Cap.14
Nos olhamos naquele momento. O olhar dele era indescritível, eu não sabia o que dizer. Apenas afastei minha mão dali e continuei vendo o filme, como se nada estivesse acontecendo. Não podia acreditar que aquele toque me deixou nervoso. Não, eu não tinha a opção de me deixar levar pelos sentimentos que ele me causava.
TEMPO DEPOIS
Passamos um bom tempo vendo aquele filme, que era muito legal e me deixou tenso e alegre diversas vezes. E mais uma vez, aquele meu encontro com ele serviu para tirar melhores conclusões sobre a pessoa que ele é. E cada vez mais eu me arrependo de ter sido rude com ele, em vez de ter sido educado e quem sabe ter sido o sortudo a ganhar o coração dele. Afinal, depois de tudo o que eu ouvi, era óbvio que ele era uma pessoa especial. Um típico cavalheiro divertido, inteligente e trabalhador, sonho de qualquer pessoa que quer ter um bom partido, ou um bom casamento. E saber que um dia eu ofendi essa pessoa, como me arrependo.
- Poxa ,acabou - falou ele, enquanto os créditos do filme subiam pela tela.
- Pois é... Mas foi bem legal o filme.
- Serviu para a gente se divertir. Não é Félix ? - falou, pegando o gato no colo - É sim papai ! - falou, com uma voz infantil me levando ao riso - o que você quer fazer agora ?
- Ah, não sei. Quem me chamou aqui foi você...
- Mas creio eu que você não quer dormir a essa hora - ele pareceu pensar durante alguns segundos, e logo esboçou um sorriso - já sei !
- O que ?
- Vamos comer uma lasanha e abrir um vinho novo que eu comprei.
- Lasanha ? Mas aonde vamos comprar ?
- E quem falou em comprar ? - arregalei os olhos.
- Você quer cozinhar a essa hora ?
- Ainda está cedo - falou ele, pegando no celular - então vamos ! - ri. Definitivamente ele era um louco. Mas era um louco bonito.
MINUTOS MAIS TARDE
E não é que ele me fez pegar na massa. Tive que fazer um molho de tomate caseiro para ele.
- E então, sai ou não esse molho ?
- Vai sair na sua cabeça - falei, rindo.
- Olha, eu ainda sou seu chefe.
- É... Mas também é meu amigo... - ele parou e olhou para mim.
- Você se considera meu amigo ?
- Claro, você não ? Você me tira do buraco, me ajuda a me manter íntegro, está sempre perto de mim, me trás a sua casa. Com certeza somos amigos - ele riu.
- É, somos... - e então eu continuei fazendo o molho.
- Só espero que um dia eu possa criar uma amizade firme, capaz de superar tudo, com você - ele ficou em silêncio durante alguns segundos, mas logo se pronunciou.
- Porquê ?
- Não... Por nada... - quem sabe um dia ele virando realmente meu amigo, me perdoasse por todas essas burradas que eu cometi.
MINUTOS MAIS TARDE
Enquanto esperávamos a lasanha gratinar, ficávamos a beira da varanda, com a ótima visão da Praia do Leblon.
- E aí, como vai indo o seu trabalho ? - perguntou ele.
- A mesma coisa extressante de sempre. Mas eu não posso reclamar né, já é bom estar trabalhando.
- Sabe... Minha secretária foi promovida semana passada - falou, enquanto servia o vinho para nós dois.
- Sério ? E aí ?
- Ela vai trabalhar no RH, mas agora não mais como simples secretária. Ela vai chefiar o RH.
- Ah, que legal, vai ter um aumento de salário.
- É, mas não é sobre ela que eu queria conversar.
- Não ? Queria te perguntar se você não quer assumir a vaga dela ?
- Eu ? Me tornar seu secretário ?
- É... Como você mesmo sabe, eu trabalho pouco na empresa, e você só precisa estar na empresa se eu chamar, caso contrário apenas deverá ficar atento aos telefones e aos e-mails. Terá que fazer planilhas, anexar alguns arquivos, e organizar a minha agenda. O salário é maior e acho que é menos estressante, já que a maior parte do trabalho você pode fazer em casa.
- Nossa... Mas que... Proposta inesperada - eu realmente estava estarrecido. Não pensava que tão rápido iria ter a chance de sair do marketing.
- Pois é... Mas enfim, você tem essa semana para pensar, e me dar a resposta - falou, se levantando e indo em direção a cozinha - já está pronto ! - ele gritou. Eu fiquei lá, olhando pro vinho, olhando pro mar, sem saber o que dizer. Havia sido extremamente inesperada a proposta. E eu não sabia que ia ser tão rápido assim e já estava bem tentado a aceitar. Agora trabalharia ao lado dele.
MINUTOS DEPOIS
Comiamos a lasanha, que estava uma delicia enquanto bebiamos o vinho.
- E música, você gosta de quais ?
- Ah, apesar de ser carioca não curto funk e nem pagode.
- Então temos gostos parecidos.
- Acho que Tom Jobim, Rock, são músicas que eu costumo ouvir muito.
- É... - passamos uma boa parte da noite conversando naquela varanda, esperando o sono bater. Porém, o sono não vinha, conversavamos, bebiamos, e quando fomos ver já estávamos bem alegres. Minha visão estava ligeiramente embaçada, mas eu podia ver claramente 3 garrafas de vinho jogadas no chão, completamente vazias, e mais uma aberta. É, tínhamos nos embebedado com vinho. E ele começou a se abrir - sabe do que eu sinto saudade ?
- Do que ?
- De um namoro...
- Ué, mas e porquê você não encontra um namorado ?
- Porquê ninguém me quer. E eu sou um chato, é difícil eu gostar de alguém. Até hoje todas as pessoas que eu gostei me maltrataram - ele olhava para mim, com um olhar enigmático, falando a língua do álcool - você nunca vai me maltratar não e ?
- Porquê eu iria maltratar você ? Sendo que até hoje você foi a única pessoa que me mostrou compaixão - ele continuou olhando para mim, de repente então se levantou e veio para a frente de mim.
- Promete que nunca vai me maltratar Daniel ! - eu já não estava conseguindo enxergar direito.
- Promete ! - notei quando ele se aproximou ainda mais de mim, e eu podia sentir a sua respiração.
- Eu... Eu prometo Marcos... - ele continuou me olhando, bem de perto, tão perto que eu podia sentir seu hálito. E quando eu menos esperava ele me roubou... Me roubou o ar, me roubou o sentimento. Me roubou um beijo.
Continua
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