Aviso:Esse capítulo têm dois narradores.
Capítulo 10-Amigo ou inimigo?
Narrador:Daniel
Não sei quanto tempo fiquei ali na varanda,mas me levantei quando senti meu estômago doer.Decidi comer algo na rua,afinal estava precisando tomar um ar e parar de pensar em tudo que aconteceu aquela manhã.
Peguei o elevador que estava cheio e desci na portaria.Comprimentei o porteiro e sai para a rua,observando tudo como se olhasse pela primeira vez.
Mas por mais que tentasse Vitor não saia da minha mente e nem do meu corpo.Seu cheiro estava nas minhas roupas e seu gosto ainda continuava na minha boca.Por mais que eu tentasse e ficasse me lembrando do Nick a cada minuto,Vitor voltava e tomava conta da minha mente.Por mais que eu negasse,eu estava desejando que ele voltasse.
Eu tava tão distraído que acabei esbarrando em um rapaz e acabei olhando para ele sem graça.
-Desculpe!-Eu disse.
-Tudo bem!...Você não se machucou né?-Ele perguntou abrindo um sorriso enorme para mim.
-Não...tô legal.-Respondi ainda envergonhado.
-Posso perguntar para onde você está indo?-Ele perguntou enquanto me observava.
-Não...Eu nem te conheço!-Respondi sentindo o sorriso dele me contagiar.
-Ah,não seja por isso...Eu sou Lúcio!-Ele disse enquanto estendia a mão para apertar a minha.
-Prazer,eu sou Daniel!-Respondi abrindo um sorriso tímido.
-Agora posso perguntar para onde vai?-Ele perguntou sem desviar os olhos dos meus.
-Preciso de um café,então vou até a padaria.-Eu respondi.
Lúcio devia ter 1,79 de altura e era magro,não exagerado,mas definido. Seu braço direito tinha várias tatuagens até o cotovelo e ele vestia uma calça jeans um pouco surrada e uma camiseta preta.Seu cabelo era liso e castanho escuro,a mesma cor de seus olhos.Sua boca média tinha lábios finos,mas o que encantava era o seu sorriso tão confiante e caloroso.
-Eu também tô procurando uma...sou novo aqui e lá em casa ainda não tem fogão.-Ele disse me arrancando da análise que eu estava fazendo dele.
-Se quiser pode ir comigo!-Eu disse me arrependendo logo em seguida de ter dito isso.
Ele deu um sorriso e começamos a caminhar.Antes de chegar na padaria,já estávamos conversando que nem velhos amigos.Entramos e nos sentamos em uma mesa do fundo.Um atendente veio e fizemos nossos pedidos.
-Então...Você é de onde?-Eu perguntei após a atendente sair.
-Eu sou daqui,mas tive que me mudar e fiquei um tempo fora...Agora decidi voltar para ver uns velhos amigos.-Lúcio respondeu enquanto mexia no jornal que vinha trazendo.
-E você já os encontrou?-Eu perguntei sem curiosidade.
-A maioria sim...mas tô a procura do irmão desse aqui.-Ele respondeu enquanto abria o jornal e apontava para uma foto.
Eu olhei para onde ele indicava e quase cai de susto.
-Vitor!-Eu disse após recuperar a voz.
-Você o conhece?-Ele perguntou parecendo supreso.
-Sim...Vocês eram amigos?-Eu perguntei curioso.
-Não,deus me livre!-Ele respondeu dando uma gargalhada logo em seguida.
-Acho que eu não entendi.-Eu disse em voz baixa.
-Vitor é um imbecil prepotente e egoísta,só pensa nele mesmo. Eu odeio esse tipo de gente!...Meu amigo mesmo é o Nicolas,irmão dele...Aquele sim era gente boa,sabe?..Generoso,sensível e verdadeiro...Quando sai daqui ele tinha uns 17 anos e sofria muito nas mãos desse aí.Eu tentava abrir os olhos dele,mas ele insistia em ver o Vitor como um herói.-Lúcio disse lentamente após um tempo em silêncio.
Depois da morte do Nick,só tinha ouvido os pais falarem bem dele e todo o resto querer pinta-lo como o demônio.Então não pude conter a emoção ao ver ele falar dele daquele jeito.Aquele era o Nick que eu conhecia e estava feliz que outra pessoa achasse isso também.
-Você está bem?-Ele perguntou estranhando meu silêncio.
-O Nicolas eu também conheci e...o conhecia muito bem...Ele era meu...-Eu disse com a voz embargada.
-Pode falar...Não tenha vergonha.-Lúcio disse enquanto pegava na minha mão.
-Não é vergonha!...O que a gente tinha era lindo,mas nem todo mundo via isso.Depois que nos assumimos,todos achavam que a gente era uma aberração.-Eu disse sentindo meus olhos encher de lágrimas.
-Ser gay não é uma escolha,até porque sé fosse,ninguém escolheria...E aquilo que acontece sem precisar da nossa decisão,se torna tão natural quanto ser hetero!-Ele disse com um sorriso enquanto apertava a minha mão.
-Eu sei!-Eu disse de cabeca baixa,observando a foto de Vitor no jornal.
-Ele deve ter tratado vocês como lixo.Sempre foi homofobico,apesar de dizer que não.-Lúcio disse após perceber que eu olhava para a foto dele.
-Ele se referia sobre a gente como um casal de viadinhos.Fazia piadas sobre a nossa relação e acabava sempre em uma briga com o Nick.-Eu desabafei sentindo uma antiga ferida se reabri.
-Quando éramos mais novos,ele pegou...dois carinhas se beijando atras de um muro...Ele já fazia academia e tava virando um monstro...Cara,ele pegou os moleques e bateu tanto,mais tanto,que quase deixa um aleijado.-Ele contou em voz baixa.
-Nossa!-Eu disse horrorizado.
-Ele também adorava bater em mim e no Nick...Éramos mais fracos e quando ele tava drogado,era uma surra atrás da outra.-Lúcio disse com um sorriso triste.
-O Vitor se drogava?-Eu perguntei surpreso.
-E muito...Não sei hoje,mas naquela época,usava de tudo.-Ele respondeu esticando as mãos.
-O Vitor me contou que o Afonso também batia no Nick.-Eu disse enquanto o encarava.
-Mentira!...O Afonso sempre mimou o Nicolas,ele era seu filho preferido...Já o Vitor tinha raiva disso e sempre descontou no coitado.-Lúcio disse em tom sério.
-Vitor e o pai não parecem se gostar muito.-Eu temei disse pensando em tudo que ele estava falando.
-Hoje em dia né?...Antigamente ele era só o filho de uma prostituta cheia de doença...Hoje ele é um empresário que está cada dia mais rico e já conseguiu o que queria.-Lúcio disse sem a menor emoção.
Aquelas informações causaram um turbilhão na minha cabeça.Lembrei da forma como o Nick falava do irmão e como ele sempre aparecia querendo ser o dono da verdade.Lembrei das humilhações que o Vitor fazia a gente passar e da forma grosseira que tratava a nós dois.Cada lembrança que vinha só mostrava um Vitor bem diferente do que o que havia se mostrado a poucos dias oferecendo ajuda.Será que eu havia me enganado com ele?
-Mas aonde está o Nícolas?-Lúcio perguntou entusiasmado,me arracando dos meus pensamentos.
-Ele...Ele faleceu!-Eu disse sentindo aquele maldito aperto no peito que sempre sentia quando alguém tocava na morte dele.
-Eu sinto muito!-Lúcio disse parecendo abalado com a notícia.
A atendente trouxe o que a gente havia pedido e colocou sobre a mesa.Eu e Lúcio deixamos o Vitor pra lá e começamos a falar da infância dele,do Nicolas e de mim.Foi uma longa e agradável conversa que acabou me fazendo um bem maior que eu imaginava.Mas lá no fundo tinha aquela sensação de que eu havia sido usado e manipulado pelo Vitor,e isso me incomodava.
Após um longo tempo saímos da padaria entre risos e conversas,e esbarramos no Alberto que ia passando.
-Olá Daniel!-Ele disse sem perceber o Lúcio que estava atrás de mim.
-Oi Alberto...Estava sumido!-Eu disse pegando a mão que ele estendia.
-O trabalho não está me dando folga.-Ele respondeu com um sorriso.
-Ah,deixa eu apresentar um amigo...Alberto esse é o Lúcio.-Eu disse me afastando um pouco.
A expressão dele mudou e seu rosto ficou pálido.Seu corpo ficou tenso e ele encarou Lúcio com um olhar que não consegui entender.
-Prazer em te conhecer Alberto!-Lúcio disse estendendo a mão.
-Eu preciso ir.-Alberto disse nervoso se afastando rapidamente.
-O que aconteceu?-Lúcio perguntou parecendo confuso.
-Não sei...ele ficou tão estranho.-Eu respondi pensativo.
-Deve ter visto algo ou sei lá.-Lúcio disse dando de ombros.
É poderia ter sido aquilo,então resolvi não pensar mais no que havia acontecido e logo voltei a passear com Lúcio.
Ele estava se mostrando uma agradável surpresa,e com ele eu não precisa ficar na defensiva como com o Vitor.Lúcio me compreendia e me tratava como um igual,e sobre isso eu não tinha palavras para descrever o que eu estava sentindo.Só posso dizer que pela primeira vez em um ano,me sentia humano de novo e não um anormal.
####################################################
Narrador:Vitor
A conversa com o Marcos foi tensa e cheia de provocacoes.Quase que cheguei a pancadaria com ele,mas tentei me controlar ao máximo.
-Você devia me deixar pagar logo a merda dessa divida.-Eu disse irritado após o Marcos sair.
-Não meu filho...E umá coisa minha e eu quero pagar sozinho.-Júlio disse mais tranquilo do que eu estava.
-Julio...-Eu tentei dizer.
-Júlio?-Ele perguntou sério.
-Pai...me deixa ajudar,porra.Eu tenho algum dinheiro e da pra nós livramos desse verme.-Eu disse sério.
-Eu gosto quando me chama de pai porque é assim que me sinto em relação a você.-Ele disse mudando de assunto.
Eu o encarei irritado mas percebi que ele não queria mais falar sobre aquilo.Após um tempo em silêncio,Júlio se sentou em uma cadeira próxima a janela e observou o céu.
-Está tudo bem?-Eu perguntei sentindo minha raiva diminuir,enquanto me aproximava devagar.
-Não...eu sinto que algo ruim está para acontecer.-Ele respondeu pensativo.
-Nada vai acontecer pai...Esta tudo bem agora.-Eu disse enquanto colocava a mão em seu ombro.
-Eu espero meu filho!...Você já sofreu demais e merece ter um pouco de paz.-Ele disse enquanto se virava para me olhar.
Com tudo que estava passando;a distância do Daniel e o sumiço do Evandro,ele ainda se importava comigo e aquilo me fez sentir bem.
-Não se preocupa pai...eu tô legal.-Foi tudo que consegui falar para ele.
-Não importa se não é de sangue,mas sempre será o meu filho mais velho...E quero que sempre lembre que amo muito você.-Júlio disse com lágrimas nos olhos.
Eu também o amava muito,e ele sabia disso.Júlio foi o pai que eu nunca tive e nem todo dinheiro do mundo pagaria o carinho que ele teve comigo e com a minha mãe.Eu não conseguiria falar aquilo,então me limitei a sorrir.Ele se levantou e sem nenhum pudor me abraçou,e eu retribui.Após ele me soltar fui em direção a porta,me sentindo bem mais leve.
-Filho se não for pedir demais,quero que pare de se culpar pelo que o Nicolas fez a todos nós.Ele era doente e sádico.-Ele disse antes que eu fechasse a porta.
Desci ate meu carro e dei partida,depois de um tempo dirigindo,estacionei perto e fui em direção ao cemitério que havia ali.Antes eu tinha passado na floricultura e trazia rosas brancas,as preferidas dela.
Caminhei por um tempo e achei uma lápide que estava no meio e era mais nova que as outras.Coloquei as flores ali e me sentei.
-Faz tempo que não venho Cecília,mas é tanta coisa acontecendo que quase não tenho tempo...E ainda tem o Daniel e esse sentimento absurdo que aparece quando tô perto dele...Isso me da medo,sabia?...Eu não quero ser gay.Não quero virar uma dessas coisas...-Eu disse nervoso observando os túmulos a minha volta.
Podem até achar ridículo,mas desabafei tudo o que estava sentindo ao pé do túmulo dela.Sem me preocupar se tinha alguém ouvindo ou não,botei pra fora todas as coisas que estavam me sufocando.
Depois de um longo tempo me levantei e me despedi,indo embora.Não olhei para trás,já era difícil demais ter que lidar com o fato que ela tinha se ido.
Entrei no carro e fui em direção ao hospital,mas antes passei em casa onde vesti um terno.Peguei um transito dos infernos e cheguei ao hospital estressado.
Fui direto para minha sala e ao chegar lá dei de cara com o Alberto que estava sentado à frente da minha mesa,ele girava um lápis nas mãos e parecia nervoso.
-Se você não aparecesse...Em dez minutos,eu ia chamar a polícia.-Ele disse enquanto tentava sorrir.
-O que aconteceu?...O hospital está pegando fogo?-Eu perguntei enquanto dava a volta na mesa e me sentava na minha cadeira.
-Não!...Eu vi um velho amigo seu na rua.-Ele respondeu parecendo distante.
-Quem?-Eu perguntei sem animo enquanto me levantava com uns papéis na mão.
-O Lúcio!-Ele respondeu enquanto me encarava.
Os papéis caíram no chão e se espalharam,mas eu não me importei.Aquilo não podia ser possível,Lúcio estava bem longe dali e iria demorar a voltar,pelo menos eu achava isso.
-Você tem certeza?-Eu perguntei tenso.
-Nunca me enganaria...Era ele!Eu o vi de pertinho.-Alberto respondeu com um sorriso triste.
A terra aos meus pés tremeu com aquela notícia.Eu havia me livrado do Nicolas,mas não tinha previsto que o Lúcio fosse voltar tão rápido.Já não bastava os problemas que eu tinha,e aquele demônio tinha que ressuscitar do inferno?
Um minuto de paz era tudo o que eu queria.Será que era pedir de mais?
Estressado,frustado e muito irado com tudo que estava acontecendo,eu acabei descontando na parede,onde dei um soco tão forte que rachou o lugar e minha mão ficou sangrando.
-Ainda bem que nessa ala só temos a sua sala,a da Mari e a da Laura.-Alberto disse enquanto me observava preocupado.
Eu ia lhe dar uma resposta que na certa o ofenderia,mas naquele momento a Laura entrou e olhou de nos dois para o lugar onde eu havia dado o soco.
-Sinto muito interromper a discussãozinha do calsalzinho,mas gostaria de lembrar que estamos em um hospital e não na casa de vocês...Se não for pedir muito,ativem o modo profissional e deixem a dr para quando estiverem em outro local.-Ela disse voltando a nos encarar em um tom ácido.
-Laura eu sou...-Eu disse irritado.
-Nós somos os responsáveis pelo hospital e por a sua imagem,senhor Vitor Meirelles.Nos três precisamos trabalhar para manter o nosso hospital aonde você fez ele chegar,mas se isso não importa mais é só avisar.-Ela interrompeu de modo autoritário.
Meu primeiro pensamento para ela foi:Vá se foder.Mais ela tinha razão,eu havia lutado muito por aquele hospital e tornar ele tão conhecido não tinha sido fácil.Não podia perder o controle e colocar tudo a perder.
Continua...
¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤¤
Gente cheguei em casa para almoçar e escrevi aqui rapidinho...Não sei se esta bom mais espero que gostem.
FlaAngel,Edu19>Edu15, Haryan,K-elly,Kevina e denil1245 mais umá vez obrigado pelos comentários e espero que gostem desse capítulo.
S2DrickaS2 vomitar e meio pesado,mais acontece kkkkkkk
DigoRodrigues crescemos em uma sociedade preconceituosa,que julga quem é diferente mas que não sabe se por no lugar do outro.Desde cedo aprendemos que amar com desejo alguém do mesmo sexo é errado e crescemos alimentando esse preconceito,então de repente se descobrir apaixonado por alguém do mesmo sexo,se torna desesperador e você não sabe lidar com isso.O Vitor dessa história é baseado em alguem que conheço.Do momento que ele percebeu que estava se apaixonando por um garoto até a aceitação desse sentimento,foi uma fase difícil é ele tentou ate suicídio.Só que ele não é o primeiro e nem será o último,enquanto a sociedade não aprender que ser gay não é uma escolha.
VALTERSÓ o Daniel encontrou um novo amigo e agora ele começara a se impor mais.Quanto a quando Vitor se permitirá sentir esse sentimento é se entregar a Daniel,ou seja fazer amor,demorará um pouco.Pois a pior parte e aceitar o que sente e ele vai negar enquanto tiver forças.Afonso é pai do Vitor com outra mulher,então Vitor e Nicolas são meio irmãos.Afonso sempre fez preferência ao filho mais novo sem se importar muito com o que o mais velho sentia.Resumindo,para Afonso Vitor é o bastardo,um filho que ele não queria e aconteceu.
Obrigado a todos que leram...
Espero que gostem e se gostarem deixa seu comentário aí que isso me incentiva bastante kkkkkkkkkk
Uma ótima segunda feira a todos e até a próxima...