MESA PRA TRÊS 2ª PARTE CAP 10 - DE VOLTA

Um conto erótico de Cookie
Categoria: Homossexual
Contém 3621 palavras
Data: 08/03/2016 00:57:01
Última revisão: 06/06/2016 11:58:51

2ª PARTE

CAPÍTULO 10

DE VOLTAO que você está fazendo aqui? Não, espera, eu não quero saber! Me abraça! - Gabriel correu em direção de Rodrigo com os braços estendidos e deu um grande braço, forte e apertado, digno de um grande respiro aliviado. – Que bom que você está aqui... Mas... Eu não entendo... Como... Por quê? - Perguntou soltando-o.

Você está tremendo... Tá tomando seus remédios?

- Aham, tá tudo certo eu só tô... Muita oisa tá acontecendo – Disse cruzando os braços como se auto abraçando.

- Eu tenho algo que vai te deixar melhor... – Disse Rodrigo sério.

- O quê? – Perguntou Gabriel curioso olhando para as mãos de Rodrigo, que reparou estar segurando uma carta. – O que é isso? É para mim?

- É! - Rodrigo sentiu na pele a falta que aquele barulho alegre o fazia.

Gabriel pegou a carta e se afastou de Rodrigo, que o ouviu abrindo a carta sem cuidado algum.

- Ai meu Deus! Ai meu Deus! Isso aqui é.... – Gabriel ergueu um sorriso enorme nele, dando a impressão que de repente engolira um cabide. – Ai meu Deus, eu fui... – Gabriel ficou sério – Aceito?

- Sim! – Disse Rodrigo tentando fazer Gabriel recuperar aquela curva em seu rosto.

- Fui? – Gabriel parecia ainda estar em estado de choque.

- Sim! Foi!

- Rodrigo... – Disse Gabriel voltando a lucidez perdida - ...o que você está fazendo aqui?

- Eu.... Pedi para sua mãe deixar eu te entregar isso aqui pessoalmente.... Eu achei que...

E antes mesmo de Rodrigo concluir a frase Gabriel tascou lhe um beijo que Rodrigo se mostrou entusiasmado em receber. Gabriel sentiu falta do gosto daquele beijo, sentiu falta do toque de Rodrigo e do seu cheiro de terra. Para Gabriel, Rodrigo era a única coisa que remetia à sua casa e ele sentia falta de tudo aquilo, mas conforme ele ia sentindo o gosto em sua boca, Gabriel percebeu que já não gostava tanto como costumava, notou que o seu beijo já não lhe causava o arrepio na nuca que sentiu quando se despediram em sua cidade natal.

- Não pera.... Isso.... Isso está errado. – Disse Gabriel se afastando.

- Não, não está! – Negou Rodrigo! – Isso não tá errado Gabriel, isso é.... você, olha pra mim... Você não sente falta de casa?

- Sim, mas Rodrigo...

- Não.... Chega! Olha para você aqui.... Olha como você está se sentindo.... Chega, você não acha? – Gabriel se encolheu como se sentisse e tentasse considerar o que Rodrigo estava lhe dizendo – Olha, eu não sei o que você tem passado aqui... Mas eu acho que já tá na hora de você voltar pra casa comigo.

Gabriel o olhou com os olhos arregalados – Eu entendo agora, eu não vou pedir para você ficar, eu até concordo que você deva ir... Mas eu sei que seus últimos dias aqui não devem ser vividos da maneira que você está vivendo aqui, não estou certo?

Gabriel não tinha argumento algum a seu favor, Jorge e Mike o remetiam complicações e de repente ele não queria ficar.

- Tudo bem - Disse Gabriel baixinho e começando a chorar – Eu.... Eu só preciso fazer uma ligação...

- Quem? – Perguntou Rodrigo e se arrependendo logo depois de sua intromissão – Quer dizer, desculpa, eu não tenho direito de...

- Tudo bem, - disse Gabriel sem forças – Eu só preciso devolver esse apartamento, minha presença aqui é a única coisa que interrompe a vinda de algumas pessoas, eu só... – Colocava a mão na cabeça demonstrando cansaço mental - ...eu só vou avisar que eu tô saindo... Você... Me ajuda a fazer as malas?

- Claro! Na verdade, eu te esperei por um bom tempo.... Já fiz, arrumei tudo na ordem das coisas que você gosta, inclusive o laço no fone e carregadores. Comprei nossas passagens de volta e trouxe a comida que você adora.

Rodrigo observou Gabriel se mover apressado ao reorganizar suas coisas.

- Por que a pressa? – Perguntou Rodrigo com um sorriso assustado no rosto limpando o apartamento e observando Gabriel terminar de checar a mala – Você tá fugindo da polícia?

- Exatamente! – Concordou Gabriel depressa sem prestar atenção em quão errado isso soara.

- O quê? – Disse Rodrigo assustado, acreditando no que Gabriel havia dito – O que você fez Gabriel? – Perguntou ele.

- Bom, eu dei para o policial e agora ele está vindo, querendo me comer de volta. Resumido. – Gabriel levantou-se e puxou a alça da mala – Vamos? – Deixando em Rodrigo uma expressão assustada e de desentendido.

Havia algo que não parecia certo com Gabriel, ele estava acostumado com a sensação de esquecer alguma coisa, pois normalmente estava esquecendo mesmo, mas agora parecia muito óbvio. Parecia que ele estava esquecendo ele mesmo naquela cidade, e que estava prestes a voltar para pegar, porém Rodrigo era o que fazia ficar.

Rodrigo parecia ser casa, enquanto todo o resto parecia ser passageiro. Gabriel sentia saudades da curiosidade sobre as coisas que sentia quando estava em sua cidade, mas não sentia saudades dele mesmo enquanto morava lá.

A viagem de volta foi tranquila, a turbulência ali era Gabriel e sua cabeça, ele podia sentir o arrependimento na esquina, mas Rodrigo o faria se sentir bem. Aos poucos ele estava abraçando a ideia de passar seus últimos momentos no país com Rodrigo, afinal seria agradável passar um tempo com alguém que era só seu, certo?

Ele estava convencido de que a decisão que tomou era a certa e estava disposto a arcar com as consequências delaGabriel estava se sentindo melhor com o seu abandono e o fato da loucura toda estar atrás dele, a presença de Rodrigo o dia todo foi vital para sua sanidade, pois foi convencido que uns dias sem seu celular lhe faria apenas bem e mesmo parecendo difícil, percebeu que Rodrigo estava certo. Por alguns momentos ele havia esquecido o bem que o calor de sua família o providenciava. Ele ainda via o seu pai poucas vezes, de manhã ocupado e pela noite cheio de sono, mas agradecia pelo pai que tinha e sabia a importância que a família tinha para ele quando desligava o celular durante feriados e fins de semanaGabriel sonhava várias vezes com situações rotineiras da casa de Jorge. Aaron apareceu mais de uma vez em seus sonhos que pareciam mais reais a cada vez que sonhava. Gabriel se jogou no mundo da música que havia em seu computador, ele sabia todas as letras de músicas tristes, desde “Love is a Losing Game” de Amy Winehouse até os solos de Anne Hathaway em Os Miseráveis. Ele dava um jeito de desenrolar as letras, trocava os pronomes e dava um jeito de se encaixar em todas as situações tristes possíveis, se internava no quarto, não sentia fome, mas bebia. Sonhou com o apartamento onde residia, estava voltando lá e via na sala principal, Mike, Jorge e Rodrigo engravatados debaixo de uma grande nuvem cinza que respingava chuva nos três, eles cantavam Chaos and Piss e à medida que a música ia sendo avançada, a letra da canção ia sendo tatuada no corpo dos três, pelo rosto, nuca, o corpo todo.

Gabriel acordou cantando e percebeu que estava chovendo.

Dormiu novamente e não sonhou com mais nadaGabriel acordou chorando e permaneceu assim o dia todo, ele se escandalizou na cama até suas lágrimas secarem, sentia a saudade doer entrando em seu peito como se fosse uma faca afiada. Abafou sua solidão e seus soluços com seu travesseiroGabriel acordou de madrugada com a impressão de ouvir Jorge chamando seu nome, chorou até a hora em que adormeceu novamente. Rodrigo tentava ser gentil, mas Gabriel evitava vê-lo. Se sentia mal consigo mesmo, achava sua atitude covarde, se escondia dele mesmo entre os lençóis de sua cama. Rodrigo o convenceu a sair, foram aos pontos que costumavam ir quando eram namorados, antigas lembranças o distraiam e sentia que parte de si estava começando a voltar ao normal, ainda não sentia vontade de se arrumar para sair ou de visitar antigos amigos, mas estava disposto a fazer certos esforços por RodrigoPela primeira vez desde que chegou, Gabriel amanheceu pensando nas possibilidades na Inglaterra, acordou com sede de conhecimento, entrou em contato com a Universidade que tinha sido aceito, começou a fazer seus planos e se imaginava visitando vários pontos turísticos. Jorge e Mike estavam presentes o tempo todo em sua memória, ele não tentou removê-las ou ignorá-las, mas começava a tentar se convencer que teria que conviver com aquiloAs horas pareceram ser misericordiosas com Gabriel, tudo pareceu acontecer muito rápido. A pouco tempo atrás ele estava tendo uma crise no apartamento, agora ele estava em casa, no seu quarto, encarando o teto em saber ao certo quantos dias haviam se passado.

Deviam ser nove horas da manhã, talvez mais, Gabriel já estava acordado há mais de duas horas, mas não tinha se mexido desde então, a imagem de Jorge e Gabriel batendo na porta do apartamento e não recebendo resposta alguma o fazia acordar de madrugada, Jorge e Mike brigando o fazia Gabriel sentir enjoos, o pensamento dos dois transando o fazia tremer. Gabriel não sabia o que estava acontecendo com ele e não sabia afirmar ao certo se queria saber.

Ouviu o som de umas conversas paralelas na cozinha, deveriam ser amigos de sua mãe, se ele fechasse a porta não teria esse problema, “provavelmente está na hora de se levantar mesmo. ” Só mais um pouquinho. Que horas deveria encontrar Mike hoje mesmo? Aliás, Rodrigo! Que horas deveria encontrar Rodrigo hoje mesmo?! Céus, ele tinha que parar de dizer esses nomes, Rodrigo não dizia, mas se sentia profundamente ofendido com suas trocas de nomes, talvez tenha sido um erro não contar a ele detalhadamente o que aconteceu, mas ele tinha impressão que tinha sido para o melhor.

Jorge não gostaria de saber a história toda, RODRIGO NÃO GOSTARIA DE SABER A HISTÓRIA TODA! Cérebro, vamos lá, colabore! Mas um respiro e eu levanto, vamos lá, se concentra, Mike e Jorge são passados, você nunca mais os verá na vida. É lógico que uns dias sem seu celular o fizera bem, ele estava ótimo, qualquer um poderia dizer, não é?

O que é isso na cama? De quem é esse cachorro? Aaron?

Gabriel automaticamente aceitou que aquilo era um sonho, pois várias vezes já tinha sonhado com Aaron e acordado assustado. – Oi Aaron, tudo bom? Saudades viu! Tomou banho? Tá cheiroso! – Gabriel apalpou as orelhas de Aaron que parecia animado em vê-lo. - Como é que eles estão? – Aaron latiu – Bem? Mal? Não conta pra eles, mas eu prefiro você à eles três, tá!? Nosso segredo heim! - Um aroma de café recém pronto entrava pela porta do quarto gigante de Gabriel e infestava o ambiente, levando Gabriel ao delírio. – Cheiro bom né!? – Gabriel de repente arregalou os olhos assustado como se tivesse se lembrado de algo importante e sem dizer nada apalpou a cabeça de Aaron novamente. – Aaron? – Sussurrou ele – Você... Você tá mesmo aqui? Não... Aaron? Isso é... isso é... – Gabriel piscou os olhos rapidamente como se de repente fosse acordar na madrugada novamente, mas nada disso aconteceu – E o aroma de café invadindo suas narinas o fez perceber que havia alguém na sala de sua casa, com seus pensamentos o massacrando. Gabriel fez seu caminho até aquela parte da casa um labirinto, cada vez que chegava perto, reconhecia mais e mais as vozes ouvidas, mas nada o surpreendeu tanto quanto o que ele via.

Jorge, Mike, sua mãe e um cara que ele não conhecia estavam todos sentados sobre a mesa da cozinha, cada um deles com um copo na mão, tomando café e dividindo ideias descontraídas. Uma expressão se surpresa da parte de Gabriel fez todos que estavam ali olharem para ele e Jorge é o primeiro a lhe dirigir a palavra:

- Olha só quem acordou... Café?

Gabriel teve a mais pura certeza de que aquilo era um sonho agora, aquela imagem não seria possível no mundo real, a realidade fodia com ele de vez em quando, mas não exageraria a esse ponto. Por que não acordava? Por que não se assustava em sua cama? Ele dizia aquelas coisas internamente enquanto os três rapazes na mesa e sua mãe o encaravam.

- Tudo bem filho? – Disse sua mãe.

Gabriel tinha esquecido de como falar e procurou naquele recinto mais algum sinal de que ele estava sonhando, mas não encontrou nenhum.

- Filho? – Repetiu sua mãe o olhando preocupada.

- O....oi! – Disse ele se surpreendendo com sua voz trêmula.

- Você está bem?

- Ah... Aham...

- Então venha.... Tome um café com a gente... – Disse sua mãe esbanjando seu sorriso enorme e simpático, muito similar com o dele mesmo. – Seus amigos aqui, chegaram a mais ou menos uma hora, por que você não me disse que eles viriam? Eles insistiram para eu não te acordar, então começamos a conversar... lindos eles!

Gabriel tomou um gole do café da sua caneca azul, que sua mãe tinha colocado em sua frente e, ao sentir o gosto forte e doce do café quente quase queimando a língua, teve certeza de que aquilo não era um sonho, ele não sabia se estava feliz ou não com aquela situação toda, mas quem infernos era aquele cara que estava com eles?

- Eu não comprei nenhum pão... Mas a padaria é aqui pertinho, eu vou ali na esquina e eu já volto. - Disse Dona Lu, se olhando no espelho e saindo pela porta da frente. Gabriel pensou em dizer algo, mas seu autoboicote o impediu.

Assim que os rapazes ali dentro ouviram o som do portão externo se fechar, todos olharam sérios para Gabriel.

- Sua mãe é careca, legal! – Disse Mike sorrindo.

- O que vocês estão fazendo aqui!? – Perguntou Gabriel assustado e aparentemente nervoso.

- Você foi mesmo sem dizer adeus, Gabriel... Eu estou surpreso com você... – Disse Jorge decepcionado, tomando um gole grande de seu café, – Como é que a gente pode ser tão insignificante para você depois de tudo?

Por mais confuso que estava, Gabriel não conseguia pensar em outra resposta que não fosse a pergunta:

- Quem infernos é esse cara? – Apontando para o gigante barbudo e gordo que estava ao seu lado.

- Meu nome é Tom – Disse o rapaz sério numa voz incrivelmente grossa!

- A ideia de vir foi minha! – Disse Mike tomando um gole de café!

- Pera é muita coisa para digerir numa manhã.... Como... quando... por quê?

- A gente veio para pegar você e te levar de volta! – Disse Mike agindo na maior naturalidade.

- Mas como vocês me acharam?

- Eu costumava ser delegado – afirmou Jorge sério.

- E você tem esse endereço no Facebook, falei com uns amigos seus... Na verdade, fácil demais, não tem nada a ver com ser delegado ou não.

- É, e você estava com um tal de Rodrigo? Seu ex, não? Por que ele te marcou em vários check ins aqui com você, nas redes sociais... Bonitinho até!

- Droga Rodrigo! - esbravejou Gabriel.

- O Mike já me contou de todo o lance da Europa.... Você não queria que a gente tivesse vindo te ver? – Perguntou Jorge sério.

Gabriel se um vento gelado dentro do estômago, sentiu confuso com a quantidade de informações que estava adquirindo em um curto espaço de tempo, então virou para o lado e perguntou:

- Quem infernos é esse cara?

- Meu nome é Tom! – Disse o moço sério.

- A gente ia vir de carro, mas houve uns problemas técnicos com o nosso carro...- Disse Mike

- Nosso? – Perguntou Jorge olhando para Mike.

- Então - Mike ignorou Jorge completamente - Tom se ofereceu para trazer a gente.... Contanto que viesse junto, ele tem uma caminhonete azul bem bacana...

- Prazer, meu nome é Tom – Disse o rapaz enorme estendendo a mão direita para Gabriel quase derrubando o café.

- Então, vamos!? – Disse Mike terminando de tomar o café.

- O quê? Não, não é assim! - Se espantou Gabriel com a simplicidade com que a conversa ia se desenrolando naquela mesa.

- Nós não viemos para forçar você a ir com a gente... – Disse Jorge numa voz grossa e séria

- Viemos sim! – Interrompeu Mike

- Droga Mike! – Gritou Jorge para Mike assustando todos ali na cozinha, inclusive Aaron.

Mike se levantou da mesa com raiva, saindo da cozinha – Eu vou para o carro, vem Aaron, não tem lugar para a gente aqui!

- E....eu vou com ele – Disse Tom, o seguindo.

Gabriel tremia olhando para Jorge que nunca o vira tão nervoso daquele jeito.

- Olha Gabriel... – Jorge respirava fundo tentando inutilmente parecer calmo - ... a gente não veio aqui te forçar a ir conosco, isso não é certo, você sabe disso.... Mas se você puder olhar para mim e dizer que você quer ficar com cem por cento de certeza eu vou entender. Se você olhar nos meus olhos e disser que nem uma parte de você quer entrar naquele carro comigo agora e sair daqui agora, eu vou me levantar e ir embora, mas eu acho que seria injusto com você e comigo, deixar você ir.... Sem saber que aquela vez que eu disse que te amo, foi para valer! Eu sei! – Disse Jorge fechando os olhos e fazendo gestos com as mãos – Eu sei, eu sei, que isso é assustador, eu sei! Eu não estou pedindo para você ficar.... Pois mais do que ninguém eu quero que você vá para a porra da Europa e seja feliz para caralho naquele lugar, eu estarei feliz por você! Muito feliz! Mas você não vai para lá ainda, eu estou aqui e o carro está lá fora...

- Mas Jorge...

- Eu sei o que eu quero Gabriel! – Disse Jorge se levantando e dando as costas para Gabriel – Eu sei o que eu quero e vim atrás... O que você quer? – E com uns passos grandes Jorge se retirou da casa, deixado Gabriel em pedaços com um café morno sobre a mesa.

Quando Jorge saiu pela porta da frente, Gabriel notou a presença da sua mãe que tinha adentrado no recinto pelas portas dos fundos.

- Eu lembrei que tinha pão no armário então... – Disse Lu de olhos semiabertos para a porta.

- Mãe!? – Gabriel se assustou

- Gabriel, se você não for com aquele homem, eu vou! – Disse Lu sorrindo com o mesmo sorriso de Gabriel.

- Mãe! – Disse Gabriel começando a chorar

- Aah meu filho.... Olha – Começou transpassando seu carinho materno – Você sabe que... que eu e seu pai estamos tentando fazer com que essa transição seja menos dolorosa possível para você e sua irmã, não é? - Gabriel concordou com a cabeça enquanto Lu limpava as lágrimas do filho com os dedos. - ...mas não tem como não ser.... é claro que vai doer meu nego, e que bom que dói, pois significa que você se importa e.... Eu te amo tanto... Eu adoraria que você passasse esses últimos dias aqui comigo, mas... Não é típico de ti ficar aqui – Gabriel olhou para sua mãe como se pedisse permissão para ir com os olhos – Então meu filho... Eu percebi que você não queria ficar mesmo, pois desde que você chegou não desfez as malas ainda, então vai... Pega essas malas e some daqui – Disse Lu com lágrimas nos olhos também.

- Você tem certeza mãe...?

- Sim, outra coisa.... Eu organizo as coisas aqui em casa, tudo, eu juro, aí você não precisa voltar para cá, vá direto de... de... a cidade lá onde você está... Ah, outra coisa... Já resolveu como serão as coisas com a nova data?

- Nova o quê? - Perguntou Gabriel assustado.

- Nova data, filho... você não leu sua carta de admissão!? - Dona Lu perguntou com naturalidade.

- Li sim, mas... do que você está falando, mãe?

- Filho... As aulas começarão ano que vem..., mas você tem que estar lá antes.

- Antes...? O quão antes?

- Bem antes...

- Pega lá a sua carta, nego. - Ordenou a mãe apontando o dedo para o cômodo ao lado.

Gabriel voou até a sala e voltou com a carta em mãos, lendo detalhadamente dessa vez.

- Ah não, mãe... 25 de setembro?

- Isso é uma coisa boa filho,

- Nós estaremos lá já quando você for... Sua irmã disse que quer ir a alguns pontos turísticos com você, o que acha?

- Eu acho que tenho menos tempo que achei que tinha... 25 de setembro, mãe...

- Sim, filho... Eu o aconselho a ir de lá já

- Ir pra Europa de lá!?

- Sim, é mais fácil, menos cansativo para você...

- Tudo bem - Disse Gabriel sorrindo dividindo novamente o mesmo sorriso com a mãe.

- Diz tchau para o pai por mim?

- Digo, disso sim! – Disse Lu animada, vendo o filho correr com as malas para o quarto.

- Diz para mana que eu a vejo lá!? – Digo sim – Gritou Lu vendo o filho correr para a porta.

- Não esquece de tomar o remédio!! - Gritou da porta.

- Diz para o Rodrigo que – E quando Gabriel abriu a porta viu que Rodrigo estava parado na porta da frente com o braço erguido como se estivesse prestes a bater

- O portão estava aberto.... Então... – Rodrigo olhou par a mala de Gabriel e imediatamente seus olhos se encheram de lágrimas. Ele tentou não demonstrar nenhuma emoção facial, em vão. – Não... Gabriel...

Gabriel deixou a mala desabar no chão, subiu em cima dela e pela primeira vez na vida ficou dez centímetros maior que Rodrigo. Os dois se entreolharam por um momento e procuraram se entender por meio a olhares, Gabriel sabia que aquela seria a última vez que veria Rodrigo. Respirou fundo ao vê-lo envermelhecer. Havia tanto para dizer e não haviam palavra suficientes.

- Eu tenho que ir... - Deu um beijo em sua testa – Desculpa tá?

Rodrigo sentiu que aquelas palavras doeram no seu peito mais uma vez, olhou para trás e viu Gabriel entrando numa caminhonete azul, ouviu um cachorro latir e o som de três rapazes gritarem, viu a caminhonete se mover e Gabriel sumir de sua vista e de sua vida para sempre.

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