Felipe - Guilherme...(eu tentava falar chorando).
Guilherme - O que foi cara? O que aconteceu?
Felipe - pode me bater cara, pode me surrar, pode me aplicar quantos corretivos você quiser... Mas não desiste de mim, por favor cara, eu agora só tenho você. Não desiste de mim! (falava soluçando)
Fui ate o Guilherme que estava sentado com as costas na cabeceira da cama. Dei-lhe um abraço e de inicio ele recusou, mas acabou cedendo. Correspondeu o abraço e fez um cafuné em minha cabeça.
Eu chorava muito.
Guilherme - Eu estou aqui, eu não vou desistir de você, eu estou aqui.
Eu apertei ainda mais o corpo do Guilherme.
Guilherme - deita.
Felipe - eu não posso te perder cara.
Guilherme - tu não vai me perder.
Felipe - Me desculpa as palavras que eu falei. Eu sempre tive que correr atras das coisas, nunca tive tanta proteção, e agora tou com dificuldade de me adaptar.
Guilherme - não se preocupa, Felipe, eu te entendo, você não precisa explicar nada.
Felipe - mas eu quero irmão. Quero que voce saiba pelas coisas que eu passei na vida. A maior parte do tempo fui criado sem pai, sem mãe. Passei minha infância com meu avô, limpando merda de boi, comendo boia fria, nunca soube o que foi ter uma festa de aniversario, estudava em uma escola com cobertura de palha, dormia mal, não tava acostumado com a cidade grande.
Guilherme - Você não vai mais passar por nada disso. Eu tou aqui agora, dorme um pouco.
Eu apenas concordei com a cabeça, e deitei ao lado do Guilherme na cama.
Guilherme - Vou pegar água.
Concordei que sim.
Pouco tempo depois o Guilherme chegou com um copo com água e uma pilula.
Felipe - e essa pilula?
Guilherme - Toma. Vai te deixar relaxado.
Felipe - é pra dormir?
Guilherme - também.
Felipe - eu vou dormir aqui?
Guilherme - Você quer?
Felipe -ahan. (falei tomando a pilula)
Guilherme - Então você pode dormir aqui.
Felipe - Obrigado.
Guilherme - Por nada. (falou Guilherme se levantando)
Felipe - Tu vai pra onde? (falei dando um salto da cama).
Guilherme - Vou pro outro quarto.
Felipe - e eu não posso dormir contigo?
Guilherme - Você quer que eu durma com você?
Apenas balancei a cabeça em conformidade.
Guilherme - Vou só deixar esse copo na cozinha e ja volto.
Felipe - Ta bom.
Voltei a deitar e relaxei na confortável cama do Guilherme. fechei meus olhos e não demorou muito eu ja estava dormindo. Fui acordado pelo barulho que Guilherme fez ao deitar do meu lado.
Guilherme - te acordei?
Felipe - Não. eu tava com sono leve.
Guilherme - Ah sim.
Após Guilherme deitar, voltamos a dormir.
xXX
Acordei pela manhã e resolvi fazer o café que no dia anterior não havia dado certo, e levar para o quarto do Guilherme. Fui ate a padaria, comprei tudo fresquinho, e quando voltei, antes de meter a mão na massa, fui me certificar que o Guilherme estava no quarto.
Quando entrei me deparei com ele deitado da mesma forma que eu havia deixado, a diferença é que agora ele estava com a mão direita dentro do short e não roncava. Fiquei um tempo na porta admirando-o e depois retornei a cozinha.
Preparei o café e levei para o quarto, abri a porta lentamente e coloquei a bandeja encima do criado mudo.
Felipe - Guilherme.
Guilherme acordou prontamente, eu acho que ele não estava dormindo, por isso não roncava (rs).
Guilherme - Oi Felipe. (falou ele espreguiçando).
Felipe - eu... fiz....café pra ti.
Guilherme - Pra mim? (perguntou ele espantado)
Felipe - é... trouxe aqui óh, (falei, apontando para a bandeja) - não sei se tu vai gostar.
Guilherme - Tu que fez, Felipe?
Felipe - ahan... Tu gostou?
Guilherme -Gostei muito, vou querer um todo dia agora. (falou ele rindo)
Felipe - eu faço sem problemas. (rs)
Guilherme - senta aqui, vem comer comigo. (falou ele batendo no colchão da cama).
Felipe - Não, não, é só pra ti mesmo.
Guilherme - sente aqui rapaz. (falou ele com autoridade)
Felipe - tah bom. (falei sentando a seu lado)
Guilherme - Quer começar por onde? (falou ele, colocando a bandeja no colo).
Felipe - Pode ser pelo melão.
Guilherme - Blza. Abre o bocão.
Abri a boca e o Guilherme me serviu.
Guilherme - ae garoto.
Felipe - doce.
Guilherme - o que?
Felipe - o melão, ta bem docinho?
Guilherme - é? (perguntou ele me olhando serio).
Felipe - é pô, prova ae.
Guilherme colocou as mãos para trás da cabeça, e abriu o bocão. Eu entendi que era pra eu servir uma fatia de melão a ele, e assim eu fiz.
Guilherme - porra, docinho mesmo hen!? (falou ele ingerindo o melão).
Felipe - bom neh!?
Guilherme - Muito. Onde você comprou?
Felipe - Mercadinho, la em frente a padaria depois do lago.
Guilherme - ah é!?
Felipe - ahan.
Guilherme - bom demais. Vai um bolinho ae?
Felipe - quero.
Guilherme pegou uma fatia de bolo com as mãos e colocou na entrada da minha boca. Toda vez que eu tentava morde-la ele roubava de mim, ate que eu segurei pela sua mão e devorei o bolo com uma só bocada.
Guilherme - Eita guloso.
De boca cheia, eu apenas sorri.
Tomamos todo o café juntos e depois eu fui pro banho. Assim que saí me arrumei e me despedi de Guilherme.
Guilherme - Esta indo la pra tal oficina?(falou Guilherme sentado no sofá).
Felipe - Vou la ver se o Diogo ainda vai querer meus serviços... Mas se você pedir pra eu sair de la, eu saiu.
Guilherme olhou bem serio pra mim.
Guilherme - eu não sou nada teu, não posso te impor nada.
Aquilo me partiu o coração, mas ele apenas estava relembrando algo que eu ja tinha falado antes.
Felipe - ta bom.(falei cabisbaixo, saindo pela porta).
xXX
Felipe - Bom dia Leo, o Diogo ta pra facu neh!?
Leonardo - Ta sim.
Felipe - de boa, o que tem pra mim fazer hoje?
Leonardo - Na moral, não acho uma boa tu continuar trabalhando aqui.
Felipe - por que?
Leonardo - Depois do que aconteceu ontem, não sei se o Digão ainda vai querer tu por aqui.
Felipe - E por que não? Eu não fiz nada!
Leonardo - Por isso mesmo, ficou encima do muro. Aquele cara socou a cara do Diogo, e isso, ele nunca vai perdoar.
Felipe - Aquilo foi uma briga besta Léo, não tem porque continuar.
Leonardo - Mas vai explicar isso ao Diogo. Ele não pensa assim. (falou Leo entrando embaixo de uma carro).
Felipe - então, é isso? Por causa dessa briga eu tenho que parar de trabalhar?
Leonardo - Tou só falando o que eu penso. Pelo que conheço do Diogo, ele não vai querer tu por aqui, era pra tu ter ficado conosco, e não ter vazado com o inimigo.
Felipe - Não existe inimigo nenhum Léo, mas tudo bem, eu vou só pegar minha mochila e já dou no pé.
Subi ate o escritório e peguei minha mochila.
xXX
Léo - espera ae Felipe. Eu falei com o Diogo por telefone, e ele pediu pra tu esperar ele chegar.
Felipe - pra que?
Leo - Não sei, espera por ele, que tu fica sabendo.
Felipe - Blza. ( entrei na salinha vip e fiquei aguardando pelo Diogo).
xXXX
Depois de muito tempo esperando, Diogo chegou em seu HB-20.
Diogo - Cade ele?
Felipe - Tou aqui. Queria que eu esperasse?
Diogo - Sim. Da uma subida aqui no escritório.
Diogo foi na frente e eu o acompanhei.
Felipe - O que era? (perguntei fechando a porta).
Diogo - senta ae. Ta tenso?
Felipe - Não. Tou tranquilo.
Diogo - Mano, que porra foi aquela? Aquele louco do teu amigo poderia ter me matado.
Felipe - Ele não faria isso, só queria se defender.
Diogo - Com uma arma?
Felipe - E tu também não estava armado?
Diogo - Eu não ia mata-lo, apenas fazer um desenho no rosto dele. (falou Diogo sorrindo).
Felipe - Por que continuar com isso? Deixa aquela briga la na lanchonete, vocês não precisam levar adiante.
Diogo - Eu só quero uma revanche, ele me bateu porque eu estava bêbado.
Felipe - Ele estava fora de si, ficou chateado por tu ter me entregado.
Diogo ficou um pouco pensativo.
Diogo - ele é o que teu?
Felipe - amigo! (falei seco)
Diogo - só amigo?
Felipe - Só. Por que pô?
Diogo - achei que fosse teu irmão.
Felipe - não, apenas amigo mesmo.
Diogo - saquei.
Felipe - e ae, tem como você esquecer aquela noite? Ele nem toca nessa assunto Diogo.
Diogo - esquecer não tem como não, Felipe, mas eu não vou fazer nada. A não ser que ele apareça aqui nas minhas bandas, ae eu vou ter essa maravilha aqui esperando por ele. (Diogo colocou uma arma encima da mesa).
Eu dei uma passada pra trás.
Diogo - ta com medo? kkkkk - relaxa, isso é só pra quem merece. ( Diogo alisava a pistola).
Felipe - Eu já tenho que ir, vim só buscar minha mochila.
Diogo - Como assim já vai? E o trabalho?
Felipe - Eu acho que não rola mais de eu continuar trabalhando aqui depois do que aconteceu.
Diogo - e por que não rolaria?
Felipe - Achei que você fosse ficar com raiva.
Diogo - E por que eu ficaria?
Felipe - sei la, eu sou amigo do Guilherme e vocês não se dão bem, achei que sua raiva fosse refletir em mim.
Diogo - eu sei diferenciar as coisas fe, fica tranquilo.
Felipe - Fe?
Diogo - Não pode?
Felipe - Pode. é que apenas meus amigos la do campo me chamavam assim.
Diogo - Então eu vou ser o primeiro aqui da cidade. (rs)
Felipe - Pois é. (soltei um riso sem graça).
Diogo - então vamos trabalhar neh!?
Felipe - Você esta dizendo então pra eu ficar?
Diogo - Claro.
Felipe - Mas se eu ficar e o Guilherme aparecer por aqui, você pode evitar confusão com ele?
Diogo - rpz Fe, ae eu não posso garantir. Não consigo segurar meu nervosismo.
Felipe - então nao da pra eu ficar, não quero correr o risco de acontecer uma merda.
Diogo pensou um pouco.
Diogo - eu vou tentar, já ameniza um pouco?
Felipe - Já é alguma coisa.(rs)
Diogo - então vamos deixar de enrolar e trabalhar neh!?
Felipe - Bora.
Diogo - Deixa eu guardar tua mochila. (Diogo guardou minha mochila e eu desci para o serviço).
O trabalho foi bem movimentado, e assim que o expediente acabou eu parti pra casa, não queria correr risco de me queimar novamente com o Guilherme.
xXX
Cheguei no apartamento e assim que toquei a campainha o Guilherme veio me atender todo sujo de comida.
Felipe - que é isso mano? (perguntei rindo)
Guilherme - fui comer e acabei errando a boca! (ele falou meio sem jeito).
Felipe - e acertou o corpo todo neh!? kkkk
Guilherme - pois é. E tu ta chegando agora?
Felipe - Tou vindo da oficina, eu continuei no trabalho, mas conversei com o Diogo, e ele garant...
Guilherme - Felipe, Felipe...
Felipe - Oi?
Guilherme - Não quero falar sobre isso. Vai la tomar teu banho pra gente jantar.
Felipe - eu queria primeiro jantar. Tou com muita fome. (falei ja indo pra cozinha).
Guilherme - NÃO! (gritou ele, entrando em minha frente e me assustando).
Felipe - Mas eu estou com fome.
Guilherme -Mas tu ta sujo, Felipe, e ta fedendo a graxa.
Eu cheirei meu corpo e realmente, estava com cheiro de graxa.
Felipe - blza, mas vai ser um banho rápido, depois eu tomo um melhor e mais demorado.
Guilherme -pode demorar o tempo o suficiente ate tirar essa sujeira, tu já é um homem.
Felipe - tão tah! (falei sorrindo)
Acho que o Guilherme estava voltando a se preocupar comigo.
xXX
Sai do banheiro só com um short e uma toalha no ombro. O Guilherme estava deitado no sofá.
Guilherme - já? (perguntou ele levantando a cabeça)
Felipe - Já tomei uns três banhos.(rs)
Guilherme - então vamos comer.
Fui na frente e entrei na cozinha, a luz estava apagada e eu apertei o interruptor.
Assim que as luzes se acenderam eu vi uma tentativa de decoração com balões pendurados pelos móveis da cozinha.
Guilherme - Parabéns pra voce. Nessa data, queria. Muita felicidade. Muitos anos de vida!!! Aeeeee.
Tinha uma mesa com bolo, cheia de doces e algumas velinhas.
Felipe - E isso? (perguntei com os olhos marejados).
Guilherme - Você disse que nunca havia tido uma festa de aniversario, agora você tem.
Eu não consegui responder nada. Comecei a lagrimejar.
Guilherme - Infelizmente teus amigos e familiares não estão aqui, mas eu estou e quero suprir a ausência deles.
Felipe - Obrigado, Guilherme. Eu só tenho a te agradecer irmão.
Guilherme - Eu que agradeço, Felipe.
O abracei e não conseguia conter as lagrimas.
Guilherme - Felipe.
Felipe - Oi?
Guilherme - Quero te fazer um convite.
Felipe - qual? (perguntei, passando o dedo no bolo)
Guilherme - mora aqui comigo?
Felipe - Mas eu ja estou praticamente morando.
Guilherme - Mas eu não quero que seja como hospede, quero que você faça parte da minha família, quero que esta casa também seja sua.
Felipe - Você fala: Morar definitivo? (falei receoso)
Guilherme - Isso.
Felipe - Mas você acha que daria certo?
Guilherme - vamos tentar, o que me diz?
Felipe - eu não vou me fazer de rogado, Guilherme. Sempre sonhei com uma casa dessas, sempre sonhei em um dia ter confortos. Quem não almeja, não é mesmo?
Guilherme - então diz que sim. Diz que sim, Felipe.
Com certeza minha resposta seria sim, mas eu estava tão feliz que perdi a voz.
Guilherme me vendo sorrindo feito um abestado, me abraçou e falou no meu ouvido.
Guilherme - Fica comigo pra sempre... Não me abandona outra vez... Me desculpa, me desculpa! ( e começou a chorar).
Como assim não me abandona outra vez? Me desculpa? será que o Guilherme estava bem? (eu pensei).
Continua...