Muito obrigado pelos comentários e por lerem. Eu estou meio gripado... :( , mas não vou demorar a postar. Até pq, estou acamado e me distraio quando escrevo pra vocês. Até o próximo e bjs... :)
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Logo pela manhã, quando cheguei na oficina, vi o Matheus já na porta. Ele estava conversando com os funcionários e quando me viu descer do carro, sorriu. Dei bom dia a todos e abri as portas. A Simone estava chegando e chamou o Matheus para iniciar seu treinamento. Fui até o estoque pegar o relatório com tudo que estava faltando, para fazer os pedidos.
Pela manhã, tudo transcorreu normalmente e era hora do almoço. Lembrei que o Matheus disse que estava sem dinheiro e pedi a Simone que o chamasse até minha sala. Ele entrou e se sentou, perguntei se tinha dinheiro pro almoço e disse que não.
— tem um restaurante aqui na esquina, é de uma amiga minha. Vou ligar pra ela e avisar que está indo almoçar lá, é por minha conta.
— obrigado, de verdade. O senhor não vai almoçar?
— vou sim, só preciso fazer umas ligações. Daqui a pouco desço lá.
Assim que ele saiu, liguei pra minha amiga e disse que o Matheus estava indo almoçar. Pedi também que servisse refrigente e a sobremesa a ele. Termibei o que tinha pra fazer e fui almoçar.
Entrei e fui servir meu almoço. O restaurante estava lotado e vi o Matheus sentado, sozinho. Fui até sua mesa e perguntei se podia me sentar. Ele me olhou, sorriu e puxou uma cadeira. Agradeci e me sentei.
— poxa, Seu Ricardo, não precisava ter pedido pra Talia me servir tanta coisa.
— imagina, garoto.
— o senhor está sendo muito gentil, obrigado.
— não precisa me agradecer. Outra coisa, como está indo com a Simone?
— ah, eu acho que estou indo bem. Ela pediu que e recepcionasse os clientes hoje de manhã e ela disse que fui melhor que todos os entrevistados até agora.
— fico feliz que esteja dando certo. Sabe Matheus, você me disse que estava sem lugar pra morar...
_ sim, eu disse ao meu amigo que se desse certo eu trabalhar pro senhor, sairia da casa dele o mais breve possível.
— eu vou ver se consigo te ajudar. Uma kitnete, talvez.
— não se preocupa com isso não, o senhor já está fazendo mais o que deveria.
— bom, depois vemos isso. Eu acabei meu almoço, se você quiser descansar, tem uma saleta na empresa, pode ficar lá até o horário de almoço acabar. Eu preciso ir ao centro pegar umas peças na transportadora. — ele ficou meio pensativo.
— o senhor não precisa de ajuda? Eu não consigo dormir de dia, passo ir contigo buscar essas peças.
— se você quiser...por mim, tudo bem.
Paguei o almoço e fomos direto pra transportadora. No caminho, meu celular tocou e parei o carro numa vaga pra atender. Era da imobiliária, meu locatário acabara de deixar uma das kitnetes e entregar as chaves. Perguntei se estava bagunçado e disseram que tinham deixado tudo limpo. Na hora, não me veio outra coisa na cabeça a não ser, ajudar o Matheus. Ele estava ali comigo, de cabeça baixa, mexendo no celular e me vi naquele rapaz. Pedi que não anunciasse que a kitnete estava vaga, pois já tinha quem alugasse. Disse que passaria pegar as chaves no final do dia.
Chegamos e ele me ajudou a colocar as peças na caminhonete. Ele estava mais falante e tinha se animado um pouco. Já tinhamos arrumado tudo e a Simone me ligou. Disse que o Matheus ainda não tinha voltado do horário do almoço e estava preocupada. Avisei que ele estava comigo e que já estávamos voltando. Entramos na caminhonete e ele peguntou se eu não tinha família.
— porque essa pegunta agora?
— me desculpe, mas o senhor tem um jeito meio triste. Ontem, quando te contei me história, o senhor me abraçou de um jeito....sei lá, parece que já viveu momentos não muito bons. Sabe, foi o primeiro abraço que recebi desde que saí de casa.
— bom, primeiro: pare de me chamar de senhor e segundo: a minha história è igual a tua. Nem sei porque estou te falando isso...
Ficamos em silêncio e percebi que ele queria muito conversar. Nunca fui de falar da minha vida pessoal com funcionários, exceto a Simone, pois a tinha como uma irmã, mas o Matheus reviveu uma parte de minha vida que eu queria esquecer pra sempre, mas saber que ele estava numa situação parecida com a minha, senti uma certa afinidade.
— Ricardo, você passou a rotatória... — ele disse e eu estava tão distante, que errei o caminho.
— nossa, me deu um branco..
— acontece. Como era pra você ser gay na minha idade? — fiquei sem graça, mas sorri.
— pior que os dias de hoje, pode apostar. Se bem que eu tenho a impressão de que o tempo passa e tudo continua igual. Uns tem sorte e outros não.
— não tivemos tanta sorte, mas eu me sinto aliviado, livre. Não estou como queria, mas posso ser eu mesmo, agora. Você pensou assim também?
— pensei sim. Esse era meu único conforto e continua sendo até hoje. Você não tem nenhum parente aqui na cidade?
— tenho, mas minha família é muito tradicional, infelizmente.
— entendo. Matheus, depois do expediente, vá até minha sala, tudo bem?
— tudo bem.
Chegamos na oficina e a Simone estava desesperada com a quantia de carros que tinha chegado. Disse ao Matheus que fosse ajudá-la e ele imediatamente foi atender os clientes. Pedi ao Gilberto, meu estoquista, que descarregasse a caminhonete e organizasse tudo. Fui pra minha sala e organizava umas contas, quando a Simone entrou e se sentou, afoita.
— que foi mulher?
— nunca vi tanta gente. Inventaram de vir tudo de uma vez. Vou falar heim, sorte o Matheus estar aqui, senão, eu teria saído correndo.
— como ele está se saindo?
— nem parece que é o primeiro dia dele. O rapaz tem uma cabeça boa, não se distrai e é ótimo em aceitar criticas, do jeito que você adora.
— hahaha, quem ouve você falar assim, vão pensar que vivo criticando meus funcionários...
— mas é serio, essa semana eu te digo se ele fica ou não, mas pode pedir pra ele trazer a carteira de trabalho...
— tomara viu, sem você isso aqui seria um caos. Eu quero muito que ele dê conta do serviço, preciso de uma pessoa responsável.
— se depender de mim, antes mesmo de eu ir embora, ele vai estar a par de tudo. Só mais uma coisa, preciso que assine esses pedidos...
Assinei o que ela queria e fiquei na internet vendo alguns imóveis nos anúncios. Estava quase na hora de encerrar o expediente e o Matheus bateu, peguntando se podia entrar e disse que sim. Ele se sentou e pediu desculpas por ter me feito tantas perguntas. Disse que não me importei e perguntei se ele poderia me acompanhar até as minhas kitnets, pois eu precisava dar uma vistoriada no lugar.
— você quer que eu te ajude a levar alguma coisa?
— não, só queria uma companhia mesmo. A não ser que tenha compromisso?
— eu? Imagina, não tenho nada pra fazer. Vou contigo sim, bom pra espairecer as ideias e eu gostei de conversar com o senhor.
— ah, que bom. Também gostei muito de conversar contigo, hoje. Vamos?
— claro!
Fomos pro meu carro e começamos a conversar mais espontâneamente. Ele me falava de seus sonhos e que queria poder terminar a faculdade de Ciências Contábeis. Ele realmente gostava de cálculos e sinceramente, eu detestava.
Comentei sobre minhas péssimas notas em matemática e ele começou a rir.
— eu não acredito que você era ruim em alguma matéria...
— era. Sabe do que eu mais gostava?
— educação física, aposto.
— hahaha, nem consegui fazer mistério, poxa.
— Ahh, mas nem precisa. Da pra ver que você gosta. Você tem jeito que gosta de praticar esportes. Eu sou meio preguiçoso, mas tenho a sorte de ter um ótimo metabolismo.
— diferente de mim. Se eu comer agora, acho que só termino de digerir amanhã. Eu era bem gordinho...
— aí resolveu praticar esportes?
— sim, corria todos os dias. Ainda corro perto de casa. Tem uma praça incrível onde eu moro e vou lá pra espairecer também.
— e correr...
— e correr. Chegamos!
Levei ele pra conhecer as Kitnetes e vi que se seus olhos brilharam. Tirei as chaves do meu bolso e entramos na que estava vazia. Ele olhava, olhava e perguntou quanto era o aluguel. Fiquei meio sem jeito de dizer e mudei de assunto, lhe mostrando a lavanderia. Queria fazer uma surpresa e ele perguntou mais uma vez.
— sabe Matheus, quando ganhamos algo, geralmente não perguntamos o valor.
— como assim?
— eu estou te oferendo a kitnet, quero que venha morar aqui.
— sério? Não... eu não posso aceitar. Nem tenho como te pagar agora.
— não precisa me pegar. Quero que fique aqui o tempo que precisar e se alguém perguntar se você alugou, diz que sim.
O Matheus era um rapaz muito sensível. Com lágrimas nos olhos, veio se aproximando.
— Ricardo, posso te pedir um abraço?
— claro.
Sinceramente, nunca estive tão disponível em receber um abraço; era sincero, e me apertou forte. Sei lá o quê acabara de ascender dentro de mim e nunca senti tanta gratidão por parte de alguém.
— muito obrigado, mesmo. O que eu posso fazer pra agradecer tanta ajuda? Pode pedir.
— não exagera. Eu não quero nada em troca. Esse abraço, já agradeceu o suficiente.
— você é um grande homem. Quando eu puder, vou te pagando aos poucos. Prometo!
— eu quero que você recomesse sua vida. Quero que continue sendo quem você é.
— não se preocuepe. Eu sou responsável, não vou te decepcionar.
— não é comigo que tem que se preocupar em decepcionar, é com você mesmo. E se algum dia precisar de ajuda, não importa a hora, me liga. Eu vou pedir pra Simone ir contigo comprar uns móveis, compre o que for preciso.
— não precisa fazer tudo isso, minha nossa, você existe.
— existo sim, rapaz. — assanhei seu cabelo e ver ele tão feliz, fez meu dia valer a pena.
Lavei ele pra casa do amigo e quando cheguei, me cortou o coração. Eram muito pobres e adiante um dinheiro pro Matheus poder ajudar. Ele não queria aceitar, mas insisti. Antes de eu dar a partida no carro, ele voltou correndo e bateu no vidro. Abri e perguntei se ele tinha esquecido alguma coisa.
— seu número, como vou te ligar se você não me passou?
— verdade, anota ai.
Ele anotou e nos despedimos com um aperto de mãos. Fui pra casa e comi qualquer coisa. Tomei um banho demorado e fui pra cama ler um pouco. Estava concentrado na leitura e imaginando como seria o final do livro, tenho essa mania de tentar adivinhar o final enquanto estou lendo e a vontade que tenho e de partir logo pra última página. Estava eu, imaginando vários supostos finais pro meu livro e meu celular vibrou. Era uma mensagem.
Ele:
" oi, é o Matheus, dei metade do dinheiro pra mãe do Luís, ela ficou tão feliz e coloquei crédito no celular pra te desejar uma ótima noite de sono. Sei que não são horas de mandar mensagens, deve estar descansando, mas quero te agradecer por tudo que está fazendo por um cara que você nem conhece direito. Nunca, jamais, esquecerei tamanha generosidade".
Terminei de ler a àquela luizinha se ascendeu novamente. Respondi.
Eu:
" olá, ainda estou acordado e lendo, mas tenho a manina horrível de inventar finais para as minhas personagens e me perco na leitura. Ah, não me agradeça mais, é sério. É de coração".
Passou uns cinco minutos e ele respondeu.
Ele:
" adoro ler. Eu também fico imaginando o final e da vontade de ir lá pra última página. Tudo bem, não agradeço mais, mas obrigado.... hahaha, não consigo.
Comecei a rir sozinho...
Eu:
" hahaha, ta bom...não te peço mais, aí você esquece. O que você fica fazendo aí?
Ele:
" ah, eu ajudo a mãe a arrumar a casa e agora, estou aqui aqui na calçada, sentado num banco de pedra, tocando mensagens contigo... (não é mais pra chamar de senhor, também né?"
Eu:
" hahaha, não! Quer fazer alguma coisa sábado a noite? Posso te levar naquela praça que tem aqui no meu bairro. Aceita esse simples convite?"
Ele:
" hummmmmmmmmmmmmmmm.... deixa eu pensarACEITO!!" :D
Eu:
" ahhh, que bom te ver sorrindo. Vou dormir, boa noite e até amanhã.
Ele:
" boa noite! Durma bem.
Eu:
" você também!!"
Fechei meu livro e fui até cozinha beber um copo de suco.Quando abri a geladeira, notei que estava com um sorriso bobo no rosto e fazia tempo que ninguém me fazia sorrir à toa. Meu último relacionamento não foi assim, lá aquelas coisas. Ele resolveu ir embora de uma hora pra outra e disse apenas que precisava descobrir quem ele era de verdade. Me senti um inútil em um relacionamento de três anos. Saber que eu não fui capaz de ajudar a alguém a se conhecer, me deixou frustrado. Foi como se eu tivesse perdido três anos da minha vida.
De manhã, cheguei antes de todos e já havia aberto a oficina. Assim que a Simone chegou, a chamei e pedi que levasse o Matheus em uma loja de móveis, depois do almoço. Ela ficou me olhando e deu um leve sorriso.
— que foi, está sorrindo de canto assim, porque?
— nada. Só acho que alguém encontrou motivos pra sorrir de novo. Você sempre disse que queria encontrar alguém que fosse digno de caridade.
— não fale caridade, ajuda. Estou ajuda do o Matheus, a-ju-dan-do, entendeu? Como ele está se saindo?
— então, ia te falar sobre isso. Pode contratar. Nem precisa de três meses pra saber que ele vai dar conta. Ele é esperto, até parece eu, quando tenho que lidar com os clientes abusados. Ele tem lábia, é um conquistador, acho bom você tomar cuidado com a parte do conquistador. — ela disse e deu uma piscadinha.
— hum, deixa de bobeira e vá trabalhar. Isso que dá quando te dou muito moral. E pára de m chamar de senhor!
— hahaha, você fala a mesma coisa à seia anos. Mas eu não lhe escuto, mesmo....
— estou percebendo.
Ela saiu rindo e eu precisava fazer uns depósitos. Fui até o caixa e o Matheus estava atendendo um cliente. Estava sério, concentrado. Fiquei meio de canto, esperando ele atender e quando o cliente saiu da frente e ele me viu, fui recebido por um largo sorriso. Fiquei olhando pra ele e devolvi o sorriso. Disse que precisava do malote e ele já tinha deixado separado. Perguntou porque eu não tinha um boy que fizesse o serviço e disse preferia eu mesmo fazer o serviço de banco. Perguntou se eu queria mais alguma coisa e disse que não, mas que ele iria com a Simone comprar os móveis, depois do almoço.
— posso te dar um abraço? — eu já esperava pelo pedido.
— claro.
Abri os braços e ele escorou a cabeça no meu ombro. Me abaixei um pouco para poder ficar na sua altura e a luizinha ascendeu novamente. Não sei se era ele ou eu, que não queria sair daquele confortante abraço, mas ficamos abraçados por alguns longos segundos.
— só o abraço e não diga mais nada. — disse e fomos nos soltando as poucos.
— não falarei aquela palavrinha que começa com "o", fica tranquilo.
— rsrs, bom mesmo. — disse e bati as mãos no bolso, procurando a chave da caminhonete.
— perdeu as chaves?
— não, deve estar na minha sala. Vou lá pegar. — fui saindo e ele gritou.
— Ricardo, está esquecendo o malote...
— verdade!
Fui pagar umas contas e depositar o dinheiro. Fiquei andando pelo centro e passei em uma livraria. Comprei um livro, O Segundo Travesseiro, do Moá Sipriano. Disse a moça que era presente e ela delicadamente o embrulhou. Pensei em dar ao Matheus quando chegasse, mas resolvi esperar até sábado.
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Continua...