, só o faria mal. Então, fui até ele, e o fazendo levantar da cama, comecei a retirar peça por peça de sua vestimenta fúnebre. Ele não fez resistência, mas me surpreendeu, quando também começou a tirar a minha. Estranhei, mas permiti, pois ele tinha feito o mesmo. Em poucos minutos, estávamos só de cuecas, ambas brancas. Nem uma palavra havia sido dita, e nem acho que precisava. Era surreal aquilo. Eu tinha oito e ele nove, mas era uma intensidade tão grande aquele momento, que talvez por isso, eu agora entendo, porque sentia o peito arder tanto.

Giuliano me puxou pelo braço, e deitamos em sua cama. Numa concha apenas desenhada, com pouco contato físico, mas próximos o suficiente para ele colocar seu braço, em baixo da minha cabeça. Parecia que era eu que precisava de consolo, mas de alguma forma, ficar daquele jeito com ele, o reconfortava, pois o choro compulsivo, havia se tornado apenas soluços, que lentamente foram perdendo a força, e encerrando com um arfar profundo.

Meu primo parecia estar muito exausto, pois em pouco tempo ele dormira. Eu, no entanto, permaneci acordado durante muito tempo, com o olhar lançado ao nada. A respiração de Giuliano soprava a minha nuca, como uma brisa quente, que me arrepiava constantemente. Todas vezes que eu me mexia na cama, ainda que apenas por alguns centímetros, ele me puxava, mesmo dormindo, para junto do seu corpo, e pesava seu braço sobre a minha cintura. Era como se o seu corpo não permitisse que o meu o abandonasse.

Ficamos assim por muito tempo, não me lembro ao certo quanto, até porque adormeci sem perceber em um determinado momento, e quando despertei, estava coberto por uma manta, com Giuliano ainda atrás de mim, dessa vez estávamos completamente colados e suados. Acho que de tanto Giuliano se esfregar nas minhas costas, metade da minha cueca estava enfiada na minha bunda, o que estava me incomodando bastante, então resolvi levantar, mesmo tendo que acordá-lo. Outrossim, não estava confortável com aquela nossa posição. Me senti uma mocinha dos filmes que a mamãe adorava assistir. E a ideia me incomodou bastante.

Com dificuldade, eu consegui me desvencilhar do meu primo, sem acordá-lo. Vesti a calça do meu terno, e desci descalço até a sala. Já era noite e a casa estava extremamente silenciosa, mas não vazia. Ainda havia algumas pessoas mais íntimas da família sentadas na sala, velando a minha tia morta. Minha vó estava com a cabeça inclinada, deixando a testa tocar a quina do caixão. Então me aproximei dela, e me recostei nela.

- Oi, meu amor – ela levantou o rosto para mim, estava completamente arrasada, com os olhos profundamente vermelhos e inchados. – Está com fome?

- Estou – eu disse, sentindo o meu estômago muito vazio, agora que ela tinha mencionado. – Onde está a mamãe e o papai?

- Eles voltaram para casa – ela respondeu.

- Como? Eles esqueceram de mim? – perguntei apreensivo, me sentindo abandonado.

- Claro que eles não esqueceram de você – minha avó passou a mão no meu rosto. – Pedi para seus pais para que você passasse essa semana aqui conosco, por causa do Giuliano. Mas caso você não queira, eu providencio sua volta imediatamente. E então?

Fiquei pensando por um instante, ainda abalado por eles não terem me perguntado pessoalmente. Porém, algo me fez optar por ficar, até porque a ideia de passar uma semana sem escola, não soava nem um pouco ruim. Minha surpresa foi a minha mãe ter permitido aquilo, mas achei por bem não perguntar, e apenas dizer que aceitava passar aquela semana com Giuliano.

Durante o enterro de tia Helena, no dia seguinte, segurei a mão de Giuliano durante todo o tempo. Ele apertava a minha mão com força, cada vez mais, à medida que o caixão descia.

Apesar do clima ser de grande pesar, passamos aquela semana relativamente bem. Eu e Giuliano não nos desgrudávamos nem por um segundo. E isso parecia causar muito gosto a minha avó. Mas o que é bom tem um prazo de duração demasiadamente curto, e logo a semana se esvaiu, e a minha mãe veio me buscar. Lembro que Giuliano chorou muito quando eu tive que ir, mas prometi a ele que voltaria nas férias, e sempre que eu pudesse. Também fiquei muito triste em ter que deixa-lo.

Ainda naquele ano, eu o visitei quatro vezes, e passei todas as minhas férias no sítio.

Assim foi durante cinco anos. Eu era presença constante no sítio, e quando não estava lá, ficava contando os dias para as minhas férias chegarem. E foi quando já era um pouco mais velho, que percebi que a minha mãe ficava muito irritada quando eu falava de Giuliano e do sítio, ela chegou até a tentar me proibir de ir para lá, mas meu pai não permitiu que ela fizesse esse absurdo. Então, mesmo com seus protestos, era só eu arranjar um feriadão, antes das férias, que estava enfiado no sítio, e sempre fazia um drama para voltar para casa.

Entre os doze e os treze anos, foram quando as coisas começaram a ficar mais sérias entre nós. Até então eu via Giuliano como um irmão, pelo menos era o que eu pensava. Como era filho único, e portanto, não sabia como se constituía o amor entre irmãos, eu achava que o que sentia por ele era isso, apesar de ver alguns dos meus primos, não demonstrando por seus irmãos nem um quarto do sentimento que eu e Giuliano tínhamos um pelo outro.

Nas minhas férias no sítio, aos doze anos, conheci Fernando, que havia se mudado para a vizinhança. Fiquei também muito amigo dele. Mas percebia que isso incomodava profundamente Giuliano, que até antes de eu chegar, parecia ter se dado bem com Fernando, mas só foi ele grudar em mim, que meu primo só vivia de cara emburrada, e me tratando com grosseria. Ficamos um pouco afastado nessas férias. E nessa brecha, Fernando conseguiu lugar.

- O Giuliano não quis vir? – Fernando me perguntou, quando seguíamos pela vereda, que levava para o lago do sítio.

- Não. Ele disse que se você estivesse ele não estaria – eu respondi, sentindo o vento forte de julho, tentar açoitar os meus cabelos curtos. Fernando, que era cheio de cachinhos, tinha seus cabelos vencidos pelo vento. – Vocês brigaram por acaso? Por que ele disse que eu tinha que escolher entre os dois. Não gosto disso.

Fernando riu profundamente, inclinando o rosto para trás, disse:

- Seu priminho pensa que é seu dono. Ele não quer que você fale com mais ninguém que não seja ele. Parece que até o seu namorado. Não vai me dizer que vocês são namorados. São?

- Ficou maluco!? – eu gritei. Não fiquei ofendido, fiquei assustado, como se Fernando tivesse descoberto algum segredo que nem mesmo eu sabia.

- Só disse o que eu acho e vejo – Fernando falou com malícia. – Mas que ele sente ciúmes de você, ele sente.

- Se você não parar com isso, eu vou voltar daqui mesmo – decretei, ameaçando dar meia volta.

- Não! Não! Não! Eu prometo que não falo mais nada. – ele segurou no meu braço, me fazendo desistir de ir embora.

Andamos mais um pouco, subindo uma colina, até vislumbrarmos um imenso lago logo abaixo, rodeado por frondosas. Descemos correndo, parando apenas e uma pequena ponte de madeira, onde arrancamos nossas roupas com pressa, e pulamos nas águas escuras do lago, completamente nus. A água estava deliciosa. Mas sentia falta do Giuliano.

Fernando e eu apostamos quem conseguia ficar mais tempo debaixo da água. Depois brincamos de pegar, e por fim ficamos apenas flutuando, conversando sobre desenhos animados. Eu percebi que Fernando sempre tentava passara a mão em mim, mas eu não dava nem uma condição para ele. O que eu não sabia era que ele não desistiria.

- Escuta, você já bateu punheta? – ele me perguntou com um sorrisinho, e começou a se mexer na água de um jeito estranho, que mais tarde eu vim a descobrir que ele estava na verdade era se masturbando.

- Já vem você de novo com essas conversinhas – disse, ficando muito vermelho. – Acho melhor irmos.

- Espera – Fernando me segurou, enquanto eu nadava em direção a ponte.

- O que foi? – perguntei com desconfiança.

- Vamos fazer um negócio – ele falou cochichando. – Você me deixa pegar na sua bunda, e te deixo pegar na minha pica. O que acha?

Não respondi, apenas me soltei dele e nadei o mais rápido possível para a ponte. Subi rapidamente na mesma, e me abaixei para catar as minhas roupas e voltar para casa, mas Fernando pulou da água tão rápido, que só sentir algo duro, como uma salsicha congelada, espetando o meu bumbum. Tentei me soltar dele, mas ele era mais forte, e prendeu meus braços.

- O que você tá fazendo? Me solta cara! – eu tentava, inutilmente, me desvencilhar dele.

- Deixa de frescura, Benjamim, eu sei que você gosta – Fernando se esfregava em mim, mas não conseguia me penetrar. Sentia seus pelos roçarem a minha bunda, enquanto seu pinto tentava buscar passagem.

- Eu vou gritar – ameacei.

- Grita seu viadinho, que eu te quebro na porrada – Fernando fez força para baixo, me fazendo cair de joelhos, mas permanecendo preso nas minhas costas.

Eu já estava começando a chorar, e de olhos fechados, não percebi quando eu fui separado a força de Fernando. Era Giuliano que estava ali, parado, de punho fechado para dar um soco em Fernando.

- O que você veio fazer aqui Giuliano? – Fernando cambaleou para trás.

- Eu disse para você Benjamim, que ele não era de confiança, mas não, você disse que era implicância minha. Agora ela quis fazer isso com você. Mas não é seu “amigo”? Ele não é “legal”? – disse Giuliano com muita raiva. Eu permaneci abaixado, apenas choramingando.

- A gente só estava brincando! – Fernando se levantou com fúria e veio para cima de Giuliano, mas levou um soco tão grande no rosto que escorregou para trás, e rolou para dentro da água.

- Vamos embora! – Giuliano me puxou pelo braço, enquanto eu tentava vestir a minha cueca.

- Podem fugir suas bichas! Vocês vão me pagar essa! – Fernando bradou de dentro do lago, com o nariz minando sangue.

Voltamos para a casa da vovó, em silêncio. Ainda agradeci a Giuliano, mas ele não disse nada. Caminhava com tanta pressa que parecia não me querer perto dele. Eu apenas fiquei na minha, e respeitei seu espaço.

Já em casa, tomei banho e fui para o meu quarto, ficando lá bem acompanhado de uma montanha de gibis. Pouco tempo depois Giuliano entrou no meu quarto com uma bandeja com biscoitos de polvilho, goiabinhas, broas e dois copões de leite com achocolatado. Ele pôs sobre a cama, me deu um dos copos e ficou com outro, se servindo do lanche. Fiz o mesmo. Ficamos nos encarando profundamente, por cima da borda do copo, quando o inclinávamos em nossas bocas.

- Você bate forte para caramba – eu disse, enquanto ele tomava um grande gole de leite.

Giuliano riu incontrolavelmente, se engasgando com o liquido. Não consegui resisti também, e cai na risada. Mas estava feliz mais por ter quebrado o gelo que ele estava me dando, do que pelo seu engasgamento.

- Sou seu primo mais velho, então quando eu disser para você não fazer uma coisa, não faça – ele disse se referindo ao episódio passado. Giuliano havia me alertado sobre Fernando, mas achei que era exagero dele.

Apenas abaixei a cabeça, e consenti. Na verdade, o que ele disse havia me deixado triste: “sou seu primo mais velho”. Eu achava muito pouco esse posto. Ele já era isso, antes mesmo de ficarmos tão próximos.

- Fernando disse que nós dois parecemos namorados – eu disse, mas não em tom de revolta, e sim esperando seu posicionamento quanto aquilo.

Ele nada falou, continuando a comer normalmente.

- Disse que você sente ciúmes de mim, Giuliano – eu continuei a falar. Queria atiça-lo.

- E depois do que ele te fez, você continua dando bola para as besteiras que ele fala? – Giuliano perguntou.

Nesse momento, apenas o observei em silêncio. Não havia percebido como meu primo havia crescido tanto e ficado muito mais bonito, desde a última vez que eu estive ali no sítio. E sentia coisas endurecerem em mim, ao vê-lo usando apenas um calção de malha fina, sem cueca, deixando parte de sua pele não bronzeada do bumbum, saltar para fora do cós, bem como algumas penugens de seu púbis.

- Você tem namorada? – perguntei, sem dar importância para última fala de Giuliano.

- Não. – ele respondeu com tranquilidade, deitando-se na minha cama, após terminar o seu lanche – Você tem?

- Já tive, mas agora não – respondi, deitando ao seu lado. Nós dois observamos o teto.

- Tem algumas meninas da escola que dão em cima de mim, mas eu não sinto nada por elas, sabe? E não quero ficar apenas porque todo mundo fica. – ele completou.

Hoje, quando me lembro das colocações de Giuliano, percebo como ele teve uma maturidade precoce. Talvez por ter perdido sua mãe naquelas circunstâncias, e tão cedo. Sem contar que a ideia de ter sido rejeitado pelo pai, deve ter lhe forjado uma couraça. Mas ele era especial, pois poderia ter se deixado ser destruído por aquela série de infortúnios, no entanto, sobreviveu e se tornou um garoto forte. Percebo agora, o quanto eu era bobinho em relação a ele, ainda mais considerando que a nossa diferença de idade era de apenas um ano. Bom, meu comportamento e postura, estavam de acordo com a minha idade na época, Giuliano era que estava acima da média.

- Você já beijou? – insisti com o assunto.

- Também não – Giuliano disse sem constrangimento.

- Sério? Na sua idade? – eu ri. E não deveria ter feito isso.

- Você fala como todo mundo – Giuliano disse, se levantando da cama, e fazendo menção de sair. Eu não havia imaginado que aquilo o ofenderia.

- Ei, desculpa! – eu o segurei pelo braço, mas ele se soltou em um sopapo bem agressivo.

Corri na frente de Giuliano e bloquei a porta. Ele parou, e pôs as mãos na cintura, então disse:

- Vai sair, ou vou ter que descer a mão em você?

- Você teria coragem de me bater? Pensei que gostava de mim – eu disse com uma voz teatral.

- Eu também achei o mesmo de você – ele devolveu – Mas você saiu com o Fernando, mesmo depois de ter lhe dito que ele não era de confiança, e agora está caçoando de mim só porque eu ainda não dei a droga de um beijo.

- Ah, então você tá bravinho comigo? – eu indaguei, pondo a mão em seu ombro.

Giuliano levou sua mão até a minha, para removê-la de seu ombro, mas não prosseguiu com o seu objetivo final, deixando a sua mão sobre a minha. Trêmulo dos pés à cabeça, com a garganta seca, e o estômago afundado na mais pura tensão. Caminhei em sua direção, mas ele não recuou, pelo contrário, veio ao meu encontro. Encostei a minha cabeça na sua testa, e me deixei perder na profundeza de seus olhos de esmeralda. Meus lábios tocaram os dele. Eram volumosos e macios, tinham uma firmeza que desconhecia dos beijos que havia dado em algumas garotas. Eu gostava disso. Ele começou a movimentar, meio sem jeito os dele, e eu tomei as rédeas, mas durou menos de um minuto, pois quando ele me abraçou, me trazendo mais para perto de seus domínios, algo em minha consciência disparou, e me dei conta do que estava fazendo, então o empurrei, e sai do quarto.

Não nos falamos mais no resto daquela tarde, e nem durante a noite. A minha avó percebeu o afastamento repentino, e quis saber o que tinha acontecido, eu falei apenas que tínhamos discutido, mas que era algo passageiro, ela aceitou, mas ficou com um ar de desconfiança, o que me deixou muito nervoso. Mas não vieram mais perguntas de sua parte, para o meu alívio.

No dia seguinte, eu voltei a falar com Giuliano com normalidade de sempre, ele retribuiu da mesma forma. Não falamos sobre o beijo. Era como se nunca tivesse acontecido, apesar de continuar a pensar nele constantemente.

O restante das férias, nos divertimos bastante, mas sem a presença de Fernando. Sempre que ele tentava se aproximar, nos afastávamos. E quando ele insistia, voltávamos para dentro de casa, sem dar-lhe uma palavra, mesmo ele nos xingando de casal de viadinhos. Lembro-me, que durante um desses xingamentos, em outra ocasião, Giuliano revidou de uma forma bem, surpreendente.

- Lá vai o casalzinho de viadinhos, dar o cuzinho lá no lago. Giuliano é o marido e Benjamim é a mulher – Fernando cantarolava, quando nos via passar.

- E se formos namorados, o que você tem com isso? – meu primo disse.

Fernando nos olhou espantado, tanto como eu, por alguns instantes, depois voltou a cantar mais alto:

- Lá vai o casalzinho de viadinhos, dar o cuzinho lá no lago. Giuliano é o marido e Benjamim é a mulher.

Quando acabou as minhas férias, tive que voltar para casa, e mais uma vez passamos pelo sofrimento da separação.

- Eu vou voltar no final do ano – disse para Giuliano, tentando consolá-lo.

- Vou marcar no calendário os dias se passarem até chegar ao final do ano – meu primo respondeu, me dando um abraço forte. Estávamos no meu quarto.

- Eu também – afirmei, lhe dando um selinho longo. Giuliano me agarrou com força e enfiou a língua na minha boca. Ele estava beijando bem agora. Tão bem, que pensei que ia cair, tamanha foi a intensidade do seu beijo.

- Ensaiei com as laranjas – ele sussurrou no meu ouvido, após encerrar o beijo.

- Aprendeu bem – eu sorri nervoso. – Não conte a ninguém.

- Eu juro, meu namorado. – ele garantiu.

Rimos juntos do “meu namorado”.

Nunca tinha passado por um semestre tão demorado. Queria ficar de férias o quanto antes para voltar ao sítio. Até tentei convencer a minha mãe de ir em um final de semana para lá, mas nem teve negociação com ela. Apelei para o meu pai, mas ele disse que era melhor eu esperar até o final do ano, pois ele teria como defender a minha causa, porém, se eu ficasse insistindo em querer ir antes disso, irritaria a minha mãe e isso dificultaria minha ida futura. Mesmo assim, não parava de falar em Giuliano e como era divertido estar lá. Isso enfurecia a minha mãe, que não sabia por que razão, detestava quando eu falava na vovó, no sítio e principalmente no nome do meu primo. Ela até levantou a hipótese de irmos viajar para o exterior, mas eu fiquei louco com a ideia, disse que não ia nem arrastado. Por fim, achei melhor não tocar mais no assunto, para que ela esquecesse. E assim o fiz.

No meu aniversário de treze anos, minha mãe preparou uma megafesta. Mas eu não estava nem aí para o bolo enorme, os presentes caros e muito menos os convidados chatos. Queria que Giuliano estivesse ali, mas a minha mãe nem permitiu que concluísse a ideia de trazê-lo. Ela disse que ele era um jeca, e que ia fazer a família passar vergonha. Mas mesmos assim mandei o convite, e ele respondeu dizendo que não fazia muito a dele, mas que tinha preparado um presente para mim. Aí é que enlouqueci mesmo. Queria entrar de férias ontem, para já estar lá no sítio.

Durante a minha festa de aniversário, a minha mãe não parava de forçar uma amizade entre mim e a filha de um dos clientes do nosso escritório, Tatiana. Estudávamos juntos, e ela não saía da minha cola, mas eu não estava nem aí para Tatiana, e nem para ninguém. Minha cabeça só trabalhava em direção a Giuliano e o beijo que trocamos antes da minha volta para casa.

Finalmente as aulas se encerraram, e eu explodia de felicidade ante a minha tão próxima viagem. Mas para a minha grande decepção, no dia da partida, recebi uma notícia terrível: meus pais também iriam. Isso era uma tragédia. Minha mãe iria me policiar o tempo todo. Não teria nem um centésimo da liberdade que a vovó dava para mim e Giuliano. Tentei dissuadi-los da ideia, mas foi inútil. Meu pai também tentou fazer o mesmo, até sugeriu para a minha mãe que eles só fossem depois, na semana do natal, mas a minha mãe não aceitou de forma alguma. Ou iríamos todos juntos, ou ninguém iria. Como não teve jeito, resolvi aceitar a terrível condição. E ela parecia se satisfazer com a minha cara de decepção. E numa manhã de sábado estávamos rumando para o sítio, com papai no volante do carro.

- Por que está com essa cara azeda? Por acaso você estava fazendo alguma coisa naquele sítio, que eu não posso saber, Benjamim? Vindo daquele moleque, nada me surpreenderia. Quem nasce aos seus não degenera.

- Não enche o saco – eu bravejei.

- Olha como fala comigo, garoto – minha mãe me deu beliscão. Doeu eu bastante, mas eu não demonstrei que havia sentido, pois sabia que a minha mãe odiava quando alguém não se envergava diante dela. – Deve ser aquele projeto de marginalzinho que está te dando o mau exemplo.

- O nome dele é Giuliano, e ele não é um marginal! – gritei com ela. – Ele é meu amigo, e eu gosto muito dele.

- Se você aumentar o tom de voz pela terceira vez, eu te dou uma surra aqui mesmo dentro do carro – minha mãe disse, me dando um beliscão mais forte. Meus olhos lacrimejaram da dor, mas eu me fiz de forte.

- Pois se você machucar o Benjamim novamente, Laura, o problema passa a ser meu – disse meu pai em minha defesa.

- O que é que é, Roberto? Vai me desautorizar na frente do meu filho?

- Do nosso filho! – meu pai falou com raiva – E é você que vivi o aborrecendo. O que tem de errado com o Giuliano? Eu adoro o garoto, e acho que ele é uma ótima amizade para o Ben, muito melhor que esses riquinhos mimados e chatos que você empurra dentro da nossa casa.

- São negócios, Roberto.

- Então faça o seu jogo sem me envolver e muito menos o Benjamim – meu pai decretou. – Eu não sei medir afeto com cifras.

- Você é mesmo um romântico incurável – ela riu – Eu não sei como eu...

- Casou comigo? – papai completou. – Podemos resolver isso com muita facilidade.

- Olha, quer saber? Cansei disso! Faça o retorno que nós vamos voltar – minha mãe ordenou.

- O máximo que eu vou fazer é parar o carro e te deixar no meio da estrada sozinha – meu pai revidou. – Se o nosso filho quer passar as férias com a avó e o primo, ele vai passar. E eu desafio você, a tentar o contrário. Aliás, eu desafio você a não calar a boca!

Minha mãe se encolheu completamente no banco. As brigas entre eles já eram muito constantes naquela época. Eu não entendia porque, assim como não entendia o que a minha mãe tinha contra o Giuliano.

Aquela viagem seria inesquecível. Mal sabia eu, que aquele começo desastroso era um mau presságio do que estava por vir.

Quando chegamos no sítio, vovó já me esperava ao lado de Giuliano. Pelo vidro do carro, eu via que ele não se continha de tanta alegria. Pulei do carro, e corri em sua direção. Nos abraçamos apertadamente, e tão demoradamente, que minha avó observou:

- Será que sobra um pouquinho de Benjamim, para mim também? – eu pulei em seu colo, ela me agarrou com precisão. – Mas olha o tamanhão desse rapaz? A vovó quase não pode mais levantar.

Meus pais vieram cumprimentar a todos também. Papai caloroso e gentil como sempre, a minha mãe um bloco de gelo. Esta deu um abraço rápido na vovó, ignorou Giuliano completamente, mesmo ele lhe pedindo a benção, e entrou dentro de casa, depois de dar ordem para o caseiro, para que ele pegasse as malas no carro. Papai, no entanto, abraçou Giuliano com muito afeto, bagunçando seu cabelo loiro, e elogiando a robustez do seu corpo. De fato, ele tinha catorze anos, mas poderia se passar por dezesseis tranquilamente. Estava enorme, mais forte, e muito, muito mais bonito, desde a última vez que nos vimos.

- O que a vovó Elisa está te dando, em moleque, fermento? – papai brincou com ele.

- Tô forte, não é tio Roberto? – Giuliano enrijeceu o braço, deixando os músculos aparecerem.

- Tá assim, mas e a escola? – meu pai perguntou. – Não quero saber de sobrinho cochilando nos estudos não, rapaz.

- Sou o primeiro da turma, pode perguntar para a vovó – Giuliano disse com orgulho. Eu também estava explodindo de orgulho dele.

- Maravilha! – meu pai ainda fez um carinho nele.

- Vamos entrar – minha avó chamou. – Estou surpresa em vocês terem ficado.

- Viemos passar as festas de final de ano com vocês, espero que não seja incômodo – meu pai disse.

- Incômodo? Vai ser uma imensa alegria meu filho, tê-los aqui... – vovó foi falando, enquanto entrou no sobrado ao lado de papai, me deixando sozinho com Giuliano.

- Vamos dar umas voltas por aí? – eu sugeri a Giuliano.

- Mas será que a sua mãe não vai se importar? Já percebeu que ela não vai muito com a minha cara, não é?

- Não torra com isso – eu disse com descontração. – Ela não manda em mim aqui. Vou só trocar de roupa e já volto.

Corri para o quarto em que eu sempre ficava, arrancando a roupa ainda no corredor. Entrei no quarto, pulando em uma perna só, tentando arrancar os sapatos dos meus pés. Levei um susto ao ver a minha mãe sentada na minha cama, mas nem dei atenção para ela. Arranquei toda a minha roupa e fucei a mala com pressa, até puxar um calção de lá de dentro. Em um segundo já estava deixando o quarto, mas a minha mãe interrompeu a minha saída.

- Já vai se enfiar com aquele menino no meio do mato?

- Se está falando do Giuliano, sim, nós vamos nos enfiar no meio do mato, e sem hora de voltar– falei, e saí correndo sem dar chance para que ela argumentasse.

Eu também estava me sentindo muito seguro, tendo o papai ali. Duvidava muito que mamãe tentasse qualquer coisa com a presença dele. Se ela fizesse pelas suas costas, eu ia bancar o dedo-duro, sim.

Passei o dia inteiro com Giuliano, enfiado no meio do mato, caçando passarinhos, comendo manga, brincando de aventuras, tomando banho no lago, subindo em árvores. Só voltávamos para as refeições. Minha mãe estava a ponto de explodir com aquela minha indisciplina, e eu birrava cada vez mais, confiado no apoio que meu pai me dava.

No fim do nosso primeiro dia de férias, Giuliano me levou até uma cajazeira, isolada das outras árvores, e me mostrou o tal presente do qual ele me falara por telefone. As iniciais dos nossos nomes estavam gravadas no tronco da árvore: G&B. Fiquei tão emocionado, que chapei um beijo na boca dela, sem me importar em estar em campo aberto. Giuliano me empurrou até a cajazeira, e prendeu os meus braços, cruzando-os acima da minha cabeça, então me beijou com força e sede. Ele estava um profissional no assunto. Muito melhor do que eu. Aquilo sim era um presente de verdade. Só esperava que ele continuasse só treinando com as laranjas, os beijos.

Deitamos na grama, que circundava a cajazeira, e ficamos admirando o céu azul e limpo. Giuliano me falou sobre um baile de formatura da sua escola que teria, mas que ele não estava afim de ir, pois queria me levar, mas como se esperava que cada garoto tivesse como um par uma garota, ele resolveu que não iria. Mas eu o incentivei a ir, pois a festa, como sendo um rito de passagem para o ensino médio, era muito importante para ele. Ele relutou, mas no final acabei o convencendo de que era o melhor a se fazer, sem deixar de me sentir muito lisonjeado em ser sua primeira opção de par. Como era de se esperar, ele não teve a menor dificuldade de arranjar uma garota em cima da hora. Deveria ser o garoto mais desejado da sua escola.

A noite, um Giuliano lindíssimo, usando um blazer azul-claro, sobrepondo uma camisa clara e calça branca, foi para o baile de formatura de sua escola. Minha vontade era de entrar na nesse baile de mãos dadas com ele, mas me contive em apenas o admirar. Todos os elogiaram, menos a minha mãe, que se escondeu atrás de um livro, acho eu, para não cair na tentação de reconhecer o quão lindo era seu sobrinho. Isso seria auto ofensa para ela.

Quando Giuliano voltou do baile, eu ainda estava acordado no meu quarto, mas meus pais já haviam ido dormir. Minha avó só ficou acordada até ele chegar, então se recolheu também. Alguns minutos depois, a porta do meu quarto se abriu, e vi a cabeça de Giuliano aparecendo pela fresta. Ele gesticulou com a mão, me chamando. Obedeci imediatamente, e o segui. Fomos para o seu quarto, e ele trancou a porta.

- Como foi o baile? – perguntei.

- Não sei, pois ainda não começou – ele sussurrou.

- Como assim? – fiquei sem entender aquela sua resposta maluca.

Sem dizer nada, Giuliano foi até um som que tinha em seu quarto e pôs um CD. Começou a tocar “Every Breath You Take”, do The Police. Ele colocou em um volume razoável, para não acordar a casa. Giuliano me pegou pelo braço, e começamos a dançar. Um bailava pior do que o outro, mas eu adorei a surpresa. Ele apagou as luzes, e as luzinhas coloridas do som, deram um efeito legal no breu. Nos beijamos muito naquela noite, quase sem parar. Ele não queria largar a minha boca, e eu tão pouco a dele. Sentia meus lábios incharem, mas não dava trégua. As mãos de Giuliano desciam pelas minhas costas com força e desejo, mas sempre paravam na minha cintura. Ele não tentava nada mais audacioso, e eu o adorava mais ainda por isso.

Começamos o nosso baile particular as 23:00 horas e fomos até as 03:00 da manhã, namorando muito. No final, antes de deixar Giuliano, ele retirou do bolso um pequeno arco, delicadamente trançado. Parecia ter sido feito através de um trabalho artesanal bem engenhoso. Giuliano havia feito dois anéis de capim dourado. Um ele me deu, e ficou com o outro. Pus no dedo, e lhe dei mais um beijo.

- Agora somos namorados – ele me disse.

- Sim – o abracei, e dei um beijo de despedida.

Não consegui dormir o resto da madrugada. Estava em êxtase com tudo que havia acontecido.

Mesmo com a minha mãe de olho em mim, minhas férias corriam maravilhosamente bem. Cada dia estava mais feliz e mais tostado do sol, que levava. Nem a bunda estava mais branca, pois só vivia no lago, nu, com Giuliano. Mas o desfecho daquela história, estava próximo.

Tudo começou quando meu primo me chamou para irmos nos aventurar para além do lago, em um lugar que eu não conhecia. Em uma manhã de quarta-feira, caminhamos por mais tempo do que o normal, e por mais que eu perguntasse para ele para onde iríamos, Giuliano fazia mistério e repetia, que eu ia saber quando chegássemos lá.

Nos afastámos bastante do lago, até chegarmos diante de um comprido casarão, feito de alvenaria, e com a tinta branca, já bastante descascada e amarelada.

- Nossa! Que casa enorme – eu fiquei espantando com aquela construção ali, no meio do mato.

- Ninguém sabe quem era os antigos donos – disse Giuliano. – Mas a minha avó disse que era para conservá-la do jeito que estar.

- Podemos entrar? – perguntei com curiosidade.

- É para isso que estamos aqui – ele disse, me puxando até a porta principal, que estava semiaberta.

Havia um enorme corredor, cheio de portas para todos os lados. O chão estava coberto por um tapete de folhas, e recostados nas paredes, haviam muitos espelhos quebrados, expondo pontas pontiagudas e muito cortantes.

Giuliano correu na minha frente, batendo de leve na minha bunda.

- Você me paga seu safado, vou te pegar! – eu gritei, enquanto corria atrás dele.

- Benjamim, não é de nada, corre feito uma menina. Não me pega! Não me pega! Não me pega! - Giuliano corria de costas, zombando da minha cara, que estava vermelha de tanto correr.

Ele entrou em dos cômodos, e fui atrás dele. Quando entrei no quarto, não avistei ninguém. Senti apenas alguém me agarrando por trás e roçando o nariz no meu pescoço.

- Quem pegou quem agora, hein? – ele me apertou.

Sorrindo, tentei me soltar dele, mas Giuliano me segurava sem dificuldades, só que de tanto eu me sacudir, acabamos caindo no chão, amortecidos pela densa camada de folhas, que acolchoava o piso. Giuliano girou o meu corpo, me pondo de frente para ele, e sentou sobre as minhas pernas, mergulhando seus lábios nos meus. Me beijou por um instante, e parou para tirar a camisa, depois voltou ao trabalho. Os beijos estavam diferentes. Mais macios, mais molhados. Giuliano estava diferente. Seus olhos emitiam um brilho que eu ainda não tinha visto.

De repente, quando me dei conta, já estávamos pelados, friccionando a pica um no outro. Giuliano mordia meu peito o deixando todo vermelho. Em um impulso, ele me virou de uma vez, me deixando de bruços, e começou a beijar a minha bunda, babando toda a minha entradinha. Eu contraía os glúteos, espasmando, a cada toque da sua língua quente e muito úmida. Em pouco tempo estava todo molhado e vulnerável. Giuliano se deitou sobre mim, e sua pica dura, pressionou o meu cu, me fazendo sentir uma dor horrível. Parecia que algo estava me queimando.

- Tá doendo, é melhor a gente parar – eu disse, tentando me mexer, mas ele usava seu peso para me conter embaixo dele. – Vai pelo menos devagar, caramba, eu nunca fiz isso.

- Desculpa, eu vou fazer devagar. – ele retirou um pouco de sua pica de dentro de mim, e ficou se movimentando lentamente, me dando muitos beijos na nuca.

Dessa forma eu comecei a gostar da situação, e percebendo isso, ele me penetrou novamente, e começou a me comer de verdade. Ora eu sentia prazer, ora eu sentia dor, mas no fim, deixei tudo rolar. Não sei por quanto tempo ficamos ali, mas foi por bastante tempo. Ele parecia insaciável, sempre querendo mais, e cada vez com mais força. O que amenizava mais a dor, era as besteirinhas que ele me dizia no meu ouvido, essas eu fico apenas comigo, caro leitor.

Nós dois gozamos, eu primeiro que ele. E naquele momento, eu senti um prazer indescritível, gutural. Mas, depois que a sensação da ejaculação passou, me bateu um profundo sentimento de remorso e nojo. Nojo de mim, e nojo dele. Tudo piorou, quando percebi que eu havia sangrado consideravelmente, o que não me admirou, haja visto a ardência que senti. Me ver sangrando, só para satisfazer o desejo dele, me bateu um ódio profundo. Giuliano tentou me abraçar, me puxar para a posição de conchinha, mas eu me levantei, recusando o seu carinho.

- Ei? O que foi? Desculpa seu eu te machuquei... É que na hora me deu uma coisa...

Não disse nada, apenas tirei as folhas que estavam coladas no meu peito suado, e me vesti o mais rápido possível. Naquele momento, até a voz dele me incomodava. Me senti usado, menos homem, inferior. Enquanto Giuliano estava satisfeito, pousando de macho. Pelo menos era o que se passava na minha cabeça confusa, na época.

Saí andando rápido de lá, e deixei Giuliano. Mas ele me seguiu, ainda sem roupa, me segurando pelo braço. Quando senti sua mão tocar em mim, fervi de raiva. Girei o corpo e dei um soco em sua cara, com toda raiva e ódio desse mundo. Giuliano caiu para trás, sobre um dos espelhos que estavam quebrados. Ele soltou um grito horrível. Sua coxa esquerda havia sido cortada profundamente por um pedaço pontiagudo de espelho. Logo sua perna estava totalmente coberta de sangue, e seu rosto de lágrimas.

Eu deveria tê-lo ajudado. Era a minha obrigação. Era o que eu esperava que fizesse. Era o que ele tinha certeza que eu faria. Mas eu fugi, e o deixei ali, agonizando de dor.

Fiz o caminho reverso, e a adrenalina fez com que eu corresse o mais rápido que o normal. Cheguei na casa da minha avó, e ela estava sentada na varanda, sozinha.

- Onde está o Giuliano? – ela me perguntou preocupada, me vendo chorar.

- No casarão! – respondi, correndo para o meu quarto e me trancando lá.

Arranquei a minha roupa, sentindo asco do meu corpo, e me enfiei no banheiro, onde fiquei por minutos a fio, debaixo da água corrente, e me esfregando com muito sabonete, para retirar todo aquele cheiro de sexo de mim. Estava com a bunda muito ardida, e fazia careta quando a espuma escorria pelo meu cu recém-desvirginado. Chorei tanto nesse banho, como nunca havia chorado desde então, não só pelo sexo, mas por o ter abandonado. Era um misto de sentimentos que explodiam no peito, que eu achava que não iria resistir aquilo.

Depois da chuveirada, pus uma roupa leve e me joguei na cama, tapando os meus ouvido com um travesseiro. Não queria sair dali nunca mais.

Passou-se muito tempo, até que alguém bateu na minha porta. Não quis abrir, mas quando ouvi a voz da minha vó, séria, ordenando que eu o fizesse, obedeci. Ela entrou com uma bandeja, trazendo o meu almoço, pôs em cima da cama, e caminhou até a porta novamente, mas antes de sair disse:

- Seus pais foram até a cidade ver uns conhecidos antigos – vovó estava muito carrancuda, nunca tinha a visto daquele jeito. – E caso você queira saber, “ele” está bem. Tenha a consideração de ir pedir desculpas, ao menos. – ela por fim me deixou.

Quase não comi. Tomei apenas o suco de cajá que acompanhava o prato. Estava com raiva agora de mim. Por que eu tinha feito aquilo? Afinal eu também quis que aquilo acontecesse, senão teria insistido para que Giuliano não continuasse, e sei que ele teria parado, vendo que eu estava falando sério.

Passei a tarde trancado no meu quarto. Não tinha coragem para encarar a minha avó e muito menos ele. Também estava muito preocupado se Giuliano havia contado tudo que acontecera. Se meus pais soubessem não sabia o que ia acontecer comigo. No mínimo minha mãe me mataria. E dessa vez nem o meu pai poderia intervir.

No final do dia, tomei coragem, aproveitando que meus pais ainda não haviam chegado, e fui falar com Giuliano. Abri a porta de seu quarto, que estava apenas recostada, e entrei lentamente. Ele estava só de cueca, deitado em sua cama, com a coxa enfaixada. Quando me viu, virou o rosto e enxugou os olhos. Ele estava chorando por minha causa. Fui até a sua cama, e sentei na borda, fiquei olhando para sua coxa semiatlética, enfaixada.

- Pode ficar tranquilo, eu não contei nada para ninguém – ele disse, sem me olhar. Sua voz era grave, sem o menor resquício de doçura, como dantes sobrava.

- Eu confio em você – disse, deslizando a ponta do meu dedo, levemente, por cima do ferimento enfaixado.

- Então o que veio fazer aqui, Benjamim?

- Vim te pedir perdão – eu disse, ficando de joelhos. – Eu não sei explicar o que aconteceu.

- Tá perdoado, agora pode ir embora – ele disse, ainda sem me olhar, mas agora não escondia suas lágrimas.

Beijei sua coxa com suavidade, como se quisesse curar seu ferimento. Mas ele era bem mais profundo do que o corte em sua carne.

- Acha que é só vir aqui, me pedir perdão e beijar a minha perna, para eu esquecer? – ele se sentou na cama, interrompendo o meu carinho. – Pois errou.

- Tudo bem, você pode me castigar o quanto quiser – eu disse com uma humildade canina. – Só não me deixa sair do seu lado, Giuliano. Eu gosto tanto de você. Eu fiquei assustado com o que aconteceu. Não sabia como agir, então fiz aquela burrada. Mas foi coisa de momento.

- Eu te amo, e você sabe disso, por isso faz de mim o que quer – Giuliano disse, pondo a mão no meu rosto.

- Mas namorados discutem, certo? – eu perguntei, com um risinho.

- É verdade – ele retribuiu o riso. – E quando fazem as pazes sempre é melhor. Ele me puxou para um beijo maravilhoso.

- QUE É ISSO?! – ouvi o grito da minha mãe na porta do quarto de Giuliano. – O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO COM O MEU FILHO SEU PERVERTIDO???

- Mãe!!! – eu fiquei apavorado, e empurrei Giuliano para longe de mim.

- Nós somos namorados – Giuliano disse.

Minha mãe voou em cima dele, e lhe deu um tapa com força no rosto.

- Nunca mais repita isso seu demônio! – ela tremia de ódio.

- Diz para ela, Benjamim! Diz para ela! – Giuliano chorava, implorando. Mas eu fiquei apenas em silêncio, choramingando de cabeça baixa, pousando de vítima.

- Não se dirija ao meu filho seu delinquente. Eu sabia que você não prestava! Eu sabia que você sendo filho daquela vagabunda, não podia sair algo bom!

- Não fala da minha mãe! – ele gritou.

- Vagabunda! Vagabunda! Vagabunda! – minha mãe bradou com força.

Giuliano avançou sobre ela, mas minha mãe lhe deu mais um tapa no rosto, fazendo-o cair, e arrebentar o ferimento da coxa. Nesse instante minha avó e meu pai subiram as escadas, e entraram no quarto.

- O que está acontecendo, pelo amor de Deus? – minha avó foi socorrer o Giuliano.

- Esse marginal, bastardo, que sua filhinha predileta jogou nas suas costas, molestou o meu filho! Eu devei colocá-lo na cadeia, seu bandido! – minha mãe bufava raivosa. – Eu disse que esse garoto não prestava, Roberto! – ela se voltou para o meu pai. – Eu vou pegar o meu filho, e nós vamos embora desse lugar nojento, para nunca mais voltarmos. Se você quiser pode ficar.

Minha mãe me arrastou para fora do quarto. Então olhei pela última vez para Giuliano, o que vi foi um garoto profundamente arrasado, ferido de morte.

CONTINUA...

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Comentários

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Fico contente que vc tenha dado continuação a história. Foram dois longos anos de espera.

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