Trick. Esse foi o barulho rápido e seco que fez a tranca do banheiro quando foi fechada. Chovia torrencialmente do lado de fora e o barulho ecoava dentro do banheiro conseguindo abafar os batimentos do coração de Marco. Ele acreditava que de tão fortes as batidas poriam ser ouvidas na reitora. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. Marco respirava com cada vez mais velocidade. Sua boca secou tão rápido que o jovem sentiu um gosto amargo se formando em cima da língua. Ele queria falar algo, mas da sua boca só saíram murmúrios não identificáveis. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. O coração iria sair pela boca. A cada passo que Rodrigo dava na direção dele, a sensação aumentava. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM.
Marco suava frio. Sabia que em alguns momentos seria seriamente machucado e nada poderia ser feito. O que? Chamar alguém? Quem? A chuva não iria deixar. O barulho era ensurdecedor e ninguém deveria estar perto para ouvir qualquer barulho entranho no banheiro. Alguém o viu entrando? Marco acreditava, não, tinha a certeza que não, pois quando atravessou o longo pátio não viu ninguém. E quem iria ver? Estavam no horário das aulas e chovia como se fosse o dia do dilúvio de Noé. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. Marco não sabia se a camisa do uniforme estava mais molhada de água da chuva ou o seu próprio suor. Rodrigo estava ainda mais perto. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. E agora? Pensa Marco! Não, fala algo! Agora! Você vai perder um dente ou quebrar o nariz! Não vai tentar, ao menos, se defender? FALA AGORA! FALA! BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. Rodrigo estava bem na sua frente. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. Marco, enfim, disse em uma voz baixa e suplicante:
-Cara, não, por favor! Não vou contar par...
Antes que terminasse a frase, Marco sentiu a mão de Rodrigo no seu rosto. Porém, para a surpresa de Marco, o que sentiu não foi uma dura e forte pancada: ele sentiu o leve toque dos dedos do seu “intimidador” na sua bochecha direita. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. Ele abriu os olhos e viu o rosto do outro jovem bem na sua frente. Nariz com nariz, como dizem. Quando sua visão ficou mais clara, ele percebeu que Rodrigo o olhava fixamente. Agora, os dois estavam se encaravam. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. Marco não sabia o que estava acontecendo direito ou sabia e não queria admitir? Os dedos de Rodrigo subiram em um pequeno movimento. Aquilo, sem dúvida nenhuma, era um carinho. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM.
Marco sentiu a sua pele do rosto esquentar. Ele deu um leve passo para trás para sustentar suas pernas que começavam a tremer. Sentiu o frio toque do mármore da pia encostando-se no começo das suas coxas. Era um alivio, pois assim poderia se apoiar para não cair. Rodrigo também deu um passo. Sua mão já segurava o rosto de Marco por completo. Suave e gentil. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. Os olhos negros profundos de Rodrigo olhavam com serenidade desconcertante para os assustados olhos verde oliva de Marco. Foi um breve momento, mas, para Marco, pareceu uma eternidade. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. Rodrigo se inclinou um pouco e Marco sentiu a sua respiração ainda mais perto. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. Os dois se beijaram. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM.
Aquilo era real? Marco se perguntava um pouco antes de fechar os olhos e se deixar levar pelo momento. Os lábios de Rodrigo estavam úmidos e quando tocaram os de Marco conseguiram tirar o sabor amargo que estava antes. Por um tempo, Marco não se mexeu, mas logo correspondeu o beijo. Longo, profundo e, quando pensou sobre o momento algum tempo depois, Marco se recordou do momento como “assustadoramente excitante”. Rodrigo colocou a mão esquerda na cintura de Marco que sentiu um leve “apertão. Já Marco, em um reflexo proposital, tocou a mão do outro jovem que estava em seu rosto. Deus, isso está acontecendo!
Rodrigo “comandou” o beijo com lentos e leves movimentos, enquanto Marco acompanhava perdido na sensação que dominava o seu corpo: uma mistura de medo e excitação deliciosamente inebriante. O tempo tira parado. Era o que acreditou brevemente Marco. Ele foi retirado do seu sonho quando Rodrigo terminou o beijo ao retirar suavemente os seus lábios. Marco, ainda atordoado e com uma expressão de perplexidade, abriu os olhos e viu o olhar do outro jovem com a mesma expressão calma e o olhar sereno de antes do beijo. Rodrigo sorria. Aquele sorriso era grande, sincero, encantador e, ao mesmo tempo, provocante. Aquele sorriso seria o que Marco mais amaria em Rodrigo. O sorriso! BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM.
Eles se encararam por algo tempo. Marco não conseguia pensar em nada. Nada, não. O sorriso! De repente, Rodrigo chegou perto do ouvido de Marco e disse em uma voz sussurrada:
-Isso é um beijo de verdade.
Marco voltou a sentir a sua respiração ofegante enquanto Rodrigo se soltava dele e caminha em direção à saída. Trick. Ele destrancou a tranca a porta, mas antes de sair olhou de volta para o outro rapaz com o mesmo sorriso de antes. O sorriso! Aquele sorriso fez marco se apaixonar completamente por Rodrigo. A chuva aumentou freneticamente e agora começavam a cair grandes pedras de gelo. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM. BOOM.
Continua....