Assim que terminamos nosso café, nós três, Dudu, Bruno e eu, saímos para pegar os carros que tínhamos deixado no estacionamento do barzinho. Nós pegamos um táxi para ir para lá, quando chegamos tivemos que acelerar o passo, pois o local estava deserto. Bruno e eu entramos no nosso carro e o Dudu entrou no dele, nós saímos rapidinho de lá e fomos rumo à locadora de filmes.
Quando chegamos na locadora, cada um foi para uma fileira de filmes e começamos a escolher os filmes. Bruno sempre vinha perguntar se podia levar determinado filme.
- Posso?
- Não, Bruno! – Já era a décima vez que eu falava isso
- Tu não deixas eu levar nenhum! – Ele disse fazendo bico
- Amor, tu queres levar filmes de quando nem eu e nem tu éramos nascidos. Pelo amor de Deus, né?
- Eu gosto de filmes antigos!
- Amorzinho, pensa bem... Se nós três formos assistir esses teus filmes, nós vamos dormir.
- Eu não vou!
- MAS EU E O DUDU VAMOS! – Eu dei um peteleco na cabeça dele
- Au! Doeu!
- Bem feito!
- Eu vou levar! – Ele disse me dando as costas
- Aaaaah não vai, não!
- Vou, sim!
- Espera aí!
Eu fui atrás do Dudu
- Dudu, tu queres ver esses filmes? – eu disse apontando para as mãos do Bruno
- Credo! Nem meu avô assiste isso!
- Viu? Perdeu! Não vai levar! RA!
- Isso não vale! Não vale! – Ele disse deixando os filmes e indo procurar outros
- Já selecionaste os teus? – Dudu me perguntou
- Já e não já! – Eu disse sorrindo
- Doido é doido, viu?
- MENTIRA???? Mano, às vezes tu te fazes de retardado, viu?
- E é assim? Vem xingando sem motivo?
- Mano, tu falas cada coisa que nem parece que tu és professor, de verdade!
- Me deixa, mané! – ele me deu um beliscão na barriga
- Filho...
- Opa! Cadê a educação?
- Enfiei ela no... – Uma moça passou bem na hora e eu tive que engolir as palavras
Ele se afastou de mim rindo feito um louco. Eu fiquei escolhendo meus filmes e quando eu vejo, lá vem o Bruno me perguntar se podia levar um filme.
- Esse eu posso?
- Pode, amor! Pode!
Era um filme velho, mas era mais novo do que os primeiros que ele queria trazer.
- Aêêêêê!! Tu vais gostar!
E ele estava crente que eu iria assistir aquilo com ele, mas neeeeeeeeeeeem pensar!
- Hum...
- É muito legal esse filme!
- Uuuul!!! Muito legal!
Eu continuei escolhendo meus filmes e ele falando o quanto o filme era bom e blábláblá. Dizia que a crítica do filme era muito boa e blábláblá. Eu ouvia e esquecia no mesmo minuto o que ele falava. Eu tratei de acelerar minha escolha para ele parar logo de falar daquele maldito filme. Mas quem disse que adiantou? No carro ele ainda falava do filme, eu nunca vi alguém ficar tão empolgado com um filme como Bruno fica. Nossa! Eu respirei fundo e fui ouvindo ele falar até chegar no supermercado.
- E aí, o que vamos levar? – Eu perguntei
- Cachaça! – Dudu disse pegando garrafas de vinho
- Velho, a gente ainda nem curou da ressaca de ontem e tu já queres beber?
- Claro! Daqui a alguns dias tu não... – Ele colocou a mão na boca – Desculpa!
Nós tínhamos combinado de não falar sobre a doença até sair os resultados dos exames, só quando soubéssemos os resultados é que nós iriamos nos preocupar.
- Tudo bem! Daqui a alguns dias eu vou começar a tomar remédios e drogas e não vou poder beber, é eu sei!
Bruno fuzilou Dudu com o olhar.
- Seu cabeçudo! – Bruno deu um soquinho no braço do Dudu
- Foi mal aí! Desculpa, mano!
- Tudo bem! Bom, vamos levar os vinhos, então, né?
- Assim é que eu gosto!
Nós fomos comprando diversas coisas, como dona Cacilda estava de folga, eu teria que ir para a cozinha. Os meninos pegaram diversas coisas, bebidas, pipoca, doces, salgados... Estávamos levando comida para um batalhão inteiro.
- Isso não é muita comida, não? – Eu perguntei
Os dois me olharam com um olhar estranho e eu resolvi ficar quietinho. Deixei eles comprarem o que eles queriam.
Depois de bastante tempo andando pra lá e pra cá dentro do supermercado, enfim, nós fomos embora. E para a minha surpresa, Bruno voltou a falar do tal filme. Ele foi falando e refalando até chegarmos em casa. Quando chegamos, eu sai correndo de dentro do carro.
- Pra quê tanta pressa? – Dudu me perguntou
Ele já estava na porta de casa nos esperando para abrir a casa.
- Eu não aguento mais o papo que Bruno e eu estávamos tendo. Quer dizer, o monólogo.
- Amor, as chaves estão aqui! – Bruno vinha com as chaves na mão – Por que tu saíste correndo?
- Bruno, abre logo essa porta, eu preciso ir ao banheiro! – Eu menti
- Ah, entendi...
Eu fui ao banheiro só para cobrir minha mentirinha, por que eu não estava com vontade de ir lá. Quando eu sai, os meninos já estavam separando o que eu ia usar para fazer o almoço e guardando o que nós iriamos comer mais tarde.
- A cozinha é toda tua! – Dudu disse
- Espera aí, deixa só eu colocar minha roupa de mucama ali, eu já volto.
- Olha, dramático ele, hein? – Dudu disse
Eu mostrei o dedo pra ele, que riu, e fui para o meu quarto tomar um banho e trocar de roupa.
- Pronto, agora a Izaura já está pronta para ir para o tronco! – Eu disse ao voltar para a cozinha
- Huuuum... para o tronco é? Olha aí, Brunete!
- O quê?
- Antoine falando que quer ir para o tronco.
- Já amor? Vem! – Ele veio até mim e pegou minha mão
- Palhaço!
Os dois se acabaram rindo.
Bruno me abraçou e me beijou.
- Mozão, o que tu vais fazer pra gente comer?
- Não sei! Vou inventar alguma coisa, aqui.
- Comida é o que não falta nessa casa! Tua mãe comprou um supermercado inteiro!
- E vocês compraram outro, agora!
- Ah, enquanto tu cozinhas eu vou falar com o Pi.
- Ai, eu tô morrendo de saudades dele! Vem falar com ele aqui da cozinha, eu quero falar com ele também!
- Tá, deixa eu pegar o computador!
- Quem é esse Pi?
- Meu primo, meu irmão, meu amigo, meu tudo!
- Ai, agora eu fiquei com ciúmes! Quer dizer que tu me trocaste por ele?
- Não, seu bobo! Mas ele é como tu!
- Eu não único pra ti? Helas! – Ele colocou a mão na testa, como aquelas atrizes antigas do cinema
- Depois eu sou o dramático! Tu já estás entrando no ritmo dos filmes do Bruno é?
- É que eu vi a capa daquele filme e eu lembrei dessa expressão francesa.
- Aquele filme é francês?
- É!
- Pelo menos isso! Não aguento mais ouvir falar desse filme, Bruno tá falando desde quando a gente saiu da locadora, meu Pai...
- É chato pra caralho aquele filme!
- E eu não sei? Eu nem existia quando aquilo foi gravado. Eu vou dormir, tu vais ver, eu vou dormir.
- Amor, olha aqui! – Bruno disse vindo do quarto e virando o computador para mim.
- Primooooooooooooooo!!! – Pi disse
- Piiiiiiiiiiiii!!!
- Saudade de ti!
- E eu de ti! Vem para o Brasil!
- Nós já falamos sobre isso! O que tu estás aprontando aí?
- Me colocaram para trabalhar, Pi. Eles pensam que eu sou escravo!
- Eles?
- Ah, sim... Dudu, vem aqui! Pi, esse é o Dudu, meu amigo, irmão, tudo. Dudu, esse é o Pi, meu primo, irmão, tudo.
- Oi! – Eles falaram juntos
- Tu falas francês, que legal!
- É, eu estudava com o Antoine, eu também sou professor de francês.
- Que legal!
- Ei, Pi, eu vou fazer aquele risoto com frutos do mar.
- Aquele que eu te ensinei?
- Esse mesmo!
- Essa eu quero ver!
- Olha só! – Eu peguei o computador do Bruno
- Eu acho que eu que iria falar com ele, né?
- E tu vais, tu estás pensando que eu vou cozinhar sozinho? Nem pensar! Tu vais me ajudar!
- Te lascaste! – Dudu disse rindo
- Oi? Tu estás achando que tu vais ficar sem fazer nada? Tu vais arrumar a sala de vídeo pra gente assistir os filmes.
- O que?
- Quem foi que se lascou mesmo? Eu pelo menos vou estar aqui, com meu marido, juntinho, - ele me abraçou – e tu vais arrumar a sala sozinho.
- Ah, não, eu quero cozinhar! É menos cansativo!
Nós falávamos em francês para que o Pi pudesse entender.
- Não, não! Tu vais arrumar a sala! – Eu sorri – E já!
Ele foi resmungando que nem um velhinho, mas foi.
- Nossa, ele é muito gatinho! – Pi disse
- Hetero, Pi! – Bruno disse sorrindo
- Ai, que pena! Como vocês estão?
- Estamos bem! Ontem...
Enquanto nós cozinhávamos, nós íamos conversando. Pi foi nos contando tudo o que estava acontecendo em Paris.
- Isso aí ficou bonito, hein? – Pi disse quando o risoto ficou pronto
- E tá muito cheiroso! – Bruno falou
- Deve estar mesmo, eu sou um ótimo professor!
- Não seria o caso de EU SER UM BOM CHEF? – Eu rebati
- É, isso também. Mas o que seria do chef sem um bom professor?
- Tá engraçadinho hoje, né primo?
Ele só fez rir
- Nós tivemos uma conversa da mesma forma que nós tínhamos quando você estavam aqui.
- Verdade! Só falta tu estares aqui pra gente almoçar juntos e depois assistir filmes comendo besteira. – Bruno disse
- Vocês vão assistir filmes?
- Vamos! Vamos assistir o filme “...” (eu esqueci o nome do filme, desculpem-me kkk).
- Ai, esse filme é horrível, gente!
- RAAAAAAAAAAAA, eu disse! Eu não sou o único! Todo mundo acha esse filme chato! – Eu falava dançando no meio da cozinha
- Não é, não! É muito bom! Vocês é que não entendem de arte!
- Brunooooo, não esquece que minha mãe é tia do Antoine e ela é expert em arte, tá? Ou seja, nós entendemos SIM de arte. Ah, e nós já estudamos arte aqui em Paris.
- Isso mesmo, primo! Amor, esse filme é horrível, não tem mais como tu negares isso.
- Eu gosto dele!
- Tem gosto pra tudo mesmo, viu?
- Essa comida sai ou não? – Dudu veio sem camisa
- Meu Deus, mas que homem! – Pi falou
- Já está tudo pronto lá na sala? – Eu disse rindo do que o Pi tinha falado
- Sim, minha sinhá!
- Gosto assim! Se está tudo pronto, vamos comer! Primo, depois nós nos falamos, tá?
- Ah, com certeza, eu quero te perguntar umas coisinhas depois.
- Tá bom! – Eu ria por que eu sabia que ele queria falar sobre o Dudu – Beijoooo!
- Beijo! Tchau, Bruno!
- Tchau, Pi!
Bruno pegou o computador e desligou quando encerramos a chamada de vídeo.
- Vamos comer!!
- Amém!
Nós sentamos à mesa e almoçamos, os meninos comiam como se não houvesse amanhã.
- Isso aqui tá muito bom! – Dudu falou
- Amor, tu és o melhor!
- Credo, vocês não precisam comer assim também!
- É que tá muito bom mesmo! – Dudu falava e comia ao mesmo tempo
- Eu hein!
Quando nós terminamos de comer, nós três lavamos as louças, secamos, guardamos e arrumamos a cozinha. Depois, ainda preparamos a pipoca e mais algumas gostosuras. Eu não tinha comido muito justamente para poder comer pipoca.
- Só isso de pipoca?
- É só pra mim, ué!?
- Não, senhora! E eu? Eu não como não? – Dudu falou
- Eu também não?
- Vocês ainda vão comer?
- É claro! – Eles falaram em uníssono
- Creio em Deus Pai, como vocês comem!
Eu taquei um pacote inteiro de pipoca na panela. Pra mim, tem que ser pipoca de panela, eu não suporto essas pipocas para micro-ondas. Nós terminamos de fazer as pipocas, preparamos mais suco, pegamos nossos doces e fomos para a sala de vídeo. Dudu tinha arrumado tudo direitinho. Na sala só tinha uma tela, um projetor e um baita sofá. Eu falo que é sofá, mas está mais para cama. É um sofá com jeito de cama. Dudu já tinha conectado meu computador ao projetor e estava tudo arrumadinho. Nós escolhemos o primeiro filme e depois nos deitamos para assistirmos.
Nós passamos o restante do dia todinho assim. Quando já estava quase escurecendo, Bruno começou com a sessão tortura. Ele encheu tanto nosso saco que nós não tivemos outra opção a não ser deixar ele colocar o tal filme ruim.
- Cara, eu vou dormir! – Dudu falou após os 10 primeiros minutos de filme
- Eu também!
- Xiiiiiiiiiiu, vocês dois!
Nós nos concentramos e ficamos sendo torturados visualmente. Depois de mais ou menos uma hora de filme, tocou uma música que me fez ficar super revoltado.
- Aaaaaaaaaaaaaaah, eu não acredito que esse filme escroto teve a audácia de usar essa música!
- Que música é essa?
- É a “L’aigle noir” da Barbara, ela é só uma das maiores cantoras francesas. Esse filme tá estragando a música.
É essa música aqui: https://www.youtube.com/watch?v=hbOHBTunadA. Ela é bem antiga, mas é simplesmente linda. Quando eu digo bem antiga, é por que é bem antiga meeesmo. Ela é uma música bem tradicional francesa, por isso que eu gosto. Barbara é uma das minhas cantoras preferidas, ela sempre cantava de preto, as músicas dela são bem melancólicas, são lindaaaaaaaaaas!
- Esse filme é lindo!
- Lindo? Lindo? Esse filme é horrível, pegou uma música dessas e estragou! Colocou no meio do filme, bem na hora que esse casal escroto se reencontra. Olha isso, isso nem é um beijo, é só um tentando engolir o outro. Credo! – Eu estava muito revoltado – Não quero mais assistir isso aí, quando acabar me chamem! – Eu falei me levantando
- Tu vais pra onde? – Bruno perguntou
- Vou fazer alguma coisa pra gente jantar.
- Não, fica aqui, amor. Deita aqui comigo, vai? A gente pede alguma coisa pra jantar, não vou deixar tu cozinhares de novo.
- Eu cozinho, não tem problema, não!
- Não, vem pra cá comigo, vem!?
O que a gente não faz por quem a gente ama? Ele não ia me deixar sair de lá, então eu fiquei lá. Eu deitei e ele abriu logo os braços, pedindo para eu deitar juntinho a ele para terminar de assistir aquela porcaria. Como ele podia gostar daquele filme? Os atores não atuavam direito, sabem aquelas expressões forçadas? Pareciam atores amadores que nunca tinham feito um grande trabalho. O áudio era ruim, era tudo ruim naquele filme. E pra completar, eles me colocam a música da Barbara pensando que iriam melhorar o filme.
Quando aquele filme acabou eu quase chorei de felicidade, Dudu, como prometido, dormiu durante todo o restante do filme.
- Acorda! – Eu cutuquei ele – A sessão tortura acabou!
- Credo, filme escroto da porra! – Ele disse se espreguiçando
- Entendeu por que eu nunca deixo ele escolher os filmes?
- Nunca mais ele sequer pisa numa locadora!
- Eu avisei!
- Ai, eu tô com fome!
- Cara, tu tens algum problema!
- Meu problema é fome!
- Pra onde vai tanta comida? Por que tu não engordas?
- Eu nunca fui de engordar, sempre comi o que eu queria.
- Ai, que inveja!
- E então? O que vamos comer?
- O bonitão aqui não deixou eu cozinhar... então, fala com ele.
- Ei bonitão, o que vamos comer?
- Vamos pedir comida, ué!?
- O que vamos pedir?
- Pizza?
- Te amo, Brunete!
Enquanto eles pediam a pizza, eu atendi meu celular que tinha começado a tocar.
- Alô?
- Viado?
- Oi, Ju!
- O que fazes de bom?
- Nada, tô aqui em casa assistindo filme com o Dudu e o Bruno.
- O sinistro ainda tá aí?
- Tá, ele vai dormir aqui, eu acho.
- Mas é muito abusado, viu?
- Mas é muito ciumenta, viu?
- Eu vou aí, então!
- Vem! Tem várias garrafas de vinho.
- Uuuuum, adooooooro! Vou fazer uns petiscos e levar.
- Obaaa!! Vou pedir para o Bruno ir te buscar, então!
Bruno fez um sinal de ok e já se levantou.
- Ai, te amo!
- Amor, espera um pouco, ela ainda vai se arrumar.
- Fala pra ela que eu já tô indo, tenho que pegá-la enquanto a pizza chega.
- Te arruma que o esfomeado já tá indo aí.
- Mas já?
- Já, é que nós pedimos pizza e ele vai te buscar enquanto a pizza chega. Ou seja, ele vai voando aí.
- Aiiiiiiiiiii, tchau então, deixa eu me arrumar. Vou dormir aí, já aviso.
- Tá vem! Beijo!
- Outro!
COMENTÁRIOS
Amores, passando correndo só para publicar. Não consegui revisar esse capítulo, então desculpem-me pelos possíveis errinhos. Um beijoooooooooooooo em todos! NÃO DEIXEM DE COMENTAR, POR FAVOR.
Até amanhã!