Pedro - Fala, Antonio.
Antonio - Patrãozinho, é o teu pai. (dizia ele cochichando, e tentando tapar o celular com a mão)
Pedro - tu ja atendeu? ( também falei cochichando).
Antonio - sim, ele ligou de um numero restrito, e ta querendo saber aonde estamos. O que eu digo a ele?
Pedro - Ah merda!
Pensei um pouco.
Pedro - deixa, eu falar com ele!
Antonio prontamente me passou o celular.
*----*
Pedro - Sr Pai?
Pai - por que não atende o celular?
Pedro - não ouvi ele tocar pai, ta dentro da mochila.
Pai - E o que você aprontou para me ligarem do colégio?
Pedro - eu nada.
Pai - não minta pra mim. Você sabe que eu odeio mentiras.
Pedro - não tou menti...
Pai - Você vai continuar negando? - ok, eu descubro assim que chegar ao colégio.
Pedro - O senhor vai ao colégio? (fiquei nervoso).
Pai- sim, amanha irei o acompanhar. E aonde você esta que ainda não chegou a nossa casa?
Pedro - Estava na biblioteca estudando para prova, mas já estou indo.
Pai - quero você a nossa casa antes de meia hora, estamos combinado?
Pedro - não vai da tempo pai.
Pai - meia hora Pedro, meia hora. Agora deixe-me falar com o Antonio.
*----*
Pedro - ele quer falar com o senhor. (falei, devolvendo o celular ao Antonio).
*----*
Antonio - sr, patrão?
Pai - ...
Antonio - entendi.
Pai - ...
Antonio - Tudo bem padrão, entendi perfeitamente.
*----*
- O que ele disse? (perguntei assim que Antonio desligou o celular).
Antonio - ele pediu para eu levar você pra casa urgente.
Pedro - mas porque com urgência? o que aconteceu?
Antonio - eu não ouso questionar o seu pai, patrãozinho, o sr sabe o quanto eu preciso desse emprego.
Pedro - Eu entendo Antonio, mas acontece que eu estava ocupado.
Antonio - não terminou o que veio fazer?
Pedro - Pra falar a verdade, nem comecei.
Antonio - patrãozinho, não é da minha conta, mas o que tanto o sr vem fazer ae quase todos os dias?
Eu fiquei meio desconcertado com aquela pergunta repentina.
Pedro - Tra-ba-lho, venho fazer trabalho de aula. (falei gaguejando).
Antonio - com amigo ou amiga?
Pedro - amigo, mas porque? qual a diferença?
Antonio - chama seu amigo então, ele vai conosco e termina o trabalho na sua casa.
Pedro - Precisa não Antonio, amanha terminamos, assim que eu entrar no colégio.
Antonio - O senhor quem sabe, mas temos que agilizar.
Pedro - Ta certo, vou só pegar minha mochila e ja volto.
Antonio - eu fico esperando pelo senhor.
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Kevin - que demora hen!? (falou Kevin dando pausa no vídeo game).
Pedro - vou ter que ir nessa.
Kevin - por que? o que aconteceu?
Pedro - meu pai ligou e me quer em casa em menos de 30 minutos.
Kevin - fica só um pouco e depois pede para o motorista agilizar.
Pedro - não da Kevin, você sabe como é meu pai.
Kevin - sei sim. Chato pra caraleo.
Pedro - Hey pô, também não fala assim do meu pai, ele é super protetor, e não chato.
Kevin - e de que ele quer tanto te proteger?
Pedro - A cidade ta cada vez mais perigosa neh!? - Daí ele tem medo de acontecer alguma coisa, deve ser isso.(falei colocando a mochila nas costas e lhe acertando um beijo).
xXX
Pedro - Bora Antonio. (falei entrando no carro).
Antonio - Patrãozinho... eu queria te pedir um favor.(falou Antonio dando partida no carro).
Pedro - Pode pedir Antonio.
Antonio - É que eu preciso comprar um remédio para o meu filho, e tou sem dinheiro.
Pedro - vamos parar em uma farmácia, Antonio, dai eu passo o cartão.
Antonio - obrigado Pedrinho, assim que o meu salário sair eu te pago.
Pedro - relaxa.
xXX
Passamos em uma farmácia e logo em seguida, fomos pra casa.
Pai - A que horas combinei com voce?
Pedro - O pneu do carro furou pai, tivemos que parar em uma oficina.
Pai - não minta pra mim.
Pedro - eu não estou mentindo.
Meu pai acertou a mão em uma estante qualquer da sala, fazendo os poucos pelos do meu corpo se arrepiarem.
Pai - vá almoçar e depois suba para o quarto, voce esta de castigo.
Pedro - só por que eu cheguei uns dez minutinhos após o horário.
Pai - voce sabe que eu odeio seus atrasos.
Saí pisando fundo e subi as escadas.
Pai - vá primeiro almoçar.
Pedro - perdi a fome. ( falei entrando no quarto e batendo a porta com força).
Deitei na cama, e fiquei pensando nas atitudes do meu pai.
Meu pai era um senhor de 48 anos, pele parda, 1,80, 75kg, cabelos já grisalhos, e com a barba em um tom preto esbranquiçado. Meu pai sempre foi muito simpático, ate o dia em que perdemos minha mãe em um fatídico assalto. Depois desse dia ele tornou-se uma pessoa neurótica, e só deixava eu sair com a presença do Antonio. Desconfiava de tudo e todos. Fiquei ali pensando no meu pai, ate cair no sono.
xXX
Antonio - Pedrinho... Ta acordado? (falou Antonio colocando a cabeça dentro do meu quarto).
Pedro - Tou sim, entra ae.
Antonio - vim trazer seu almoço.
Pedro - tou sem fome, Antonio.
Antonio - mas tem que comer patrãozinho, se toda vez que voce ficar com raiva, deixar de comer, vai morrer.
Pedro - bem que as vezes eu queria isso mesmo. Qual a graça de viver presso sem poder fazer nada?
Antonio - o mundo é assim mesmo Pedrinho, não podemos ter tudo ao mesmo tempo, olha a minha situação, sou livre, mas sou pobre.
Pedro - eu preferia isso, ser pobre, porem livre.
Antonio - olha o que voce pede hen!? a pior coisa do mundo é voce ver um filho precisando das coisas e não ter dinheiro pra comprar.
Pedro - tou ligado, mas voce sabe que pode contar comigo neh!?
Antonio - sei sim, e obrigado.
Pedro - por nada.
Antonio - agora para de me enrolar e coma sua comida.
Pedro - tou sem fome mesmo Antonio, não desce nada.
Antonio - mas voce precisa comer.
Pedro - daqui a pouco eu desço e preparo um sanduíche.
Antonio - então eu posso comer sua comida?
Pedro - claro que pode Antonio, come ae.
Antonio - Blza. e deixa eu te falar logo, seu pai saiu e pediu pra eu ficar aqui com vc.
Pedro - aqui no quarto?
Antonio - ahan. (respondeu Antonio, colocando uma cadeira ao lado da minha cama e sentando).
Pedro - isso já é exagero, Antonio.
Antonio - não é não. É o certo.
Pedro - como certo? - eu queria ser uma pessoa normal. Voce e a Naná vivem em cima de mim, eu entendo que é cuidado, mas acho exagerado.
Antonio - eu não acho, se eu tivesse na pele do seu pai, faria o mesmo.
Pedro - Voce sabe de alguma coisa?
Antonio - só o básico, que vocês são ricos e precisam se precaver.
Pedro - Antonio, mudando de assunto, eu preciso de um favor seu.
Antonio - claro patrãozinho, se eu puder ajudar.
Eu levantei e fui ate a porta passar a chave.
Pedro - amanhã o meu pai vai me deixar na escola. Parece que ligaram pra ele e contaram que eu matei um horário de aula.
Antonio - e o sr fez isso?
Pedro - eu cheguei atrasado e o professor não me deixou entrar na sala, daí eu fiquei jogado pelos corredores ate o horário bater.
Antonio - isso vai feder Pedrinho.
Pedro - por isso preciso da tua ajuda. Quero que o senhor diga que eu tive que sair mais cedo porque... porque...
Antonio - por que eu precisei de ajuda com meu filho doente. Voce acha que seria uma boa mentira?
Pedro - mas teu filho estava doente?
Antonio - sim. antes de ir buscar voce no colégio, eu levei ele ao pronto socorro.
Pedro - mas voce tem alguma coisa que comprove?
Antonio - não, só a receita mesmo.
Pedro - serve.
Antonio - mas Pedrinho, eu corro o risco de ser demitido.
Pedro - meu pai confia demais em voce, jamais teria coragem de te demitir.
Antonio - o senhor acha? (falou Antonio limpando o canto da boca com o paletó)
Pedro - tenho certeza. E ae, o senhor vai me ajudar?
Antonio - não devia pois é arriscado, mas eu não consigo dizer não ao senhor.
Pedro - obrigado Antonio.
Antonio - agora me diz a verdade, o que tanto voce faz naquela casa? eu não acreditei na historia do trabalho.
Continua...