coloquei minha caixa e mochila atras daquela grande porta e me ia caminhando ao altar também, estava precisando de um milagre pra minha vida.
antes de eu chegar no altar alguém tocou em meu ombro.
Felipe - ta me seguindo, cara?
Miguel – Felipe me deixa te ajudar cara, por favor. Fui pra casa, mas não vou conseguir dormir tranquilo pensando no que eu o fiz. Por favor, deixa eu fazer alguma coisa por você.
Felipe -...
Eu apenas o encarava. Miguel não havia me feito mal, mas tinha omitido ajudar-me.
Miguel – e ae, o que me diz?
Felipe – quero ajuda sua não. Você ta com pena de mim, e eu não quero isso.
Miguel – o que? Pena? (falava Miguel impaciente passando as mãos sobre o rosto). Eu não estou com pena de você, já falei, cometi um erro e quero consertar.
Felipe – e eu já falei que não precisa. Agora volta la pro teu palácio e me deixa em paz.
Miguel – porra de moleque teimoso.
Algumas pessoas nos avistaram e pediam que fizéssemos silencio.
Miguel – já estamos saindo. (Miguel gritou, fazendo com que todos nos olhassem). E ae, podemos?
Felipe – não insista cara, eu não vou com você. Ontem você já me deu guarita, então estamos quites, não tem que fazer mais nada por mim não.
Quando Miguel iria falar alguma coisa, seu celular tocou no bolso da calça social.
Miguel – só um momento, não sai daqui.
Miguel se retirou da igreja para poder falar ao telefone mais a vontade, eu aproveitei esse momento sozinho, fui atrás da porta peguei meus pertences e sai apressadamente pelo lado contrário. Miguel falava distraidamente no aparelho celular e quando eu me distanciei o suficiente corri, queria chegar a um lugar movimentado, pois àquela hora da noite era comum ter assaltos.
Parei próximo a um posto de gasolina, e sentei um pouco pra tomar um ar. o cachorro quente já não estava mais fazendo efeito, queria comer algo, tinha que comer algo. Passei a mão no bolso e ainda tinha mais de vinte reais, havia uma lanchonete na conveniência daquele posto e eu resolvi ir ate lá.
Assim que passei pela porta já gostei do lugar. Bem climatizado, pessoas bonitas, eu só acho que estava faltando mesas, estava tão cheio que eu não estava encontrando lugar para sentar. Ainda em pé com a mochila nas mãos e a caixa de engraxate nas costas, uma moça veio me atender.
- boa noite senhor.
Felipe – boa noite, linda.
- posso lhe ajudar?
Felipe – pode sim. Eu queria comer alguma coisa, mas não estou encontrando um lugar para sentar.
- olha, as mesas estão todas ocupadas, mas tem o balcão. O senhor se importa?
Felipe – me importo não, pode ser.
A atendente sempre muito simpática me acompanhou ate o balcão, coloquei meus pertences no chão e sentei naquela cadeira giratória e colorida.
- aqui o menu – a moça me entregou o cardápio, sorrindo.
Felipe – obrigado, moca! Retribui o sorriso.
Olhei o cardápio, item por item, varias e varias vezes, e não estava encontrando nada que coubesse em meu bolso.
Levantei a mao e chamei a atendente.
- pois não. Já escolheu?
Felipe – tem algum sanduiche que não esteja aqui no cardápio?
- não senhor, somente os que estão no cardápio.
Felipe – deixa eu te perguntar: não tem como fazer um misto quente pra mim?
A moça me olhou meio incrédula.
- não gostou das nossas opções?
Felipe – ate que gostei, mas é que hoje estou desprevenido. (falei puxando o bolso para fora e mostrando a atendente).
- entendo. (falou a moça sorrindo) – e quanto você tem ae?
Felipe – eu tenho mais de vinte, mas só posso gastar dez.
A moça sorriu – tive uma ideia, espera só um pouco que vou ver o que eu posso fazer.
Felipe – espero sim. (a moça se retirou e eu repousei meus braços sobre aquele balcão).
Em menos de cinco minutos a moça retornou acompanhada de um rapaz.
- é ele aqui. (disse a moça apontando para mim).
- boa noite, amigo. (disse o rapaz me cumprimentando).
Dei um pulo da cadeira e o cumprimentei – boa noite.
- você pode me acompanhar, por favor? (perguntou o rapaz)
Felipe – ah, esquece. Caiu nessa mais não. (falei ajuntando minhas coisas que estavam no chão).
- como disse?
Felipe – você vai querer me revistar, acha que eu quero assaltar alguém daqui. (voltei a colocar minhas coisas no chão e levantei minhas mãos para o alto) – tou nem armado, nem nada.
- isso não passou pela minha cabeça. A Marina disse que você queria comer, mas estava desprevenido. Pensei em lhe fazer uma proposta.
Felipe – que proposta?
- se importa de me acompanhar, para conversarmos melhor?
Felipe – não vai querer me revistar, nem me bater?
- claro que não. (rs)
Felipe – tudo bem, mas minhas coisas vão comigo.
- pode ser. (rs)
Acompanhei o rapaz ate a parte de trás, subimos uma escada e chegamos a uma sala com a porta de xadrez.
Entre. Fica e a vontade. (disse o rapaz, me indicando uma poltrona em frente a uma mesa)
-E ae, como é seu nome? (perguntou o rapaz)
Felipe – Felipe.
- o meu é, Gustavo. Felipe, o que você faz da vida?
Felipe – como assim?
Gustavo – profissão?
Felipe – ah, eu não tenho nenhuma não. De onde venho trabalhava na fazenda, aqui na cidade tou tentando ser engraxate.
Gustavo. Muito bem. E o que você fazia na fazenda?
Felipe-de tudo. Ordenhava as vacas, dava comida pros bichos, trabalhava a terra, tomava conta da granja.
Gustavo – parecia ser muito serviço.
Felipe – bastante. Mas por que o senhor esta perguntando isso?
Gustavo – Felipe, estamos recrutando funcionários aqui pra lanchonete, mas eu não poderia lhe pagar o tanto que você ganhava na fazenda.
Felipe – mas o senhor não sabe nem o quanto eu ganhava la.
Gustavo – pela sua função, você deveria de ganhar bem.
Felipe – o senhor diz quanto pode me pagar ae eu digo se era mais ou menos.
Gustavo – o que eu posso lhe ofereço é isso. (Gustavo pegou um papel em branco e começou a rabiscar) – salario mínimo + vale transporte + adicional noturno + cartão alimentício.
Quando ele falou salario minimo meus olhos brilharam.
Felipe – eu aceito, você quer?
Gustavo – kkkk. O salario o agradou?
Felipe – bastante.
Gustavo – então você vai fazer o seguinte. Eu vou pedir pra secretaria te trazer uma ficha pra você preencher e depois entraremos em contato.
Felipe – então não é certeza de o senhor me contratar?
Gustavo – primeiro preciso conhecer um pouco sobre você, para posteriormente avaliar e decidir sobre a contração.
Felipe – poxa, o senhor havia me deixado todo animado.
Gustavo – mas não estou te desanimando, a ficha é um processo rotineiro, com todos são assim. Mas se agente gostar de você, entramos em contato.
Felipe – em contato como, que nem telefone eu tenho?
Gustavo – pode ser de algum amigo, ou parente. Pode ser pai, mãe. Alguém que possa lhe transmitir algum recado.
Felipe – tenho nada disso não.
Gustavo – ninguém tem telefone na sua família.
Felipe – nem telefone, e nem família.
Gustavo – você não tem família?
Felipe – não, Gustavo. Moro sozinho.
Gustavo ficou um tempo pensando.
Felipe – me da essa força. O senhor vai ver que sou trabalhador.
Gustavo continuou a pensar.
Gustavo – façamos o seguinte, vou te deixar uma semana na experiência, se você me agradar, eu assino sua carteira.
Felipe – o senhor não vai se arrepender. Quando eu posso começar?
Gustavo – amanha mesmo.
Felipe – que horas?
Gustavo – esteja aqui as 16 h.
Felipe – as 16 h estarei aqui. Tem que ter farda?
Gustavo – com isso não se preocupe, que vou providenciar. Quero que você corte as unhas e o cabelo, você ira trabalhar diretamente com clientes, Felipe, tem que estar bem apresentado.
Felipe – pode deixar, vou estar irreconhecível. (falei sorrindo)
Levantei-me, e agradeci ao Gustavo.
Assim que desci as escadas a mesma atendente que havia me atendido estava a minha espera.
Felipe – puxa, obrigado. Foi você quem falou com ele neh!?
Atendente – foi sim. Gostou? (perguntou ela)
Felipe – claro, tava precisando de emprego. Ele vai me deixar uma semana na experiência e se eu mostrar serviço, ele disse que assina minha carteira.
Atendente – então se esforce viu. Aqui é todo tempo assim como você esta vendo. Lotadooooo.
Felipe – vou fazer o meu melhor. (falei sorrindo)
Atendente – oh, isso aqui é pra você.
Felipe – assim, tou tão feliz que a fome ate passou. (rs)
Atendente – eu imagino.(rs) – como se chama mesmo?
Felipe – felipe, e voce?
Atendente-Marina, prazer viu!?
Felipe – prazer é meu, Marina.
Marina – Bem, eu vou trabalhar, se não você é contratado e eu vou pra rua.
Felipe – kkkk, vai la.
Marina voltou a atender as mesas e eu sentei no balcão para comer minha refeição. Terminei de comer, paguei e me retirei da lanchonete. Assim que sai dali, voltei a olhar para dentro da lanchonete, a partir de amanha aqui será o meu emprego, meu primeiro emprego de carteira assinada.
xXX
No dia seguinte acordei disposto, levantei-me lentamente e me espreguicei. Passei as maos no bolso e ainda tinha mais de dez reais, tinha que faturar o suficiente que desse para almoçar, cortar os cabelos e comprar um corta unhas.
Conversei com o leke dono do caixote e expliquei que hoje seria meu ultimo dia ali.
- vish cara, ta curtindo não?
Felipe – não tenho mais idade pra isso mano, já tenho 18 anos.
- tou ligado. Então vai devolver o caixote hoje mesmo?
Felipe – sim, na hora do almoço. Só que hoje eu não vou ficar por aqui não, vou dar uma volta.
- tem rolo não. Na hora do almoço agente se ver pra acertar. Que você fature muito hoje.
Felipe – Deus te ouça.
Coloquei minha caixa nas costas, a mochila debaixo do braço e segui viagem. Passei pela fonte, aparei um pouco de agua, lavei meu rosto, e fiz um gargarejo.
- ei rapaz.
Virei e vi o Guilherme.
Felipe – oi.
Guilherme – e ae. Tudo bem? (perguntou ele me cumprimentando)
Felipe – tudo sim, e contigo?
Guilherme – ótimo. (fez uma pausa e continuou) – cara, que coisa louca ontem hen!?
Felipe – ta falando do que aconteceu la na empresa de vocês?
Guilherme – isso. Nunca havia acontecido nada daquilo não. Se você quiser, pode ate abrir um processo contra o Pedrão.
Felipe – O segurança?
Guilherme – isso.
Felipe – quero não. Já passou!
Guilherme – bem, você quem sabe.
Felipe – eu vou subir. Hoje vou dar umas voltas ver se rende mais.
Guilherme – ta afim de engraxar meus sapatos?
Felipe – pode ser amigo, desde que não seja na empresa de vocês.
Guilherme – tou indo tomar café, você se importa de engraxar la?
Felipe – e onde é isso?
Guilherme – café central!
Felipe – eita, lá é cheio de frescuras, será que eles vão deixar engraxar lá dentro?
Guilherme – vão ter que deixar, sou cliente há anos.
Felipe – por mim tudo bem.
Guilherme – então ótimo.
O café central ficava praticamente em frente à praça. Creio que todo mundo que trabalhava naquelas proximidades tomava café lá.
xXX
- bom dia – disse o atendente ao Guilherme.
Guilherme – bom dia.
- a mesa de sempre senhor?
Guilherme – isso.
O atendente acompanhou o Guilherme ate uma mesa reservada e quando me viu tentou me tirar daquele local.
- ei. Aqui dentro não pode não tah!?
Guilherme – ele esta comigo. (Guilherme respondeu antes de eu abrir a boca)
- desculpe senhor, mesa para dois então?
Guilherme – obviamente que sim.
Eu estava me sentindo um pombo com o peito estufado.
Chegamos ate uma mesa afastada das demais, Guilherme sentou e fez o seu pedido, em seguida passou o cardápio para mim.
Felipe – ah não, não. Não quero nada não.
Guilherme – você é meu convidado.
Felipe – sendo assim, então vou experimentar algumas coisas.
Após o café eu estava cheio, minha vontade era de deitar e não trabalhar.
Felipe – posso começar, Guilherme?
Guilherme – a hora que voce quiser.
Sentei no caixote e comecei o serviço nos sapatos do Guilherme.
Estava tudo tranquilo ate que por um descuido o Guilherme derrubou chocolate quente em cima de mim.
Felipe – ai,ai,ai. (eu gemia de dor devido à quentura)
Guilherme – desculpa garoto, não foi minha intenção. Machucou?
Felipe – ta queimando. Aonde é o banheiro daqui? (Guilherme me ensinou como chegar ao banheiro e eu fui molhar meu peito, o chocolate havia atravessado o fino tecido da blusa e estava ardendo).
Chegando ao banheiro, tirei a blusa e comecei a lavar meu peito e barriga. Do nada Guilherme que antes havia ficado na mesa, agora estava atrás de mim.
Gilherme – deixa eu ver com esta isso ae.
Virei pra ele que analisou meu estado.
Guilherme – nossa. (Guilherme fez cara de dor) –já ta criando bolhas?
Felipe – pois é.
Guilherme – O garçom disse que isso é bom. Você quer tentar passar, ver se alivia? (falava Guilherme com um creme dental nas mãos).
Felipe – pode ser.
Guilherme pegou um lance de papel toalha, enxugou meu peito, e em seguida abriu o creme dental, despejou uma pequena quantidade na mão e começou a fazer movimentos de massagem onde eu havia sofrido a queimadura.
Guilherme – e ae, sente algum alivio? (perguntou Guilherme me encarando)
Felipe – sinto. Tuas mãos são macias. (falei com um sorriso no rosto e os olhos fechados).
Guilherme – como é que é?
Meu sorriso se desfez.
Continua...