É muito engraçado esse negócio do gay só ser gay depois que se assume perante a sociedade.
Chega a ser ridículo, as pessoas comentarem sobre sua condição de vida, seus gostos, seus modos, e questionarem entre elas próprias, sobre sua sexualidade.
Será que ele é?
É triste e muito complexo esse tipo de situação que você é obrigado a viver ou conviver.
Pôr que, não, aceitar a pessoa da maneira dela, sem precisar se perguntar qual a sua opção sexual? É difícil?
E foi exatamente esse tipo de situação que me fez dar um passo para trás em meu relacionamento com o William.
No domingo estávamos tomando o café e eu contei que tinha me recordado sobre a surra que havia tomado do meu pai, o medo que eu sentia só de olhar para o lado do Dr. Roberto (meu pai).
Eu não ia conseguir abrir o jogo com todos na minha casa, não saberia qual a reação dos meus pais e do Gabriel com o Jean.
A única pessoa com quem eu poderia contar e me abrir de verdade, sem medo ou receio, era minha irmã Sara e talvez a Luma que já tinha uma cabeça muito bem formada.
Ainda era um pouco cedo para assumir qualquer responsabilidade perante minha família e apesar de me sentir completo ao lado do William.
Eu acabei me fazendo uma pergunta:
- Por que eu não me assumi ainda? Porque eu estava vivendo um romance de aparências com uma garota que só queria meu dinheiro?
Por quê, meus pais aceitariam que ela entrasse para nossa família para ganhar com um casamento falso? Se eu aceitei entrar no jogo? Sendo que eu deveria estar sabendo de toda a tramóia dela.
Eu precisava entender todos esses "porquês", para depois abrir o peito e gritar aos quatro ventos que era do William que eu gostava e queria seguir minha vida ao lado dele.
Eu não falei nada com o William sobre meus medos e anseios.
Inventei uma dor de cabeça; que estava cansado e precisava de um tempo para colocar os pensamentos no lugar.
Passei o restante do domingo sozinho, minha irmã ligou a tarde para avisar que voltariam apenas na segunda pela manhã. Eu gostaria que ela estivesse alí do meu lado, para me dar um rumo e me ajudar com minhas aflições.
Umas nove da noite o William me ligou para saber se estava tudo bem, se eu precisava de alguma coisa, se queria que ele fosse dormir comigo.
Ele era simplesmente fofo, adorável, preocupado comigo e eu era um idiota medroso que tinha receio de dar outro passo, por medo do patriarca da família.
Comecei a pensar no filho, na Carol e me perdi nos próprios questionamentos. Peguei no sono e algumas recordações tomaram forma em meu sonho:
De repente eu estava no escritório ouvindo palavras de amor e irritação saindo da boca do William.
Não estávamos sozinhos naquela sala, mas o calor do momento fez com que nehum de nós dois nôs preocupassemos em trancar a porta da sala.
Ele gritava tão alto enquanto chorava.
- Eu amo você Henrique! Eu faço tudo pra você, te assumo. Você não a ama, não jogue sua vida fora!
Eu: Preciso fazer isso William, preciso dar um rumo pra minha vida. Ter uma família, parar com essas loucuras de sair com todo mundo.
William: Henrique! Você vai ser infeliz, vai fazer essa garota infeliz. O único que vai ficar bem com toda essa merda é seu pai que insiste nesse relacionamento de aparências entre você e a Carol. Ela não te ama e outra, todos nós sabemos que ele pagou aquela biscate para ela te transformar em algo que você não é.
Eu: William, não diga coisas sem sentido, você é meu melhor amigo, te amo como a um irmão. Aliás, você é muito mais que um irmão pra mim, mas, não posso fazer isso.
William: Henrique, eu tenho grana, temos um negócio juntos, você não precisa da grana dos seus pais. Conheço seus gostos, seus defeitos, podemos viver bem juntos, eu vou te fazer feliz! Estou aqui na sua frente implorando para que não faça um idiotice dessas. Pedir a Carol em casamento na festa da Sara. Você só vai estragar o grande dia da sua irmã.
Eu: Já tomei minha decisão e não vou voltar a trás.
Peguei minha pasta e meu notebook e sai em direção a porta.
Ele ficou me olhando enquanto eu saia da sala.
- Você não a ama Hick, não faça isso com você, não estrague sua vida!
Ouvi ele dizer aquelas palavras enquanto saía e meu coração acelerou, me bateu uma angústia e um desejo de voltar, e, dessa vez eu me declarar a ele.
Mas a teimosia era minha cina, eu não voltaria atrás na minha decisão e entrei no carro. A Carol me deu um beijo e se afastou um pouco para que eu sentasse.
- Faz tempo que estão aqui me esperando?
O Zé ia pronunciar alguma coisa, mas a Carol se prontificou a falar antes e ele ficou quieto.
- Não meu amor, nós chegamos não tem dois minutos.
No caminho até minha casa ela não disse nenhuma palavra, me deu um beijo e encostou a cabeça no banco olhando para o horizonte.
Cheguei em casa e todos já estavam na igreja, eu ainda tinha uns minutos antes da noiva rsrs, ou chegaria mais atrasado que ela. "Sara me mataria"!
Tomei um banho rápido e coloquei a roupa que estava em cima da minha cama, que minha mãe havia reservado para a ocasião. Todos nós usaríamos o mesmo modelo de smoking preto, camisa branca, gravata preta, colete e sapato oxford preto.
Desci as escadas correndo e entrei no carro dizendo:
- Zé mete o pé que se eu chegar lá depois da noiva ela me mata rsrs.
Ele ligou o carro e saiu em direção a igreja.
- Ta tudo bem Carol?
Ela: Não sei, está? Está tudo bem Henrique?
Eu: Ual, foi só uma pergunta, não precisa ficar brava.
Ela: Estou bonita Henrique? Sou bonita pra você? Você nem sequer repara na minha presença, não me olha, não me elogia, não me abraça, não segura minha mão e nem diz se me ama ou não. E aí, eu estou bonita pra você?
Eu olhei para aquele rosto fino, liso, delicado, lindo e aqueles cabelos lisos compridos e dourados. Ela estava linda, mas de fato eu não havia reparado em nada.
Eu: Você está linda meu amor.
Ela: Eu ouvi toda a sua conversa com o William. Então quer dizer que vocês são dois gays que escondem suas putarias nas dependências daquele escritório? Lá é um escritório mesmo ou um motel que você leva seus amantes? Como pôde fazer isso Henrique? Você é um mentiroso desgraçado que aceitou namorar comigo para poder sair com todo mundo sem que os outros desconfiassem.
Eu me calei e só ouvi tudo que ela dizia, não poderia fingir ou tentar mentir sobre algo tão sério.
Carol: Eu tenho nojo de olhar pra essa sua cara seu viado, é isso que você é! Um viado que prefere sair com homens a me tratar como sua namorada. Seus pais saberão disso, eu mesma vou contar a eles. Era esse o medo do Roberto quando me pediu para entrar na sua vida. Ele não queria ter um filho assim, isso seria uma vergonha para todos. Aí eu assisto toda a declaração de amor que o William fez a você. Minha vontade era te bater Henrique.
Eu comecei a chorar enquanto ouvia as onfensas dela, se fazendo de vítima, de coitada e enganada.
Ela gritava e me batia:
- Seus pais saberão de tudo isso, assim que chegarmos na igreja.
Ela tentava soltar o sinto para conseguir vir pra cima de mim.
O Zé pedia que nôs acalmassemos, mas ela gritava ainda mais alto.
- Não sou uma qualquer pra você fazer esse tipo de coisa comigo, isso não vai ficar assim.
Olhei para o céu e vi aquele azul sem nuvem alguma, os vidros dos prédios refletiam os raios do sol.
O calor forte e o mormaço daquele dia que era para ser o mais Feliz da Sara.
Uma freada brusca, pneus cantando e me vi rodopiando dentro do carro, uma forte e estrondosa pancada na cabeça e eu já estava no asfalto quase sobre a calçada, alguns metros longe do carro.
Acordei assustado e liguei para o William, pedindo que fosse pra minha casa.