LOUCO AMOR – metido a machão pegador 34
Anteriormente:
– Pressinto que esse casamento vai doer no meu bolso.
– Só um pouquinho.
Retornei com a cabeça ao seu peito e fechei os olhos que já pesavam por conta do sono que aos poucos se instalava.
– Será perfeito esse dia. – digo.
– No final da cerimonia seriam legais fogos de artificio, que assim como no ano novo serve pra marca um novo ciclo, no nosso casamento serviria pra marcar um inicio de uma nova vida.
Dei um sorriso de lado. Alguns meses atrás eu nem sonhava em ser notado por ele além do amigo de sua namorada, agora estou ali planejando nosso casamento.
– Sim, seria legal.
Continuação:
No outro dia fomos à escola juntos, para todos os defeitos como bons amigos, ele ainda não se sentia preparado para nós assumi e eu super o entendia, quando fosse a hora certa aconteceria da melhor forma.
Na escola não se falava em outra coisa a não ser o fato de Teresa está em um manicômio.
– Eu acabei desabafando com o Júlio ontem antes de falar contigo, acho que ele não soube guardar segredo. – Confessou enquanto aguardávamos o sinal tocar.
– Oiii Caio – disse uma menina se aproximando. De longe reconheci a maior biscate da escola, Munique Era seu nome. – Fiquei sabendo que está solteiro de novo. – disse enrolando o cabelo com a ponta do dedo.
– É... Pode se dizer que sim. – Ele respondeu todo desconfiado.
– Vai rolar um filme muito bom no cinema essa noite, vamos?
Ah, só foi o que estava me faltando.
– Ah, não vai dá, tenho compromissos.
– Amanhã à noite, que tal?
Alguém me segura. Que raiva. E ainda mais por não poder dizer e nem fazer nada.
Ele iria responder, mas o sinal acabou o interrompendo, aproveitei a deixa e saí puxando-o pra dentro da sala, alegando ter um trabalho importante a ser feito.
– E o nosso cinema? – ela gritou enquanto nos via nós distanciar.
– Depois a gente marca. – ele gritou.
Ah vá sonhado – pensei.
Fiquei com muita raiva daquela menina, seria capaz de matar qualquer um só pra ver se aliviava o que sentia. Caio percebendo meu estado, me paparicou e me fez sorrir com as palhaçadas dele. Me acalmei e assim passamos aquele dia na escola, sem maiores dores de cabeça, graças a Dios. Pense numa coisa forte é o tal do ciúmes, te faz imaginar coisas macabras que uma pessoa em seu estado normal não pensaria em fazer jamais.
Por volta das 15hs fomos visitar Teresa. Ela estava bem melhor de aparência do que eu imaginava e aquilo me deixou bastante aliviado, bem, aliviado até o momento em que fui falar com ela. Não falava exatamente nada com nada e quando perguntávamos outras coisas nunca respondia com coerência e sempre fugia do assunto.
A noite via skipe pudemos conversar com Caique e Fagner que pela parte da tarde já tinha iniciado o processo de quimio.
Ele parecia bem, apesar de estar visivelmente cansado.
Os meses se seguiram nessa mesma rotina, de manhã, escola, à tarde, visita a Teresa, à noite, via skipe, conversa com Fagner & Caique e de madrugada... ah vocês entenderam rs.
Na escola as coisas ficavam mais insuportáveis a cada dia, com a descoberta que Caio estava “solteiro”, não só Munique, mas várias garotas davam em cima dele, olhares, gestos e até indiretas faziam parte do pacote, mas o pior não era isso, o pior era ver que a cada dia Caio se exibia ainda mais pra elas e até retribuía olhares.
– Que saco! Tu tá ficando paranoico. – Ele negava.
– Paranoico? Quer me fazer de Louco? Eu não sou trouxa! Todo mundo percebe as porras desses olhares teu pra cima delas, percebem que tu é exibido. – Digo com o tom nem muito alto, mas também nem muito baixo.
– Eles dizem também que eu já fiquei com algumas delas desde que deixei Teresa, eles dizem? – ele perguntou ficando com raiva.
Eles realmente não dizem isso.
– Tu não sabe o quanto é difícil ficar ouvindo piada de meus amigos por não pegar ninguém – dizia apontando o dedo pra mim, mesmo estando distante – por dá foras em todas que vem até mim, tu não sabe o quanto é difícil arrumar desculpas para tudo...
A raiva já me consumia por inteiro quando estourei de vez.
– Então vai lá carai, fica com ela, mete o pau nas bucetas delas, machão de merda. – Se eu ficasse mais algum minuto ali, eu desmoronaria na frente dele e eu não queria e não daria esse gostinho a ele.
Me virei e saí. Eu ainda não estava acreditando que uma conversa acabou daquele jeito, em briga, nossa primeira briga pra valer.
Parece que o “Para sempre” não dura tanto assim.
Mas com certeza iria durar aquela noite.
Naquela mesma noite, ele me procurou pra me pedir desculpas, claro que de primeira não quis ouvir, mas ele acabou insistindo tanto que eu acabei cedendo. Conversamos e acabamos chegando a um acordo, ele tentaria mudar aquela situação.
A melhor parte de uma briga é sempre a reconciliação.
Na clinica, Teresa dia pós dia mostrava uma melhora significativa, não mais falava coisa com coisa e sempre nós respondia com coerência sem desviar da conversa. Ela estava voltando a ser como antes, a amiga que eu tinha e acabei perdendo, sairia em breve se continuasse nesse ritmo, nós informou o psiquiatra dela. Sua barriga de sete meses já estava bem à mostra e eu sempre que podia não perdia a chance de senti-lo chutando. Até Caio que ainda estava meio emburrado com por causa das coisas que ela já fez, se rendia a essa sensação tão boa.
Com Fagner as coisas estavam ficando difíceis, depois de meses nós falando todo dia, passamos a conversar uma ou duas vezes na semana, isso quando eu tinha sorte. Ele e Caique queriam claramente esconder algo de mim. Algo que eu iria descobrir, nem que pra isso, eu tivesse que ir a São Paulo só para coloca-los contra a parede. Mas não foi preciso, em uma noite qualquer de dezembro recebo uma chamada via-skipe, ao atender, pensei em ver Fagner e Caique como era de costume, mas só estava Caique na varanda do prédio onde estavam hospedados.
– E aí cunhado, cadê o Fagner?
– Ele deu uma saída com os pais, aí resolvi te chamar.
– O que foi? Aconteceu algo? – perguntei ao notar sua postura, postura de uma pessoa que não conseguia mais levantar a cabeça e sorrir.
– Aconteceu. Estou engasgado com isso há uma semana sem poder falar pra ti.
– Está me assustando Caique. – digo sentindo o medo crescer. – é o que estou pensando?
– É pior. – ele fez uma pausa. Esfregou os olhos como se estivesse com sono e então voltou a olhar pra mim. Uma expressão vazia. – Estou sem dormir direito desde que descobri... Que a quimio não deu em nada e que... Que a situação dele piorou, em outras palavras, os anos que ele tinha de vida foram revogados.
– Como... Como assim?
– Ele conseguiu esconder de nós durante esses meses que estava tossindo sangue cara, vê só isso. – ele disse se esticando para o lado pra pegar algo. Era um lenço melando de catarro e sangue.
– Meu Deus. – disse colocando a mão na boca e deixando as lágrimas encherem meus olhos. – quantos meses?
– Alguns.
– Isso não é o fim, deve haver uma saída, sempre tem.
– A única saída é um transplante de pulmão muito delicado.
– Mas já é uma esperança.
Ele deu de ombros.
– Depois que ele descobriu que estava condenado, acabou me afastando da vida dele, mal fala comigo como antes, quando vou fazer carinho, ele simplesmente não deixa, sempre se esquiva e vai pra outro cômodo. Parecemos apenas dois conhecidos, daquele que só dizem oi um para o outro quando se veem na mesma calçada.
– Ele está entrando em depressão?!
– Não, não, Fagner não é do tipo que entra em depressão. Ele só quer me proteger, ele sabe que se algo acontecer com ele, eu não vou aguentar, por isso ele me magoa dessa maneira, me magoa para que eu deixe de gosta dele e com isso não sofrer tanto no dia que ele se for.
Uma lágrima escorreu de seus olhos e eu também não pude conter as minhas. Era quase impossível pensar que uma pessoa cheia de vida como era ele, está condenado daquela maneira. Eu não consigo nem me imaginar como é ser ele.
– E ele está conseguindo? – pergunto.
Caique deu um sorriso de lado.
– Não. Ele só faz com que eu queira cada vez mais ficar ao lado dele.
– Não deve está sendo fácil pra ele passar por tudo isso de novo.
– Não, não está sendo.
– Mas ele está disposto a se submeter a cirurgia?
– Sim, está. Mas percebo que a qualquer momento ele pode vir a desistir.
– Você não pode deixar.
– Não vou. – disse olhando por cima do notbook, como se alguém se aproximasse. – eles voltaram. Depois a gente se fala.
– Tudo bem. Independente do que está acontecendo agora, sei que vai dá tudo certo.
Ele apenas acenou levemente com a cabeça e deu tchau antes de se desconectar.
Naquela noite, se eu consegui dormir uma hora foi muita coisa, estava com sono, mas minha cabeça não parava de trabalhar, era sufocante aquilo.
No outro dia pela parte da manhã estava estourando de dor de cabeça e cansaço, poderia tirar aquele dia de folga da escola, mas não daria, além da semana de prova já ter iniciado, eu teria que começar a preparar as coisas para o baile de formatura que se aproximava.
– Seria uma boa a gente poder vim junto ao baile né, como um casal. – digo na esperança dele aceitar a ideia.
– Não é uma boa ideia amor. Além do mais eu já chamei Laura pra me acompanhar.
– Aaan? Como assim? Pensei que não viesse, não era você que desde o começo do ano dizia que não viria ao baile nem amarrado?
– Era, mas eu mudei de ideia, dever ser legal. Não tá chateado não né.
Imagina. – Pensei sarcástico.
Olhei para o lado e suspirei impaciente.
– Claro que não, problema algum, também já arrumei um par.
Mentira. Algumas meninas haviam me chamado, a maioria através de bilhetes anônimos. Recusei todos na esperança de ir para aquele baile idiota com ele. Sou patético mesmo.
– Vamos nós divertir muito. – Ele disse sorrindo e também não mostrando interesse em quem era o meu par.
Aquilo ao mesmo tempo em que me deixava irritado, me deixava também com medo.
Alguns minutos após ele se foi e me deixou preparando a decoração da formatura que seria na quadra de esportes. A noite já chegava quando o diretor me mandou terminar o resto no outro dia. Fui para casa, tomei uma banho demorado e então desci para jantar.
– Seu namorado não vem jantar conosco hoje? – meu pai perguntou assim que me sentei. Para ele já era estranho jantar sem a companhia de Caio a mesa.
– Boa pergunta. Vou ligar pra ele. – digo já discando seu número.
Chamou uma, duas, três vezes até ele atender.
– Onde está amor? Não vem jantar conosco hoje?
– Eita amor, hoje não vai dar.
– Porque não?
– Por que... Porque agora mesmo estou falando com Caique.
– Sério? Como ele e Fagner estão?
– Estão na mesma.
– Foda – digo sentindo a tristeza que sentir vinda de Caique dá última vez que nós falamos me invadir novamente. – manda um abraço meu pra ele.
– Mando sim amor. Explica aí ao teu velho o porquê não vou, visse.
– Explico sim. Posso passar aí depois que acabar aqui?
– Não! – disse de imediato.
– Não? – pergunto sem entender a mudança repentina de humor.
– Sim, digo sim, o “não” foi pra uma pergunta de meu irmão aqui. Desculpa, pode vir sim.
– Tá então... – digo meio desconfiado. Não engoli muito aquela desculpa, mas decidi deixar de lado, não sou muito fã de teorias de conspirações.
– Caiooo vem logo – ouvi uma voz no fundo chamar.
– Quem está ai? – pergunto de imediato.
– Ninguém ué. – responde com nervosismo na voz.
– Como ninguém senhor Caio? Ouvi alguém gritar teu nome.
– Ah foi minha vizinha que gritou com o filho dela, ela sempre faz isso.
– Ela sempre faz isso? – pergunto, pois vivo muito na casa dele e nunca vi isso.
– ... Quero dizer, às vezes, mas enfim, vem pra cá né? Estou morrendo de saudades.
– Vou sim... Vou jantar agora, vai lá dá atenção ao teu irmão, depois a gente mata a saudades. – digo encerrando a chamada.
– Que cara é essa filho?
Acho que Caio tá mentindo pra mim – penso em responder, mas não consigo admitir em voz alta.
– Nada não. – digo forçando um sorriso – ele não vem hoje, vai ficar falando com o irmão.
Com o pensamento longe comi todo meu comer e me retirei da mesa, coloquei perfume e então me dirigi para o apartamento dele.
– É só besteira da minha cabeça, por que razão ele mentiria? Estamos na nossa melhor fase. Devo está ficando paranoico, só pode. – essa era a minha mente em mais uma tentativa de me reconfortar.
Depois do rotineiro cumprimento ao seu José – o porteiro do prédio – me encomiei ao elevador, mas antes que pudesse apertar qualquer botão, um pensamento me fez voltar a recepção.
– Oi de novo seu José, o senhor poderia me informar se alguém subiu hoje ao apartamento de Caio?
Ele pareceu pensar.
– Além do senhor agora, mais ninguém.
Mesmo assim aquela resposta não me deu o alivio que eu queria, ainda sentia algo errado no ar.
– Muito obrigado. – digo novamente indo em direção ao elevador, mas outro pensamento me toma de assalto e me faz voltar.
– Sim? – ele falou quando me viu aproximar.
– Desculpa tá te incomodando tanto hoje...
– Quê isso, estou aqui pra ajudar.
– Bem, o que vou perguntar pode soar meio estranho, mas o senhor sabe dizer se uma das vizinhas de Caio tem um filho com o mesmo nome dele?
Como dá última vez ele pareceu pensar antes de responder.
– Desculpa, mas não me lembro.
– Tudo bem, obrigado mesmo assim. Garanto que agora eu subo – digo sorrindo.
Sempre tive permissão de Caio pra entrar em seu apê sem tocar a companhia, mas mesmo assim nunca fiz isso por achar que poderia estar invadindo sua privacidade, porém naquela noite foi diferente, nada disso me impediu de entrar sem tocar. Olhei de um lado a outro, mas não vi nada demais, estava tudo no mais perfeito silêncio, pelo corredor segui até seu quarto onde encontrei a porta aberta, o barulho do chuveiro ligado denunciava sua posição. Com o coração batendo forte no peito abri devagar a porta do banheiro. Olhei lá dentro e o alivio tomou conta de mim quase que de imediato ao vê-lo sozinho de costas para mim. Naquele momento me senti um idiota por achar que ele poderia estar com alguém ali dentro. Passei alguns minutos o contemplando enquanto ele tomava banho e cantava alto e desafinado sem que me visse ali. Quando viu, levou um pequeno susto.
– Que susto Lucas – ele disse sorrindo ao mesmo tempo em que jogava um pouco de água em mim – vem cá. – chamou ao deligar o chuveiro.
Ao me aproximar, ele foi logo me agarrando e me beijando, hora com força, hora com carinho, era incrível a capacidade daquela pegada de me fazer esquecer das coisas.
– Estava me espionando seu safado? – perguntou ainda com os lábios colados nos meus.
– Es gostoso de costas. – digo sorrindo.
– Só de costas?
– Hanhan – brinco.
– E é? (mordida nos lábios) é? (outra mordida)
– É. – confirmo rindo.
Com uma mão livre ele voltou a ligar o chuveiro, deixando assim a água caí pelos nossos corpos.
– Ainda estou de roupaaa. – digo batendo em seu peito.
– Tira ué – disse levantando minha blusa, depois a calça e por fim a cueca, todas já bem encharcadas.
Fizemos o rala e rola todinho ali mesmo, naquele cubículo, sentindo a água passar por algumas brechas entre o meu e o corpo dele.
– Nossa, que frio. – reclamei quando já estava tirando a espuma do corpo. – vou sair.
– Vai lá, vou terminar de colocar shampoo e já vou.
Peguei sua toalha que estava no cabide, me enxuguei e então saí. Uma brisa leve entrou pela janela que estava meio aberta e me fez tremer o queixo, olhei rapidamente ao meu redor em busca de minhas roupas até lembrar que estavam todas molhadas.
– Caio. – Chamei alto seu nome.
– Fala. – ele respondeu.
– Vou pegar algumas roupas suas. – digo já me encaminhado em direção ao seu guarda roupas.
– Espera. – gritou me fazendo parar no meio do percurso, olhei para trás e o vi saindo do banheiro como um louco, nu e pingando água no chão. – deixa que eu pego.
– Ok. O que está acontecendo aqui? – pergunto já ficando nervoso, era obvio que ele estava querendo esconder algo de mim.
– Como... Como assim? – gaguejou.
– Vamos pular a parte em que você faz de desentendido? Primeira foi aquela sua repentina mudança de gosto quanto ao baile de formatura, depois aquela voz no telefone, e agora essa? O que é que tem nesse guarda roupas que eu não posso ver. – disse me virando e colocando a mão na porta pronto para abrir, mas ele foi mais rápido e segurou minha mão. Olhou fundo no meu rosto e começou a falar:
– Olha, eu sei que é estranho o que vou pedir, mas por favor, confia em mim?! Eu não estou fazendo nada de errado. Eu te amo. Te garanto que você vai saber na hora certa.
– É caso de vida ou morte?
– Não.
– Então me responde algumas coisas. Você estava realmente estava falando com seu irmão? Tinha alguém aqui? E sobre o porteiro? Falou com ele pra que mentisse pra mim também?
– Não. Basicamente e... Sim
– Então eu quero saber agora o que está aprontando! Não vou bancar o namorado compreensível depois de ter mentido pra mim. Qual é? – digo já deixando as lágrimas caírem. – A gente além de namorados somos amigos, não escondemos nada um do outro.
– Eu sei, mas... mas...
– Deixa pra lá. – digo desvencilhando a minha mão da dele. Fui em direção ao banheiro com ele atrás de mim, catei minhas roupas do chão e então comecei a vesti-las mesmo estando todas molhadas.
– Para velho – ele disse tentando me impedir. – eu pego umas minhas.
Ignorei e continuei me vestindo mesmo com ele tentando me impedir. Depois de um tempo ele desistiu e saiu com pressa do banheiro. Estava mais que com raiva, estava irado com as mentiras que ele me falou, agora eu nem sabia mais o que era verdade. Se desde o começo ele tivesse dito que estava escondendo algo e que me contaria depois, eu iria entender de boa, sei que iria, mas o problema é que ele mentiu pra mim e odeio mentiras, ainda mais quando é entre mim e ele, sabe se lá Deus quem mais estava ali com ele antes de eu chegar.
Assim que acabei de me vestir ele apareceu na minha frente com algumas roupas secas na mão.
– Porque tu é tão cabeça dura? Será que custa confiar em mim?
– Me deixa pensar... Sim, custa e muito, tu mente pra mim e faz o porteiro também mentir e quer confiança? Ah fala sério. – digo tentando passar por ele que bloqueia minha passagem.
– Por favor, Lucas. – disse fazendo cara de sofredor.
– Vai me contar o que está acontecendo?
Ele olhou para o seu lado direito, mordeu os lábios e voltou a olhar pra mim.
– Veste isso. Vai acabar ficando doente. – disse estendendo as roupas a mim. Olhei para elas em suas mãos e por um curto período de tempo, pensei se devia pegar.
– Isso é ridículo. – digo tirando a blusa molhada.
Me troquei ali na frente dele, ambos em silêncio, quando terminei sai pela porta do quarto e depois pela porta do apartamento.
– Pra onde vai a essa hora Lucas? – perguntou enquanto me seguia.
Não respondi. Entrei no elevador e depois seguimos em silencio até minha casa.
– Entregue. – ele disse me fazendo parar ao abrir o portão. Ele pereceu e se aproximou mais. – para com isso, sei que quer confiar em mim. – disse com a voz mansa.
Olhei para ele.
– Está enganado. Se tivesse me dito que queria me falar algo, mas só quando chegasse a hora, tenha a certeza que eu entenderia, mas você mentiu pra mim e ainda fez outras pessoas também mentirem.
– Desculpa. Eu entendo. – disse baixando a cabeça.
– Me fala. – digo segurando o choro. – te amo pra caralho e mesmo assim tu fica mentindo pra mim, sabe que odeio isso, então me fala, estou pedindo pela ultima vez.
– Desculpa. – disse balançando a cabeça.
– Então só aparece na minha frente quando for pra falar que merda é essa.
– Se é o que quer. – disse com os olhos marejando. Brilhavam com a luz do luar.
O olhei por uma última vez e então entrei. Subi para o meu quarto e me joguei na cama, as lágrimas vieram logo em seguida. Pensei com raiva e dor o porquê dele mentir pra mim daquele jeito, fizemos uma promessa de contar tudo um para o outro e mesmo assim na primeira oportunidade que tem, esconde algo de mim. Já dizia a frase “basta uma mentira para colocar em dúvida todas as suas verdades” e essa era minha filosofia naquele momento, pois eu já não mais sabia o que era verdade e o que era mentira, não estava sabendo separar as coisas. Pensei por um segundo também na possibilidade de estar sendo injusto com ale ao recusar o seu pedido de confiança, mas logo me lembro das mentiras e mudo de ideia. Mesmo com raiva, eu ainda o amava na mesma intensidade, por mais que já tivéssemos brigado muito aquele ano, a dor de um desentendimento nunca diminuía aquela dor que sempre me corroía por dentro como um animal esfomeado e só tinha fim quando um dos dois dava o braço a torcer. Cheirei a gola de sua camisa tentando ao máximo sentir o seu cheiro e com isso suprir a necessidade de ir atrás e pedir desculpas mesmo quando não era eu o errado. Pode se dizer que sou um pouco orgulhoso.
Naquela noite chorei até os olhos arderem, depois disso, dormir como uma pedra.
No outro dia não haveria aula então só me levantei da cama às 10hs já olhando o celular na esperança de uma mensagem dele disposto a falar, mas não tinha nada. Ele era como uma droga viciante, não podia ficar sem, eu iria entra em abstinência a qualquer segundo e não poderia deixar isso acontecer. Desci para cozinha e tomei meu café sozinho já que meu pai já havia ido trabalhar. Depois para ocupar a mente até a hora de ir a escola terminar de arrumar a decoração do dia anterior para o baile, iniciei uma faxina geral na casa que só terminei por volta das 12h30, estava muito atrasado então nem almocei, tomei um banho rápido e segui para a escola a passos largos enquanto ouvia uns rocks, nada de romance. Essas eram minhas táticas de sobrevivência, sempre me ajudaram a não pensar em besteiras.
Ao final daquele dia estava eu totalmente esgotado, tinha dado meu sangue naquela decoração. Claro, o mérito não era só meu, várias pessoas também ajudaram. O grande dia seria amanhã, nem estava acreditando que finalmente concluiria o ensino médio, parecia ter sido ontem que havia entrado naquela escola pela primeira vez. Costumo pensar e expor aqui que a minha vida mudou e virou essa bagunça que é hoje no fatídico dia da festa em minha casa, na qual quase fui estuprado por Caio que ironicamente é meu namorado hoje em dia, mas posso está errado quanto a isso, acho que minha vida realmente mudou no momento em que cumprimentei Teresa, a menina tímida e retraída da sala. Iria levar dali boas histórias, sem dúvida alguma.
As 16horas que se seguiram não puderam ser piores, sem Caio minha vida parecia que não fluía. A vontade de ir vê-lo só era inferior ao meu orgulho. Eu que tinha dado o ultimato, então eu que deveria ir até o fim mesmo que me doesse. Na minha cabeça eu não poderia dá o braço a torcer, não mais – apesar de ser essa minha vontade. O que eu poderia fazer era torcer para ele vir atrás de mim antes que eu enlouquecesse.
Logo mais a noite seria o maldito baile de formatura, e adivinhem?! Eu não estava com cabeça alguma pra fazer pose para fotos e nem mesmo sorri ou dançar, sem falar que eu ainda não tinha par, queria poder não ir, mas infelizmente minha presença era essencial, além de presidente de grêmio, eu era o orador da minha turma. Não podia deixa-los na mão.
A tarde fui até o shopping e comprei meu terno.
Quando voltei pra casa, ao invés de ir para meu quarto, fui até o da minha mãe, peguei uma foto dela de quando mais jovem na escrivaninha e me sentei no chão.
– Preciso de seus conselhos mãe. – as lágrimas já começavam a escapar. – o papai me ajuda muito, mas não substitui sua presença, de jeito algum. Por que não me aceita? Porque não volta pra casa? Estou morrendo de saudades!
Abraço o porta-retratos contra o peito e me permito chorar ao ponto de soluçar. Fazia meses que eu não me dava a esse luxo.
Quis ligar pra Caio, mas logo mudei de ideia, não seria eu a ficar correndo atrás.
Quando o sol estava se pondo, comecei a me arrumar sem muito animo. Alguém bateu na porta de meu quarto momentos depois me fazendo despertar de meus pensamentos, primeiro penso ser meu pai e depois com um sorriso no rosto, penso ser Caio, mas ao abrir a porta, vejo nada menos de que Teresa impecavelmente produzida.
Rosto maquiado, brincos, corrente e pulseira de prata, cabelo trançado, vestido vermelho longo e mesmo não dando pra ver o que calçava, poderia afirmar que seria um salto alto já que ela estava da minha altura e por fim para dá um último toque, uma bolsinha de mão em tamanho médio combinando com seu vestido.
– Foi daqui que pediram um par para a formatura? – perguntou com bom humor.
– Como...
– Ganhei alta há três dias. E ah três dias não te vejo.
– Desculpa, tem tanta coisa acontecendo.
– O que foi?
– Entra aí. – digo dando passagem a ela – Basicamente Caio e Fagner.
– Fiquei sabendo. – ela disse parando próximo a minha cama.
– Como?
– Seu pai me falou.
Havia conversado com meu pai mais cedo sobre o que estava acontecendo.
– Atá.
– Não me respondeu ainda se aceita ser meu par para a formatura. – Ela disse sorrindo.
Com a mão direita nas costas inclinei um pouco o corpo e então lhe estendi a palma da mão esquerda aberta.
– Será uma honra. – digo sorrindo.
Em seu carro, meu pai nós levou até a escola, apesar de ainda ser cedo, já se via bastante pessoas dançando ao som de flo-rida – whistle (mix). Não pensava em dançar, na verdade não pensava em fazer nada que não fosse ler a mensagem em nome da minha turma, me despedir de algumas pessoas e ir embora, mas ao adentrarmos na quadra, Teresa já começou a dançar e a me puxar para fazer o mesmo, relutei no começo, mas acabei me rendendo a diversão. Eu só queria que Caio visse o quanto eu poderia fica bem sem ele, mas ele e nem Laura estavam em lugar algum da quadra.
Da agitação de whistle ao romantismo de Christina Perri – A Thousand Yars passamos a dançar mais coladinhos.
– Vai chorar não né? – ela perguntou sorrindo.
– Colocar uma música dessa, nesse momento de minha vida é sacanagem – digo sorrindo, mas com uma vontade enorme de chorar.
– Olha, isso que sente vai acabar hoje. – ela diz convicta de si.
– Duvido.
– Confie em mim e você verá... Eu queria que soubesse que não é só o Caio que te ama. Apesar de não ter demonstrado isso nós últimos meses, eu também te amo.
– Também te amo muito, não sabe como eu senti a falta de nossa amizade. Por muitas vezes quis voltar no tempo pra poder consertar tudo o que fiz.
– A gente não escolhe por quem se apaixona. Sei que foi barra pra você se aceitar e aceitar o que sentia por medo de me magoar, mas saiba que não deves se arrepender de nada do que fez, tenho certeza que ele está muito mais feliz com você do que estaria comigo.
– Falando assim, fico bem mais aliviado. – digo sorrindo.
Ela sorri pra mim, mas logo em seguida fica séria. Já esperava bomba por aí.
– O que foi? – quis saber.
– Queria te dar isso. – ela disse tirando um envelope de dentro da bolsinha que usava.
– O que é? – falei pegando o envelope e o analisando.
– Vai ter que me prometer que só vai abrir na hora certa.
– E como vou saber que hora é essa? – pergunto ao colocar o envelope em um dos bolsos do paletó.
– Mais uma vez confie em mim, tenho certeza que saberá.
– Está me assustando.
– Só me promete.
– Prometo, mas...
Parei de falar, pois um eco inconformado de várias pessoas inundou o ar quando a música parou de tocar de repente.
Olhei para o palco assim como todas as pessoas fizeram a fim de ver o que estava acontecendo. De primeira não entendi nada do porque Caio está lá parado com um microfone em mãos. Parecia está nervoso, tanto que pela sua expressão pensei que nenhuma palavra seria capaz de sair de sua boca.
– Bem. Hoje estou aqui pra fazer algo que jamais pensei em fazer pra ninguém em toda minha vida...
Continua...
Quanto mistério em gente. O que será que vai acontecer com Fagner? O que tem no envelope de Teresa e por último, mas não menos importante o que Caio estava aprontando e o que ele vai fazer? Será que Lucas agiu certo com ele? Ufa rsrs digam ai o que pensam a respeito (se quiser). Bem, algumas dessas questões serão resolvidas no próximo capítulo. Vixe, tá ficando longa essa história rsrs.
Enfim, muito obrigado por tudo a todos, aos que comentam e votam e também aos que só leem. Amo vocês ^^/