Gabriel Narrando.
Eu estava imerso em um mar de felicidade que não cabia em mim. O Ricardo era tudo o que eu sonhei. Era romântico, cuidadoso, protetor, brincalhão, bonito, inteligente... Mas como tudo tem os prós e contras, comecei a pensar... Será que ele não cansaria de mim facilmente, já que teria que viver um relacionamento às escondidas pelo menos por enquanto? Será que ele iria me apresentar para as pessoas como seu namorado? Será que ele aguentaria sofrer homofobia?
- Não sei, Ric.- Foi tudo o que eu consegui dizer. Sua cara murchou na hora.- Eu não sei se você esta pronto pra ter que viver algo escondido comigo, ou preparado para o que a sociedade tem a dizer.- Ele pareceu ficar chateado.
- Ei, quem tem que saber se eu estou pronto sou eu e não você! Se eu tô te pedindo em namoro é porque já pensei em tudo o que eu posso passar com você daqui pra frente. A decisão é sua, ou você aceita ou então cada um segue seu rumo, porque eu não vou continuar de rolo com ninguém. Se eu gosto de uma pessoa eu quero compromisso com ela. E outra, eu não tô te obrigando a ficar comigo. Você fica se quiser, mas se for pra ficar, tem que ser nessas condições!- Ele falava sério e eu me sentia mais idiota a cada palavra que saia da sua boca. Era óbvio que ele era o cara certo pra mim e que aquele relacionamento tinha tudo pra dar certo. Pra que diabos eu fui pensar aquelas besteiras?
- Desculpa duvidar de você... acho que quem não está preparado aqui sou eu.- Falei baixando a cabeça.
- Olha, não se cobre tanto, OK? Isso é tão novo pra mim quanto é pra você, mas eu to disposto a descobrir no que esse caminho vai dar.- Ele sorriu pra mim.- Você gostaria de me dar a mão pra que a gente possa descobrir esse caminho juntos?
- Sim. Definitivamente sim.- O abracei e ele me beijou.- Qual o significado dessa âncora e desse leme?- Perguntei depois de um tempo.
- Bom eu não queria te dar algo normal, como alianças, até porque ficaria muito na cara que estamos juntos. Então escolhi um leme, para que possamos guiar nosso relacionamento sempre no caminho certo, desviando das coisas ruins e seguindo em direção à felicidade. E a âncora, pra que nosso amor esteja sempre ancorado, preso, enraizado um no outro.- A minha vontade era só de abraça-lo até estourar! Ele elevou a palavra "fofura" pra um outro nivel.
- Como isso é lindo! Você é perfeito, sabia?- Falei maravilhado com tudo o que ele já tinha me dito naquele dia.
- Eu estou longe da perfeição, mas se existe um alguem que me considera perfeito e esse alguém é você, eu já ganhei a vida, não só o meu dia. Você vai querer qual cordão?
- Acho melhor eu ficar com a âncora e você com o leme. Você dirige melhor que eu.- Falei sorrindo.
- A âncora combina mais com você mesmo, já que todas as minhas emoções boas estão ligadas a você.- Eu sentei em seu colo e comecei a beijá-lo. Eu estava fodidamente apaixonado por ele.- Acho melhor irmos embora agora.- Já eram 15 horas. Arrumamos nossas coisas e fomos para a casa dele.
Chegando la, foi estranho falar com a mãe dele agora que eu sabia que ela sabia. Trocamos duas palavrinhas e subimos eu e Ricardo para seu quarto. Tomei banho e troquei de roupa, ele fez o mesmo. Em seguida, ligamos o video game e sentamos na cama. Dessa vez sentei entre suas pernas, com a costa encostada em seu peitoral e a parte de trás da minha cabeça encostada em seu ombro. Ficamos assim abraçados enquanto jogávamos.
- Gabe, no próximo sábado terá uma festinha na casa de um amigo da faculdade. Nada demais, só um churrasco, piscina e musica. Ta afim de ir comigo?
- Tem certeza? Seus amigos não vão achar estranho você me levar ao invés de levar uma garota?
- Gabe eu acho que a sua ficha do que aconteceu hoje entre nós ainda não caiu! É com VOCÊ que eu namoro, então é VOCÊ quem vai me acompanhar. Eu já disse que a única pessoa que eu me importo já sabe, que é a minha mãe. Tô pouco me lixando pra o que as pessoas vão pensar. Eu quero mais é mostrar pra todo mundo que você é só meu!- Ele beijou meu pescoço.
- Tudo bem então! Eu vou!
- Ótimo!
Continuamos por mais um tempo jogando até que sem perceber dormi no seu ombro. No domingo de manhã ele me levou embora para casa.
Ricardo narrando.
Meu domingo foi totalmente chato, comparado ao dia maravilhoso que foi ontem, o sábado. Passei o dia adiantando alguns trabalhos e lendo alguns livros. Na segunda feira de manhã, a primeira pessoa que eu encontro na faculdade é o Gustavo.
- Parece que agora nós somos oficialmente cunhados.- Falou me olhando sério.
- Pois é...- Fiquei sem graça.
- Cuida bem dele cara, por favor. Te peço isso não só como irmão dele, mas como teu melhor amigo. Ele é muito importante pra mim.
- Claro mano, fica tranquilo quanto a isso.- A gente deu um aperto de mão e ele me abraçou.
- Bem vindo à família, brother.
- Valeu cara.- Falando isso fomos andando em direção a nossa sala que é uma das ultimas da faculdade.- Gus eu convidei o Gabe pra ir com a gente na social do Otávio.- Falei isso e ele parou de andar.- O que foi mano?
- Você acha mesmo que essa é uma boa ideia?
- E por que não seria?
- Cara você vai estar se expondo, expondo o Gabe, expondo a mim...
- Ah então chegamos ao ponto. Por acaso você tem vergonha do fato do seu irmão ser gay, Gustavo?
- Claro que não, Ric. Eu já aceitei isso a muito tempo. A questão é que eu não sei se o Gabe ta pronto pra isso sabe? Pra que as pessoas saibam dessa forma. Fora que tem sempre aquele homofóbico escondido por ali. Essa é uma decisão que você precisa pensar. Você vai conviver com essas pessoas por mais 4 anos e meio. Quer mesmo se expor dessa fora?
- É, pensando assim você tem razão mano.
- Acho melhor vocês irem com calma.
- Verdade.
- E ai, como vai dizer a ele que ele não vai mais?
- Mas quem disse que ele não vai mais? Só não vou apresentá-lo como meu namorado a todos, mas quero sim que ele vá e se divirta com a gente! Inclusive você que vai levá-lo.
- OK então. Sou voto vencido mesmo. Vocês é quem sabem!
Ao chegar na sala dou de cara com o Igor. Um cara que vive dando em cima de mim, mesmo sabendo que eu sou "hétero". Ele é até bonito, o típico loiro dos olhos azuis, porém não gosto de sua atitude. Ele dá em cima de todo mundo e continua dando em cima mesmo que a pessoa diga que não quer nada com ele.
-Gostei do cordão, Ric.- Se ele soubesse o significado.
- Obrigado.- Fui educado.
- Eu posso ver?- Ele passou suas maos em meu peito, ao invés de pegar logo no cordão. Segurei seu punho com força e o encarei sem paciência.
- Cara eu ate tento ser o mais educado possível contigo, mas tu não colabora.- Comecei a apertar seu pulso com mais força.
- Você ta me machucando Ric.
- Se tu vier com palhaçada de ficar passando a mão em mim, eu vou machucar bem mais. Respeito é bom e eu gosto!- Soltei seu braço e ele começou a massageá-lo. - Cara chato... não se toca!- murmurei enquanto me dirigia a minha cadeira.
- O que foi mano?- Gustavo perguntou.
- Esse filho da puta do Igor que fica passando a mão em mim. Viado desgraçado.
- Se liga que você agora é um também.- Ele sorriu.
- Mas comigo é diferente. Meu lance é só com o seu irmão.
- Anram, sei. Vou fingir que acredito.
- Enfim, a parada é que se ele continuar com isso eu vou quebrar ele.
- Mano vai com calma. Você não quer se queimar aqui por causa dessa cara né? Relaxa, não estraga o seu dia por causa desse babaca.- A professora entrou e eu fui me acalmando aos poucos.
Gabriel Narrando.
Já era sábado de manhã e eu e o Gustavo estávamos nos arrumando para a tal social da sala dele.
- Isso é muita injustiça, por que o Gabe pode ir e eu não?- O Max tava puto porque não iria.
- Porque cada pessoa só pode levar um acompanhante e eu já vou levar a Paty. O Gabe vai com o Ric.- Gustavo explicava pela milésima vez.
- Que saco!- Falou saindo do quarto. Olhei para o Gustavo que me olhou de volta.
- Não liga pra isso, a gente não pode fazer nada! Daqui a pouco essa birra dele passa.- Falou e eu apenas acenei positivamente.
Saímos de casa e passamos na casa da Paty para pegá-la. Nos cumprimentamos rapidamente e seguimos viagem. Chegando na porta da casa, Vi ele encostado em seu carro, com o tipico coque no cabelo e de braços cruzados. Ele estava com uma regata branca, que deixavam à mostra seus braços musculosos, com uma bermuda jeans azul escura e um par de chinelas pretas. Quando ele me olhou, abriu seu mais belo sorriso e eu creio que abri o meu também.
- E ai Ricardo, essa é minha namorada, a Patrícia. Patricia, esse é o Ricardo, meu amigo da faculdade.
- Oi, prazer.- Ela disse.
- Prazer o meu.- Ele respondeu. Íamos entrando quando a Paty resolve falar.
- Você não vai apresentar o Gabriel?
- Nós já nos conhecemos.- Respondeu o Ricardo e a Paty deu de ombros.
Quando entramos, Já pude ver a piscina do lado esquerdo da casa, e uma área coberta com churrasqueira atras da piscina. Gustavo foi apresentar sua namorada pra quase todo mundo ali, me deixando sozinho com o Ric.
- Queria poder te beijar agora.- Ele falou olhando pra outro lado, como se estivesse falando qualquer outra coisa.
- Eu queria poder te abraçar agora...
- Me segue.- Ele disse e saiu para o outro lado da casa. Eu esperei alguns minutos, pra disfarçar e fui. Chegando la, fui puxado com força para um beijo que retirou todo o ar dos meus pulmões. Ele terminou o Beijo mordendo o meu lábio inferior.- Eu tô viciado na tua boca, sabia?
- Acho melhor você tratar de saciar o seu vicio mais tarde. Agora é melhor voltarmos, ou as pessoas vão desconfiar.- Saímos de la juntos e no meio do caminho encontramos com um cara. Ele era loiro dos olhos azuis e bem bonito.
- Opa, quem é o carinha?- Ele perguntou com um sorriso largo para o Ricardo, que o olhava sério até demais para a situação.
- Ele é irmão do Gustavo, não vê a semelhança?- Ric estava sendo meio grosso com ele.
- Verdade, se não fosse a altura eu diria que são gêmeos. Mas o combinado não era que cada um trouxesse apenas uma pessoa? Eu já Vi a namorada do Gustavo aqui então...
- Olha, apesar de não ser da sua conta.- Ricardo o cortou.- O Gus me pediu pra trazer ele como acompanhante já que eu não iria trazer ninguém e ele queria que o irmão viesse. Satisfeito?- Por que o Ric estava agindo daquela forma? O cara então me encarou e me mediu dos pés a cabeça. Senti meu rosto corar.
- Sim, muito satisfeito inclusive.- Ele mordeu a ponta do seu óculos escuro enquanto me analisava. Eu já estava ficando constrangido.- Prazer, me chamo Igor.
- Prazer, Gabriel.- Estendi a mão mas o invés de pegá-la, ele me abraçou um pouco forte demais.
- Vamos Gabe, seu irmão está nos esperando.- O Ricardo praticamente me arrastou pra longe dele.- Presta bem atenção no que eu vou te falar: Fica bem longe daquele cara.- Ele continuava sério.
- Mas por quê? Ele não me deu moti...
- Só faz o que eu tô te pedindo, beleza? Aquele cara não é uma boa pessoa.- Ele só disse isso e chegamos à mesa em que meu irmão e a Paty estavam.
Eu na verdade estava me sentindo muito deslocado ali. OK que o Ric tinha assunto comigo, mas eu preferia conversar com ele de outra forma. Meu irmão e sua namorada conversavam mais entre si e vez ou outra eles saiam da mesa para conversar com outros casais.
- Vamo cair na piscina?- Sugeriu Gustavo.
- Ainda bem que você falou, eu já não aguentava mais de calor!- Patricia pareceu aliviada.
- Eu topo- Confirmou Ricardo.
- Podem ir, eu fico aqui.- Falei e seus olhos viraram-se contra mim.
- Qual foi, mano?- Gus perguntou.
- É que aqui tem muita gente.- Fitei minhas mãos, que estavam em cima do meu colo.- Eu fico com vergonha de ficar de sunga na frente dessas pessoas todas.
- Fala sério Gabriel, nada a ver...- Ricardo falou tentando me animar.
- Mano, alguma vez alguém já disse que você parece comigo?
- Toda hora.
- Isso quer dizer que tu é bonito pra caralho, desencana e deixa de vergonha!- Patricia e Ricardo sorriram, o que acabou me fazendo sorrir.
- Tudo bem, vocês venceram! Vou ao banheiro trocar de roupa.
- Ué, mas você não veio com a sunga por baixo da roupa?- Patricia perguntou enquanto tirava sua blusa, exibindo a parte de cima do seu biquíni preto. Os meninos tiravam suas bermudas.
- Pior que não, paty. Não gosto de andar de sunga por ai. Acho o material muito grosso.- Falei enquanto tirava a sunga da mochila que eu havia levado.- Vou ao banheiro, já volto.
- Não demora.- Ricardo falou e Patricia o fitou curiosa. "Valeu Ricardo, da próxima vez da mais bandeira", pensei eu.
Dirigi-me ao banheiro e la troquei de roupa. Saí já vestido somente na sunga e segurando minhas roupas, quando entrei no corredor dei de cara com aquele tal de Igor.
- Opa, e ai curtindo a festa?- Ele apoiou um braço em sua cintura e outro na parede. Seu hálito era de álcool puro. Ele ainda não falava enrolado.
- É, ta bacana sim.- Falei e tentei passar por ele.
- Não, perai, perai, peraê...- Ele me pegou pelos ombros e me dirigiu de volta pra o lugar onde eu estava.- Eu tava afim mesmo de trocar uma ideia contigo, te conhecer melhor quem sabe...
- Cara, desculpa mas meu irmão ta me esperando, eu tenho que...
- Seu irmão pode esperar.- Falou me interrompendo e veio se aproximando de mim. Eu dei dois passos para trás e minhas costas encontraram a parede.- O que eu tenho pra fazer aqui não vai demorar muito. Ou vai, né? Isso depende de você.- Ele sorriu e seu hálito estava me dando ânsia de vômito.- Ele se aproximava cada vez mais e eu já não sabia mais o que fazer. Eu não queria ser mal educado, mas não sabia como dispensa-lo.
- Sai de perto dele.- Ouvir aquela voz grave surgir por trás do Igor foi como ingerir todo o pólo sul e ele estivesse se alojado na minha barriga.
- E ai Ricardo, beleza? Ta tudo bem por aqui, avisa pro Gustavo que já já eu devolvo ele.
- Eu disse pra você sair de perto dele.- Ricardo não gritava. Pelo contrario, sua voz era fria, gélida, o que me deixava com mais medo do que ele poderia fazer.
- Calma bobo, não precisa ficar com ciúme! Tem Igor pra todo mundo, mas você vai ter que aguardar sua vez.- Ele sorria e eu só conseguia olhar para o Ric com os olhos arregalados. Seu rosto transmitia muita raiva. O Igor ia virando para me beijar, quando:
- Eu te avisei.- Ele pegou no ombro de Igor, girando seu corpo pra que ficasse de frente para o do meu namorado, que deu um soco nele que se desequilibrou e caiu no chão. Com o barulho algumas meninas apareceram o que só serviu para piorar a minha vergonha. Ricardo levantou o tal Igor, que tinha o nariz sangrando, pelo colarinho da camisa.- NUNCA MAIS CHEGA PERTO DELE, TA ME OUVINDO?- Ric gritava e batia com as costas do cara na parede.- SE EU TE VER PELO MENOS OLHANDO PRA ELE, EU PARTO ESSA TUA CARA EM DUAS.- Ele falava bem perto do rosto de Igor. Por um momento ele só ficou calado olhando sério dentro dos olhos de Igor, que estava a ponto de começar a chorar.- A minha vontade é de te quebrar todo, moleque.- Quando ele estendeu a mão para dar outro soco nele, meu irmão apareceu com mais outros caras e seguraram o Ricardo. Eu acompanhava tudo sem reação alguma, apenas chocado pela violência que tinha acabado de acontecer bem na minha frente. Meu namorado se debatia nos braços do Gus tentando se soltar e querendo partir pra cima do não tao coitado assim do Igor.
- Ricardo, se acalma cara, por favor.- Meu irmão pedia. Consegui olhar para outra pessoa naquele momento. Um alguem que também me encarava incrédula. Patricia. Ela pareceu entender o que estava acontecendo. Sabia que aquilo tudo era uma crise de ciúmes, devia ter entendido o porquê de eu estar naquela festa... Fui retirado dos meus pensamentos por alguém que falava comigo em um tom um pouco mais alto.
- A única coisa que eu disse pra você fazer, que foi ficar longe desse ai e você vai la e faz.- Ricardo me olhava bravo enquanto algumas pessoas tiravam o Igor dali.
- Desculpa, eu não tive culpa. Quando eu sai do banheiro dei de cara com ele e...
- NÃO INTERESSA! EU TENHO CERTEZA QUE...
- EI CARA, ABAIXA ESSA TUA BOLA AI.- Gustavo falou o interrompendo, soltou ele e ficou de frente pro Ric.- Eu tô te achando muito nervosinho pro meu gosto. Primeiro que eu não vou permitir que você fale assim com meu irmão, entendeu? Segundo que se ele ta falando que não teve culpa, é porque não teve! Eu conheço meu irmão obviamente a mais tempo que você e até hoje nunca o Vi mentir e te garanto que ele não começou com essa hábito agora.- Olhei no fundo dos olhos do Ricardo. Eu estava decepcionado com aquele show todo que ele deu e mais decepcionado ainda por ele ter desconfiado de mim.
- Acho que essa festa já deu o que tinha que dar Gustavo.- Falei sem tirar os olhos dele. Me virei e voltei ao banheiro para vestir minha roupa. Hoje a gente fez uma semana de namoro e já ta dando tudo errado. Mas não é de se estranhar que as coisas dessem errado comigo. Quando abri a porta do banheiro, ele estava la.
- Amor por favor me desculpa...- Essa era a primeira vez que ele me chamava de amor. Esperei tanto pra que ele dissesse essa palavra e quando finalmente aconteceu, foi em uma situação chata, que fez com que todo o brilho da palavra se perdesse.
- Acho melhor a gente conversar outra hora Ricardo.- Falei calmo, sem perder a compostura, apesar de por dentro sentir vontade de chorar por ele ter gritado comigo anteriormente. Eu sempre fui assim, é mais fácil eu chorar por alguém gritar comigo do que por alguém me bater. Eu me sinto tão pressionado pela situação que é a única coisa que consigo fazer pra pessoa parar de gritar.
- Não vai embora amor, fica aqui mais um pouco, vamos conversar...
- Para de me chamar de amor, essa palavra não condiz com suas atitudes. Eu já disse que outra hora a gente conversa, eu preciso ficar sozinho agora.- Eu como sempre tentando resolver meus problemas me isolando de tudo e de todos. Esse era meu mecanismo de defesa: Fugir dos problemas.- Eu só queria que você soubesse que eu tô decepcionado com você.- Seu rosto expressou tristeza. Confesso que não foi fácil vê-lo assim, mas sua tristeza agora não justificava o que ele fez ainda a pouco.- Eu vou indo e é melhor você não me seguir. Cheguei na mesa do meu irmão e ele e a Patricia já tinham arrumado suas coisas.- Vamos?
- Vamo sim mano, deixa só eu ir me despedir do pessoal aqui.- Falou isso e saiu, me deixando sozinho com a Paty, segurando aquela torta de climão. Ela me encarava e aquilo sinceramente estava me deixando com um pouco de raiva.
- Você por acaso perdeu alguma coisa na minha cara?- Acho que ela se surpreendeu com a forma que falei com ela.
- Não, é... Desculpe. Não queria tornar isso mais constrangedor pra você do que já está sendo.- Aff, como eu sou um idiota. Nada a ver descontar nela o meu stress.
- Eu é que tenho que pedir Desculpas, acabei descontando em você o que eu tava sentindo.
- Não tem problema, eu sei bem como é isso. Quando eu Brigo com o Gustavo, quem paga o pato é o Marcus.- Ela sorriu, o que me fez sorrir também. Ela tratou aquilo de forma tão natural, como se eu e Ricardo fossemos um casal como qualquer outro, o que na verdade somos mesmo.
- Então tudo bem pra você eu ser... assim?
- Gabe você sabe que eu sempre gostei muito de você, até antes mesmo de você e seus irmãos começarem a se dar bem e não vai ser agora que isso vai mudar. Não é porque na bíblia diz que isso é errado que eu vou te julgar ou apontar o dedo pra você, te condenando ao inferno, até porque eu não tenho esse direito, ninguém tem, pois se formos nos analisar, todo mundo é cheio de falhas e de erros e se eu considerasse a homossexualidade um erro e te julgasse por isso, você também teria todo o direito de me julgar por tantas outras coisas erradas que eu ou qualquer um aqui faz. No fim só o que vai importar é se você foi uma boa pessoa ou teve um bom coração. Pra mim você continua sendo o mesmo Gabriel.- Aquelas palavras quase me fizeram esquecer do Ricardo. Foi tão reconfortante ouvir isso de alguém que eu gosto tanto...
- Obrigado, Paty.- Fui até ela e a abracei.
- Você não tem nada que agradecer.
- Só me faz um favor, não conta isso pra ninguém, beleza?
- Pode ficar tranquilo.
- Vamos?- Gustavo apareceu atras dela. Fomos saindo da casa e perto do portão, Vi ele me observando de longe.
Entramos no carro e a viagem foi silenciosa. Deixamos minha cunhada em sua casa e seguimos caminho. Por que ele gritou comigo daquela forma? Eu não fiz nada de errado, o cara que veio pra cima de mim, o que eu poderia fazer. Eu estava frustrado e angustiado. Uma Lágrima escorreu pelo meu rosto.
-Droga!- Falei com raiva de mim mesmo por ter deixado essa lágrima cair. Aquela situação não merecia nenhuma lagrima minha!
- Calma mano, o Ricardo que foi um babaca com você, não precisa chorar...- Ele passou a mão na minha coxa.
- Eu sei, é só que ele nunca tinha falado assim comigo...- Eu estava realmente chateado.
- Mano, você tem que entender que nem sempre o Ricardo vai tá um Amorzinho com você. Vai ter dia que vocês dois vão querer se matar, em outro dia vão estar morrendo de saudades um do outro, ou talvez essas duas coisas acontecendo no mesmo dia. O que eu quero te dizer é pra você não esperar um relacionamento a mil maravilhas, porque não existe. O Ric, assim como você ou como qualquer outro ser humano, tem seus momentos de raiva, tristeza, alegria, angustia, ciúmes... e você vai ter que aprender a lidar com isso. Vão ter coisas que vocês vão concordar e coisas que vocês vão divergir e só depende de vocês ter maturidade pra resolver seus problemas. O que aconteceu hoje não é o fim do mundo, logo logo vocês estão bem de novo. E por mais idiota que o Ric tenha sido, ele fez isso pra te defender do Igor, porque ele morre de ciúmes de você. Por piores que tenham sido suas atitudes, isso só mostra que ele gosta de você de verdade.
- Eu sei disso, é só que não tem como não ficar chateado numa situação dessas né? Eu não tenho sangue de barata.
- Eu sei mano, Deixa que eu converso com ele depois.- Sequei meu rosto e chegamos em casa.
- Ué, já voltaram?- Max estava na sala, passei por ele sem responder.
- Deixa ele.- Ouvi Gus falando antes que eu chegasse ao topo da escada.
Cheguei no quarto, me joguei na cama e liguei a TV , precisava me distrair, não ia ficar chorando pelo Ricardo, não mesmo. Foi quando tive uma ideia. Liguei para o Marcus e para o João Lucas convidando-os para fazer-mos uma maratona de teen Wolf, uma serie que nós três acompanhamos. Eles toparam instantaneamente, e em uns 30 minutos chegaram, cada um com uma sacola de guloseimas.
- Vocês querem sair daqui rolando né?- Falei sorrindo e eles sorriram junto. Tinha de tudo: ruffles, doritos, biscoitos recheados, barras de chocolate, marshmallow, bala fine, pipoca, refrigerantes...
Sentamos os três na minha cama e começamos a assistir a serie no netflix. Eles dois eram meus melhores amigos e estar com eles me fez esquecer totalmente o episódio dessa manhã. Eu adorava o senso de humor deles. Poderíamos estar assistindo o pior filme de terror do momento, mas eles sempre davam um jeito de fazer piada de alguma cena. Já tinha anoitecido quando o Max apareceu no quarto. Ele definitivamente não gostava do Marcus, o porquê disso eu não sei. Maxwell sentou em sua cama e ficou mexendo no celular. Vez ou outra eu pegava ele nos olhando sério, mas não liguei muito. Chegou a hora que eles tiveram que ir embora, desci para deixar eles na porta quando ao chegar na sala ouvi vozes vindo da rua.
- Cara ele não quer conversar contigo agora. Ele ta la em cima com os amigos, ta magoado... deixa pra falar com ele outro dia.
- Gustavo você não entende. Eu preciso falar com ele. O Gabriel não me atende e nem lê minhas mensagens...- Foi quando cheguei no portão e Vi ele la fora com o meu irmão.
- Tchau pessoal, obrigado por hoje.- Falei me despedindo dos meus amigos que me olhavam de forma estranha.
- Tchau, até amanhã.- Marcus me abraçou.
- até logo cara.- João se limitou a um aperto de mãos.
- Será que a gente pode conversar agora? - Falou quando os meninos já estavam longe. Gustavo continuava encarando-o sério.
- Gustavo, você pode nos dar licença?- Falei.
- Tem certeza?
- Anram. Qualquer coisa eu tenho aprendido uns golpes de jiu jitsu por ai ultimamente, sabe?- Ric sorriu, eu não. Gustavo entrou.
Aquela conversa seria longa. Vou precisar estabelecer alguns limites por aqui!