Demorei, mas cá estou eu. Antes de alguém vir com "mimimi o conto ta com um tamanho absurdo mimimi" eu logo alerto: ELE ESTÁ LONGO MESMO. Portanto se você não gosta de coisas longas, apois pare por aqui. Zoa, só avisando esse detalhe ae heim. Essa, possivelmente, é uma homenagem minha a um autor chamado tiago/, onde seus textos são longos e os contos em capítulos únicos. Se não conhecem, dêem uma olhada no perfil dele, tem cada história incrível, li só dois dos seus contos e me vi fascinado. Galera, para não alongar mais o texto, não vou responder os comentários um a um, mas desde já quero agradecer no fundo do meu coração a todos que acompanharam minha história e esperaram a cada capítulo de forma paciente e compreensiva. Notei que algumas pessoas que comentavam sumiram, algumas as quais eu peguei um carinho indescritível... espero que as mesmas estejam bem. Queria mandar um forte abraço aos que leem na surdina e falar que curto todos vocês. Sem mais delongas, vamos lá galera.
VAMOS AO QUE REALMENTE IMPORTA.
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"Começava sempre comigo sendo arrastado para fora da casa onde os caras tinham me espancado. Não via quem me arrastava, mas sentia suas mãos puxar meus cabelos a ponto de eu não conseguir desvencilhar de tal toque, mesmo porque eu não tinha forças... eu só sentia uma agonia fria e um medo paralisante, medo de saber que a minha morte estava próxima. Não sabia dizer, mas parecia que tinha sido espancado e as forças para reagir a tal brutalidade já não me eram acessíveis. De perto, uma figura negra e com um riso medonho filmava eu sendo arrastado e parecia se divertir com isso. De repente, a figura que me puxava pelos cabelos, soltava-os e pegava os meus pés e recomeçava a me levar a força para algum lugar. Vi de relance que estávamos em um terreno vasto, igual a um campo de futebol, circundado por muitas árvores. Eu gemia de dor e pedia clemência, mas os agressores não ligavam.
"Então eu via uma fogueira grande e logo percebia o meu destino: ser queimado. Aí o pânico me invadia e eu tentava gritar, mas a voz me falhava - como nesses pesadelos costumeiros onde não se sai voz alguma -, e logo a luz do fogo iluminava quem me arrastava... e eu via o rosto de um Caio sinistro e alegre. Ele nunca chegava a me jogar na fogueira... só me olhava rindo. Quem me filmava, gritava desvairado e dizia que eu devia queimar. O calor da fogueira fazia eu suar em bicas e então eu acordava com o coração disparado", narrei esse meu pesadelo, que eu costumava ter, para o doutor Franque, e este anotava de quando em vez algo em sua prancheta.
Dr. Franque, psicólogo renomado na cidade, perguntou categoricamente: Você acredita que isso possa acontecer novamente com você?
Eu ainda aturdido por lembrar dos pesadelos: O espancamento? (ele fez que sim com a cabeça) Não ache que se repita - falei incerto e o medo de que isso pudesse acontecer novamente fez com que eu me sentisse inquieto. Por sorte o remédio calmante, o qual eu estava tomando todos os dias, ajudava a não ter a aceleração incômoda no coração.
Franque: Fernando, o passado jamais voltará. Você sofreu o trauma, isso foi algo horrível sabemos, mas ficou para trás. Não viva no passado. Supere-se no presente para se curar num futuro próximo.
Eu: Confesso que não é difícil esquecer, mas por mais doentio que possa parecer, eu revivo aquela surra involuntariamente na minha cabeça. Eu aprendi a fixar ela na minha vida, a cada susto que tomo, a cada detalhe que me lembre o evento.
Franque: Então faça o seguinte. Feche os olhos, pense em tudo que te aconteceu no último mês, comece pela surra e termine até onde estamos agora. Relaxe e deixe que as lembranças lhe venha, uma à uma.
Fechei os olhos e revivi o que havia acontecido. A surra, o hospital, eu conversando com Ricardo, Caio e eu juntos na minha festa de boas vindas e o caso da delegacia, meus ataques noturnos e tudo mais.
Depois do dia da minha saída do hospital, eu fui com Caio à DP depor. Chegamos - Caio e eu - à delegacia pela tarde. Eram 4 da tarde e o movimento estava pouco e havia um número pequeno de pessoas. Encontramos o dr. Paxiúba, advogado dos meus amigos e meu também, ele me orientou a falar o necessário e o fundamental, pois agora a situação estava investida. Ele explicou a mim (pois Caio já sabia) que um dos caras que haviam me espancado, e que depois fora espancado por meus amigos, havia feito uma denúncia de que havia sido agredido por motivos de homofobia e que quase fora morto. Os outros caras haviam sumido e fingiram que não havia acontecido nada com eles, nem curra nem nada, para que parecesse que somente o denunciante tivesse sofrido a agressão e por uma boa quantidade de pessoas. No todo, uma virada de jogo, e o velho lá, que havia participado do meu espaçamento, mexeu os pauzinhos com algum juiz e o caso foi agilizado. Não seria um julgamento como os dos filmes, e sim uma audiência criminal.
Ao ouvir o que dr. Paxiúba falava, até eu mesmo acreditei de o cara ser a vítima de tudo aquilo, e não eu e os meus amigos. Estava tudo muito convincente. Mas eles não contavam com as filmagens. E eu esperei até um certo momento para contar a Caio e ao nosso advogado sobre as filmagens de Ricardo até que o mesmo aparecesse, por medo de talvez mesmo não querer ir mais ajudar. Entrei na sala para depor minha versão e a verdade. Depois de relatar tudo, com o coração acelerando a medida que eu lembrava da surra, eu fui encaminhado a fazer exame de Corpo de Delito num hospital próximo. Saí da sala e fui até Caio e o dr. Paxiúba que já estava de saída. Caio pegou minha mão, sentei ao seu lado e então o celular dele tocou.
Caio: É pra ti, Nando - ele me entregou o celular e ficou me olhando com estranheza.
Falei alô e uma voz rouca e fraca respondeu, logo percebi que era Ricardo e sem preâmbulos fui logo perguntando: Conseguiu?
Do outro lado da linha: Sim. O que eu faço agora?
Falei tudo direitinho, Caio me olhava desconfiado e quando ia me interromper, eu levantava a mão e dizia para esperar. Ricardo ouviu minhas instruções tudo em silêncio e quando desliguei fui discando o número de Pedro, ele estava no trabalho, mas logo sairia e levaria a câmera com as filmagens até nós. Liguei para o Dr. Paxiúba, pois ele tinha saído da DP e avisei que precisávamos nos ver dentro de 1 hora no mesmo lugar. Desliguei e devolvi o celular a Caio.
Caio: Mas pra quem tu tanto tava ligando?
Eu sentei num banco, e ele me acompanhou: Falei com Ricardo ontem e ele vai ajudar a gente.
Caio levantou e bufou de raiva: O quê? Fernando, filho da puta! Vai tomar no teu cu! O quê tu acha que tu ta fazendo? O quê tu quer da tua vida? - ele falou de maneira exasperada e logo sua faceta estava vermelha de ira.
Eu inspirei, expirei: Calma. Vou te contar tudo. Por favor, confia em mim - pedi pra ele, mas ele continuou em pé me olhando bravo. Narrei minha conversa com Ricardo no hospital, falei das filmagens que ele disse ter e do depoimento dele a nosso favor. Falei que ele ajudaria, falei tudo isso e Caio pareceu ver lógica em alguma coisa. - É isso. Tendeu, eu fiz tudo nas escuras porque sabia qual seria tua reação.
Estávamos no corredor da delegacia, não havia ninguém e vez ou outra alguém entrava pela porta que estava há poucos metros de nós. Baixei a cabeça distraído e senti Caio se afastar de uma vez. Quando dei fé, lá estava ele avançando pra um Ricardo apavorado que acabara de entrar e que se encolhia na parede. Corri para Caio a tempo de parar ele e pus as mãos no seu peito largo. Disse para o mesmo manter a calma, pois estávamos numa delegacia. Um policial viu a agitação e perguntou se estava tudo certo. Falei que sim e o mesmo se afastou ainda desconfiado. "Minha vontade é de te matar, merdinha", rosnou Caio para Ricardo de uma forma sombria. O outro, encostado na parede, exibia horror na face e segurava uma sacola branca de plástico. Sussurrei pra Caio se conter e lembrar da lógica das coisas. Ele fechou os olhos e se afastou um pouco, reunindo forças talvez, para não esganar Ricardo.
Fixei os olhos em Ricardo e perguntei seco: Trouxe tudo? - ele fez que sim com a cabeça e me entregou a sacola. Olhei e vi uma outra filmadora e uns Cartões SD. - Não fez mais que tua obrigação. Espera nosso advogado chegar, ele vai saber o que...
Então entrou Pedro e olhou pra mim rindo, depois viu Ricardo e sua expressão mudou. "Esse merda tá aqui é", falou ele e avançou assim como Caio de forma ameaçadora. Respirei fundo e pedi a filmadora das mãos dele e disse um "Calma, já te explico. Vai lá pra onde Caio", ele foi e eu disse pra Ricardo que meu advogado logo chegaria. Ele não se desencostava da parede e olhava para Pedro com uma expressão de medo.
Pedro: Que foi, bicha? Ta me olhando por quê? Saudades da minha neca? - e pegou no pau. Pedro era um playboy bonito e bem machinho, educado e contido. Nunca o havia visto ou ouvido ele falar e agir de forma tão agressiva. E então percebi que ele tinha razão por estar assim. Ofereci água à Ricardo, não queria que ele morresse antes de depor e pedi pra Pedro e Caio se comportarem. Eles xingavam o outro de quando em vez e esse olhava pra outro lado, tremendo e tentando fingir que não era com ele. 30 minutos esperando o dr. Paxiúba e o mesmo chegara, vooei nele e falei da testemunha e das filmagens. Ele assistiu uma e já disse rindo "nossa causa já está ganha".
Ricardo foi depor com o Dr Paxiúba ao seu lado e Pedro, Caio e eu ficamos esperando no banco. Caio beijou minha cabeça: Nando, meu maluquinho. Essas filmagens, todo mundo pilhado que até esqueceram da câmera.
Pedro: Pois é. Quase que eu jogo ela fora. Guardei sem querer, graças né. E na câmera, apaguei a parte que a gente dá a curra nos viadinhos antes de trazer pra cá.
Eu: Melhor ainda. Tudo vai dar certo. A gente não fez mal nenhum.
Paxiúba saiu da sala de depoimento com um Ricardo meio pálido, falou que ele fora muito bem. Caio gruniu e Pedro esperou a gente do lado de fora da DP fumando um cigarro. Enquanto Caio falava com o nosso advogado, vi Ricardo se esquivar e chamei ele baixinho: Hey... valeu.
Ricardo: De nada. Fiz o que era pra ser feito. Você e nem um dos seus amigos merecem essa escrotisse.
Eu: Ninguém merece nada disso, Ricardo - ouvi Caio parar de falar e olhei pra ele. Pedi, incisivo com os olhos, um tempo para poder falar com Ricardo e ele entendeu. Assentiu e foi beber água. - No shopping eu vi você mesmo. Verdadeiro. É por isso que ainda tento contigo. Por isso que fiz você a se retratar, porque sabia que jamais tu se perdoaria.
Ricado: Fernando, eu jamais tinha conhecido um cara feito tu. Cheio de defeitos, rodeado de qualidades... um cara normal e humano, que não mente... tu é uma grande pessoa sendo você mesmo.
Eu: Eu sou foda, mas as vezes minto sim - nós rimos.
Ricardo: Já que meus primos mentiram, eu menti também. Usei o mal deles contra eles. Falei que fui abusado e espancado, mas não pelos seus amigos e sim por eles.
Eu esbugalhei os olhos: Sério?
Ele levantou umas folhas de papéis com os desenhos de um corpo humano, os papéis do corpo de delito: Disse que eles fizeram isso comigo por eu não ter batido em você. Que me estupraram e que depois, estupraram o XXX - o meu primo que fez a denúncia - e que agora tava mentindo a mando do Tio. Acho que o jogo virou. Vou fazer os exames amanhã. Não te preocupa que tudo vai dar certo.
Eu ri: Eu sei.
Ricardo: Tu merece toda a felicidade do mundo. Toda mesmo. E eu me arrependo por ter perdido um amigo como você. Vou indo.
Eu: Acho que consegui.
Ricardo: O quê?
Eu rindo: Te mudar e te fazer alguém bom.
Ele riu e saiu meio lento. Caio se aproximou assim que ele passou pela porta e falou pra nós irmos pra casa. Fomos pra casa. Pro nosso canto. Pra nosso refúgio feliz.
Os dias passaram. Fiz os exames devidos (Dr. Bernando mandara uma declaração falando dos meus traumas físicos e ajudou no depoimento, narrando sobre minhas lesões causadas por violência extrema), voltei à delegacia e logo vi que a coisa estava preta pro lado dos agressores. Eles tinham passagem criminal, e Ricardo havia dado o contato de algumas outras vítimas e poucas delas compareceram pra depor contra os mesmo. Essas mesmas tinham sofrido agressões físicas e morais causadas por esses bastardos. No fim, ele estavam ferrados e meus amigos enfim livres de nenhuma culpa. O julgamento fora marcado pra dalí há 1 mês e nesse meio tempo, eu já tinha esquecido aquilo tudo, pois sabia que tudo se resolveria.
Fui saber por alto que Ricardo tinha se mudado pro mesmo condomínio onde Caio morava e que estava melhorando. Pedro, Juan e outros que moravam lá também, mantiveram um olho nele, mas não pra maltratá-lo, mas pra assegurar que ninguém faria mal pro cara até o dia da audiência e meus amigos assim fizeram. Uma semana depois do meu depoimento, eu estava tremendo no meio do meu apê com as mãos dormentes e uma sensação horrível no peito. Lise, apavorada, misturava açúcar na água enquanto falava desesperada no celular.
Ela se aproximou: Nandi, tômi issa. Caio já esta vinda. Nandi - ela falava também tremendo e eu não ouvia direito. Só pensava que era pra eu estar morto. Que era muita sorte eu estar vivo com meu coração pulsante e molhado dentro do meu peito. Que eu deveria estar, nesse momento, em estado de decomposição avançado e com vermes por todo o corpo. As imagens vinham na minha cabeça e com elas o espancamento, o soco inglês que rasgara a parte superior das minhas sobrancelhas, o cara filmando... tudo.
Eu: Li-Li-Lise... Caio.
Lise: Ele ta vinda. Calma... bêbi issa aqui.
Tomei a água doce e logo me senti mais calmo. Sentei no sofá e senti vontade de chorar não sabia pelo o quê. Olhei pro rosto redondo de Lise, seus cabelos loiros, olhos castanhos iguais de Caio e sua pele branca. Lembrei que ela era como minha irmã, nesse meio tempo, passava boa parte do tempo comigo e Caio. Esse por sua vez tinha que sair às vezes, porque a mãe dele estava em crise com o casamento e aparentemente entrando em depressão. Muitas das vezes eu botava Caio para fora de casa para que ele pudesse viver sua vida, seus treinos de muay thai estavam parados, suas atividades físicas também e se fosse por ele, passaria o dia todo tomando conta de mim. Mas meu brother precisava viver assim como eu e jamais gostei da ideia de ser o doente que tinha que ser supervisionado 24 horas por dia. Só que o bem da verdade era que Caio era meu amuleto do bem estar, ele perto de mim não havia crises de pânico nem aceleração do batimento cardíaco, só paz. Claro que eu inplorava para ele ser o mesmo que sempre fora comigo, porque desde o dia em que saí do hospital, eu senti ele mudar... ele tinha ficado mais atencioso e cuidadoso. Tipo como se eu fosse de porcelana, o que era verdade e que eu odiava admitir. Droga, eu estava mal.
Aos poucos meu coração foi desacelerencando e eu pude sentir minhas mãos. Era estranho sentir elas novamente, era estranho sentir o coração com a pulsação normalizada e perceber que era pra ser assim e não tão frenético. Era estranho ver a lucidez das coisas e perceber que não se deve pensar na morte quando se é vivo. Não como eu estava fazendo. Lise segurava minha mão e perguntava se eu estava bem, eu assentia sem saber por quê e ela percebia que eu não voltara ao normal. Foi quando Caio chegou e uma onda de calor me invadiu. Ele estava de boné, com a aba virada para trás, camisa polo colada ao corpo, calça jeans e um sapatênis. Me viu sentando no sofá e correu pra onde eu.
Caio pegou minha outra mão e falou: Fêr, amor... o que houve.
Eu: Só foi um susto - um susto que fora ocasionado por um simples pensamento ruim. - Eu fiz drama só.
Lise: No no... Caio, ela ta de mentira. Ela tava mal.
Eu fuminei Lise: Fofoqueira.
Caio olhou veementemente para mim e disse duro: Chega. Te dei um prazo e você não melhorou nada. Agora eu que digo, você vai se tratar e ponto final.
Eu bravo: Me manda pra um hospício então! Não quero ir pra psiquiatra ou psicólogo nenhum ou sei lá o quê. Eu to bem.
Caio: Caralho!, tu não tá bem. Para de ser teimoso, porra. Fernando, para... (interrompi ele, mas o mesmo se recusou a parar de falar) me escuta (falou bravo a ponto de cuspir), cala a boca, caralho, não terminei (discussão). Cala a boca, Fernando!
Eu: Não calo porque não estou maluco e não vou pra lugar nenhum!
Caio alterando seu tom de voz mais ainda: VAI SIM, E AMANHÃ. VOCÊ VAI PORQUE JÁ CHEGA DE VOCÊ PASSAR MAL E FICAR MENTINDO!
Eu levantei do sofá: Para de gritar comigo que tu não é meu pai!!!
Caio: Pois a gente se larga agora e tu morre sozinho aí. Chega! Já chega ter que aturar isso.
Lise: Gente... nom precisa...
Caio falando cuspindo os dentes: Cala a boca, Lise! Não te mete.
Eu: Quer dizer então que você está cansado de cuidar de mim? Cansou foi? Fala, admite que sou uma dor de cabeça. E não grita com ela, filho da puta!
Caio: Grito com quem eu quiser! Tu não manda em mim não, parça.
Então vai, vai embora e me deixa. Vai se tu estar tendo só dor de cabeça comigo, o que está esperando... vai porra!, falei irado.
Caio: Vou mesmo, porque cansei.
Eu empurrei os peitos dele: Cansou então vaza, mano.
Ele chegou perto, o rosto vermelho: Viadinho, não me empurra não, não trisca um dedo em mim - rosnou ameaçador.
Eu: Por quê heim? Vai me bater.
Caio: Tu merece apanhar, truta. Sabe por que?, por ser tão otário.
Eu em chamas: VAI PRO INFERNO ENTÃO!
Caio: Eu vou, não aguento mais isso.
Eu olhei furioso pra cara dele. Ele continuou: Não aguento mais ver o cara que amo tendo pesadelos toda noite, não aguento ver ele querendo ser bom com todos, menos consigo mesmo. Não aguento mais ver ele sofrendo e fingindo estar de boa só para poupar os sentimentos do namorado.
Quando ele falou isso, eu percebi o quanto aquele guri me conhecia, pois eu fingia estar bem, para poupar meu Caio de qualquer dano... para ver ele feliz. Eu estando bem, ou fingindo, ele estaria também. Ele continuou: Não aguento ver ele assustado com tudos e todos, inclusive comigo quando acorda de manhã. Cansei de ver ele ruim e ele não querer ajuda. Cansei de ver o cara que amo, se destruir. Não aguento mais.
Foi então que vi os olhos dele marejados e percebi a magnitude da minha babaquice. Era óbvio que se eu não estivesse bem, Caio jamais estaria. Que se eu sofresse, ele sofreria comigo. Eu era muito retardado. Peguei a mãozona dele e entrelacei nossos dedos, que mão quente e áspera, eu esquecia do mundo toda vez que tocava uma parte do corpo dele e me sentia estranhamente bem. Falei baixinho: Você tem razão, me desculpa.
Caio choroso: Odeio te ver ruim, Fernando. Eu te amo, mano, mas não dá pra viver assim, com você se desgastando.
Eu: Me perdoa (fixei o olhar nos olhos dele) me perdoa. Eu... só me perdoa.
Caio: Claro que te perdou, otário. Você sabe que sempre vou te perdoar pelas tuas burrices. Mas, Nando, me ajuda a te ajudar.
Eu então abracei ele: Desculpa, grandão. Vou fazer tudo o que tem que ser feito. Vou fazer... Não me deixa.
Caio afagou minha cabeça: Jamais, cara. Você é minha vida.
Inalei o cheiro da roupa dele, do perfume dele, da pele dele: Te amo, amor.
Ele afastou nossas cabeças e sorriu cansado pra mim: Te amo muito mais - e me deu um selinho. Lise veio por trás e abraçou a mim: Tambéim quero amor.
Caio e eu rimos: Então te junta ae, baixinha - falou Caio.
Senti a cretina me abraçar pelas costas e fiquei entre os dois, numa espécie de menino sanduíche. Então alguém bateu na porta que estava entreaberta e vimos Roger colocar a cabeça branca dele: Opa, ta rolando suruba? (falou ele), quero participar disso também.
Abraçou Lise por trás e ela falou "seim gracinhas heim, mocinhu". Ele riu e alí vi os dois trocarem um selinho e logo estava oficializado o lance dos dois. Fiquei feliz pro minha loirinha e por Roger que apesar de ser mais músculo do que cérebro, era um cara responsável que ajudou a família - mãe doente e irmão mais novos - a crescer trabalhando desde cedo. Hoje ele era sócio de Henrique na academia em que Caio malhava e podia-se dizer que ele estabeleceu sua vida com o seu próprio suor. Caio e eu ficamos de boa e pedi, supliquei para ele não me tratar como se eu estivesse frágil... que fôssemos sempre os mesmos e assim seguiu nossa vida.
Mais dias se passaram e então veio o dia em que fui no consultório de um tal de Dr. Franque pela primeira vez. Seu Cá tinha indicado ele e o mesmo estava tratando minha sogra e fiquei sabendo que a mesma estava se recuperando da depressão causada pela crise em seu relacionamento. Engraçado que eu via seu Cá quase todos os dias, mas o mesmo não transmitia tristeza ou coisa semelhante, pelo contrário, meu sogro parecia normal. Caio estava esperando comigo a vez de eu ser atendido e fazia piadinhas pra me manter entretido, tiramos graça com a recepcionista que tagarelava com a gente sobre achar casal gay engraçadinhos. Então fui chamado, entrei na sala do tal Franque e vi que era um lugar normal com algumas prateleiras, livros, uns aviões de miniatura pendendo no teto, quadros com desenhos de mar e outros objetos que transmitiam algo libertador. Ele pediu pra eu sentar num divã, que estava no meio da sala, e se sentou numa cadeira.
Me cumprimentou amigavelmente, fiz piadas relacionadas com psicanálise e ele gargalhou. A voz dele era suave e tranquilizadora, então perguntou minha idade, nome e pediu pra encarar tudo como uma simples proza e não uma consulta. Fez eu contar meu pesadelo, o que eu sentia quando meu coração acelerava e lembrar dos últimos acontecimentos. O que eu estava fazendo naquele momento. Abri os olhos e olhei pro Dr.
Franque: Como se sente?
Eu: Meio estranho. Relembrar de tudo foi como se eu estivesse acompanhando os problemas da perspectiva de alguém de fora... e não da minha.
Franque: E o que você sentiu quando reviveu isso tudo? Não só o espancamento, mas os eventos depois?
Eu: Sinceramente, eu não sei.
Franque: É comum que quando o psicólogo faz a pergunta: “o que você sente quando se lembra disso” o paciente e vítima do trauma, responda “eu não sei” isso por que experiências traumáticas costumam gerar uma confusão ou mistura sentimentos e emoções. Então o quê você deve fazer quando relembrar de tudo, você deve ordenar esse sentimentos para eles não criarem um caos, divergindo-se uns contra os outros.
Eu: Mas no episódio do espancamento eu sinto ódio, raiva e...
Franque: ... e medo. Principalmente esse, caso contrário você não estaria aqui. Traumas desse tipo, deixam a pessoa com ansiedade, com distúrbios de humor, com complexo e até mesmo com medo de si próprias. Você revive os acontecimentos por sonhos, por sons do dia a dia e por imagens que te fazem lembrar dele. Então, Fernando, se você lembra do espancamento, porque não lembrar dele da forma que você fez... da perspectiva de quem está de fora. Na próxima sessão faremos isso (ele olhou o relógio) hoje meu tempo acabou.
Eu: Uau, então é assim que é um psicólogo... digo... uma sessão com um?
Franque riu simpático: Assim como?
Eu: Normal. Pensei que iria rola uns eletrochoques e lobotomia.
Ele riu: Sabe, você foi um paciente fácil, matou a charada rápido, que é - ele sussurrou - ver sua vida de uma perspectiva vizinha. E lobotomia estava me enchendo o saco... agora choque... choque é o valor dessa consulta.
Rimos e eu apertei a mão dele: Muito obrigado. Ver minha vida de fora. Entendi - ele me retribuiu o aperto e disse. - Esse vai ser seu dever de casa. Faça isso e tente separar as emoções. É fácil, Fernando.
Fiz que sim com a cabeça e saí. Caio levantou da cadeira de espera e veio até mim: Como foi, amor? Qual hospício ele disse que é pra eu te levar?
Dei uma cotovelada nas costelas dele: Na Puta-que-te-pariu. Para de graça, pow - ele riu rouco e pegou minha mão e me girou, reclamei da bichice dele e Caio perguntou como tinha sido. Tagarelei tudo no carro e falei que me sentia estranhamente aliviado.
Caio: Hum, então vai acabar seus pesadelos?
Eu: Talvez. Mas vou ter que reviver eles, eliminar o medo, separar minhas emoções até está devidamente curado. Claro que vou precisar de amor e muitos mimos seus.
Ele riu, pegou minha mão e deu um beijo sem tirar os olhos da direção: Vai levar é umas porradas, muleque. E claro que sempre terá meu amor à sua disposição.
Cheguei mais perto dele e apoiei a cabeça no ombro forte dele: Ah, Caio - suspirei -, vamos ter um tempo de paz? Sem crises de pais, sem espancamentos, sem crises minhas de pânico e sem jugamentos idiotas? Será que vamos estar normais... vivendo normal?
Caio riu: Somos mó bichinhas... (ele imitou a voz do meu pai) gays não são normais - rimos e seguimos pela Augusto Montenegro - Vamos no Boulevard? Quero assistir Os vingadores. Um cineminha bem bacanudo e depois nos lascar de comer batatas fritas com brejas.
Eu: Caio, quando você bebe, bebe muito e não fica bêbado de jeito nenhum. Nunca te vi de ressaca, cara. Isso é coisa de alemão mesmo?
Ele bateu a mãozona nos peitos: Ta no meu sangue, mano. Sangue de cabra macho que bebe é em baldes. Aliás, tem umas festas bacanas lá no sul de alemães. Te levo lá um dia.
Fomos pro shopping e compramos ingresso pro cinema. The Avengers eu não tinha visto ainda e então me empolguei por ir ver o universo Marvel com tantos personagens "juntos". Quem disse que deu pra prestar atenção no filme. Na sala, sentados bem na última fileira, Caio começou a reclamar da sala fria e pediu pra ficarmos bem unidos. Então ele se aproveitou da situação e começou a alisar minha barriga e a ir com a boca até meu pescoço, dando beijinhos carinhosos. Não havia ninguém na nossa fileira e nem na frente, embora o cinema estivesse bem cheio, e isso permitiu que ele me abusasse sexualmente alí. A mão de Caio foi por debaixo do meu short e ele pegou meu pau e punhetou-o de leves enquanto grudava sua boca na minha. Coloquei os braços ao redor do seu pescoço e me entreguei à pegada dele, "Nando, dá uma chupadinha vai. To todo babado por ti", pediu ele manhoso. Falei que, podíamos ser pegos, mas ele insistiu. Abriu o zíper, puxou a cueca para baixo e a jeba branca dele pulou pra fora.
Caio manhoso: Vai amor, só um beijinho - suspirei e me inclinei até minha cabeça está perto do umbigo dele. Dei um beijinho no caminho-da-felicidade dele e depois, um beijinho na ponta da cabeça da rola sua. Estava melada e com cheiro peculiar de pau guardado na cueca, abocanhei logo aquele mastro quente e pulsante e Caio jogou a cabeça para atrás arquejando e respirando pesado. Podíamos ser pegos por um lanterninha ou algo do tipo, mas também podíamos transar alí sem que ninguém percebesse. Engoli o que pude da cabeça rosada do pau do meu namorado e tentei executar um "garganta profunda", mas era impossível. Caio continuou a punhetar meu pau de maneira lenta, a outra mão alisava minha costa e foi até minha bunda. Senti ele apertar forte. Alisei as bolas dele e chupei um dos meus dedos e desci com ele até o cu de Caio, pedi para puxar a calça mais para baixo e assim ele fez. Meu dedo encontrou, em meio à uma quantidade de cabelos, o cu do meu macho, enquanto eu chupava com avidez, meu dedo foi de leve pela entradinha do rego dele e percebi o quanto era quente. Caio arquejava baixinho e então uma explosão no cinema me fez levantar rápido e bati a nuca na testa de Caio e ambos praguejamos. Depois rimos e eu dei um beijo nele de forma selvagem, mordendo os lábios dele. Foi aí que, desabotoando minha calça um pouco mais, me veio a vontade de transar com ele. De ser penetrado. Fui até o ouvido dele e sussurei "quero que tu me coma, agora e de leves".
Caio: Tá louco, só um boquete já basta. E to sem lubrificante, vai te machucar. E além do mais, se a gente for pego, é xadrez.
Eu: Não quero nem saber, me atiçou, agora te fode... ou, quero dizer, me fode.
Caio: Fernando, seu maluco, não... - levantei e fiquei de costas pra ele, sentei a bunda em cima da sua virilha cabeluda e rebolei suavemente, o mastro dele roçava minha bunda e pulsava louco. Pedi para melar o pau dele de cuspe de forma demasiada, ele fez e eu ajudei. Eu iria me machucar, mas eu tava tarado... posicionei o pau na entrada e foi indo com dificuldade, meu pau não ficou mole em momento nenhum, sendo assim, peguei a mão de Caio e pedi pra ele me punhetar. Doeu quando entrou quase tudo, eu estava numa posição onde a penetração não é completa e isso era bom. Caio respirava devagar e aí deitei em cima dele e fiquei simplesmente sentado, do jeito mais largado possível. Caio mexeu o quadril e a pica se movia pouco, mas já era o bastante para massagear minha próstata e mandar a ardência e dor para o espaço. Doía? Sim, mas era bom. Eu já tinha acostumado a dar o cu kkk. Com a mão esquerda ele me abraçou e alisava minha barriga, com a outra ele me punhetava enquanto me fodia bem quetinho. Os pentelhos deles roçavam minha bunda e eu amava aquela sensação, sua boca chupava meu pescoço e eu podia absorver um pouco o calor do corpo daquele macho. Abri os olhos de quando em vez para ver se não havia ninguém vindo, mas estava escuro o suficiente para ninguém nos ver e nem para nós vermos alguém. Caio pediu para eu mexer o quadril e rebolar na pica dele e eu fiz, não sei o que era... mas estava delicioso de mais. Ficamos nisso por uns 10 minutos e eu olhava pro filme e via, ora a Viúva Negra correndo do Hulk, ora o Thor sendo jogado pelos ares dentro de um gaiola. O filme estava bom, mas o sexo alí, calados, quietinhos, estava mil vezes melhor. A mão quente de Caio apertou eu pau e eu não pude aguentar, peguei o braço dele e mordi bem perto da mão dele e gozei horrores sobre minha camisa, melando-a. Meu cu fez pressão no pau quente e grande dele, senti a cabeçona da jeba entrar e sair, aí ele aumentou as bombadas de forma inaudíveis e gozou fartamente. Pude notar a rola dele pulsar dentro de mim e a gala quente indo lá fundo a cada jato bruto. Eu estava todo melado da minha gala, e provavelmente melaria toda a minha calça com a gala de Caio, mas nem me importei. Caio tirou minha camisa, limpou sua mão que estava suja com minha gala e limpou minha bunda, passou a camisa na sua virilha e logo em seguida jogou refrigerante na camisa. Tirou a sua e mandou eu vestir, ficando assim descoberto.
Caio: Eu digo que derramamos refri nas camisas e depois a gente compra outras. Simples.
Eu abracei ele: Inteligente heim, amor. Gostei de ver. Curtiu essa loucura?
Ele: Amei. Tu sabe me fazer pirar, mesmo que seja de maneira calada. E o medo de ser pego por um lanterninha? Por Deus!
Assistimos o restante do filme e depois fomos comprar outras camisas. Um segurança ralhou quando viu Caio sem a sua, mas explicamos a situação e o mesmo suavizou. As mulheres da loja logo cairam em cima do meu namorado e eu fiquei enciumado. De roupas novas, lanchamos e conversamos de mais. Lembrei da parte da explosão do filme, a qual levei um susto, mas não senti nada... nem uma palpitação nem coração acelerado. Com Caio eu não sentia nada a não ser uma alegria absurda. Eu esperava que a gente durasse por muitos e muitos anos, por que aquele cara, aquele que contava uma piada enquanto comia uma porção de salada, aquele cara que amava bonés, aquele cara que era um bruto com alma infantil, ele era meu cara. Meu Caio.
***
Eu: Muito legal, Caio. Como você conta tudo pra sua mãe sobre nós dois e espera 3 semanas pra contar pra mim sobre isso?
Ele dirigia até sua casa, no então condomínio rico e desproporcional para mim, onde sua mãe e pai moravam. Caio morava alí também, mas passava seu tempo todo comigo que até esquecia que ele não morava junto a mim de fato. Caio falou: Amor, foi o pai que abriu a boca grande dele sem querer. Ele tava no telefone comigo aí deixou escapar as palavras "o seu namorado, Caio" e a mãe ouviu. Ela já desconfiava que eu estava de rolo com alguém, mas não sabia quem. Aí o pai falou pra ela e então eles estão em pé de guerra e a mãe está, segundo ela, desgostosa da vida.
Então eu tinha entendido tudo. Por isso que Caio, certa vez, tinha saído do hospital e deixado seu Cá, para ir resolver um problema com sua mãe. Por isso que Caio dizia que a mãe estava em depressão, não por seu relacionamento com seu Cá, e sim por causa de nós dois... por causa do único filho estar com um outro cara e ser gay. Caio prosseguiu a falar enquanto esperava o sinal abria: Não falei nada porque primeiro você estava se recuperando, segundo porque não achei necessário e terceiro por saber que você ficaria todo estress como agora.
Eu: Caio, para de graça. É da tua mãe que estamos falando. E pelo visto parace que ela não gostou nada dessa história.
Caio: Qualquer coisa, tem teu apê pra eu morar.
Eu: Ou uma cova, que é pra onde eu vou te mandar por ter me deixado no escuro.
Caio parou na portaria do condomínio e um segurança pediu a documentação, Caio exibiu um cartão e nos foi permitido entrar: Amor, eu não te contei porque você estava ruim da cabeça. Tava pilhado e eu não queria te zicar mais. Releva, pow. Vamos falar com ela rápido.
Eu: Ao menos avisou pra ela da nossa chegada?
Caio: Não. Vamos chegar de surpresa.
Eu: Puta que pariu! Como tu faz essas coisas, leke? Não é assim que funciona.
Caio: Fernando, para de grila. A mãe é minha. Ela já sabe que sou gay (ele estacionou e desligou o carro, desceu e eu o acompanhei) o que de pior pode acontecer?
Eu seco: Eu não ser a prova de balas?
Caio: Ué, tá tudo escuro em casa. Será que o pai e a mãe sairam? - ele verificou o celular e estranhou. - Por que ele me ligou então pra vir pra cá urgente?
Eu sabia o porquê de termos ido na casa do meu sogro naquela noite. Era 02 de Junho, aniversário de Caio. Claro, esquecido como era, ele nem lembrava disso, todos já tinham me avisado para não comentar nada e assim eu fiz. Lise me ligou de manhã e avisou que teria uma festa surpresa de noitinha na casa de Caio. Então o que eu tinha que fazer, era manter Caio longe do celular - para não ver as notificações através do face - e mantê-lo em casa. Aí seu Cá liga pra Caio e diz que é pra ele ir na casa sua para conversarem. Foi aí que Caio falou da mãe dele para mim, por achar que seu Cá queria falar a respeito disso. Mas era um modo de atrair o grandão para a festa sem desconfiar. Eu estava alegre por ele, mas estava com o estômago cheio de borboletas por ter que encarar a minha sogra e seu descontentamento. Eu sabia que lá dentro da casa de Caio, estava abarrotada de gente. Então suspirei quando ele abriu a porta de mogno e foi à procura do interruptor. Eu o acompanhei e então veio a luz e junto com ela um "FELIZ ANIVERSÁRIO" estrondoso. Havia pessoas o bastante alí para deixar a enorme sala dos Calsons, claustrofóbica. Caio xingou e olhou pra mim e eu dei de ombros. Lise e seu Cá empurraram uma messinha com rodinhas e sobre ela, um bolo em formato de C. Cantei os parabéns com todos, meu namorado, todo rabugento, apagou as velinhas e ria quando os amigos dele vieram fazendo graça. Juan chegou perto de mim e sussurrou "Nando, temos um saco cheio de ovos, vamos quebrar no Neves depois?" eu ri e fiz que sim com a cabeça. Caio cortou o bolo.
Ele: Meu primeiro pedaço, vai pra pessoa mais foda da minha vida. Vai pro Nando - ouvimos umas vaias debochadas de "iiiihhh olha o amor/viadinhos (risadas)/Pintinha meigo" e tantas outras brincadeiras da nossa 'galera'. Olhei nervoso ao redor para ver se eu via minha sogra... ela não estava alí. Peguei o bolo e Caio deu um beijo na minha bochecha. No fim, fomos pra parte de trás da casa do meu namorado, lá tinha a piscina e um vasto terreno gramado. Havia luzes e lazer, um DJ amigo nosso tocava umas músicas dahora e logo, o lugar era uma 'have' daquelas de filme. Amigos ricos de Caio, os que eu não conhecia, abraçavam ele e davam parabéns. Umas meninas olhavam pra mim meio que torto e outras falava que a gente formava um lindo par. A festa estava incrível, até esqueci o fato de encontrar minha sogra por alí e comecei a dançar com Lise e umas patricinhas bem gente boa. Juan cutucou minha costela e avisou que agora iria ver o diabo personificado.
Eu temeroso enquanto pegava uns dois ovos: Ju, Caio vai ficar puto, mano. Vai matar a gente.
Juan: Nada... Vem, vamo levar ele bem ali pra perto do muro pra não sujar ninguém.
Chegamos e lá estava Caio, Mário, George, Henrique, Pablo, Roger e Pedro. Juan e eu chegamos e então Roger e Mário seguraram Caio e os demais, inclusive eu, quebramos ovos a beça na cabeça do meu namorado, que xingava todos. Então para finalizar, jogamos trigo nele e ficamos cantando em ciranda o quanto Caio estava branco. Ele ficou parado e falou que iria se vingar de um por um. Corri quando ele quis me abraçar, mas o desgraçado conseguiu me melar de ovo e trigo. Depois subimos até o quarto dele pra tomarmos um banho, ele ria e eu também, a festa rolava solta lá fora. Quando chegamos ao quarto dele, a vimos. Parada perto da janela de vidro, com os braços cruzados. Minha sogra era esbelta, com os cabelos castanhos claros em um coque bem arrumado, roupas finas e bonitas, jóias não muito chamativas, porém bem caras, a maquiagem leve combinava com seu rosto frio. Ela tinha os olhos castanhos, boca pequena, um nariz igual o do filho... bem afivelado, bochechas poucas e uma imponência perceptível. No todo, a mãe de Caio era linda, e mais parecia com uma irmã mais velha. Não parecia uma mãe, como a minha era. Era como se eu olhasse praquelas pessoas de novela, do núcleo rico.
Ela olhou pra nós e seus olhos iguais os de uma águia, se fixaram em mim e vi desprezo neles. Engoli em seco e olhei pra tudo, menos pra ela. Foi aí que ela falou: Estão sujos heim.
O som da voz dela era suave, bem de rico mesmo, cês deve saber como é, pois é. Caio riu e falou: Mãe, esse é o Fernando.
Eu olhei pra ela que não tinha tirado os olhos de mim e falei "oi" da forma mais tímida possível. Ela devolveu o oi de um jeito "morra" e eu novamente olhei pro chão.
Sogra: Caio, já disse o que penso.
Caio: Mãe, de novo não. Sem neura.
Ela: Como pode um rapaz como você, se interessar por "ele" - falou ela e parecia que falava de mim como um inseto.
Caio: Se começar, eu sumo da tua vida.
Sogra: Não!, mas meu filho... Vocês dois são dois rapazes lindos, isso é tão desproporcional...
Caio: Chega, dona Helena! Já tivemos essa conversa, o pai já lhe disse tudo o que era pra dizer, então poupa saliva, morô?
Sogra: A Roberta está vindo pra cá.
Caio andou até perto da mãe falou: Pros raios ela. Mãe, é meu niver, véa. Cadê meu presente e abraços?
Ela se distanciou quando ele estendeu os braços: Com o senhor cheirando a ovos, não guri. Depois a gente se fala.
Percebi que não tinha me mexido do lugar e ainda estava no meio da porta, vi dona Helena vir até mim e saí do caminho. Quando ela passou eu falei: Foi um prazer conhecê-la e...
Ela me cortou sem me olhar: Não. Não foi nenhum prazer. Pelo menos a mim não foi nada.
E se foi. Olhei pra Caio e ele deu de ombros: Bom, você está vivo.
Eu: Caio, não era pra ter sido assim. Ela tá confusa...
Caio: Ela ta com frescura. Lembra dos teus pais? Foi tudo na lata... sem uma conversa certa um com o outro. E olha hoje, estamos numa vibe boa com eles. Vamo banhar, fecha a porta quando vir - ele baixou a bermuda com cueca e tudo, tirou a camisa e entrou no banheiro.
No chuveiro, eu ainda pensava na minha sogra enquanto ensaboava as costas de Caio. Falei: Amor... e essa tal Roberta?
A festa rolava solta na área da piscina, o som as vezes fazia as paredes tremerem. Caio despreocupado ensaboava meu peito, falou: Já te falei uma vez *cap. 16* sobre ela e sobre minha mãe querer que eu case com a menina, mesmo que forçado.
Eu: Hum... sua mãe me deu medo. Parece uma vilão de novela mexicana. E é mó gostosa.
Caio riu: Respeita, rapá. Puxei pra coroa então.
Eu: O casamento dela com seu Cá, está mesmo ruim? E se sim, é por nossa causa?
Caio: Eles tão de crise faz anos já. Não é por nossa causa. Mas a mãe esses dias vem jogando na cara do pai que a culpa de tudo é dele. Até Helson entrou no dessa discussão toda. Eu aprendi a ignorar minha mãe, antes me magoava quando sentia que ela preferia meu irmão. Agora ajo indiferente - ele chegou mais perto e me deu um abraço forte. - Eu tenho meu Nando e nada mais importa.
Sabem quando vocês se sentem bem e uma felicidade indescritível lhes invadem e revira todas as suas entranhas, enchendo de alegria cada célula sua? Aquela sensação de desprendimento do mundo real, dos problemas e coisas mundanas as quais te prendem a cada dia na terra, essa sensação que acabei de descrever misturada com um amor/felicidade, me fez quase lagrimar nos braços daquele garoto. "Fala alguma coisa romântica" me ordenei, não me veio nada.
Depois de eu vestir uma roupa de Caio, a qual ficou um pouco folgada, mas que serviu até bem, descemos pra festa. Lá conheci a tal Roberta. Era bonita, morena-clara, cabelos escuros lisos, corpo escultural e dona de uma boca e bunda sem-igual. Eu tinha uma possível rival e até então não sabia. Sim, aquela mulher era linda de mais, mesmo que forçado, Caio poderia se interessar por ela. Além dos atrativos físicos, ele era até simpática e me tratou bem quando soube quem de fato eu era. "Caio merece alguém que faça ele feliz" ela falou para mim gentil. Lise e olhou de longe, estava enroscada dançando com Rorge e me olhou bem estranho. Como se me avisasse de algum perigo. A festa foi até duas da madru. O pessol acabou se dispersando e indo embora um a um. No fim, ao som das músicas do Pendrive de Lise, ficamos Mário e sua namorada, Rorge e Lise e Caio comigo. Todos dançando lento uma balada romântica. Caio pôs as mãos na minha cintura, eu enlacei seu pescoço e ficamos rodando lentamente ao som da música.
"Should I give up, Or should I just keep chasing pavements?"
Eu: Gostei da música. A cantora tem um vozeirão. Aposto que é uma negra top.
Caio: Errou. É loira e gordinha. Esqueci o nome dela, parece ser Adelina.
Eu: Gostou do teu presente presente?
"Even if it leads nowhere, Or would it be a waste?"
Ele deu um beijinho carinhoso na minha testa: Amei, meu amor - ele deu um beijo na camisa do Atlético Mineiro personalizada a qual eu tinha comprado.
Eu: Me doeu comprar isso. Mas pelo namorado se toleta tudo - "Should I give up, Or should I just keep chasing pavements? Even if it leads nowhere" ouvi a letra da música depois olhei pra Lise que estava há uns 4 metros de nós e gritei. - Hey, Lise. Quem canta essas músicas?
Lise: Adele, lerda. Maiôr diva.
Eu: Hum, depois me passa algumas pro meu pendrive - então mudou pra outra música, que começou ao som de harpas, eu acho, e com uma letra lenta.
"Whenever I'm alone with you You make me feel like I am home again.
However far away. I will always love you
However long I stay I will always love you
Whatever words I say I will always love you I will always love you."
A letra me invadia e eu apertava Caio com força enquanto rodávamos lentamente, o calor do corpo dele era a coisa mais acolhedora do mundo. Surrurrei: Essa letra combina com a gente. Porque tu me faz sentir bem quando estou contigo. Jovem, completo, em casa. E eu sempre vou te amar.
Caio riu: Lembra daquela noite do nosso beijo aqui em casa? O primeiro - falou ele com o corpo grudado no meu e me conduzindo ao som da música.
Eu ouvia a letra e sentia meu coração acelerar, era linda e nada melosa. Era como se fosse um desabafo da cantora falando que sofria, mas iria seguir em frente, sempre lembrando do amor passado. Levantei a cabeça um pouco pra olhar nos olhos de Caio e vi ele sorrindo de leve: Lembro sim, vai fazer um ano já. Puxa! - e acariciei seu rosto, sentindo a barba dele crescida roçar na palma da minha mão. Ele gostou do toque e fechou os olhos ainda rindo.
Caio: Não sei por quê me sinto tão submisso quando tu me toca - sussurrou ele com o sotaque mineiro manhoso. - É como se eu ficasse desarmado, sem defesa. Moleque, tu mexe de mais comigo. Fernando, acho que te amei desde o dia que te conheci pelo Orkut, só não sabia.
Eu ri: Que fofo, assim eu vou chorar, porra! - ele me girou e colou a boca no meu ouvido falando baixo. - Fernando, você é minha vida.
"However far away I will always love you
However long I stay I will always love you
Whatever words I say I will always love you I will always love you"
Eu: Caio, você acha que vamos longe com nosso namoro?
Caio: Se depender de mim, sim.
Eu: E filhos, Caio? Seus filhos?
Caio: Adotamos uai, e existe inseminação artificial.
Eu: Você acha que é a mesma coisa do que da maneira certa?
Caio: Se quer me largar pra ter um filho da forma normal, pode ir então - e lá se tinha ido o momento romântico. Eu: É que eu jamais quero prender você a mim.
Caio: E se eu quiser me ver preso em ti? Digamos que pra sempre.
Eu: Bom, desde que você compre sempre Nutella para mim, digamos que eu permito.
Caio: Digamos que eu aluguei um apê pra nós, maior e mais confortável.
Eu suspirei: Eu gosto do meu.
Caio: Já discutimos isso. E fica perto de tudo.
Eu: Sendo um lugar modesto, eu aceito.
Caio: Mudamos quando eles terminarem de pintar. Daqui umas duas semanas.
Eu: Vamos levar a Maus.
Caio: Levo o mundo se você pedir.
Eu: Exagerado.
Caio riu: Fernando, você lembra da noite do nosso primeiro beijo né? Pois é. Aquele momento mudou todo meu ponto de ver. Eu podia ver estrelas e ter a razão, mano. Mas agora, to cego por ti. Cego a ponto de não ver nenhum estrela e não enxergar a razão, mas só você, meu Nego.
"Whatever words I say I will always love you I will always love you"
A música, e ele falando aquilo me fizeram lagrimar. Eu: Te amo, Caio. Te amo de mais.
Dançamos mais músicas da então cantora com a voz foda. Eu mal sabia que muito em breve, essa cantora foda entraria em minha vida. Mal sabia que Adele cantaria alguns momentos meus.
MUSICAS: Adele - Chasing Pavements / Lovesong
***
25 de junho. Dia da audiência. Não sei se vou saber explicar muito bem como se sucedeu tudo, porque não era um julgamento voltado para mim, lembrem-se que foi um dos caras que tinham feito a denúncia de forma mentirosa contra meus amigos (os réus), logo, eu seria somente a testemunha contradizendo-o. Cheguei cedo com Caio, era uma manhã chuvosa de segunda-feira. Encontrei meus amigos e o dr. Paxiúba. Depois tive o desprazer de rever o Cara da câmera, junto com ele estava o advogado e o velho tio de Ricardo. Ambos riam de forma nojenta e eu retribuí o sorriso de forma "veremos quem rir melhor". Eu seria a penúltima testemunha a entrar e eram 8 ao todo. Ricardo seria o último a ser ouvido pelo Juiz e promotor. Eu estava nervoso, parecia que "eu" que estava sendo julgado e isso me vez ter leves crises de ansiedade. Então ouvi a voz do nosso advogado na minha cabeça, me lembrando que "a testemunha não deve se preocupar com o nervosismo, eis que é normal, devendo se concentrar em transmitir firmeza no seu depoimento, falar de forma clara, evitando gírias que possam levar a incompreensão do quer dizer, preocupando-se em não falar baixo, de forma que todos os presentes possam escutá-la, até porque as audiência são gravadas, ao responder as perguntas, independente por quem tenham sido feitas (promotor, advogado) deve-se olhar para o juiz na ora da responde-las".
Caio: Calma, amor. A nossa causa está ganha. Estamos com sorte.
Eu olhei pra ele: Por quê?
Ele: O promotor que está aí é outro. Não é o mesmo que parecia ser amiguinho dos infelizes lá. Então, no mínimo, algumas pessoas serão presas hoje por calúnia e Falso testemunho, até onde sei... duas testemunhas a favor dos merdinhas, são o tio dele e o...
Então fui chamado. Levantei dei um beijo na testa de Caio e fui até a sala onde estava acontecendo tudo. Era uma sala espaçosa, com uma bancada alta e com duas mesas em suas extremidades, como se fosse um U, e bem no meio desse U tinha uma cadeira vazia. Na mesa do lado direito estava o dr. Paxiúba e uma mulher loira. Do outro eu julguei ser o promotor e possivelmente o advogado do cara acusador. Meus amigos já tinham sido ouvidos (os réus) e agora estavam em salas separadas, esperando o veredito. Sentei e o Juiz começou com as perguntas.
Respondi da forma mais firme possível, e audível também. Algumas vezes o advogado rival fazia umas observações tolas, mas logo viu que estava ganhado terreno com minhas respostas. Dr. Paxiúba falou das filmagens e o juiz assentiu, e olhou pra mim. No fim, eu tinha dito tudo e o dr. Paxiúba piscou pra mim. Saí e fui até o corredor e abracei Caio, narrei como tinha sido e ele pegou minha mão. 1 hora se passou e então vi Ricardo sair da sala de audiência com, e ele se sentou longe da gente. Do lado dele estava sua mãe. Ele olhou pra mim e riu tímido. 2 horas se passaram e então o dr. Paxiúba saiu da sala junto com o advogado rival. O promotor vinha logo atrás e todos conversavam amigavelmente.
Dr. Paxiúba: Bom meninos, como de se esperar, todos foram inocentados. O rapaz denunciante foi preso e o tio também por Falso testemunho e vão responder por Formação de quadrilha, Lesão corporal grave, Estupro e possivelmente por Homicídio culposo, mas isso já não é coisas para falar com vocês. Isso vai longe ainda, pois as vítimas querem justiça e seus amigos vão procesá-los por Calúnia e Difamação.
Ele falou mais coisas as quais não prestei muita atenção na hora, só pensava que tudo estava acabado, os canalhas teriam o que todos eles mereciam e iriam pagar. Meus amigos estavam de boas assim como eu. Quando fomos saindo do fórum, já perto do carro, ouço um "Hey, Fernando!", me virei e vi Ricardo. Loiro, dos olhos bonitos, cara de riquinho arrogante, bem boa pinta. Caio mandou eu não dá bola, mas pedi um tempo. Ele ficou com raiva e foi pro carro e lá se encostou. Fui até Ricardo que me olhava triste.
Eu: Não foi preso também? Você mentiu seu testemunho.
Ricardo: Ainda não. Mas nem vou ser, meus primos não contavam com o meu depoimento. Bom, pelo menos se fuderam. Agora só esperar isso tramitar, se não me engano, vai ter um julgamento que vai condenar meus primos.
Eu: Meu advogado me contou. Livrou o teu da reta heim.
Ele: Pois é. Tu me ajudou, mano.
Eu: Eu sei.
Ricardo: Ah, já ia esquecendo (ele mecheu nos bolsos e me entregou um celular) toma, é teu - era meu celular que ele tinha achado na boate.
Eu ri: Ah tá. Agora posso respirar melhor - falei cético.
Ricardo: Que tu nunca mais me veja.
Eu: Assim espero - rimos e ele apertou minha mão.
Ricardo: Felicidades, tu merece, cara.
Eu: Todos merecemos.
Ricardo deu as costa e se foi. Me dirigi até Caio que mexia no celular: Ta zangado? - perguntei.
Ele indiferente e sem olhar pra mim: Meu namorado dá trela pra um filho da puta que quase matou ele... deveria tá o quê? Sorrindo?
Eu ri e puxei a cabeça dele para nos encararmos: Te amo, caralho.
Ele deu um selinho: Isso é novidade.
Eu ri: Queria ver os meninos. Vão demorar muito pra sair?
Caio: Já já e... olha lá eles. E lá se vinham Pedro, Henrique, Pablo, Juan, George, Roger e Mário. Eles vieram até Caio e eu fazendo zuada e me levantaram pro alto. Eu me sentia um boneco de trapos. Estavam todos alegres, todos tranquilos, era pessoas corretas, eram meu salvadores.
Juan: Vamo encher a lata hoje. Por conta do Caio.
"heeeeee", gritou eles em coro. Eu: Me põe no chão, bando de caralho e... hey! Caio, tão me dedando.
Caio: Solta ele, seus diabos!
Mário: Uiii, somos criminosos, mané. Te mete com a gente pra tu ver, Pintinha.
Ficamos naquela zoeira até um policial mandar a gente parar de algazarra. Fomos pra um bar e lá foi uma festa só. Rolou até dança de raparigas na nossa mesa. Pedimos comida e comemos com uns bêbados que eram muito engraçados quando cantavam juntos umas músicas em inglês. No fim, todos nós estávamos feliz, alegre e comemorando nossa devida e mais que merecida felicidade. Meus irmãos e meu Amor estavam bem, e isso bastava no momento.
***
Eu arrumava minhas coisas as quais eu levaria pro novo apê que Caio alugara na parte nobre da cidade. Tínhamos ido nele no dia anterior e eu vi que era grande; dois quartos - com banheiro em cada -, cozinha americana com armários embutidos e uma pia enorme de mármore branco, uma geladeira de inox de uns 2 metros na mesma a deixava com ar caseiro. Havia móveis tais como nossa nova cama, um guarda roupa enorme, sofás na sala e tantos outros móveis. Era um apê bonito, com vista privilegiada para o centro de Belém. Eu tinha ligado mais cedo para meu pai, avisando que iria até em casa buscar alguns dos meus antigos pertences como HQ's, jogos de pc, uma roupa minha e tantas outras coisas que eu não tinha levado comigo quando fui expulso de casa. Meu pai tinha mudado, para melhor, não estava mais ranzinza e agora encara meu namoro com Caio da forma natural e nada preconceituosa. Falava com minha mãe pelo Skype e essa disse que em breve voltaria a Belém para resolver a relação do seu casamento, só que deixou claro que não queria mais ficar na capital e que seu maior anseio era me levar para o sul. Claro, meu pai estava triste por ter perdido a mulher, mas levava essa dificuldade com garra e parou de jogar, quitou todas as dívidas e a nossa padaria estava novamente em alta alí no bairro. Pois é, eu era filho de um dono de padaria - por isso que sou um pão (desculpa, não pude me conter). No meu antigo quarto, tudo estava quase igual. A minha cama de solteiro que antigamente Caio amava deitar, meu pc antigo, meus carrinhos hot wheels, bonecos do Batman, meus honra ao mérito de física e matemática, minhas fotos de formatura e tudo mais que me ligava à infância/adolescência. Saudades de quando tudo era simples, parecia uma outra vida. Mas apesar dessa nova vida ter lá seus problemas, eu a amava. Sentei na cama e coloquei uma à uma as minhas coisas na caixa. Caio tinha saído com meu pai para ele ajudar a instalar uma central de ar na padaria.
Ouvi uma batida na porta: Oi, doido - a voz grave e grossa de André me sobressaltou. Parecia um demônio falando. Eu olhei pra ele, estava de camiseta e short de praia, não pude notar em seu corpo que estava cada dia mais sarado e grande. Eu falei: Eae, soldado de chumbo.
Ele entrou e sentou do meu lado: Arrumando os trecos pra ir embora de vez?
Eu: Vou pro meu novo apê e resolvi vir aqui pegar uns lances.
Andre: Tipo as fraudas?
Eu ri: E meus absorventes, mano. Se liga.
André: A gente se ver tão pouco né?
Eu: Pois é, mas a vida é assim.
Ele riu e brincou com um carrinho meu: Sua moto ainda te espera.
Eu: As vezes esqueço que tenho ela. Acho que vou te dar de presente.
André pôs o carrinho dentro da caixa: Assim teu namorado me mataria. E é errado um cara comprometido dar presente a outro.
Eu ainda indiferente ao que ele dizia: Amigos podem presentear outros - olhei pra André e algo que formigava dentro de mim saiu em palavras. - André, porque você não gosta do Caio?
André riu triste: Não é que eu não goste dele. Eu só o invejo.
Meu coração acelerou pelo o que podia ser dito alí: Inveja o corpo dele? Você é gato também, ta todo marombado... - tentei fazer graça, mas ele fez algo que me fez calar. Pegou minha mão e falou: Fernando, invejo ele por ter você como namorado.
Dei um salto, fiquei em pé e minha respiração logo estava irregular. Há tempos que eu sentia uma mudança em André. No início eu pensei que ele tinha ciúmes de Caio por ser meu novo melhor amigo, embora eu ainda considerasse ele como meu melhor amigo também. Depois o sumiço e distanciamento, o qual me levou a crer que ele sofria por alguma cocota. Então, quando meu pai falou pra ele que eu era gay, André se reaproximou e mudou de vibe, me via e eu sentia ele alegre. Quando soube que era Caio com quem eu namorava, ele passou a nem olhar na cara do meu namorado e ambos se tratavam como dois inimigos de colégio. Até aí eu não desconfiava de nada, foi no hospital que eu vi algo nos olhos de André, algo que me deixou inquieto e temeroso, não por mim, mas por ele. Então Caio soltou uma piadinha despreocupado, mas que me fez ver tudo. Caio falara "esse mano (André) tá é afim de ti, Nando" e pronto! Tudo estava alí claramente óbvio. André talvez estivesse sentindo algo por mim.
Meu quarto era pequeno, então não deu pra ficar longe dele, falei ainda em tom de brincadeira: André, se você tá me zoando, conseguiu (ri sem graça), seu babaca.
Ele se levantou e se aproximou de mim a ponto de invadir meu espaço pessoal: Fernando, eu gosto de ti. Eu acabei...
Não. Não. Não. Não! Por favor, que ele não fale o que não quero que fale, pensei.
André: ...me apaixonando por ti.
Olhei ele nos olhos, um frio percorreu toda a minha espinha: André. Isso não tem graça...
Ele sério: Não estou brincando, não estou brincando.
Eu: André... Mano, não faz essas coisas.
André: Eu me apaixonei por tu, cara. No quartel eu dei tudo de mim... malho para ter um corpo bacana por ti, quando descobri que você era gay... bom, que estava com teu amigo, eu fiquei feliz porque podia ter uma chance.
Eu: André, não sou tão volúvel assim para gostar de um e depois de outro.
André: Eu sei, mas um dia eu posso ter chance. Nando, eu gosto de você desde o dia que mudei pro Jurunas. Sempre quis falar pra ti. Sempre. Mas o medo da rejeição era maior.
Eu ouvia aquilo sem acreditar. Era tudo muito louco, mas como eu havia dito antes, eu presumi essa possível declaração e me preparei física e mentalmente. Eu: André, isso complicou nossa situação. Eu amo o Caio e só ele. Não vejo outro homem na minha vida. Não vejo. Isso vai te deixar ruim e eu não quero isso.
André: Não!, não estou dizendo que quero que fique comigo. Não, Nando, só queria pôr isso pra fora, eu não aguentava mais. Eu não suportava mais te olhar e não desabafar - ele falava e se aproximava. Seu corpo estava tão perto do meu que eu ouvia seus batimentos.
Foi rápido, impensado e vazia. A boca dele tentou ir de encontro com a minha, mas eu desviei o rosto e pude sentir o hálito quente dele na minha bochecha: Não, André - sussurrei.
Ele riu: Talvez seja só uma paixonite, mas seja lá o que for, eu não vou desistir de ti. Eu espero, mano.
Eu: Amo só um homem.
André: Você não o amava antes, descobriu isso com o tempo. Isso pode acontecer comigo.
Eu: Não vivo com possibilidades nem no futuro. Vivo no presente, e nele só existe Caio.
André respirou pesado, triste e se distanciou de mim: Fernando, eu tenho fé. Isso pode ter custado nossa amizade. Mas saiba que eu vou sempre está aqui, beleza.
Não falei nada. Ele saiu do quarto me deixando sozinho. Ótimo, não bastasse minha sogra, agora André viera com isso de apaixonado? A minha vida era uma grande bosta. Então ouvi a voz de Caio e quando sai dos meus devaneios, ele entrou no meu quarto. Me olhou com a cara de safado, não usava boné e sua camisa branca estava suja de graxa.
Caio: Eai, japa. Arrumou tudo?
Eu: Sim, acho que tá tudo aqui. Cadê o pai?
Caio: Lá em baixo, com o tal do André. Ele tava aqui? Que foi, cê ta bem?
Eu: Cla-claro. To sim. André veio perguntar sobre minha moto.
Caio: Se você quiser, a gente leva ela.
Eu: Agora não, não bastasse arrumar as nossas coisas no apê novo.
Caio: Outro dia então.
Eu: Isso - bom, eu deveria falar pra ele sobre André, sobre a tentativa do beijo dele... mas eu conhecia Caio, sabia que no momento que eu terminasse de falar, ele iria partir pra porrada com André. Então deixei pra contar em outra ocasião. Com mais calma, porque eu não acreditava ainda que André tinha se declarado pra mim.
- Meninos? - chamou meu pai entrando no meu quarto. - Arrumaram tudo?
Caio: Já sim, seu Hilton. Vamos indo já. Bora, Nando?
Eu: Um rum... vamos - peguei a caixa e Caio pegou uma sacola com umas roupas minhas. Meia hora depois, a gente estava no meu antigo apê para entregar a chave ao dono do lugar, entrei nele e o vi todo vazio. Mais cedo, os rapazes ajudaram a fazer a mudança pro meu novo apê. Agora era só um quarto, pequeno, com um banheiro e uma pia onde em cima pendia um armário. Antes as paredes eram desbotadas, o chão amarelo e cheio de infiltrações. Depois das reformas, estava mais limpinho, paredes pintadas e tudo mais. O buraco da Maus ainda estava alí, ela havia sumido e logo a dei como morta. Fiquei triste, mas como Caio dizia, eu tinha que seguir firme.
Caio estava no corredor conversando com o dono do lugar sobre alguns acréscimos que tínhamos feito ao cômodo, depois de falar, ele entrou no meu antigo cafofo e me abraçou por trás.
Caio: Pensando na morte da bezerra?
Eu: Vou sentir falta daqui. E muita.
Ele beijou meu pescoço: Eu também. Principalmente das nossas fodas loucas.
Eu ri: Meu primeiro lugar. O lugar onde cresci e amadureci.
Caio: Verdade. Tchau, apê-antigo. Adeus Maus.
Eu: Tchau, apê-antigo. Que o novo inquilino seja tão feliz como eu fui aqui. Adeus Maus.
Caio: Vamos, amor.
Saímos e entregamos a chave pro seu Duda (o dono). Depois fomos pro carro rumo ao nosso novo lar.
***
Dr. Franque: Então os pesadelos pararam?
Eu: Sim - falei deitado no divã.
Ele: E os aceleramento do coração?
Eu: Não sinto mais.
Então acho que essa é a última vez que te verei, ele falou.
Eu: Agora que eu tinha acostumado a essas consultas. Agregam status, sabe? De rico depressivo.
Dr. Franque: Sabe, por tudo que você me falou, da sua história com Caio, sugiro que um dia escreva um livro sobre... eu leria com afinco.
Eu: Sem mencionar que seria algo terapêutico né?, para mim.
Ele: Sim. Escreva... é um conselho de amigo.
Eu: Vou pensar.
Franque: Agora uma última vez, feche os olhos e agora se lembre de tudo que aconteceu desde o dia que você conheceu o Caio. Não poupe detalhes.
Fechei os olhos e puxei na mente o dia que falei com Caio pela primeira vez na comunidade do Orkut. O dia que nos vemos pela primeira vez. Nosso beijo no beco da minha casa, no dia do meu aniversário. A casa de praia. A briga na praia. Caio me pedindo em namoro. Meus pais pegando a gente no flagra na frente de casa. O reencontro com Ricardo e a briga na boate. Caio e eu quebrando a cama no meu apê. A surra. O hospital e minha recuperação. O aniversário de Caio. A audiência e o inocentamento dos meus amigos. Meu novo apê com Caio e eu, e o fato de saber que estava tudo bem por hora.
Visualizei Caio, um garoto grande e forte com uma marotagem ímpar no rosto. Seus olhos castanhos, nariz fino, queixo quadrado, orelhas de quem luta MMA, o sorriso sacana e a voz mansa e grave. Era meu garoto. Meu mano. E eu esperava que fosse meu amor por uma caralhada de tempo.
***
Estávamos abraçados na varanda do nosso apê, ele atrás de mim com o queixo apoiado na minha cabeça. O clima estava quente e abafado, típico da cidade. Estávamos só de cueca, tínhamos acabado de sair de uma transa louca, sempre eram loucas, com Caio eram sempre loucas. Eu falei: Sabe, esse ano de 2012 nem tá na metade ainda e caralho... aconteceu tantas coisas.
Caio: Verdade, será que vão acontecer mais coisas?
Eu: Se sim, espero que eu esteja do teu lado, pow!
Caio me apertou mais e o cheio de macho dele foi tomando conta do meu ser: Leke, fico pensando como seria caso a gente se separasse.
Eu: Hum. Por que tá falando isso?
Caio: Digamos que entre outra pessoa na tua vida.
Eu: Só existe tu, mano. Mais ninguém.
Caio: Eu sei, amor. Mas tem gaviões por aí.
Eu ri e me lembrei de André. Mas André não seria nada para mim além de amigo: Caio, é só você que eu amo.
Caio: Em julho agora, devíamos ir pro Sul, ver tua mãe - sugeriu ele.
Eu: Sabe de uma coisa, você tem razão. Dá um tempo de Belém.
Caio: Apois vamos.
Eu: Juntos?
Caio: Sempre - falou ele dando um beijo na minha cabeça.
Eu: Sempre - repeti.
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É, Galera. Cabou! Mas eu tinha dito que havia duas notícias né? Pois bem, a boa é que esse seria o último capítulo. A ruim é que... *música de suspense*. A notícia ruim é que esse é o último capítulo da temporada! Que vou continuar essa bagaça, que esse é o FINAL e não o FIM. Podem me xingar. Saindo dessa vibe ruim, queria dizer que vou postar esse capítulos daqui lá no Wattpad - por insistência de umas pessoas daqui e de uns amigos do wpp. MAS, eu não sei fazer capas. Se por ventura alguém tiver interessado em fazer uma e me mandar no email, eu agradeceria. Me chamem lá no email que a gente troca idéias de como fazer, Beleza?
Bom, queria agradecer caridosamente a todos vocês que aturaram minha história.Que leram e se envolveram. Sério, é incrível sentir o carinho que vocês tem para comigo e com Caio. Dia 27 agora, fez 4 anos que estamos juntos e dia 26 foi meu aniversário, olha aí, quero meus presentes, cretinos. Beijos a todos os que me mandam email, ces são muito pacientes por esperar eu responder. Através da CDC fiz amizades indescritíveis, conheci pessoas fantásticas e pretendo levar vocês todos pela minha vida inteira. Quem me conhece sabe que sou horrível com palavras bonitas, então já sabem né.
A todos os autores da casa, principalmente os que se sentem pouco reconhecidos por conta de notas e comentários, digo a vocês que não parem de contar-nos os relatos seus... que vocês não desistam ou se desanimem. Pois são pouco reconhecidos, mas em essência, seus contos são maravilhosos. Aos autores que acompanho os contos, grande abraço e fiquem bem. Aos meus leitores lindos, desejo tudo de bom pra vocês e que em breve nos veremos novamente. Eu volto com uma nova temporada, pois como vocês notaram, tem uns fios soltos ainda, e esses fios vão ser bem chatinhos.
Por último, abraços e fiquem bem.
♡
Mandem as capas para esse Email e lá podemos trocar uma idéia, beleza? Flw: maiks.fernnds2@gmail.com