Podia sentir de perto o poder que a Jú experimentou naquele momento... ela estava no controle da situação... e poderia fazer o que quisesse... pois só precisava entrar ali e mostrar o cartaz a dona Alba, mãe dela... e não era só o patrocínio da escola que o MURILÃO perderia... também haveria até suspensão dos alunos envolvidos... sim, a Jú estava com tudo nas mãos... ela me olhou nos olhos e virando-se pra mim falou..
Jú> Você decide Gabriel... (e sorriu) você decide o que eu faço... se eu entrego a mainha a prova do crime (e gritou quando notou que dois alunos faziam menção em lhe arrancar o cartaz da mão) não adianta, eu tirei foto com o celular! (blefou, pois não tinha tirado foto nenhuma, e eles caíram... os dois meninos se afastaram) continuando... você decide Gabi, eu entrego a mainha ou (e olhando de forma perversa pra turma) ou eu digo o que a turma tem que fazer para remediar essa infelicidade (apontou pro cartaz). E então Gabi, o que será?
Olhei ao redor e pensei... o que fazer? Eu tava com ódio do Danilo... queria que ele se ferrasse... mas não queria que o MURILÃO se ferrasse... então, tomei uma decisão...
Gabriel> Jú não quero que o time pague (ouvimos um uhhh, geral) mas não estou feliz com todos... nem triste... estou envergonhado... muito envergonhado...
Muitos falavam ao mesmo tempo, dizendo que foi mal... outros pedindo desculpas... dizendo que não tiveram nada a ver... que apenas riram como uma brincadeira... e nisso tudo o Danilo estava calado...
Gabriel> embora envergonhado de toda a turma, eu não quero que você entregue o cartaz a sua mãe... não quero... (foi geral a alegria...) mas eu quero que diga a turma o que eles têm que fazer para remediar essa situação... como você mesma disse...
A Jú sorriu abertamente, e foi aí que percebi que ela nunca iria entregar o time... mas forjou aquela situação simplesmente para poder ter a certeza de que o seu pedido iria ser atendido... então, após um silencio apreensivo, Jú finalmente falou:
Jú> Certo... não vou entregar... (todos, exceto o Danilo falou, valeu Jú...) mas, pra que eu não faça isso... preciso que vocês cumpra com uma única coisinha... (e ela foi implacável!)
Jú> Eu quero que vocês expulsem o Danilo do time...
Todos olharam para o Danilo ao mesmo tempo... inclusive eu. Ele estava vermelho... com tanto ódio que lágrimas vinham em seus olhos... a Jú, e eu, sustentamos o seu olhar que ia de meus olhos para os dela...
Jú> Ele, enquanto estiver nesta escola... enquanto o time tiver como patrocínio a escola de minha mãe, ele (apontou para o Danilo) não deverá nunca entrar nem num treino... nem olhar treinar... quero EXPULSÃO GERAL...
E olhando pra turma incrédula... falou
Jú> É pegar ou largar...
Olhei pra aquela garota ali no meu lado e fiquei orgulhoso... se ela falasse pra sua mãe simplesmente o time deixaria de existir... e todos, inclusive eu e a Jú, amamos o time... além de que teria que justificar o porquê de Danilo ter feito o cartaz... e uma história puxa a outra... até chegar no cerne da questão e desvendar tudo... mas daquela forma... o time tava salvo... a minha moral estava intacta... e o Danilo iria se ferrar... simplesmente perfeito. O Daniel (sem ser o professor) era o capitão do time... ele se aproximou da Jú e falou:
Daniel> Tú vai ter minha palavra... o Danilo ta fora do time...
Então a Jú rasgou o cartaz... e jogou no lixo... quando se virou o Danilo já havia saído... não sei se experimentamos uma vitória... aff, aquele dia tava tão errado!
Voltamos a sala de aula... ainda teríamos duas aulas... sentei calado no meu canto com a Jú toda sorridente do lado... sorridente não... vitoriosa... os demais nos olhavam em silencio... não dava pra perceber o que eles estavam pensando! A aula começou e esquecemos um pouco do episódio... o Danilo não estava em sala de aula... mas as coisas dele ainda estavam na sala... fiquei pensando pra onde ele teria ido e o que estava fazendo. Eu queria acreditar que o que a Jú fez daria um jeito no Danilo, mas algo me dizia que somente havia soprado uma brasa...
Acredito que o Danilo tenha ficado puto... e que seu ódio só aumentara... o time da sala era um ícone para todos... até para quem não curtia futebol... tudo girava em torno dele... se tínhamos notas altas... era pra justificar o patrocínio... se tínhamos aulas de educação física, estas eram dispensadas para os atletas que faziam parte do time... e para os demais... trabalhos que envolviam os treinos e dinâmica do MURILÃO...
Festas eram organizadas pra arrecadar fundos... gincanas... pit-stop nos faróis pra divulgar jogos... era muito bacana o empenho da turma... e o Danilo iria perder tudo isso...
Quando a aula terminou sai pra a biblioteca... ainda não havia falado com o Guilherme... liguei e seu celular estava desligado, ou fora da área de cobertura... a Jú foi falar com a mãe dela... parece que teria que ir almoçar com a avó, sei lá... era um rolo que não lembro muito... mas como eu tinha pelo menos uns 20 minutos antes do almoço... fui a biblioteca pegar um paradidático... ia ter aula de literatura na próxima semana... e eu detesto ler resumos... a biblioteca estava quase vazia, e então corri para a prateleira correspondente ao livro que queria, quando vejo algo que não esperava... mas não mesmo!
Estava ali de cabeça baixa... nariz vermelho, chorando. Danilo!
Mas era um choro sem som... contido... silencioso... mordaz. O Danilo estava sentado no canto, no chão com os joelhos recolhidos e rasgava folha por folha de um livro, enquanto lágrimas caiam de seus olhos... era uma visão terrível... sentia seu corpo todo retesado... como se estivesse sentindo uma dor absoluta... enorme... assassina...
Fiquei com medo... muito medo do que poderia dali sair... provavelmente muito ódio e uma avalanche de retaliações... todas direcionadas pra mim... tinha que sair dali... me afastei silenciosamente... pra não tocar em nada nem ele perceber... quando escuto.
Danilo> Não sai desgraçado!
Meu corpo tremeu todo. Ele sabia que eu estava ali!
O Danilo ficou sentado... rasgando o livro... senti que era a mim que ele queria rasgar... senti que era a mim que o Danilo queria destruir... fiquei imóvel sem conseguir me mover... e o Danilo continuava a rasgar o livro enquanto lágrimas silenciosas caiam. Era uma sena grotesca. Como se eu estivesse perto de um animal selvagem que a qualquer momento iria me atacar se eu fizesse o menor movimento... mas, eu teria que fugir dali...
Gabriel> Tenho que ir Danilo (fui interrompido)
Danilo> Fica ai seu desgraçado (falou entre os dentes e começou a rasgar o livro descontroladamente... ate destruí-lo por completo.) não saia...
O Danilo se levantou e com as costas das mãos, passou pelo nariz que escorria... se aproximou de mim enquanto eu recuava... e ele se aproximava cada vez mais rápido... pegou pela gola de minha camiseta e bateu-me com força contra a parede. Doeu bastante... pois ainda estava com as costas machucadas do dia do Guilherme... gemi de dor.
Gabriel> Danilo, você não pode me bater... estamos na escola... (falei num fio de voz) dentro da biblioteca... você...
Danilo> Cala essa porra! Seu viado de merda... (pegou com as mãos no meu pescoço e apartou) eu vou acabar contigo... olha estas lágrimas aqui seu desgraçado! Você se acha esperto né... pois saiba que não é merda nenhuma...
Gabriel> Eu não...
Senti as mãos dele apertarem minha boca como se quisesse arrancar minha mandíbula... não conseguia falar daquele jeito.
Ele estava descontrolado!
O Danilo estava absolutamente fora de si... ele continuava a chorar compulsivamente... me apertava a garganta com uma mão e com a outra ele segurava minha boca, afundando os dedos que chegava a doer tanto que pensei que ele iria quebrar algum... senti um joelho dele segurar minha cocha... eu estava totalmente imobilizado... ele virou minha cabeça pro lado e falou junto ao meu ouvido... sua voz era de desprezo e havia tanta raiva contida que cuspia-me enquanto falava...
Danilo> Ouviu? Você não é merda nenhuma... é um viado nojento... (seus olhos saiam da órbita – balancei a cabeça pra tentar me livrar das mãos dele... mas pareciam ferro – o Danilo era muito forte) só não te quebro agora mesmo porque tem gente aqui... (tinha alguns alunos nas cabines de leitura e dois bibliotecários) mas eu vou te fazer sofrer como nunca imaginou na vida... (e senti ele tirar a mão de meu pescoço e pôr na calça, quando retira de lá um objeto – o estalo!)
Deus, era um canivete!
A lâmina era meio gasta... mas brilhava ainda... nossa! Senti um frio na espinha... os olhos do Danilo eram tão terríveis que temi ele me matar... peguei e segurei uma das mãos dele... a que estava na minha boca... e tentei puxar... ele encostou o canivete no meu rosto...
Danilo> Se não ficar parado, rasgo essa tua cara nojenta!
Soltei o braço dele instantaneamente...
Gabriel> Você não é louco Danilo de me furar aqui... (estava morrendo de medo, mas precisava trazê-lo a razão - eu falava com dificuldade... ele ainda mantinha a mão na minha boca) Danilo, não vá fazer besteira cara! Estamos na escola...
Danilo> Calado (falou entre os dentes) já falei... cala a porra dessa boca... (apertou mais ainda, que senti gosto de sangue na boca) só quero avisar uma coisa seu nojento... a partir de hoje eu vou te infernizar a vida... você está fudido comigo... porque simplesmente eu te caçarei como se caça um verme... (parou e ficou olhando meus olhos) e pra você entender até onde eu pretendo ir, vou te deixar só uma provinha...
E então, ele tirou a mão de minha boca e segurou meu cabelo puxando minha cabeça pra trás... pegou o canivete e fez... Ele pôs o canivete abaixo de minha nuca... enquanto a mão estava no meu cabelo puxando pra traz... E começou a arrancar boa parte.
Quando percebi o que ele tava fazendo, dei um chute em sua perna o que o desequilibrou e minimizou o estrago... ele retirou pouca parte do cabelo... mas tirou... Contudo, com o chute ele caiu no chão... feio... com as costas batendo numa mesa próxima... eu toquei o meu cabelo e percebi que havia sido tirado uma parte de baixo... próximo a nuca... então eu ceguei... nunca senti um ódio tão grande em minha vida... meu corpo tremia todo e olhei pra ele caído no chão com um punhado de cabelos em sua mão... o canivete na outra e um sorriso diabólico na boca. Então, cego parti pra cima dele!
Gabriel> Seu imbecil... louco (gritava) louco! Saia de perto de mim...
Voz> Psiuuu... Silêncio! (voz da bibliotecária)
Vendo aquilo o Danilo se levantou rápido... pôs as mãos no bolso...
Gabriel> Imbecil! Cara idiota (eu tremia) olha a merda que você fez... (dizia pegando no meu próprio cabelo...)
Bibliotecária> Querem fazer silêncio, ou se retirem (escutei ao fundo... uma porta sendo aberta)
Danilo apenas ria adorando tudo...
Danilo> É melhor você ficar calminho Gabrielzinho... ou terá que explicar a bibliotecária o porquê dessa revolta toda... (mas foi surpreendido)
O tapa que dei na cara dele... foi tão forte que ecoou pela biblioteca...
O rosto moreno do Danilo ficou com a marca de cinco dedos... vermelho rubro. Sua expressão foi de total incredulidade... o sorriso apagou-se instantaneamente e ele ficou tão surpreso e chocado que me olhava como se não acreditasse naquilo... mas foi segundos porque seu ódio foi tão grande que ele seus lábios ficaram brancos de tão apertados... e então... ele tirou o canivete do bolso e quando fez menção de se aproximar de mim...
Bibliotecária> O que tá acontecendo aqui? (ela chegou do meu lado – vi o Danilo voltar a por a mão no bolso)... estão discutindo? (olhou pra mim e pro Danilo... ficamos mudos)
que som foi este que escute... (o Danilo virou o rosto pra ela não ver a marca do tapa enquanto falou)...
Danilo> foi nada não tia... apenas uma cadeira que caiu... (e passou por mim me abraçou) agente tava ensaiando pra uma apresentação de literatura... mas já terminamos...(abraçado comigo)...
Bibliotecária> Aqui não é lugar pra ensaios... vão para o auditório... (e ficou nos olhando desconfiada)
Danilo> Boa ideia (sarcástico) mas vamos lá... tenho que ir... Gabrielzinho te vejo depois pra a gente continuar nosso ensaio... (e ao meu ouvido) e garanto que isso vai te doer muito... (mais alto) até mais tia...
E saiu... eu estava com tanto ódio que continuava parado... e como que saísse de um transe, olhei pra bibliotecária e falei que iria pra casa... ela estava com a mão na boca com ar de dúvida... me viu sair e olhou ao redor... pra a mesa... e todas as cadeiras devidamente no seu lugar...
Quando sai da biblioteca eu olhei ao redor... eu queria encontrar o Danilo... estava com tanta raiva que saí feito um louco andando rápido e olhando pra todo lado a procura do Danilo... meu celular começou a tocar... mas eu não dei bola... estava procurando aquele imbecil... ele tinha que pagar pelo que fez... cada vez que eu tocava meu cabelo era sentia a raiva crescer... queria voar nele... nem que eu me arrebentasse... mas ele também iria se ferir... gente! Nunca senti tanto ódio em minha vida antes... eu quase correia pelos lugares a procura dele... parecia que tinha evaporado... o celular voltou a tocar... senti lágrimas nos olhos... o corpo todo dolorido e uma vontade insana se apoderar de mim... doía meu peito... cadê o cara... onde ELE SE ENFIOU... o celular volta a tocar... MALDITO CELULAR! Pequei sem olha e desliguei na hora... corri por todas as salas... pelos banheiros... corredores... diretoria... almoxarifado... cantina... academia... auditório... sala de professores... QUE MERDA ONDE ELE SE ENFIUOU? E quando estava prestes a um ataque de nervos, senti duas mãos fortes no meu ombro me puxarem violentamente...
Só não caí porque aquelas mesmas mãos me seguraram nos braços... e pela dor que eu estava sentindo, percebi que havia mais alguém com muita raiva...
Guilherme> O que deu em você?
Seus olhos estavam flamejantes...
Guilherme> Onde você estava? Com quem... fazendo o que? (e já quase me sacudindo) fazendo o que Gabriel que te motivou a não atender minhas ligações... (e apertando tão forte meu braço que a dor se tornou insuportável) e pior... recusou...
Eu não conseguia raciocinar... não estava entendendo nada... só gemi de dor...
Guilherme> O que deu em você? Hein? Me responde... mas seja convincente... porque... porque... (e sua voz falhou...) porque eu estou disposto a te dar uma surra seu infeliz...
Jesus! Que dia era aquele?
Aff... gente eu não queria... não queria mesmo... estava com ódio... muita raiva... revoltado... mas só em ouvir o Guilherme dizer “eu estou disposto a te dar uma surra seu infeliz...” me deu tanta dor... tanta mágoa que comecei a chorar... que raiva... eu desabei... o Gui, não... pesava... ele não! Hoje não! Só hoje... eu não suportava ele brigar comigo naquele momento... então, exausto, caí no choro...
Guilherme> Droga! Merda! (praguejou e puxou-me... puxou-me não, arrastou-me pra o carro...)
Quando entrei e chorei como nunca... ouvi a porta bater do meu lado... e com rapidez deu a volta entrou no carro e bateu violentamente fechando a porta.
Guilherme> Me fala agora... e pare de chorar porra! (gritava – mas eu não conseguia) Gabriel para ou vou te dar motivos pra chorar...
Foi quando eu baixei com revolta minha cabeça e pus entre as pernas com as mãos no rosto... queria fugir dali...
Guilherme> Pela última vez... pare de (e subitamente ele se calou – senti suas mãos em minha cabeça e seus dedos tocou minha nuca... ele viu... ele estava tocando a parte raspada do cabelo) Deus... o que te aconteceu?
E me puxou pra ele... E pela primeira vez naquele dia eu vi olhos que valiam a pena... olhos de amor e muita preocupação...
Guilherme> O que aconteceu Gabriel... você vai me contar... ou não? (ele estava ainda muito nervoso, mas o tom não era de raiva... era de preocupação)
Eu baixei os olhos respirei fundo e falei...
Gabriel> Me deixa... se você vai me bater... ou qualquer outra coisa... pare... só quero procurar alguém... me deixe... (e suspirando) não precisa me ajudar... só quero...
Guilherme> Gabriel, pela última vez (ele tentava se controlar) me fale o que está acontecendo, porra!
Olhei e o enfrentei...
Gabriel> eu não quero sua opinião, ou ajuda... me deixe agir sozinho... resolver sozinho meus problemas... você não tem nada a ver... (interrompido)
Guilherme> Nada a ver? Nada haver Gabriel? Porra! (e esmurrou o volante repetidas vezes) porra Gabriel... que merda é essa toda? Quem pensa que sou? O que pensa que sou... tu não sabe nada! NADA!
Olhava sem entender ele...
Guilherme> Você sabe pelo que eu estou passando? Não sabe nada Gabriel... NADA... pra mim é difícil... difícil demais... ter que entender que eu amo a porra de um cara... que eu amo você... e como? E por que? Eu não sei... mas sei que vou enfrentar uma barra enorme... com minha profissão... meus amigos... alguns familiares... mas eu sei que QUERO ENFRENTAR... (gritava) por você... e por mim... você não tem ideia do que é o meu mundo cara... mundo de lutadores... de caras machões... de homens... de caras que ou falam da foda com a última mina que pegou... ou dos tapas nas bichinhas que deu... CARA VOCÊ NÃO TEM IDEIA DO MEU MUNDO! Mas eu não quero ele... não quero esse mundo sem você! E o mínimo que você deveria me dar... era o respeito de saber o que te aconteceu... e sim... porque eu tenho TUDO A VER! SEU PROBLEMA É MEU... E EU NUNCA TE DEIXAREI SOZINHO PORQUE ENTENDA SEU PORRA! VOCÊ... É... MEEEUUU!
E virou o rosto para o lado, olhando lá fora... com o punho encostado na boca... ficou em silêncio... depois de um tempo, voltou seu rosto pra mim e pegou minhas mãos unindo-as...
Guilherme> Gabriel... eu preciso falar contigo... (suspirou) falar seriamente contigo... contar o porquê de eu ter me tornado uma pessoa assim... obcecado pela verdade... (eu ia falar e ele me silenciou) espera! Não tou dizendo que você mente... sei que é honesto... maravilhosamente verdadeiro... mas eu quero que entenda o que me fez ser esta pessoa que sou... só que agora eu não posso falar pois tou preocupado com você (falava como se falasse com uma criança) quero uma coisa Gabriel... que entenda... pra mim fidelidade apenas ser fiel, ou seja, eu não te trair com alguém... nem você me trair... eu preciso de mais... eu preciso de lealdade... e ser leal é eu estar a par de tudo de sua vida, como deixarei você a par da minha... lealdade é absolutamente tudo! Por isso me conte... por favor... conte-me o que está acontecendo...
Respirei fundo.
Gabriel> Eu não queria te contar Guilherme... (ele tentou falar e foi minha vez de interferir) porque quando souber, eu não sei o que fará... ou melhor... eu sei... e tenho medo que não pare... tenho medo de que você... você... cometa uma loucura!
E então ele me olhou com imensa seriedade...
Guilherme> Só saberemos quando contar! E sei que não tem outra escolha...
Fechei os olhos, suspirei profundamente e contei...
A reação do Guilherme não poderia ser outra. À medida que contava tudo, o Guilherme ficava rubro e com o rosto endurecido... desde a caricatura... a atitude da Juliana, a forma com que ela se vingou por mim do Danilo e o fatídico encontro na biblioteca... culminado com o que ele havia feito no meu cabelo... então ele abriu a porta do carro e saiu... seus punhos estavam cerrados e ele olhava ao redor absolutamente cego de si... pensei que ele fosse chutar alguma coisa... ou bater no próprio carro... sei lá, descarregar alguma coisa... mas ao invés disso... via apenas parado olhando pra frente... com as mãos crispadas e os músculos do braço retesados... então pegou o celular e falou rapidamente com alguém... desligou... abriu a porta, entrou dentro do carro e pegou meu rosto com as mãos e me deu um beijo possessivo, rápido... soltou-me... pôs o meu sinto de segurança, ligou o carro e arrancou, 180km... Quando percebi estava no em Boa Viagem, em frente ao prédio dele.
Guilherme> Suba... você lembra a senha...
Gabriel> O que você vai fazer Guilher... (interrompido)...
Guilherme> Você (lentamente) lembra a porra da senha?
Balancei a cabeça afirmativamente. Ele, indiferente quem poderia nos ver, me beijou novamente... desta vez com carinho...
Guilherme> Suba e me espere... e (pegou sua carteira de dinheiro e me entregou) peça algo para a gente almoçar... tentarei voltar logo... (e passando por cima de mim – tirou meu sinto e abriu a minha porta) se sentir fome, coma, não me espere... mas preferia que me esperasse pra comer contigo... (respirou e falou) vai fazer o que peço? (balancei a cabeça afirmativamente) então desce bebê... e me espera ok...
Desci, e antes que ele saísse, falei...
Guilherme> Pra onde você vai Guilherme?
Ele me olhou detidamente, suspirou e apenas disse...
Guilherme> Pegar algumas coisas de volta...
E saiu em disparada. Cheguei na entrada do prédio e interfonei para o porteiro... ouvi surpreso...
Porteiro> Boa tarde senhor Gabriel... vou abrir o portão...
E o som metálico surgiu, abrindo o portão de vidro... fiquei surpreso... ele já sabia quem eu era... e só tinha ido apenas uma única vez... entrei e me dirigi por elevador... acenei para o porteiro debilmente, e ele, muito profissional, apenas assentiu com a cabeça. Entrei no elevador e digitei a senha... apareceu o andar... 10 – igual ao meu, coincidência! E o elevador se moveu rapidamente, abrindo já no aparamento do Guilherme. Entrei e senti um frio no estomago... lembrei os momentos incríveis que vivi ali... a primeira intimidade com o Guilherme.... o banho que tomamos... nossa... parecia a séculos... mas, contudo, nítido em minha memória... Caminhei e vi melhor aquele apartamento. Na realidade era amplo... enorme... tinha poucas paredes... com uma cozinha americana que comunicava com todos os ambientes, as duas salas de star.. a sala de jantar... o lavabo... o escritório e o quarto do Gui e os outros dois, mais afastados... ainda tinha uma enorme varanda... na realidade era varanda pra todo lado... o apartamento era circulado por uma imensa varanda que ia de ponta a ponta... passando por todos os quartos... onde ficava privativa apenas na suíte principal... deveria ter custado uma nota! E então percebi que enquanto fazia turismo no apartamento do Guilherme, simplesmente ele havia saído em disparada para fazer alguma coisa que poderiam ter consequências desastrosas...
Resolvi ligar pra Jú... o celular estava desligado! Droga... quando quero falar com aquela doida ela tá com o celular desligado! Se eu não quisesse ela enchendo o saco. Fui pra cozinha e procurei um copo... nossa como tudo era organizado... nem parecia apartamento de homem... peguei um copo d’água e fui pra varanda... encontrei o binóculo lá... e a bendita lanterna, rs. Olhei pelo binóculo e visualizei a varanda de meu apartamento... CARAMBA... era como se eu estivesse ali dentro... nossa... vi até uma tampinha de garrafa ao pé da cama... poxa! E eu que fiquei apenas de cuecas ali... o Guilherme deve ter se divertido muito...
Deixei de lado o binóculo e fui olhar mais... olhar não fuçar... andei por todo o apartamento... olhei porta-retratos... só tinha dele... olhei o estoque de bebidas... olhei as revistas... olhei o home theater e todos os cd’s e dvd’s – me identifiquei com a maioria – e, mesmo querendo evitar... fui ao quarto dele e entrei... a cama estava arrumada... tudo organizado... lembrei do que vivemos ali e senti uma pontada de excitação... desviei os pensamentos e fui olhar o que ele guardava em cima do raque... claro que não ia abrir os armários... eu não era tão invasivo assim... olhava o que estava aparente... e vi uma coisa que me deixou curioso... tinha um caderno bem bonito... coberto com folhas de revista reciclada... era lindo mesmo... na capa tinha uma letra G. Eu fiquei pensando... o que seria aquilo... Será que deveria abrir o caderno? Deus que tentação...
Peguei o caderno na mão e levantei pra bem perto de meu rosto... meus dedos queriam tocar aquele caderno e abrir... era como uma coisa perigosa... meu coração estava disparado... estava tão entretido no caderno e na decisão de abri-lo ou não, que havia esquecido aonde o Guilherme tinha ido... e o que provavelmente fora fazer... tremi... Deus o que será que estava acontecendo naquele momento? Senti um aperto no coração e um medo insano de que algo de ruim acontecesse com o Guilherme, se ele não se controlasse e espancasse o Danilo, ou pior... se ele o... não, definitivamente o Guilherme não era dado a matar ninguém... claro que ele era esquentado... os meus braços recém doloridos que o digam, mas não... matar... não teria motivos até.... contudo fiquei apreensivo... sentei na cama e pus o caderno no meu colo... fiquei fitando o vazio... com medo do que o Gui poderia sofrer se ele se descontrolasse e batesse no nojento do Danilo... não queria de forma alguma aquilo... então, absorto nesses pensamentos olhei o caderno e o vi como se fosse a coisa mais estranha do mundo... e como se não fosse errado abri-lo, e como um autômato eu abri uma página aleatória...
Foi quando vi uma foto pregada... era do Guilherme com no máximoanos... era tão diferente... semblante leve... bonito mesmo e olha que eu não o achava bonito de rosto... com uma senhora de cabelos negros e olhos cor de mel... e do outro lado estava um homem... na realidade um homem forte alto e que a cabeça estava cortada... e uma frase me chamou atenção... “a virtude é flor de todos os climas e de todos os meios”... e do outro lado “um homem sem virtude é como um solo estéril”... e o mais impressionante “Eu odeio você, pra sempre” com uma seta apontada para o cara de cabeça cortada.
A quilo me fez acordar e ter noção da idiotice que eu estava fazendo... merda! Havia violado uma intimidade do Guilherme... e ele que confiou tanto em mim... fechei o caderno imediatamente... e, praguejando, coloquei-o no mesmo lugar... e agora... se ele perguntasse se eu o abri, eu iria confessar que sim... droga... só faço merda... ele nunca mais iria confiar em mim...
Sai rapidamente dali, como se aquele caderno fosse algo proibido... como se queimasse minha mão... estava novamente nervoso... poxa o que eu faria até que o Guilherme chegasse... se é que ele chegaria! Daí lembrei que ele me deixou com sua carteira para eu pedir o almoço! Fui pra cozinha e fiquei ali pesando no que pedia... poxa e agora? O que vou pedir... não conseguia decidir nada... só pensava em pizza... sanduíches, tortas salgadas... aff... almoço é horrível pra pedir... só pensava em coisas que davam certo para jantar... então decidi de vez... vou abrir essa dispensa e eu mesmo fazer nosso almoço... assim eu passo o tempo...
Abri a dispensa e avaliei a situação... tive medo das duas borboletas que saíram dali... brincadeira... tinha pouca coisa... também ele almoça fora quase todos os dias... pelo menos os últimos almoçou.... eu tava junto... rs... fui pra geladeira pra ver se ela me inspirava... tinha carne... frango... peixe... camarão... é, até que nada estava perdido... resolvi fazer um risoto de camarão com um peixe ao forno com alcaparras... será que tem alcaparras!
Comecei a cozinhar... e me distrai muito... foi bom, pois finalmente pude esquecer aquele dia terrível...
Quando estava decidindo se fazia sobremesa com sorvete ou creme de leite condensado meu celular tocou...
Era a Jú...
Jú> Caralho! Onde você tá?
Gabriel> Tou na casa do Guilherme... e olha quem pergunta onde tou... e você onde está?
Jú> Casa de minha avó... não sei o que tá acontecendo mas tua mãe ta tentando te ligar e seu celular não atende...
Gabriel> Aff, é problema da operadora... vou ligar pra ela...
Jú> Liga, porque ela ta alucinada querendo falar contigo... simplesmente ligou pra mainha pra falar comigo... liga ai seu Mané...
E desligou o celular...
Liguei pra mainha... deu sinal de desligado... daí tirei a bateria do meu celular e recoloquei... liguei-o e tornei a chamar o celular de minha mãe... tava chamando...
Mãe> Filho, onde você tá? Faz uma hora que tento falar contigo...
Gabriel> Tou na casa do Guilherme... eu vim... eu vim (o que eu iria dizer?)
Mãe> Melhor... fique ai... escuta filho, tenho algo muito sério pra te falar... escuta com atenção! Eu ter que viajar para porto (de galinhas) e me encontrar com uma turma de alunos que estão lá para passar a semana... terei que passar dois dias lá... volto na sexta à noite, pois um dos professores adoeceu e eu tenho que substituí-lo, a turma está sozinha lá, filho... são alunos de 10 a 12 anos...
Gabriel> Tudo bem mãe, eu me viro...
Mãe> Chama o Guilherme ai, quero falar para ele o que aconteceu... seria melhor que você ficasse ai... não quero te deixar sozinho... chama o Guilherme... (E agora?)
Gabriel> Mãe... mãe é que... o Guilherme... ele, ele (eu gaguejava – ate que fui interrompido)
Mãe> Pera filho... (ou vi ela conversar com alguém) olha não tenho mais tempo... o carro chegou... tenho que ir... quando chegar lá te ligo e falo com o Guilherme... bjos e se comporte viu...
E desligou antes que eu falasse alguma coisa. Ufa, pelo menos uma vez naquele dia algo dava certo... como justificar que eu estava sozinho no apartamento do Guilherme... e que ele tinha saído pra caçar lobisomens... Voltei pra meus afazeres... já tinha me decidido... creme de leite condensado com coco, leite e açúcar... alguém conhece cocada?
Era um doce rápido, fácil, com poucos ingredientes e que eu amava... era uma delícia... tinha visto um coco seco na geladeira... ralei... juntei com o leite condensado, com o leite normal, açúcar e levei ao fogo... 45 minutos depois ficou pronto... procurei uma travessa de vidro e despejei tudo ali... esperei uns minutinhos pra endurecer e cortei com uma faca em quadradinhos pequenos... pronto... só falta o suco... já era 2 da tarde... eu tava morrendo de fome... se eu fizesse o suco e o Guilherme não chegasse eu ia dormir... pois tinha resolvido esperá-lo pra almoçar e somente o sono pra matar a fome de leão que eu estava...
Abri a geladeira e fui procurar uva pra fazer um suco... olhei lá embaixo... nas gavetas... por todo canto... nada! Será que não tinha uva naquela casa? Fiquei de joelhos e me baixei... ouvi o som da porta do elevador... me levantei num pulo...
O Guilherme havia chegado! Ele entrou com passos decididos no apartamento. Parou em frente ao balcão e pôs as mãos nele... abertas me olhando profundamente... com o semblante sério... carrancudo... bem diferente daquela foto que eu havia visto... ele me olhou profundamente... fique encabulado com aquilo... eu estava estático... queria saber onde ele tinha ido... o que havia feito naquelas duas horas... olhei suas mãos e procurei alguma mancha... nada! Pra seu rosto... nada! E pra seus olhos... eles estavam interrogativos... meu Deus será que ele havia se arrependido de ter ido me defender... tirar satisfações comigo?
Guilherme> Cheiro bom... o que é? (falou depois de um tempo)
Gabriel> Depende? É do risoto... ou do peixe... ou da sobremesa... ou da salada?
Ele olhou para os pratos em cima do balcão admirado...
Guilherme> Onde pediu esse banquete? (ele riu pouco, meio sem graça)
Gabriel> Banquete? Era apenas o que deu pra fazer... (e olhando sua cara de surpresa, continuei) tá faltando comida nessa casa viu... (e ele sem entender, foi ai que percebi que ele não tinha entendido que eu havia cozinhado ao invés de pedir num restaurante) ah, eu que fiz... não pedi nada não... fiquei aqui sem ter o que fazer (lembrei da foto no caderno e pensei – é tinha o que fazer – mas era tudo ilegal)...
Ele sorriu um pouco mais agora...
Guilherme> Então além de cantar... massagear... eu tenho um garotinho que sabe cozinhar... (riu mais leve) então tá... só quero ver...
E saindo se dirigiu para o quarto...
Guilherme> Vou tomar um banho (gritou de lá) ponha a mesa... tou morrendo de fome...
E saiu sem nenhum beijo... aff, a cena clássica do homem que volta do trabalho e encontra a mulher prendada em casa com as mão fedendo a alho e cebola... e sem beijo...
Fui providenciar o suco... pelo menos eu iria comer até desmaiar... fiz suco de laranja e limão... já que uva era artigo de luxo ali... quando terminei o suco... fui procurar uma jarra pra por... quando estava pondo o suco na jarra (a jarra dentro da pia e o copo do espremedor de frutas em minha mãe despejando o liquido) sinto um beijo na minha nuca e mãos me abraçarem... tremi dos pés a cabeça e quase derramei o suco do susto e do arrepio juntos...
Gabriel> Guilherme! (assustado) que susto... quase derramo o suco...
Ele estava sem camisa só de bermuda branca e descalço... senti seu pau roçando na minha bunda... ele provavelmente estava sem cuecas... ele me abraçava forte e meu beijava o pescoço, então falou no meu ouvido...
Guilherme> Boa tarde, meu amor... tava morrendo de saudades... (e me abraçou forte... como se tivesse com medo de que eu sumisse dali) você não sabe como foi tão bom te ver aqui... como se tivesse em sua própria casa Biel... (entao ele tirou o copo do espremedor de frutas da minha mão e me virou – me abraçou dando um beijo profundo na minha boca – estava todo derretido nele) eu cheguei uma pilha de nervos e quando vi você o mundo lá fora se apagou... Oh Biel... porque isso acontece?
Eu não sabia... apenas toda vez ficava totalmente admirado com isso.
Guilherme> E fez meu almoço! Uhhh, assim vou casar!
Eu fiquei vermelho na hora e ele riu divertido... sentia os pelos dele ainda molhados grudados no próprio corpo... e senti também seu pau já duro no meio de minhas pernas...
Gabriel> Gui tá tudo pronto... vamos comer...
Ele me olhou de forma safada... com aquele meio sorriso... e eu já sabia o que ele ia falar... senti suas mãos na minha bunda...
Guilherme> Quer mesmo? (eu fiquei morto de vergonha e ele riu, suspirou e me soltou) vamos Biel... vamos almoçar...
Aprontamos a mesa rapidinho e eu servi o almoço... começamos a comer... o Guilherme estava morto de fome... o que ajuda no tempero... ufa... não tinha muitos ingredientes para incrementar... mas ficou bom o risoto e o peixe... nossa... eu mesmo estava surpreso... comi demais...
Guilherme> Nossa Biel... não sabia que cozinhava tão bem... vou engordar... tenho que me matar no ferro pra perder todos os kilos que vou ganhar...
Gabriel> Que nada Gui, seu corpo é perfeito (e fiquei vermelho na hora – ele riu divertido e falou)
Guilherme> Que bom que acha... fico feliz... (e sorrindo safado) ele é todo seu... (e piscou)
Ele tava bem menos bravo e sério... eu estava morrendo de curiosidade em saber o que ele havia feito quando esteve fora... foi procurar o Danilo? Se foi, encontrou? Se encontrou, o que fez? Eu tava quase tendo uma ulcera de ansiedade... e ele ali só falando amenidades...
Guilherme> O que pôs nesse peixe que ele tá incrível?
Eu já estava ficando exasperado...
Gabriel> Alcaparras e azeite! Guilherme... (interrompido)
Guilherme> Só isso! Magnífico... nossa... e neste risoto?
Gabriel> Shoyu, Gui... mas me diz...(e fui interrompido novamente)
Guilherme> Cara demais... demais... (comia de boca cheia) e a salada...
Gabriel> O segredo é o queijo coalho cortado fininho e frito... Guilherme... eu queria saber (interrompido)
Guilherme> Deveria abrir um restaurante... poderíamos pensar (interrompi)
Gabriel> Você achou o Danilo? E ele tá vivo?
O Guilherme soltou o garfo no prato e me olhou sério. Acho que deveria ter feito a pergunta de outra forma...
Gabriel> Ah, e a propósito... o suco tem toque de limão!
Esperei alguma coisa vir em minha direção... poderia ser o prato de risoto, ou a jarra de suco... ou ainda a mesa inteira virada por cima de mim... mas nada... apenas o Guilherme pegou o garfo de volta e começou a comer silenciosamente. Eu já havia perdido o apetite... tava curioso... me coçando... e não agüentei...
Gabriel> Gui, por favor... eu estou apreensivo... eu queria saber...
Ele parou de comer e me olhou sério...
Guilherme> Tá com medo de que eu o tenha batido? Deixado aleijado... (e falando com ironia, acrescento) morto? (fiquei calado) francamente Gabriel... o que você sente por esse cara que te preocupa ao extremo? (e continuou a comer com o semblante mais obscuro ainda)
Ele estava com ciúmes? Eu ri e não poderia acreditar nisso... ele com ciúmes do Danilo? Será? Decidi tirar qualquer dúvida daquilo...
Gabriel> Guilherme, a única coisa que eu quero desse cara é distância... (ele me olhou de rabo de olho) eu não tou nem ai pra ele... se passa um ônibus e o mata... tou me lixando (ele parou de comer e me olhou nos olhos como que estivesse tentando ver se estava falando a verdade) mas se você passa por cima dele e o mata... ai me preocupo, e muito (ele arqueou as sobrancelhas) mas com você... me preocupo contigo Gui...
Ele tinha parado de come totalmente. Só me fitava...
Gabriel> Não quero você preso... (e lembrei o que a Jú diria naquele momento – e eu mesmo disse) não quero visita intima em presídio...
E ele caiu na gargalhada... Fiquei puto... que idade mental ele pensava que eu tinha... aff. Minha fome voltou... peguei uma boa parte do risoto e pus no prato e comecei a comer carrancudo...
Guilherme> Oooh Biel... deixa de bobagem... não se preocupa eu não vou ser preso não viu...
Eu tava bravo... mas curioso...
Gabriel> Então me diz... pra onde você foi?
Guilherme> Encontrar dois amigos...
Gabriel> Encontrar dois amigos?
Fiquei na dúvida... o que ele iria fazer com dois amigos naquele momento... lembrei do que havia me dito... “pegar algumas coisas de volta”... o que ele foi pegar de volta... e porque foi encontrar dois amigos? Era com eles que estavam as coisas que ele queria de volta? Nossa minha mente era só confusão...
Gabriel> Encontrar dois amigos pra que?
Guilherme> Para eles garantirem uma coisa pra mim... (ele falava displicentemente)
Gabriel> Te garantir o que? Que coisa? (já estava em desespero)
Guilherme> Garantir que eu não faria merda...
Como assim? Ele fazer merda... nossa... o que o Guilherme fez?
Gabriel> Como assim? Não estou entendendo (ele tomava o suco calmamente) Gui! (tentei coordenar os pensamentos) você encontrou o Danilo?
Guilherme> Sim!
Olhei piscando várias vezes pra ele... ele havia encontrado o Danilo...
Gabriel> Aonde?
Não era essa a pergunta que eu queria fazer... mas saiu...
Guilherme> Na academia que ele frequenta...
Gabriel> E o que você fez...
Ele parou e ficou me olhando... em silencio...
Guilherme> O que eu me propus a fazer...
Gabriel> Mas o que foi (quase gritei... o Guilherme me olhou seriamente e falou)
Guilherme> Gabriel, é o seguinte... eu queria matar ele... realmente eu estava fora de mim... sabia disso... pois senti vontade de bater tanto naquele garoto que pensei que iria pirar... (ele respirou fundo) então liguei para o Bruno e o Hugo, esse você ainda não conhece... liguei pra eles e pedi que eles me segurassem quando eu visse o cara... e eles tiveram um trabalhão, vou confessar... mas me contive... então chamei o cara e... bem fiz o que fiz...
Eu não entendi... levou os amigos pra que se ele se descontrolasse e partisse pra cima do Danilo os amigos iriam segurá-lo, pra não cometer uma besteira? Era isso! Acho que sim... mas e o que ele realmente fez...
Gabriel> E o que você fez? Em...
Então ele pegou o celular e me mostrou uma foto...
Guilherme> Tirei pra te mostrar como aquele canalha pagou o que te fez...
Olhei pra foto e eu simplesmente não acreditei no que vi!
O Danilo com um olho roxo... inchado e estava careca!
Sem um único cabelo na cabeça... e em alguns lugares tinha cortes... acho que quando o Guilherme raspou-lhe a cabeça este deve ter tentado resistir e o deveria ter cortado... gente era muito feia a visão... o olho do Danilo estava rubro... e eu fiquei chocado com aquilo...
Gabriel> Meu Deus Gui... o que você fez ao garoto?
Guilherme> Nada mais do que ele merecia... e ainda mais... disse que ele te deixasse em paz... pois não quero mais ele te rondando...
E então o Guilherme se levantou e foi pra varanda... eu estava estático... paralisado... o que farei? O que direi ao Guilherme... senti que ele esperava algo de mim... alguma atitude... sei lá... como se quisesse um obrigado pelo que fiz por você...
Me levantei e me aproximei dele... eu o abracei e beijei-lhe as costas... senti ele aliviar a tensão... mas muito pouco... foi quando falei...
Gabriel> Não vou dizer que estou feliz Guilherme... eu não sou assim... eu não gosto de vinganças... nem de bater em alguém... mas o Danilo mereceu tudo aquilo... e eu acho que merecia mais... não vou dizer que estou com pena dele... pois não estou... eu estou com raiva... muita raiva... raiva porque as atitudes imbecis do Danilo levou-me a agir irracionalmente e dar um tapa nele... bem como te levou a fazer aquilo nele... te levou a ter uma atitude ruim com ele... o que me faz ficar com mais raiva...
O Guilherme se virou e me fitou demoradamente. Me abraçou forte e falou...
Guilherme> Não vai me recriminar pelo que fiz?
Eu balancei a cabeça negativamente...
Guilherme> E se eu te disser que o murro na cara foi o último de vários golpes na barriga dele que eu dei...
Eu olhei assustado... e ele riu...
Guilherme> Tá bom... só dei dois na barriga pra ele parar de se debater... se bem que ele não aguentaria mais de dois... rs
E então me abraçou mais ainda...
Guilherme> Ah... Biel, só você pra não pensar ruim de ninguém... essa sua lealdade me deixa maravilhado!
E uma nuvem negra passou-se por seus olhos... e nos meus também, pois lembrei do caderno que eu havia aberto... baixei a cabeça e falei... não consigo me conter... nunca consegui...
Gabriel> Gui, eu... eu... eu abri o caderno que tem um G na capa... (ele me soltou imediatamente e se afastou)
Guilherme> o que você fez? (incrédulo – então, já tinha começado, continuei)
Gabriel> Eu não queria abrir... foi involuntário... eu abri sem intenção e quando percebi já tinha aberto... mas... não vi nada demais... e só abri uma página que tinha uma foto... sua de uma mulher e de um homem – um homem cabeça... (e vendo ele parado sem ação, conclui) desculpe, não queria te decepcionar!
Ele se virou e ficou fitando a varanda... olhando a montanha de prédios lá fora... e eu fiquei apenas olhando pra suas costas... estava muito envergonhado do que havia feito e tinha medo de que ele achasse que eu era um curioso, bisbilhoteiro...
Gabriel> Gui... me perdoa... foi involuntário... não sabia que era íntimo... desculpa...
Ele se virou pra mim com o semblante sério... e falou...
Guilherme> Você só viu esta página Gabriel? Apenas esta?
Eu balancei a cabeça afirmativamente
Gabriel> E foi meio sem quere... abri sem pensar... e quando percebi, já tava aberto e não deixei de ver... me arrependi e fechei o caderno colocando no lugar... (suspirei) desculpa... (e baixei a cabeça).
Senti suas mãos no meu queixo, levantando minha cabeça até ele... ele sorria um pouco.
Guilherme> Obrigado por ser honesto sempre comigo Biel. (e me abraçou) aquele caderno não é uma espécie de diário... longe disso... ali contem coisas intimas minha... e como havia te prometido contar pra ti a questão da lealdade ser pra mim a mais importante qualidade de uma pessoa... vou lhe contar agora... pois a foto que você viu tem tudo a ver com o que quero te contar...
E suspirou... pegou-me pela mão e me conduziu ao quarto... fez-me sentar na cama e pegou o caderno...
Guilherme> Este caderno contém as coisas mais importantes de minha vida... ou os fatos mais importantes que aconteceram... eu os guardo... os registro aqui... e sempre guardo seguro... só que eu estava colocando algo novo... que um dia vou te mostrar... aliás... vou te mostrar o caderno todo... mas depois Biel... um dia, quando eu estiver mais seguro de tudo...
E abriu o caderno e me mostrou a foto...
Guilherme> Foi esta?
Balancei afirmativamente para a foto que continha o Guilherme com a senhora e o homem sem cabeça ao lado!
Guilherme> Biel, o que eu vou te contar... poucas pessoas sabem realmente o que aconteceu... poucas sabem.
Eu me lembrei do que o Bruno falou...
Gabriel> O Bruno sabe? (ele me olhou surpreso – rapidamente falei) é que naquele dia em que o massageei senti que ele queria falar algo de ti... quando chamei você de Hitler (ele arregalou os olhos) mas, desculpa... eu não penso isso não!
O Guilherme riu apenas e continuou...
Guilherme> O Bruno sabe... alguns outros amigos também... como o Alysson, o Samir, a Flávia e o Hugo... mas, o que eu quero te dizer Biel foi algo que mudou minha vida pra sempre... eu te disse que hoje te contaria o que aconteceu para que eu me tornasse essa pessoa que sou... grosso muitas vezes... ignorante... mas principalmente Biel, intolerante com a fidelidade e a lealdade... Biel o que eu vou te contar... diz respeito a essa foto... a exigência que tenho de que as pessoas sejam honestas e verdadeiras... e ao fato de eu ter parado de lutar...
Esperei automatizado... saberia então o quem era o Guilherme!
Guilherme> Meu pai e minha mãe me tiveram tarde... (ele se sentou na cama e pegou minhas mãos... eu estava sentado de frente pra ele... sentia-o tenso) minha mãe já tinha 33 anos... e meu pai 35 quando nasci... eles eram muito unidos... e eu cresci assim... admirando o amor deles... vendo-os dia a dia felizes da vida... crescendo juntos... (baixou a cabeça... parecia que a lembrança dos pais o machucava muito – fiquei corroído de dó) meu pai era dono de várias academias aqui em Recife... e eu vivia nesse meio... conheci várias pessoas que me direcionaram pra ser atleta que sou... comecei a treinar feio um viciado... era todos os dias... todas as horas... eu era obcecado... (fechou os olhos tentando lembrar-se) então eu fiquei muito distante de todos... da escola... dos amigos do bairro... de todos... (ele abriu os olhos e me olhou) nos morávamos aqui e depois nos mudamos pra outro lugar... contudo meus pais mantiveram esse apartamento alugado... e ai sim eu me distanciei mais ainda dos amigos mais próximos... até de meus próprios pais eu me distanciei (ele apertava os lábios como se quisesse se recriminar) hoje penso que se eu não tivesse tão envolvido em ser um grande campeão eu pudesse ter reescrito minha história e a de meus pais... mas não sei... bom, eu segui minha carreira como lutador de Jiu Jitsu e queria ser um campeão mundial... mas... quando tinha 20 anos de idade... na época dessa foto... há 3 anos atrás Biel... algo aconteceu (o Guilherme engoliu a seco e sua voz ficou embargada) Eu.. eu... não sabia de nada Biel (lágrimas começaram a sair de seus olhos...) eu não sabia de nada Biel... nada!
Guilherme> Ainda quando durmo, vez ou outra me vem tudo a cabeça... o que me deixa a beira da loucura... (ele enxugou as lágrimas dos olhos) Biel, eu tirei esta foto com meu pai e minha mãe um dia antes de tudo acontecer... (ele fechou os olhos e respirou fundo) Biel, eu, meu pai e minha mãe estávamos Gravatá (cidade próxima a Recife) passeando,
era aniversário de casamento... e foi um lindo fim de semana... mainha com 53 anos e meu pai comanos de casados... 20 anos que eu tinha... (respirou fundo) estávamos eu e mainha comprando artesanato, quando uma mulher veio até nós... se aproximou e falou que fazia pelo menos 15 anos que era amante de meu pai... e que só tinha lhe dado um filho porque ele havia feito uma cirurgia que o impedia... Era verdade... ele havia feito uma cirurgia... foi horrível... mainha se exaltou chamando-a de mentirosa... até que ela falou coisas horrendas... pormenores de nossa vida... de nossa intimidade... (chorou nesse momento) mainha ficou arrasada! Foi quando painho chegou e viu a mulher... Biel a cara dele era de total desespero e culpa... fomos pro carro... no início era um silencio mortal... mas não durou... eles começaram a brigar feito... e eu desesperado pedindo pra que eles parassem... mas eles não pararam... meu Deus, meu pai foi infiel... traiu mainha com outra mulher... e foi desleal, por 15 anos...
Guilherme> ...a briga ficou terrível... minha mãe chorava... meu pai berrava e eu estava paralisado! Quando de repente (e a voz dele falhou) de repente... (o choro ficou maior – quando se controlou um pouco mais, concluiu) Ele jogou o carro no desfiladeiro... minha mãe estava sem sinto... saiu pelo para-brisa... (ele tremia chorando e eu o abracei) ela se dobrou ao meio Beil (e gritou chorando) ahhh, ele morreu por causa dele... mas, ele também não sobreviveu... ele morreu a caminho do hospital... (e chorou mais ainda –eu passei as mãos em suas costa)... e eu Biel... tenho hoje 8 pinos no joelho direito e 3 no tornozelo esquerdo... mais platina na omoplata... e foi o fim de uma família e de minha carreira nas lutas... (e respirou profundamente) foi o fim de minha vida como eu a conhecia até aquele momento... por isso sou assim...
Ele deitou-se e cobriu o rosto com as mãos. Seu corpo estava totalmente retesado... ele chorava em silêncio... um choro de dor... de pesar... não imaginei que ele tivesse sofrido tanto... meu coração estava tomado não pela pena... mas por puro amor... eu olhei aquele homem imenso ali deitado na cama, indefeso... um homem tão grande... tão forte... tão ameaçador em muitos momentos, estava ali deitado na cama, doido pela dor de uma grande tragédia... e acabado... cansado... destruído... senti que o amava ao ponto do desespero! Eu o amava tanto... queria tirar aquela dor dele... queria tirar aquele sofrimento dele... eu mesmo estava sofrendo só em vê-lo... só em imaginar o quanto tudo o que ele viveu foi forte... transformador e terrivelmente destrutivo... porque Deus isso aconteceu na vida do Gui? Então eu deitei ao lado dele... e eu mesmo queria chorar as lágrimas que saiam dele... dei-me conta que eu estava perdidamente apaixonado por ele... que o que eu sentia era puro e verdadeiro amor... então... toquei-lhe os cabelos negros e comecei a fazer carinho nele... acariciei seus cabelos e senti-o sacudir todo o corpo... com o choro sendo intensificado... ele precisava descarregar aquelas lembranças... precisava jogar pra fora aquela dor que depois de 3 anos ainda estava sangrando... uma ferida aberta... e então, eu cantei pra ele... baixinho...
(Toquei-lhe o rosto... e me deitei ao seu lado... comecei “ontem ao luar”... Marisa Monte)
Ontem ao luar
Nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste
O que era dor de uma paixão
(Senti seu corpo tremer e seu choro um pouco aumentar... mas continuei a música... baixinho como se fosse ao seu ouvido)
Nada respondi
Calmo assim fiquei
Mas fitando azul do azul do céu
A lua azul eu te mostrei
Mostrando a ti dos olhos meus correr senti
Uma nívea lágrima e assim te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer de ver a lágrima nos olhos a sofrer
A dor da paixão não tem explicação
Como definir o que só sei sentir
É mister sofrer para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
(ele virou pra meu lado e ficou em posição similar a fetal... pegou minhas mãos e beijou-as)
Pergunto ao luar travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul pergunto ao luar do mar a canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão
(eu continuei a cantar... agora mais alto... mais forte...)
Se tu desejas saber o que é o amor
Sentir o seu calor
O amaríssimo travor do seu dulçor
(ele abriu os olhos e ficou me olhando... as lágrimas caiam lentamente... um olhar de dor...)
Sobe o monte a beira mar ao luar
Ouve a onda sobre a areia lacrimar
Ouve o silêncio de um calado coração
A falar da solidão
A penar a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal a dor silente universal
E a dor maior que a dor de Deus
(Ele fechou os olhos e agarrou minhas mãos como se temesse que eu sumisse... fiquei cantarolando... apenas... até que retomei a música e ele abre os olhos)
Se tu queres mais
Saber a fonte dos meus ais
Põe o ouvido aqui na rósea flor do coração
(trouxe suas mãos ao meu peito... fazendo-o sentir meu coração)
Ouve a inquietação da merencória pulsação
Busca saber qual a razão
Porque ele vive assim tão triste a suspirar
A palpitar em desesperação
Na teima de amar um insensível coração
Que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está
Mas que ao sepulcro fatalmente o levará...
(então ele me puxou pra ele e me beijou tão terno que me fez esquecer suas e minhas dores)
Guilherme> Sua voz é linda... tão lindo quanto você (me abraçou carinhoso) eu estou te amando menino... e não sei o motivo... mas sei que é pra sempre...
Gabriel> Desculpa a música... (falei acanhado) sei que ela é muito triste... e nesse momento não precisa de tristeza...
Ele me silenciou com um beijo...
Guilherme> A música é linda... pois foi você que cantou... (e me olhando profundamente nos olhos falou) Biel, desde aconteceu o que aconteceu (respirou profundamente) é a primeira vez que eu falei... e sempre que eu lembrava ficava tão mal que passava dias pra me recuperar... (tocou meu rosto) mas hoje... me senti mal novamente, contudo... estou bem agora... estou tão bem... não sei explicar... mas só em você estar comigo eu... eu... (e me apertou forte) eu não sinto dor...
Senti que iria chorar... não podia... nossa eu tava tão sentimental...
Guilherme> E quando cantou... era como se sua voz me desse coragem pra enfrentar tudo... (e olhando pra mim) Biel... pela primeira vez eu vejo-me querer sair desses dias difíceis... destes três anos de muita dor...
Eu estava mudo... poxa eu não era nada... não fiz nada e simplesmente aquele homem que tinha tudo... bem sucedido... inteligente... estava apaixonado por mim... nossa... era tão incrivelmente fantástico tudo aquilo... eu me abracei mais a ele e sentia o seu coração batendo... era um som surdo... ritmado... inebriante... ele passou as mãos nas minhas costas... bem lentamente... me fazendo ficar dormente... deliciosamente dormente... era algo muito bom... que me entorpecia... me deixava totalmente derretido em seus lábios postados em minha testa...
Guilherme> Agora eu tenho com quem me preocupar... você... quero cuidar de você!
Eu tava quase adormecendo em seus braços...
Gabriel> Como cuidar de mim... (falava com voz dorminhoca)
Guilherme> Cuidar... como algo meu... só meu...
Gabriel> Mas quem disse que sou seu... (voz embargada de sono)
Ele riu levemente e me abraçou mais forte
Guilherme> Claro que é meu pequeno... meu garoto lindo e gostoso! Rsrsr...
E adormeci ouvindo ser dele... Acho que adormecemos os dois, pois foi com um susto que acordamos ao mesmo tempo... ouvindo meu celular tocar... eu estava desorientado... totalmente desorientado... o Guilherme se recompôs melhor que eu, e então se levantou e foi em direção aonde o som estava indo... eu ainda estava tentando compreender onde estava e o que significava ter acordado daquela forma, quando vejo o Guilherme com os olhos negros grudados em mim com o celular estendido pra mim...
Guilherme> É o tal do Paulo... (seus lábios estavam apertados e eu sabia que ele estava reprimindo uma explosão...)
Respirei fundo e me levantei... peguei o celular de sua mão e antes que eu falasse...
Guilherme> Viva a voz (rosnou)...
É... ainda estava naquele dia!
Fazer o que?
Gabriel> Alô...
Paulo> Oi Gabriel... é o Paulo... blz?
Gabriel> Beleza Paulo... fala aí o que manda? (olhei o Guilherme e ele cruzou os braços... estava carrancudo).
Paulo> Bom, agente combinou de nos encontrarmos hoje... pra, pra... (ele gaguejou um pouco) pra a gente resolver o que da última vez ficou um pouco solto...
Já havia esquecido completamente...
Gabriel> Verdade... (o Guilherme rosnou - continuei) mesmo... mas...
Guilherme> O que tem ainda pra resolver? O que ficou inacabado? Hein? (ele tava perguntando a mim ou ao Paulo? – me assustei!)
Paulo> Quem é? Quem ta aí Gabriel?
Gabriel> Nada não Paulo (puta merda... o Guilherme virou bicho – andou de um lado pro outro) é... é... um amigo...
Guilherme> Amigo?
Paulo> Ah sim, amigo...
Voz do Guilherme – rosno de surpresa... voz do Paulo – levemente desconfiada... aí Deus... o que aquilo iria dar?
O que eu iria fazer... o Paulo esperava uma explicação... que a gente se acertasse... mas eu não estava mais na dele... na realidade, eu me sentia culpado duplamente... por fazer o Paulo estar na minha ainda... e por fazer o Guilherme passar por aquilo... me sentia um traidor... e foi aquela palavra que me atingiu como um raio mortal... olhei para o Guilherme e percebi o que ele estava sentindo naquele momento, então tomei uma decisão definitiva...
Gabriel> Paulo, é o seguinte... eu quero ainda te encontrar (o Guilherme passou uma mão pelos cabelos exasperado) mas somente para fazer direito o que vou te dizer agora (eu ouvia apenas a respiração do Paulo e os olhos do Gui simplesmente agora fixados em mim) não é apenas um amigo... é mais que isso... e por ele eu não posso ter que acertar nada contigo... nem com ninguém... desculpa Paulo, mas não ficou nada inacabado... pois eu já não posso mais te ver como você quer...
Fiquei em silêncio... o Paulo em silêncio... e o Guilherme com os olhos aguçadamente apertados... então escutei...
Paulo> Então você ta namorando esse cara...
E antes que eu respondesse o Guilherme pegou o celular e falou...
Guilherme> Não!
Olhei sem entender pra ele...
Gabriel> Não? (dor no estomago)
Guilherme> Ele é mais que isso... não importa o que ele é pra mim... ele é mais que um simples namorado... e você cai fora amigo... cai fora o mais urgentemente... porque esse garoto aqui já tem dono...
Paulo> Como assim... não entendo... desculpa, mas eu não entendo... Gabriel, como assim ele teu dono?
Eu estava mudo!
Guilherme> Olha aqui cara, você vai escutar dele! Dele (sua voz era forte, quase um grito...) diz Gabriel... fala... diga o que somos...
Gabriel> Paulo, independente (eu gaguejava, mas que situação) independente de tudo... quero ser seu amigo (o Guilherme fez uma cara de raiva) mas não posso ser mais que isso... eu... eu... amo ele Paulo... eu o amo... desculpa...
O Paulo ficou em silencio e o sorriso que estava no rosto do Guilherme era tão grande... um sorriso de vitória...
Paulo> Tão rápido assim... do nada...
Guilherme> Chega... que coisa mais piegas cara... olha já chega... ele não vou discutir minha relação com que eu nem conheço... o Gabriel não está disponível nem agora e nem nunca... nem nessa e nem na outra encarnação... portanto procura outra praia pra surfar, porque essa é privativa...
E desligou o celular sem nem ao menos eu me despedir... aff... era aquilo que me dava raiva nele... que homem mais grosso e ciumento...
Fiquei olhando pra o Guilherme com as mãos na cintura... eu tava muito bravo com aquele sem noção... aff...
Guilherme> O que foi Gabriel? (falou bravo) não gostou do que fiz... ta com pena dele?
Eu apenas o observava... não podia fraquejar... se fosse ele deitava e rolava...
Gabriel> Não, não gostei...
Guilherme> E porque não gostou Gabriel? Tá arrependido de ter dado o fora nesse Paulo? Ta arrependido Gabriel? Em diz... porque não gostou?
Gabriel> Não gostei porque me forçou a falar pelo telefone algo que eu queria cara a cara... mas principalmente porque você não confia em mim... (ele ficou surpreso) não confia e isso me deixa triste... magoado... (ele se aproximou de mim e tentou me abraçar eu estendi os braços para afastá-lo) eu não sou o que pensou de mim... eu não sou (lágrimas – que ódio) eu não sou um traidor... eu nunca te trairia...
Mais uma vez ele tentou me abraçar e eu tentei empurrá-lo, ai ele ficou bravo e me abraçou a força...
Guilherme> Para garoto! Não me afasta que quero te abraçar oras... (fingia estar bravo mas um sorriso já despontava – conseguiu me abraçar) eu confio em você meu bebê... mas não confio em mais ninguém... e você sendo assim... tão lindo... faz que eu fique louco de ciúmes... além do mais, não confio é nesse Paulo... pois sei que ele vai tentar alguma coisa... eu sei...
Gabriel> Mas ele pode tentar tudo... até vodu! Eu não sou falso... não te trairia...
Ele deu uma gargalhada...
Guilherme> Eu sei... eu sei... mas enquanto eu estou assim, tipo... demarcando meu território... vai ter que aguentar meus abusos (suspirei exasperado) e nem pense em ficar o tempo todo emburrado... sou assim e pronto... se mudar ok... mas se não terá que aguentar como sou... entendido?
Pensei num chute na canela, bem forte! Rs
Guilherme> E então... não vai dizer nada? (e subitamente) no que está pensando Gabriel?
Fudeu! Essa promessa de não mentir que fiz pra painho só me dar dor de cabeça... respirei fundo e fechei os olhos...
Gabriel> Em te dar um chute no meio das canelas...
Guilherme me fitou surpreso... seu semblante era de total incredulidade... e subitamente ele caiu na gargalhada... ria tanto que começou a tossir... ai que ódio...
Guilherme> Kkkkkkkk, Biel... meu Biel (e me abraçou novamente) você não existe... não existe! Kkkkk...
Gabriel> É? E se eu der mesmo? (falei desfiador)
E olhando-me divertido falou...
Ai eu faço isso contigo... (me pegou e me puxou até a cama onde ele se sentou e me pôs caído em suas pernas... minha bunda estava pra cima... ele deu uma palmada nela... ai que dor...)
Guilherme> Ai te dou uma surra... como todo menino levado deve ser tratado... (e deu-me outro tapa na bunda... esse mais carinhoso) humm, e até assim eu irei adorar... rs
Foi quando senti ele endurecer abaixo de mim...
Guilherme> Bebê... é melhor se levantar daqui (riu) senão irei te dar um outro tipo de surra...
Me levantei envergonhado... e me sentei longe dele... ele riu... e me puxou...
Guilherme> Tou brincando Biel... mas não provoca não viu... a propósito vou te deixar em casa pois dona Julia deve tá muito preocupada...
Eu havia esquecido de que mainha tinha viajado...
Gabriel> Tá não, eu já falei com ela... bem cedo, antes de você chegar...
Guilherme> Sim, mas já é quase noite... e ela vai... (interrompi)
Gabriel> Ela está em porto de galinhas... (e expliquei o que ela foi fazer lá... e que ficaria dois dias sozinho...) por isso tenho passe livre...
Os olhos do Guilherme brilharam...
Guilherme> Então vai dormir aqui...
Gabriel> Não! Precisa não Gui...
Guilherme> E você pensa que perderei esta oportunidade... ah Gabriel... não sou bobo... eu quero você na minha cama... hoje... a noite toda... só pra mim...
E me abraçou me dando um beijo tão forte que fiquei sem ar
Guilherme> Vou testar minha força de vontade... porque quero dormir abraçadinho contigo meu amor... e olha que durmo sem roupa...
Meu Deus... como seria aquela noite? E fiquei absolutamente preocupado com o desenrolar daquela noite e com a certeza veemente de que dormir era a última opção...
Dormir seria o menos dos meus problemas... o Guilherme estava absolutamente impossível... eu protestei dizendo que queria ir pra casa... ele falou que se eu fosse ele iria atrás de mim... que saco aquilo... mas tava feliz... ele estava sorrindo... embora tenha me contado algo muito difícil de sua vida.. pelo menos ele estava feliz comigo... com a perspectiva de dormir abraçadinho... bom então, fazer o que... o meu celular tocou naquele momento e fiquei com medo de que fosse o Paulo novamente... o Gui deu um salto da cama e pegou o celular... então com um sorriso nos lábio falou... é sua mãe...
Gabriel> Mãe, alo tudo bem? Já checou?
Mãe> Cheguei sim filho, você ta onde?
Gabriel> Tou na casa do Gui... (e percebendo a mancada) ... lherme (e torci pra disfarçar)...
Mãe> Passa ai pra ele o celular...
Gabriel> Ela quer falar contigo... (e passei o celular para o Gui).
Eles começaram a falar... era estranho a amizade entre eles... estranha não, só era inusitada... pois na realidade Guilherme simplesmente já conhecia mainha e era amigo dela antes de me conhecer...
Guilherme> Não se preocupe dona Julia... ele vai dormir aqui... sim... eu o levo pra o colégio... almoço com ele e trago de volta pro jantar... é amanha a tarde tem academia... exato... sem problemas... certo... boa sorte... até mais dona Julia...
E desligou o celular...
Guilherme> A sogrinha já liberou meu gatinho para mim... (e me abraçou e me beijou)
Gabriel> Tenho que ir em casa pegar roupa (falei me desvencilhando)
Ele não deixou... quando estava quase solto me puxa de volta com força...
Guilherme> Só te solto quando estiver bemmmmm abusado de beijo e abraço... ora se moleque... quem manda aqui? (fazendo cara de bravo sem estar bravo – ooo como amo esse bobão)...
Gabriel> Oooo Gui... deixa vai... temos que ir lá em casa!
Guilherme> Só depois de mais um beijo...
E ficou brincando comigo o tempo todo... me soltando e me puxando de volta pra beijar... depois fomos pra cozinha arrumar um pouco... e daí então, descemos pra ir lá em casa... mas antes, o Gui falou...
Guilherme> Biel, vamos jantar primeiro em algum lugar... na volta passamos no teu AP pra pegar as coisas...
Meu estomago roncou... gente.. roncou como se estivesse acordando... o Gui deu uma gargalhada tão grande que fiquei muito vermelho na hora...
Gabriel> Tá... (e vendo ele rindo muito, ri sem jeito) vamos né... não tem nem como disfarçar...
E fomos pra jantar... O local do jantar foi uma guerra... gente uma guerra! O Gui queria ir para um restaurante e eu para o shopping... eu queria comer no divino fogão... mas o Guilherme não queria ir ao shopping... gente quando se fala em comida, não vejo timidez... enfrento mesmo...
Gabriel> Eu não quero ir pra restaurante japonês... nem italiano... nem mexicano... nem regional... (falava bravo) eu quero comer no shopping... no divino fogão... eu quero comer lá Gui...
Guilherme> Amor, vamos pra o restaurante... (interrompi)
Gabriel> Não, eu não quero eu não quero! (eu fechei a cara e cruzei os braços) eu prefiro ir para o shopping... pó Gui... nunca escolhi...
Guilherme> Eu que decido e pronto...
Ele dirigia veloz como sempre... mas tinha um ar de divertimento... fiquei pensando se ele tava me provocando...
Gabriel> Por favor Gui... tou sonhando com a comida de lá (e literalmente eu babei... gente minha boca enchei de água... e saiu pelos cantos - rsrsr)
O Guilherme vendo aquilo caiu na gargalhada... e eu fiquei mais bravo ainda...
Guilherme> Tá babando Biel... kkkkkkk... tá lembrando da comida né (balancei a cabeça afirmativamente) kkkkkk, O que eu ganho se eu for pro shopping?
Meus olhos brilharam, lembrei o salmão inteiro que tem na mesa de frios... minha boca se encheu d’água novamente...
Gabriel> o que você quiser...
E o carro deu uma guinada repentina entrando numa curva fechada e voando pra direção oposta da que estávamos indo...
Deus, estávamos indo pro shopping... e o pagamento, qual seria? Fiquei apreensivo... o Guilherme apenas me olhava com sorriso de vitória...
Chegamos no shopping e fomos pra praça de alimentação... esqueci daquela promessa assim que pisei na praça... que, embora lotada (não gosto muito) eu estava adorando... a fila do divino fogão era relativamente grande... fiquei ali, enquanto o Gui olhava outros restaurantes vizinhos... mas demorou pouco e ele voltou pra onde estava ficando do meu lado....
Gabriel> Hummm, não achou nada melhor né... eu sei... eu sei...
Guilherme> Pois é... um comilão como você deve saber onde é melhor.
Fiquei vermelho... ele riu de leve e então ficou serio de repente. Eu olhei pra onde ele estava virado e fiquei gelado... nossa! O que era aquilo... e como autômato eu falei
Gabriel> Meu Deus... ele tá horrível...
E o Guilherme virou-se pra mim e falou entre os dentes...
Guilherme> Tá com dó é? (sério e bravo)
Gabriel> Não, não é isso...
E o Danilo olhou-nos... ele estava com cabeça raspada com uma sacola de uma loja de esportes... seus olhos eram de ódio e ele apenas me encarou um pouco... seus olhos eram de raiva e de outra coisa que não pude decifrar... mas não deixei de notar que eu fiquei um pouco feliz com ele daquela forma...
Gabriel> Fico apenas assustado com a aparência... mas feliz... desculpa dizer Gui, mas eu sofri tanto com esse menino que fico feliz em ver ele assim...
O Guilherme gostou do que eu disse pois sorriu e me empurrou um pouco... pra que eu andasse... pois tinha um buraco na fila enorme... caminhei.
Cheguei no pé da mesa e comecei a fazer meu prato... nossa pus tudo o que via pela frente... gente era tanta comida que meu prato parecia de um estivador... o Guilherme riu tanto do prato que falou que eu era um boia-fria... nem liguei... continuei a pôr o prato e fui me sentar... olhei ao redor e não vi mais o Danilo... certamente ele deve ter ficado envergonhado de eu o ter visto daquela forma... o problema é que cada vez mais as suspeitas dele se confirmavam, pois mais uma vez ele me viu em situação intima com o Guilherme que, a pouco tempo antes, tinha ido tomar as minha dores...
Sentei na praça com o Guilherme colado como uma sombra... ele fez o prato dele tão rápido que imaginei que ele nem havia olhado a comida... estava todo desajeitado... comemos em silencio... o Guilherme toda vez olhando do lado carrancudo como que procurasse o Danilo... eu já tinha me arrependido amargamente de ter ido pra o shopping... e havia ficado chocado com a cena do Danilo de cabeça raspada e com pequenos cortes na cabeça... o olho roxo...
Guilherme> Gabriel...
Percebi ele me fitando quando o escuto me chamar... ele estava prestando atenção no que eu estava fazendo... fiquei apreensivo... tinha medo da reação do Guilherme achar que eu estava com dó do Danilo...
Gabriel> Oi Gui... (falei abocanhando uma boa quantidade)...
Guilherme> Tem um pouco de molho escorrendo aqui... (e pegou um guardanapo e passou no canto de minha boca – morri de vergonha – NA FRENTE DE TODO MUNDO NO SHOPPING – mas o Gui era assim, não se importava com que os outros pensassem... apenas as pessoas que ele mesmo se importava como amigos, familiares...)
Guilherme> Biel, quero te fazer uma pergunta... mas me responda com sinceridade (eu o olhava interrogativo e ele percebeu que não precisava pedir sinceridade) desculpa, sei que não mentiria... Vida, me diz... você sentiu alguma coisa quando viu aquele canalha aqui? Sentiu, pena? Arrependimento... o que sentiu?
Senti tudo, menos pena e arrependimento. E foi o que eu disse...
Gabriel> Senti tudo, menos pena e arrependimento... (falei duro e ele me olhou surpreso)
Comi um pouco mais e fiquei de olho em dois quibes que ele tinha posto no prato dele... onde raios ele tinha encontrado aquilo que eu não vi... que raiva... olhei pra fila e ela estava ENORME ainda... ok, vou ficar sem quibe... percebi ele me olhando com semblante de extrema surpresa... então me expliquei melhor... será que ele ta me achando um monstro?
Gabriel> Gui não sinto pena de um cara que me bateu (e levantei a camisa e mostrei a mancha arroxeada que tava sumindo) sem motivo algum... muito menos que me humilhou pra toda turma e depois me puxou um canivete ameaçando minha vida... não tenho pena...
nem estou arrependido do tapa que dei... aliás eu o busquei pra agredi-lo fisicamente (o Gui estava hipnotizado, parecia que via outra pessoa na frente dele) sei que ia apanhar muito mesmo... mas não pensei na hora... e não estou arrependido de ter te contado e que teve aquela consequência... (respirei e continuei após uma pausa) apenas fiquei chocado com a aparência dele... chocado porque o via normal e ali ele parecia detonado... só isso... mas que ainda sinto muita raiva dele... isso eu sinto... contudo não quero mais qualquer tipo de... de... retaliação, vingança... Gui, eu não sou assim... eu também não quero que sobre pra você uma coisa que me aconteceu... eu não quero que você sofra uma consequência de meus problemas... eu acho que morreria se isso acontecesse...
Ele ficou emocionado...
Guilherme> O meu amor... não me importo... hoje só tenho você pra me importar! (e emocionado falou) o que poço fazer pra agradecer a benção de ter você em minha vida?
Fui rápido... tinha que ser...
Gabriel> Pode começar me dando teus quibes...
Ele riu alto... gargalhou mesmo... todos ao redor olharam o Guilherme rindo descontrolado... fiquei morto de vergonha... vermelho e tudo... ele pegou o próprio garfo e mordeu espetou um quibe e levou a própria boca... eu salivei na hora e me desesperei... adeus quibezinho! Ele riu mais ainda da minha cara... mas, mordeu o quibe e levou o outro pedaço a minha boca... abocanhei tudo rápido... vai que ele desiste!
Gente isso tudo no meio da praça de alimentação do shopping... ele não tava nem ai! Mas isso aqui é pouco normal! Pois os amigos heteros ficam abraçados... tocam beijinhos na cabeça... põem comidinha na boca um do outro... uma viadagem só, kkk, mas não um homenzarrão daqueles... pois o Gui onde passa todo mundo olha pra ele admirando o porte... e de cara vê que ele é lutador... ou pelo menos ligado aos esportes... o Gui pegou o outro quibe e pôs no meu prato...
Guilherme> Tome comilão... Deus, como pode ter um corpo tão perfeito assim... fico imaginando como pode ser... você não tem barriga nenhuma... e não malha que eu sei! Teu corpo é 0 gordura... mas você come... como um...
Gabriel> Obeso... eu sei... eu como feito um obeso!
Guilherme> Eu ia dizer como um atleta de maratona... kkkk, mas acho que é seu metabolismo rápido...
Gabriel> É sim... eu absorvo pouco do que como... graças a Deus... nem preciso malhar...
Guilherme> É mas tem um lugar que acumula muita coisa...
Fiquei vermelho na hora... ele riu.
Guilherme> É tão lindo te ver envergonhado... mas Biel eu nunca vi uma tão grande como a tua... é um bundão hein... (e falou mais baixo) estou ficando excitado só de lembrar...
Eu estava roxo de vergonha... queria um boné... o Guilherme deu outra gargalhada...
Guilherme> Vamos embora... senão vou ter que sair daqui com você na minha frente...
Terminei de comer rapidinho e fomos pra casa de mainha buscar minhas roupas... chegando lá desci do carro com o Gui me acompanhando... ele parou em frente ao prédio... disse que não ia pôr na garagem... quando eu me virei para olhar o mar... meu coração parou... não esperava ver aquela pessoa ali...
O Paulo estava parado no calçadão... tava com bermuda branca e camiseta vermelha... parecia um salva vidas... no caso era um mata vidas mesmo... a minha... o Guilherme deu a volta e me encarou interrogativo... estava estranhando minha paralisia... então seguiu o meu olhar e o vi encarar o Paulo... eu me virei para o Guilherme e seu semblante estava duro... feito uma pedra... seus olhos negros se apertaram e vi seus punhos se fecharem... o Paulo apenas acenou com a cabeça pra nós... eu dei um débil tchauzinho e o Guilherme ficou parado sem se mover... apenas pronto pra qualquer coisa... e eu acho que essa qualquer coisa incluía assassinato...
O Paulo atravessou a rua vindo em nossa direção... ai meu Deus, o que aquele moleque queria... Socorro!
Paulo> Beleza Gabi (pra que ele falou com intimidade? Senti o corpo do Guilherme todo enrijecer)
Gabriel> Firme! (falei e apressado apresentei) Paulo este é o Guilherme... Guilherme este é o Paulo, um amigo...
O Paulo estendeu a mão e o Guilherme a ignorou... que situação... mão estendida no ar e o Guilherme de punhos fechados... imaginei o Gui batendo no Paulo... ai meu Deus o Paulo é de minha idade... o Paulo recolheu a mão sustentando o olhar do Guilherme... depois virou-se pra mim e falou...
Paulo> A gente tinha combinado de conversarmos hoje... (interrompi)
Gabriel> Não... quer dizer... fiquei de confirmar... (interrompido)
Guilherme> Não tem nada pra conversar... (falou como um trovão – gente a voz do Gui é muito grossa... forte mesmo) vamos Gabriel (percebi que ele estava se controlando)...
Gabriel> Paulo, tenho que ir... valeu depois a gente se... (e o Guilherme rosnou e me puxou forte fazendo-me acompanhá-lo)...
Eu comecei a andar com a cabeça a 1000, quando ouvi o que pedi a Deus nunca ouvir...
Paulo> Não vou desistir de você Gabriel... estou no páreo...
O Guilherme estancou na hora... e se virou com o olhar igual ao que fez quando contei o que o Danilo havia feito comigo na biblioteca...
Ele fez menção de ir ao encontro do Paulo quando eu o segurei pelo braço e implorei pra subir... ele puxou seu braço tão violentamente que bateu em meu rosto e eu cai no chão com força... o Guilherme voltou-se a mim assustado... meu rosto estava vermelho e doendo muito na base do queixo... o Gui se ajoelhou do meu lado com os olhos de total arrependimento ele tava branco de susto...
Guilherme> Biel, desculpa... desculpa (falava muito assustado – se aquele acidente fez ele parar eu preferia que tivesse arrancado meu queixo, do que ter ido tirar satisfações com o Paulo...)
O Paulo vendo tudo, se aproximou rapidamente... eu apenas fiz gesto para ele parar... e ele estancou a poucos metros... o Guilherme me levantou como um boneco de pano... na maior facilidade...
Guilherme> Biel, diz que me perdoa... meu pequeno fala... diz (ele tava desesperado) eu te machuquei... tá doendo?
Eu fiz um não com a cabeça...
Gabriel> Vamos subir Gui (e de repente, quando vi o Paulo ali tomei coragem e falei) Paulo... (e Gui o olhou com cara brava) desculpa terminar tudo assim... mas eu estou com o Guilherme e não quero te enganar... nem enganar a ele... me desculpa mas eu o amo (o Guilherme me olhou tão assustado que pensei que ele ia cair)
Gabriel> Desculpa o mal jeito... mas não quero perder sua amizade... (ele estava calado apenas olhando de braços cruzados)...
E então puxei o Guilherme e comecei a entrar no prédio... quando estava quase na portaria... com o Guilherme me segurando... eu feito um doente, rs, escuto o Paulo gritar...
Paulo> Mas eu não quero apenas isso... e vou lutar por você...
O Guilherme virou tão rápido que eu temi cair novamente... e então o Paulo apontou pra nós dois e deu meia volta saindo...
Gabriel> Gui fica... por favor... te imploro...
Ele me olhou e disse...
Guilherme> Se você encontrar novamente este cara eu não respondo por mim... (mas sua voz era branda) desculpa ter te machucado...
E tocou meu rosto... foi quando vi um carro parar do lado de fora... e um cara sair dele...
Cara> Boa noite... este é o condômino... (falou o nome do condomínio)... é que eu aluguei um apartamento aqui e tava perdido... mas que bom achei... ah, deixa eu me apresentar... prazer... meu nome é Hugo.
Nos cumprimentamos... o Hugo era um cara da minha altura... loiro como eu... mas tinha o olho verde e o cabelo não era tão amarelo como o meu... tinha barba rala e usava calça jeans desbotada, camiseta branca aberta no peito e borás cano curto...
Guilherme> Prazer, sou o Guilherme... (apertou a mão do Hugo e sem esperar que eu me apresentasse) boa sorte ai cara... (e se virou entrando no prédio me puxando com ele)...
No elevador ele estava calado... não entendia sua fisionomia... acho que tava pensando no que havia acontecido... lógico! Quando o elevador se abriu ele saiu na frente... e ficou parado na porta encostado com as mãos esperando eu chegar... eu fui... peguei a chave e minha mão tremia tanto que deixei ela cair duas vezes... ele rosnou e pegou a chave de minha mão, abriu a porta e deu-me passagem... entrei, ele entrou, fechou a porta, jogou a chave em cima do aparador e foi direto pra varanda... abriu e ficou ali olhando silenciosamente... então voltou-se pra mim me olhou nos olhos e disse:
Guilherme> Me perdoa?
Se aproximou de mim e tocou o meu rosto... não tava vermelho só um pouco dolorido... ele me beijou ali delicadamente...
Guilherme> Eu disse que seria difícil comigo né... (falava sem jeito) tenho medo desse meu ciúmes... é Biel... eu morro de ciúmes de você meu pequeno (e me abraçou) eu fiquei cego na hora e te machuquei... (me afastou um pouco) Biel por favor eu não vou aguentar se você me trair...
Eu o olhei chocado... como ele pensaria algo de mim daquela forma....
Gabriel> Gui eu não acredito que você disse isso (eu senti meus olhos encherem-se de lágrimas – que ódio eu ser ao emotivo) eu não sou assim... eu não sou (e chorei – tava frustrado)
Ele me abraçou forte e me beijou a nuca...
Guilherme> eu sei meu amor... eu sei... é que fico insano! Nunca senti isso... esse ciúme... essa coisa... desculpa... vou melhorar eu prometo! (me beijava) mas não chora Biel, você sabe que odeio te ver chorando... por favor não chora!
Eu me acalmei mais um pouco e então tentei ganhar algumas coisinhas, tipo...
Gabriel> Mas eu terei que me afastar do Paulo? Ele é meu amigo, e eu não queria...
O Guilherme me soltou na hora e andou pela casa nervoso...
Guilherme> Você nunca mais vai ver esse cara... me ouviu...
Eu o olhava abobalhado... como pode ser tão carinhoso e agressivo?
Gabriel> Mas Gui...
Guilherme> Nada de mais Gabriel... (falou alto, bravo) não viu o que o carinha falou... eu não quero você metido com ele... tu é frágil... inocente... e esse carinha pode se aproveitar... (e vendo eu minha cara de chocado acrescentou) Gabriel eu te proíbo... te proíbo...
Gabriel> Mas me proíbe, como (desafiei e claro, me arrependi na hora).
O Guilherme voou pra cima de mim... eu fechei os olhos... senti ele chegar em mim e tocar meus pulsos... falou entre os dentes...
Guilherme> Quero ouvir de sua boca... fale... vai ver ele novamente?
Sentia dor nos pulsos e abri os olhos... vi lágrimas nos dele... senti dó... ele era assim... fazer o que... destemperado... mas sabia que aquele destempero era muito amor... porque homem nenhum iria suportar outro cara dizer que iria lutar pelo que era dele...
Gabriel> Não! Não vou... por você...
E ele soltou meus pulsos e ficou me olhando...
Gabriel> Mas se ele vier até mim... não vou poder evitar... (ele pos as mãos na cintura, tava empertigado) mas prometo me sair rápido se acontecer essa situação...
Guilherme> Acho bom... (e continuou) Gabriel por favor... tem que facilitar as coisas... não quero enlouquecer... terá que me ajudar... faça sua parte... ok? (balancei a cabeça)... não quero ver você com esse carinha... poxa... tu é meu cara... e outro carinha nenhum vai cantar de galo comigo... (e me abraçou com força, como se tivesse medo de me perder) você é meu Biel, entenda... meu... (e me beijou na nuca) de mais ninguém...
Era louco, mas eu gostava daquilo... gostava mesmo quando ele dizia que eu era dele... como propriedade... que ninguém iria me tocar porque ele morria de ciúmes... e ele morria mesmo... vocês não tem noção da raiva que ele sentia do Paulo... eu adorava quando ele não pedia e sim mandava me afastar... gente pode ser louco... mas aquilo me fazia sentir amado... desejado... sei que seria difícil conviver com aquele ciúmes todos e com as atitudes emotivas dele... principalmente quando se descontrolava... mas naquele momento eu adorava a proteção dele... me sentia seguro de tudo... era um conforto maravilhoso os braços do Guilherme...
Guilherme> Vai fazer tudo o que eu disse né...
Balance a cabeça afirmativamente...
Guilherme> Certo... então vai logo pegar sua roupa que eu quero que cante pra mim antes de irmos...
Gabriel> ah não Gui... vou ficar com...
Guilherme> Vergonha, eu sei... mas vou amar te ver envergonhado... e hoje vai cantar no meu colinho meu amor envergonhado... rs
Ai que saco...
Guilherme> fora que em casa só durmo depois de uma bela massagem... hummm... ontem me masturbei pensando na primeira... agora vou poder sentir novamente sem ter que esconder o quanto fico excitado quando essas mãozinhas me torturam...
Nossa, tava me sentido um escravo sexual... fui pro quarto com ele na minha cola...
Eu mal conseguia andar... ele ficava mordendo e cheirando o meu pescoço... estava todo arrepiado e fazia cócegas...
Gabriel> Para Gui... (ria das cócegas – quando finalmente entramos no quarto ele me largou e se jogou na cama... olhando tudo com curiosidade...)
Guilherme> Seu quarto diz muito de ti Biel... você sabe tocar violão?
Gabriel> Sim, sei... mas não muito... só toco pra tirar as músicas...
Guilherme> Tirar as músicas?
Percebi que ele não havia entendido, então expliquei...
Gabriel> Sim, tirar as músicas... tipo eu escuto e escrevo as cifras... o violão ajuda... depois eu reorganizo e as adapto ou pra tocar no violão ou pra tocar no piano... é um exercício de música...
Guilherme> Queria te ver tocar violão...
Gabriel> Ah eu toco ruim... toco melhor piano...
E abri a gaveta pra pegar uma bermuda e uma roupa pra ir pra escola amanhã... peguei também cuecas... meias... tênis... a bolsa da escola... material escolar... tudo que estava ali...
Guilherme> Quem é naquela foto?
Apontou pra uma foto que tinha em cima da escrivaninha...
Gabriel> Eu e meu pai...
E essa foto aqui... mostrou a foto do violão... eu nu... ai que ódio daquela foto... tinha tirado da sala mas ela parece que me perseguia...
Gabriel> Nada não...
O Guilherme se levantou pegou a foto e sorriu...
Guilherme> você já era lindo desde criança... olha que garotinho mais lindo...rs e safadinho em... pelado com o violão escondendo algumas coisinhas... rsrsrsr
Fiquei vermelho ao extremo...
Guilherme> Mas eu posso ter você agora mesmo... peladinho atrás do violão... (e se aproximou pondo a mão na minha bunda e me puxando pra sentir o pau duro dele) adoro esse meu pequeno gostoso (e me beijou com desejo)
Ele passava a mão na minha bunda e suspirava...