Tive medo em acreditar que o que acabara de ouvir fosse verdade. Olhei na direção da porta que minha até então esposa abrira e seu olhar amedrontado reforçou mais ainda as palavras que meu filho Diogo Brandão acabara de dizer.
_ Você é meu filho, rapaz. Que insanidade é essa? Ana Amélia, por que nosso filho disse o que ele acabou de dizer... Isso é algum tipo de brincadeira? Xarada? E alternei meu olhar entre os dois me sentindo o maior palhaço do mundo...
_ Ela tava grávida de outro cara...
Rapidamente Ana Amélia cortou a fala do filho mais velho com um tom de voz gélido e amedrontado...
_ Nem mais uma palavras, Diogo. Saia... Preciso falar com seu pai.
_ Mais você disse que ele nunca foi meu pai...
_ SAIA DAQUI, DIOGO... Gritou minha esposa me trazendo de volta ao que achei o pior momento da minha vida.
_ Ele não sairá daqui. Quero saber se essa história absurda é ou não verdade?!!!
Diogo sentou na ampla poltrona que ficava no canto esquerdo do escritório que mantinha em casa próxima a imensa estante de livros do lugar. Ele olhou pra mim com um ar desafiador e cínico. Acredito que a presença da mãe lhe deu além de coragem um ar arrogante que jamais havia prestado atenção... Isso me deixou chocado.
_ Saulo, eu preciso que você me ouça com atenção e...
_ Responda a minha pergunta. Essa história é ou não é verdade? Por que? Quem é você realmente, Ana Amélia Novaes? FALA DE UMA VEZ, PORRA...
Meu grito a assustou e suas mãos tremiam assim como o resto do seu corpo. Ela foi o mais próximo de mim que podia e disse...
_ Nós havíamos nos encontrado pela primeira vez quando estive de férias em Madri um ano antes. Lembro que não queria festa nenhuma e pedi para viajar pra Europa. Fomos todos. Você não pôde ir por conta de uma segunda época no Colégio. Brigamos feio mas mesmo assim fui pra minha viagem. Pensei muito em você naquele mês em que estive fora e confesso que quase fico louca de saudade e raiva de você por não ter ido comigo. Meu primo de certa forma começou a ficar cada vez mais próximo de mim e sempre me acompanhava a todos os lugares a que íamos. Eu e você já tínhamos ido bem mais longe em nossa relação, se é que você entende o que quero dizer e... Aconteceu... Me deixei envolver por ele e suas promessas. Foi durante uma viagem de carro a Cidade de Granada, na Região do País Basco que traí você e a mim mesma. Ele me disse que papai havia lhe convidado para assumir um bom cargo em nossas empresas e que nos casaríamos e eu no auge dos meus 14 anos de idade, acreditei. Eu me apaixonei por ele.
Sentei ao ouvir e assimilar o final de suas palavras. " Apaixonada por outro "... Isso de certa forma foi muito duro de ouvir... Acredito que doeu na mesma proporção de ter levado um murro certeiro no meio da cara.
_ Depois descobri que nunca houve convite de emprego por parte do meu pai, que ele estava noivo de uma americana e que quando retornasse aos Estados Unidos para finalizar seu curso Universitário se casaria com ela...Ele só queria se aproveitar de mim, Saulo. Nunca me amou de verdade. Fui usada... Ele soube como fazer para me envolver...
Sua voz tremeu e vi lágrimas em seus olhos. Ana Amélia deu alguns passos em minha direção e estendeu a mão para me tocar...
_ Não faça isso... Por favor, não faça isso.
Suas mãos recuaram e ela sustentou o meu olhar. Em seguida ela retomou sua narrativa...
_ Voltei desolada dessa maldita viagem. De repente o que era para ter sido um mês de felicidade, risos e ótimas lembranças virou um pesadelo. No dia que conversamos após minha volta eu já sabia que estava grávida pois minhas regras não vieram naquele final de mês. Aí tudo parecia ter voltado ao normal entre nós e dez dias após mais um final de semana na casa de praia dos seus pais, eu te disse que estava esperando um filho.
_ Filho esse que você disse que era meu e que seria o primeiro fruto do nosso amor. E o idiota aqui acreditou piamente em você... Aí passados vinte e um anos, esse filho que amei e amo com todas as minhas forças me enfrenta com ódio no coração, diz na minha cara que não sou pai dele e que odeia o irmão por se achar preterido... Agora me responda se você puder, Ana Amélia... Você acha que ainda daremos continuidade a nossa história?
Ela voltou a andar pelo tapete persa do escritório em total silêncio. Suas pisada deixavam leves pegadas no mesmo e quando voltou a me olhar já totalmente recuperada da emoção inicial disse:
_ Depende apenas de nós dois essa continuidade, Saulo. Ao longo desses últimos anos nós construímos uma família linda. Temos filhos maravilhosos e uma cumplicidade invejada por muitos de nossos amigos. Você sabe do amor quer sinto por você e não queira negar que você também me ama. Eu errei, admito. Sou culpada de muita coisa mas você não pode jogar fora o que temos...
Comecei a rir. Na verdade gargalhei com suas palavras tão emocionadas e cheias de mentiras. Eu pensava apenas no quanto eu não conhecia a pessoa que havia me casado e a raiva que tava sentindo dela naquele momento me fez tomar uma mediada extrema...
Vê-la segurando o lado direito do rosto totalmente assustada me fez ficar assustado também. Diogo levantou da cadeira e voou em minha direção acertando um murro no meio da minha cara. Ela gritou enquanto eu caía em cima do mesmo tapete que ela havia andado momentos antes e a voz do nosso filho, ou filho dela chegou a meus ouvidos...
_ Nunca mais encoste na minha mãe ou mato você seu desgraçado.
Levantei rapidamente antes de levar um chute certeiro no meio do meu peito. Segurei firmemente o rapaz que chamei de filho por tanto tempo e o joguei de volta na poltrona...
_ E você nunca levante a mão para voltar a bater em mim novamente. Agora saia daqui antes que eu perca de vez a minha cabeça.
Lembro de vê-la abraçada ao filho num momento e no outro a porta do escritório fechando me deixando totalmente perdido. Pela primeira vez em anos, eu não sabia o que fazer da minha vida.
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A notícia sobre nossa separação caiu como uma verdadeira bomba atômica nos noticiários das Colunas Sociais da Cidade e como fuga de todo esse pesadelo decidi deixar o duplex e morar num outro apartamento que a Brandão Engenharia disponibilizava a grandes empresários do País ou Estrangeiros com os quais fazíamos negócios.
O mais difícil disso tudo foi ter que separar dos meus filhos Renato, Melissa e Eduardo. Diogo também saiu do duplex quinze dias após a minha saída e foi morar na casa da avó materna que sempre me odiou. Confesso que a reciproca era mais uma vez verdadeira, ô velha chata do caralho...
A tramitação do divórcio foi acelerada e rapidamente chegamos a um acordo que foi aceito por ambas as partes. Ana Amélia pediu que eu passasse diretamente para o nome dos nossos três filhos tudo a que teria direito na partilha de nossos bens amealhados durante os anos de casamento. Ela me pediu apenas que a deixasse com a guarda dos gêmeos Eduardo e Melissa e que Renato lhe havia confessado que pretendia morar comigo no meu novo apartamento. Não me opus a nada do que ela pediu.
Dois meses após toda essa turbulência que havia passado em nossas vidas, Ana Amélia entrou na minha sala após ser anunciada por minha secretária e disse:
_ Boa tarde, Saulo. Ela estava simplesmente linda...
_ Boa tarde, Ana Amélia. Por favor sente-se. Você quer uma águ...
_ Não estou aqui para uma visita de cortesia, Saulo.
Eu parei e esperei o seu momento. Ela abriu a bolsa que trazia na mão e de dentro dela tirou um chaveiro e o jogou em cima da minha mesa de trabalho...
_ A Cobertura esta desocupada. Você já pode voltar pra lá. Nunca precisei de nada que fosse seu. A única coisa que sempre quis foi seu amor e acho que coloquei tudo a perder com minha omissão. Não posso me arrepender de noda do que fiz porque meu filho Diogo é um garoto excepcional e você me ajudou a criá-lo muito bem. Eu tive esperanças de que você reconsiderasse o que houve e que pudesse de alguma forma seguir em frente... Mais uma vez me enganei. Os meninos lhe darão nosso novo endereço quando forem passar as férias com você. Peça ao Renato que não precisa viver longe de mim pois sempre seri sua mãe. Você pode até não acreditar, Saulo Brandão, mas amo os meus filhos muito mais que você possa imaginar. Devo a você um pedido de perdão pelo que fiz no passado. Mas devo dizer a você, Saulo Brandão, que uma garota de 15 anos de idade não pode ser julgada e condenada como uma mulher adulta por mais errada que ela tenha sido.
Após calar a boca e me deixar com o olhar fixo nela, Ana Amélia virou-se e saiu definitivamente da minha vida.
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Estava mais uma vez de saída para casa quando ouvi leves batidas na porta da minha sala e após mandar a pessoa entrar...
_ O senhor mandou me chamar, Dr. Saulo?
Terminei de vestir o paletó e ao olhar no rosto de Fernando Castro disse apenas...
_ Sim, pedi para lhe chamarem.
_ E o que posso fazer pelo senhor? E ele andou calmamente até a frente da minha mesa de trabalho e esperou a minha resposta.
_ Que tal aceitar o meu convite para jantar? Falava enquanto contornava a mesa e ficava de frente pra ele que sorria timidamente enquanto me olhava.
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Amigos querido sei que estou distante de vcs e em alguns e-mails que recebi fui acusado de ingratidão por praticamente abandoná-los. Vcs sabem que isso não é verdade. O tempo esta realmente escasso, O trabalho no Departamento de Matemática da Universidade que leciono aumentou deveras e com a aposentadoria de dois titulares a coisa só piorou. O capitulo de hoje já estava pronto desde ontem... Cheguei tão cansado e com uma puta dor de cabeça que esqueci de postar. Por favor sejam compreensíveis. Eu já disse uma vez e repito... Vocês são minha sombra ao sol. Onde vou levo junto todos vcs. Não dá pra viver separado.
Prometo que falarei com vocês quando a oportunidade surgir na minha agenda. Eu nunca pensei que teria uma agenda de compromissos um dia... Acho que tão me fazendo de importante...
Saibam todos que os amo de paixão. Os tenho em mim... E os levo pela vida afora.
Boa noite a todo o meu Povo do Lado Esquerdo.
Nando Mota.