Bernard estava visivelmente nervoso e encostou na parede após desligar o celular e guardá-lo no bolso da calça social. Luiz Mario lhe lançou um olhar de súplica e assim que os dois homens se fitaram como se procurassem realmente se verem, a dor da impotência se abateu sobre os dois assim que Bernard falou:
_ Marcel sofreu um acidente, na verdade um atropelamento quase em frente ao Colégio e foi encaminhado ao Hospital da Unimed. Me ajuda Mario... Igual a mamãe... Por favor me ajudar a manter meu irmão aqui... Ele é tudo o que eu tenho, cara...
Nesse momento saia pela porta do elevador Carla Lima voltando exatamente do almoço e trazendo algo para o chefe quando viu os dois homens parados no corredor e indagou...
_ Aconteceu algo, Dr. Luiz Mario? E seu semblante calmo fez com que Mario falasse compassadamente.
_ Sim Carla, infelizmente aconteceu sim. Cancela a minha agenda da tarde toda e a de amanhã também. O irmão do Bernard acabou de sofrer um acidente e a gente ta de saída pro Hospital da Unimed. Manda levar na minha casa a pasta do processo de sonegação fiscal da Brasil Têxtil e pede para ao Mascarenhas agilizar o relatório final sobre a Evasão de Divisas que já apuramos sobre aquele rico empresário local.
_ Farei tudo isso agorinha mesmo, Dr. Mario. Mais alguma coisa?
_ Sim Carla... Reza pra que esteja tudo bem com o Molecão...
Bernard o olhou rapidamente e com certa surpresa após ouvir o apelido carinhoso do irmão dito pelo seu chefe e Luiz Mario emendou...
_ Vamos Bernard, levo você.
Os dois saíram e a princípio nada era falado dentro daquele caro cujo terceiro ocupante era a angústia por não saber o que iriam encontrar na chegada ao bendito Hospital. O trânsito não ajudou em nada e os dois continuaram perdidos em pensamentos até que Mario disse:
_ Eu amo o Marcel, Bernard. Talvez você não saiba ou não vá aceitar o que sinto por ele... Só que é algo bom e forte. Eu agora sei o que é amar alguém e ser capaz de fazer por esse amor até o impossível. Não sei como começou ou quando começou... Só sei que não quero que termine e tô morrendo de medo de perdê-lo... Ele é lindo, inteligente, divertido, marrento, irônico, na verdade ele é maravilhoso... Eu preciso dele, entende? Ainda ontem ele perguntou se era pra sempre e eu disse que não poderia ser de outro jeito.
Bernard apenas tocou seu braço e disse:
_ Não fica assim, Mario... Vai dar tudo certo.
Finalmente chegaram ao estacionamento externo do lugar e Luiz Mario estacionou o seu carro numa vaga proibida por ser reservada a deficientes, arcaria com as consequências quando voltasse. Os dois correram para o grande salão de entrada do Hospital e foram direto até a recepção... E Mario se antecipou ao amigo:
_ Louis Marcel Lopes Bresson deu entrada aqui pela manhã e somos da família.
_ O senhor é o pai do garoto?
_ Não, na verdade eu sou o namorado dele e este aqui é o irmão... Mario apontou para Bernard que se aproximou da moça.
_ É como ele disse. Queremos notícias do meu irmão e do namorado dele, pode ser?
_ Claro senhor. Ela digitou o nome de Marcel no computador e falou logo em seguida.
_ Ele deu entrada por volta do meio dia e vinte vitimado por um atropelamento. Nesse momento esta sob os cuidados da Dra. Fernanda Lira. Os senhores podem ir no terceiro andar aguardar o final do atendimento para que a Dra. Fernanda fale com os senhores.
_ Obrigado, jovem. Falou Bernard e os dois seguiram até os elevadores do Hospital.
Bernard já estava bem mais tranquilo e a todo momento tentava fazer com que seu chefe também se acalmasse. Após o elevador parar no terceiro andar e os dois homens saírem dele, uma senhora aparentando ter mais ou menos uns 60 anos de idade veio ao encontro de dois...
_ Boa tarde Bernard. Lembra de mim... Paula Viana Serra Brasil, Diretora do Colégio Brasil.
_ Claro D. Paula. Esse é Luiz Mario, meu cunhado.
_ Boa tarde jovem, falou paula.
_ O que a Senhora pode me dizer de tudo isso que aconteceu?
_ Na verdade meu jovem, pouca coisa. Alguns amigos do Marcel que presenciaram a cena falaram a respeito de um pânico repentino que se apoderou do seu irmão por conta de um outro jovem que o chamou várias vezes enquanto ele corria entre os carros naquela Avenida que infelizmente tem o trafego bem intenso.
_ Como assim outro jovem? É aluno do Colégio Brasil? Perguntou Luiz Mario.
_ Não, jovem... Era um pouco mais velho do que a faixa etária de nossos alunos, acho que algo entre 22 anos ou 25 anos de idade, estatura alta, pele branca, cabelos pretos, barba por fazer, usava uma espécie de gorro de um time de futebol e tinha várias tatuagens nos braços e ombros. Meia hora após falar com os parentes do garoto, Paula se retirou desejando melhoras ao garoto pois tinha uma reunião marcada na Delegacia Regional de Ensino.
Os dois gravaram bem as características que Paula Brasil dissera e após quase uma hora a Dra. Fernanda finalmente veio até onde eles estavam...
_ Bernard Bresson ou Luiz Mario por favor???!!! Os dois levantaram a mão direita num gesto tímido.
_ Boa tarde senhores. Sou a Dra. Fernanda Lira, traumatologista.
_ Eu sou o irmão do Marcel, Doutora. Este é meu cunhado Luiz Mario, namorado dele.
Foi visível a surpresa no rosto da jovem médica. Ele rapidamente se refez e disse olhando alternadamente enquanto explicava o tipo de procedimento que fizera e o porquê em fazê-lo...
_ Apesar do atropelamento em si, os traumas sofrido pelo garoto foram considerados leves. Houve luxação do ombro direito e a quebra da Ulna também, ou seja o osso do antebraço direito. Minha preocupação maior foi com a fratura da fíbula, o osso da perna também direita já que tudo isso ocorreu porque a pancada recebida o arremessou praticamente bem longe e todas essas fraturas fora ocasionadas pela queda. Claro que sua coxa esquerda ganhou um considerável hematoma e esta bem inchada também, só que graças a Deus houve apenas escoriações. Ele esta sendo transferido pro quarto 305 no final do corredor e teve que ser sedado devido o seu estado psicológico. Ele repetia sempre a mesma frase até ser completamente sedado...
_ E que frase seria essa, Doutora? Perguntou Luiz Mario.
_ O Ted me achou... Ele esta atrás de mim... Me ajuda mano... Me ajuda Lindão. Mario desmoronou na mesma hora após saber a frase do amado. Bernard o abraçou e assim que conseguiram se acalmar foram até o quarto onde o irmão ficaria em observação até a manhã seguinte.
O ombro direito de Marcel, bem como seu braço e perna também estavam enfaixados e engessados respectivamente. Ele dormia numa posição inclinada na cama do Hospital com um fino lençol por cobertura. O rosto sereno e suave denotava uma paz fora do comum e o seu respirar leve e compassado mostrava que ele dormia profundamente.
Bernard o beijou na testa e fez um carinho em seu rosto. Mario logo em seguida imitou o amigo e segurou levemente sua mão esquerda.
_ Quem é esse maldito, Ted? Por que ele nunca me falou nada sobre esse cara? Você sabe de alguma coisa, Bernard? Por favor meu amigo,me deixa entender o que tá acontecendo.
_ Olha Mario, eu sinto até medo do que vou contar pra você agora. Eu não tenho o direito de te revelar algo tão sofrido e íntimo do Marcel por achar que ele é quem deve fazer isso... Só que isso pode ter sérias complicações, até mais do que esse momento que a gente ta vivendo agora.
Nesse momento Fátima Dutra entrou no quarto do seu querido menino já chorando e os dois homens a olharam cheios de pena...
_ Ah seu Bernard o que fizeram com o nosso menino? Quem fez isso a essa criança? Eu tava em casa e a Diretora do Colégio ligou e eu tentei falar com o senhor só que seu celular ta fora de área...
_ Calma, Fatima. Tá tudo bem agora. O Marcel sofreu um acidente e vai ficar aqui somente um dia em observação por conta dos traumas que sofreu. Ele ta dormindo.
_ O senhor vai me desculpar seu Bernard... Só vou embora daqui com ele.
Os dois homens aproveitaram que Fatima ficaria ali e seguiram até a cantina do Hospital para poderem conversar. Cada um comprou um café expresso e sentaram frente a frente numa mesa de canto.
_ Bernard por favor me diz quem é esse cara.
_ Seu irmão, Frederico.
Luiz Mario empalideceu na hora. Suas mãos tremeram e ele não conseguia falar nada. Bernard notou a guerra de emoções que passava no rosto do amigo e continuou...
_ Os dois se conheceram em Curitiba há quase três anos atrás. Eu tava terminando a Faculdade de Direito e tinha me isolado do Marcel por conta da vida que levava. Trabalho, estudo e minha vida pessoal. Ele começou a se rebelar e a mudar completamente o comportamento. O estado de saúde do nosso pai foi agravando e ele ficou praticamente isolado dentro de nossa família. Mamãe tava sobrecarregada por conta dos cuidados com meu pai e eu tinha que trabalhar muito pra suprir com boa parte das despesas da casa e as contas médicas do meu pai. As coisas melhoraram um pouco quando eu passei no Concurso Interno e subi de cargo. Nesse emeio tempo Marcel tava totalmente dominado pelo seu irmão e praticamente se tornara um viciado. Ele foi preso algumas vezes em Instituições para menores lá em Curitiba e quando mamãe soube por vizinhos que meu irmão tava se prostituindo pra pagar as dividas que tinha com o seu irmão ela se desesperou e os dois brigavam muito. Marcel confirmou que namorada o tal Ted e que tinha que fazer aquilo porque senão ele perderia o amor dessa desgraçado. Eu nunca soube da orientação sexual do meu irmão até ele me contar a uns meses atrás. Seu irmão o usava como bem queria e meu irmão era pra ele uma ótima fonte de lucro.
Bernard bebeu um gole do café enquanto Luiz Mario brincava com a colher no seu...
_ No dia que minha mãe morreu eu tava na minha festa de colação de grau. Soube que os dois discutiram porque Marcel havia recebido uma ligação do Ted e teria que fazer mais um programa.Mamãe tentou impedir e ele saiu correndo, assim como fez hoje... Ela foi atropelada e morreu em consequência dos traumas que sofreu. Ele ficou muito mal e como num passe de mágica seu irmão sumiu do Paraná e meu irmão voltou novamente a fazer tratamento numa Clínica de recuperação de drogados onde uma ex cunhada, Sabrine Lisac trabalhava. Ele ficou mais forte e aceitou toda a minha ajuda. Ele era apenas um garoto sozinho e assustado. tava confuso e fou usado sordidamente. Ele já sofreu muito Mario. Você não tem noção do quanto que esse garoto já sofreu... Ele inclusive no dia que me contou sobre sua vida foi a primeira pergunta que me fez antes da nossa conversa... Quanto de sofrimento pode um garoto ter? Eu não soube responder na hora e só depois eu sei que a resposta é... Muito. Bernard finalizou falando também sobre a investigação que o namorado e Policial Civil Torquato Neto estava fazendo e que envolvia o irmão de Mario. Ele lembrou do cara que fora procurá-lo há algum tempo atrás e nada disse. Bernard calou-se e esperou alguma ação ou comentário do agora cunhado.
Mario apenas apertou as mãos de Bernard e nada pode dizer porque chorava. Algum tempo depois ele disse ao amigo e cunhado enquanto limpava o rosto...
_ Sinto muito pelo que meu irmão fez ao nosso Molecão. Agora eu preciso sair um pouco e depois eu volto pra ficar a noite com ele. Me liga se algo acontecer e prometo voltar rapidinho. Vocês não estão mais sozinho, amigo. Mario abraçou Bernard e se retirou.
*
*
*
*
*
*
Maria Silvia estava tinha terminado de arrumar a vitrine de sua loja quando um cara louco e assustado entrou em sua loja. Parecia ter acontecido algo com ele e ela temeu até por sua vida.
_ Moço o senhor está bem? E ela recuou pra trás do balcão de sua loja de telefonia celular.
_ Tô sim, moça. Desculpa...É que houve um acidente agora ali na Avenida em frente a essa escola que tem lá e parece que o garoto ficou muito machucado.
Ela então entendeu que ele tava só nervoso por ter visto a cena.
_ Você quer um pouco de água, moço? Perguntou solicita.
Ele aceitou e os dois ficaram conversando por um certo tempo.Na verdade Frederico ficou na loja da moça por quase duas horas. Sempre que a jovem atendia algum cliente que entrava eles paravam a conversa e logo depois retomavam. Frederico então pediu um favor pra moça:
_ Posso ligar pro meu irmão vir me buscar? Você empresta seu celular pra eu fazer a ligação?
Ela notou que ele tava com o celular e já com medo entregou o seu aparelho novinho e ele rapidamente digitou o numero do irmão Luiz Mario enquanto explicava a jovem...
_ O meu ta descarregado. E sorriu um belo sorriso na observação da jovem Maria Silvia.
O telefone chamou no exato momento em que Luiz Mario havia acabado de falar com o Investigador Torquato Neto. O mesmo ficou preocupado com todo o teor da conversa. Ele então atendeu aquele numero desconhecido com certa impaciência...
_ Alô. Limpo e seco.
_ Mario? Sou eu mano.
_ Frederico? Onde você tá? O que houve pra você me ligar de um numero desconhecido?
_ Calma mano. Tô bem. Houve um acidente e eu tô precisando de você.
Ele passou o endereço de onde estava e Luiz Mario prometeu buscá-lo...
_ Chego daqui há uma hora. Me espera aí...
Frederico entregou o aparelho de Maria Silvia e aguardou.
No final do prazo que o irmão havia dito um jovem alto, com cabelos pretos, usando jeans, camiseta e colete além de óculos escuro entrou nas dependências da loja e disse em alto e bom som:
_ Frederico Praxedes Ventura, você tá preso. Outro policial entrou na loja na companhia de Torquato e o algemou. Ao sair da loja ele viu o irmão Luiz Mario na calçada da mesma e sua voz foi tão cortante quanto um talho feito por um bisturi...
_ Espero que dessa vez você apodreça atrás das grades seu maldito miserável.
_ Mas, mano eu...
_ Você tem o direito de permanecer calado... E sua voz foi abafada pela de Torquato que passou a dizer atrasado os seus direitos porque na verdade pra ele, esse verme não tinha direito nenhum.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx...
Meus queridos amigos até logo mais. Um beijo no coração de cada um de vcs. Nando Mota.