- Mora? Aqui não é uma pousada? – eu quis saber.
- É... Mas as coisas estão tão difíceis que decidimos começar a alugar os quartos... Sabe como é, a crise, a presidente, a inflaç...
- Moço! Ela está?? – César perguntou apressado espalmando as mãos no balcão meio empoeirado.
- Esse horário ela trabalha. Deve voltar lá pras seis da tarde...
- O senhor tem certeza que o nome dela é Gabriela Monique? – eu perguntei.
- Sim. Quer dizer, Gabriela eu não sei. Mas que tem uma senhora que mora aqui chamada Monique tem.
Respiramos aliviados.
- Vamos esperar. – César disse já rumando pras cadeiras.
- Querem que eu ligue e diga que estão aqui esperando?
- Pode ligar sim. Diga que... Ela tem visitas aqui. – eu disse também indo me sentar.
César parecia mais feliz e com um pequeno sorriso no rosto.
- César, você sabe que pode não ser ela.
- Você sabe que também pode ser. – ele tirou a mochila das costas e tirou dela a pasta de documentos a colocando no colo.
O tempo passou. As horas se arrastavam. Eu não estava convencido de que era ela. Não estava mesmo. Fácil demais... Digo, não estava querendo ser pessimista, longe de mim! Mas nós apenas viajamos, procuramos em endereços que o César tinha encontrado e finalmente a achamos? Não... Tinha algo errado.
- César, eu sei que a apreensão é grande mas... Não fica tão ansioso. Eu não quero ver você triste.
- Não tem com o que se preocupar...
Eu lembrei do Rômulo dizendo que eu nunca havia visto o César triste. Eu tinha medo do que podia vir adiante. Era nossa última tentativa. Se algo desse errado então tudo iria por água abaixo. Meu coração começou a se angustiar. Bater mais forte. Eu de alguma forma não queria mais ficar alí do lado dele e ver que ele ia se decepcionar. Senti um pouco de desapontamento com meu pensamento. Afinal, eu entrei nesse desafio com o César e deveria ir até o fim. Ele acreditava em mim. Estávamos juntos... Eu era quem iria fraquejar?
As horas ainda se arrastavam. Haviam menos de 10 minutos desde a última vez que olhei o relógio até que meu celular tocou. Era o Rômulo. Senti um alívio ao ver sua foto. Eu levantei e me distanciei sem que César percebesse. Estava ocupado demais procurando mais cutículas pra devorar.
- Alô.
- Victor? Sou eu.
- Oi. Como é bom falar com você... – eu desabafei.
- Tá acontecendo algo?
- Tá... Nós... Talvez a tenhamos encontrado.
Ele fez silêncio.
- Cadê o César?
- Ele não vai desistir.
- Eu quero falar com ele.
- Não vai adiantar, eu tô falando. Quem precisa falar com você sou eu. Minha mãe me disse que você não andava se alimentando direito. O que houve?
- Ela disse?
- Disse.
- Hum... Só uma virose. Já melhorei.
- Eu sinto muito por termos continuado com isso. Não sei mais se foi a decisão certa. Eu não quero ver o César desapontado.
- Você precisa ser forte. Eu não estou aí pra ficar com ele.
- Não sei mais se posso.
- Nem pense em voltar atrás. Você deu força pro meu irmão ir até aí. Agora fique com ele. Você não vai abandoná-lo!
Eu comecei a chorar.
- Victor! Victor!
- O que foi? – eu disse enxugando o nariz.
- Você não pode deixar o César sozinho! Não pode!
- Tudo bem.
- Me prometa!
- Tudo bem! Tudo bem!
Minha mãe começou a ligar.
- Eu preciso desligar...
Desliguei a chamada antes de escutar algo. Atendi minha mãe.
- Onde você está? Onde você está, Victor? O que está acontecendo? – ela falou preocupada.
- Mãe... Nós estamos procurando a...
- Saia daí!
- O que?
- Sua energia, Victor! Sua energia! Saia daí! Eu estou vendo tudo. Vocês precisam sair daí.
- Como assim?
- Não discuta! Faça o que estou dizendo!
- Não podemos!
- Victor, eu posso ver. Não vai ser um final feliz! Saia daí!
Meu celular desligou. Como se a bateria tivesse acabado. Ele simplesmente desligou e não reiniciou mais.
Quando me virei de encontro ao César ele se empertigou na cadeira e levantou indo em direção à senhora com formas jovens entrando pela porta. Ela usava óculos escuros, um vestido rosa escuro decotado, saltos altos e uma bolsa. Ela era bonita.
Do fim do hall eu tentei caminhar apressado para escutar o que César estava dizendo. Ele a abordou e ao chegar perto dela pude ver seu olhar de repulsa seguido de um leve passo pra trás.
- Monique?
- Sim, sou eu. – ela disse desconfiada tirando os óculos.
- Gabriela Monique? – ela abriu mais os olhos assustada.
- Desculpe... Não me chamo Gabriela. – ela disse e saiu em direção às escadas.
- Espere! – César disse sem que ela desse atenção.
- Meu nome é César! Eu preciso muito falar com você.
- Não sou quem você está procurando, garoto. Não me chamo Gabriela Monique. Já disse. – ela começou a subir os degraus rápido.
- Então porque está fugindo? – ele gritou e ela parou o olhando lá de cima.
- Não tenho que dar satisfações a um estranho.
O senhor do balcão se aproximou mas estava mais interessado em saber a origem da mulher misteriosa do que separar a confusão.
- 10 de Abril de 1995. A data não é familiar pra você?
Ela continuou em silêncio. César abriu a pasta em mãos e começou a falar coisas com ela no topo da escada.
- 10 de Abril de 1995. Orfanato católico? Um bebê?
- Do que você está falando?
- Essa é a minha última pista. Você! Tudo leva a você.
- Eu já disse que não sei do que você está falando!
- Você trabalhou no gabinete do prefeito de 2000 a 2004. Foi processada por improbidade e perdeu o emprego. Condenada a 8 anos sem poder exercer cargo público. Sumiu da cidade. Você já foi casada uma vez por um ano. Você já hipotecou uma casa. Você já foi doméstica. Você já morou na Paraíba por um tempo.
Ela tinha um rosto de terror no topo de escada escutando César falar tudo aquilo. O senhor apenas levou a mão à boca aberta. Eu não sabia o que dizer.
- Eu tenho tudo aqui. É você! O bilhete no meu lençol com meu nome anotado. Você queria que eu me chamasse César!
- Você não deveria brincar com essas coisas. Histórias assim são tristes e você não deveria usar isso pra chegar em alguém.
- Será que você não vê que só o que eu quero é conversar? Eu tenho esperado pelo dia de hoje há mais de 20 anos.
Ela desceu dois degraus lentamente sem soltar o corrimão.
- Eu sinto muito por você, mas não sou quem você procura.
- Tudo leva até você.
- Eu vou chamar a polícia!
- Chame quem você quiser! Mas você é a minha mãe! – César chorou. – Você! Eu venho te procurando desde cedo. Eu vasculhei cada canto daquele registro atrás de você. Eu consegui tudo isso aqui – ele levantou a pasta – com muito esforço. Não posso estar enganado!
- Todo o seu esforço foi em vão. Eu não sou quem você está procurando. Eu trabalhei o dia inteiro e não tenho porque chegar em casa e passar por isso. Eu realmente sinto muito por você mas eu não sou quem você procura. Já disse. Agora me deixe em paz. De uma vez.
César arremessou a posta no chão e subiu os degraus rápido até ela. Ela não se moveu nenhum centímetro sequer. Os dois se olhavam como dois cães. Ela o desafiava.
- Finja o quanto quiser. A partir de hoje você vai colocar a cabeça no travesseiro sabendo que seu filho te encontrou e que você o recusou. Eu não quero nada que você não tenha me dado em todos esses anos. Eu só precisava saber de onde vim. Quem sou eu. Só isso. Se nem isso você é capaz de me dar, agora sou eu é que não quero você por perto.
- Terminou? – ela disse inclinando a cabeça pro lado ironicamente e nesse instante um estalo veio na minha cabeça.
O passo pra trás com cara de nojinho que ela fez ao vê-lo, a forma de ignorar, o olhar desafiador e irônico, o ar superior... É o mesmo modo como o César trata desconhecidos.
- César! Vamos embora. – eu disse.
- Até que enfim alguém disse algo inteligente aqui. – ela falou sem deixar de encará-lo.
- Não vou mais procurar por você. Eu prometo. – César disse.
- Me faça esse favor.
César começou a descer os degraus, eu catei a pasta do chão e quando me ergui ele me puxou pelo punho em direção à porta.
Saímos do hotel com César bufando de raiva. Tudo aconteceu tão rápido e eu estava confuso. Sem entender que tinha acabado.
- Vamos embora! Vamos embora hoje! – César dizia alterado me puxando pela calçada. Até que parou perto de uma árvore.
- Eu sinto muito. – eu disse colocando a mão em seu ombro. Ele virou pra rua e acenou pra um taxi.
O veículo veio se aproximando e César aos poucos ia soltando as lágrimas. Entramos no carro e eu indiquei a pousada que estávamos. César chorou como uma criança do meu lado. Levou aos mãos aos olhos como que sem acreditar em tudo o que tinha acontecido na última meia hora.
- Tudo bem. Já acabou... – eu dizia do seu lado acariciando suas costas.
César continuava a chorar incontrolavelmente. Eu tentava imaginar pelo o que ele estava passando. A recusa. A dor de ser recusado por alguém importante pra ele. Ok, ela poderia sim não ser a mãe dele. Mas ele acreditou ser e isso mudava tudo. As lágrimas começaram a encharcar as mãos de César e eu o puxei ao meu encontro. O taxista deveria estar sem entender nada. Coloquei sua cabeça em meu colo e assim seguimos até a pousada. Meu jeans encharcou na coxa.
Descemos na pousada e no quarto após tomarmos um banho, dessa vez separados, César dormiu quase que de imediato. O desgaste foi tanto que ele não resistiu.
Enquanto o olhava dormir eu finalmente vi em tudo o que tínhamos nos metido. Foi um erro. Rômulo estava certo o tempo todo.
No dia seguinte nós iríamos embora daquele lugar. Estava decidido.
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Olá pessoal!
Quanto tempo! Muita coisa pra fazer, muita OAB pra estudar, muito trabalho pra dar conta, muito namoro pra manter... Tudo isso ao mesmo tempo e lá se vai um mês desde minha última postagem. Mas estou aqui. Desculpem.
LuCaS✈✈, Gordin.leitor : Obrigado e desculpem demorar tanto.
#Léo!, Jardon, isabela^^, Geomateus, Daniel ..., Pyetro_Weyneth, Malévola : Pensei que ia demorar um pouco mais. Reli o capítulo achando que o encontro só ia sair no próximo. Mas está aí o encontro dos dois.
Monster: kkkkkkk Não sou capaz também!
Ryuho: EU amei o "Recovery"! Se tornou um dos meus melhores contos na minha cabeça e nasceu do nada!
Drica Telles(VCMEDS): Vixe! ENtão a partir desse atraso você deve me odiar! kkk
Malévola: Desculpe. :-/
mattheusfl: Vi seus comentários vindo de conta a conto em um dia só! Obrigado por ler tudo. Obrigado também pela compreensão. s2
Adios_pri: Chegueeei!
Espero que continuem gostando. Meus próximos contos, se rolarem, terão bem menos capítulos ou então serão todos como "Recovery" e terão um só capítulo pra isso não ocorrer.
Abraço.
Igor.
kazevedocdc@gmail.com