Cap.17
Ele arregalou os olhos ao ouvir o que eu tinha perguntando. De repente meu corpo se aqueceu, fiquei nervoso, uma sensação estranha tomou conta de mim.
- Anda, responde ! Você é o Enzo ? - ele tremia a boca, parecia que estava sem voz.
- Calma Marcos, eu posso explicar ! - imediatamente me levantei.
- Eu não acredito nisso ! Não acredito que você mentiu para mim ! Não acredito que fui enganado de novo ! O que você quer comigo ? Roubar meu dinheiro ? Me entristecer, igual você fez quando éramos adolescentes ? - de repente todas as boas imagens que eu tinha dele na minha mente sumiram. Eu só conseguia me lembrar do Enzo mal que me magoou várias vezes enquanto eu era jovem.
- Não, espera ! Me ouve por favor... Eu... Eu tenho um motivo para ter mentido ! - falou, saindo da cama e se aproximando.
- E qual é ?
- Eu estava com medo de você se lembrar de mim e ter essa mesma reação de agora e não me dar um emprego. Eu precisava do emprego Marcos. Minha família estava falida e se não fosse aquele emprego eu teria virado garoto de programa.
- Como eu posso acreditar em você ? Depois de tudo ? Depois dessa mentira ? Depois de tudo o que você já fez para mim ? Como eu posso acreditar em você ? - eu não sabia o que fazer. Meu coração mais uma vez foi dilacerado. Mais uma vez eu me sentia traído.
- Eu juro Marcos. Não estou mentindo ! Não sou mais aquele garoto imaturo da nossa adolescência. Eu juro que não estou mentindo para você - falou ele, pegando no meu rosto.
- Vá embora por favor... Eu não quero mais ver você hoje ! - meu coração estava gritando. Queria abraca-lo, beija-lo, mas já não conseguia mais ver nele o homem por quem me apaixonei. Aquela mentira fez eu perder toda a confiança nele.
NARRADO POR ENZO
Aquilo era tudo o que eu não queria que acontecesse. Eu não contei antes com medo daquela reação. Eu não queria que ele me chamasse de mentiroso. Eu não queria que ele me visse daquela forma. Mas não teve jeito. Ele acabou descobrindo por causa daquela maldita carteira. E agora não queria me ver. Não acreditava em mim. Meu coração começou a sangrar e lágrimas vieram aos meus olhos. Eu não era mais o mesmo Enzo. Eu o amava. Recolhi as minhas coisas. Vesti a minha roupa. Nem arrumei o cabelo. Apenas fui caminhando até a porta. Virei levemente o meu rosto e vi ele, sentado no sofá com a mão no rosto.
- Eu te amo... Marcos - falei. Abri a porta e então me lembrei do cordão que carregava no pescoço. O tirei, pois já que não íamos namorar, não devia usar aquilo. Não queria sair com nada dele, para que ele não pensasse ainda mais mal de mim. Deixei sobre uma mesa, e então sai. Ele nunca mais acreditaria em mim.
NARRADO POR MARCOS
Assim que ele fechou a porta, comecei a chorar copiosamente. Me sentia traído. Me sentia um trouxa. Me sentia um idiota pelo que aconteceu. Mais uma vez fui enganado. Mais uma vez mentiram para mim. Mais uma vez Alguém me magoa. Eu não tenho sorte no amor. Deve ser um carma, sei lá. E o que mais me abatia é que eu tinha me apaixonado por uma pessoa que eu não reconhecia mais. O Enzo que eu tinha na minha mente era mal. Fazia de tudo para me ver na lama. Me maltratava. Mas, a pessoa que eu me apaixonei não é assim. Eu me apaixonei pelo meu pior inimigo, que nem mais reconheço. Que ódio de mim mesmo !
NARRADO POR ENZO
Entrei no elevador e assim que a porta fechou desabei em lágrimas. Poxa, logo agora. Tava tudo indo tão bem. Ele queria ser meu namorado. Eu iria contar. Logo agora, ele descobre sozinho. Logo agora, que eu tinha a melhor das intenções. Eu não era o mesmo Enzo. O Daniel é o Enzo de hoje. Eu apenas o faria feliz. Não o magoaria de jeito nenhum. Mas, eu já o magoei, não é ? Inventando essa mentira que eu nem sei se era necessária. E que apesar de ter meus motivos, eu sabia que ele estava certo. Eu também me sentiria traído.
- Moço, você está bem ? - o porteiro perguntou, ao me ver chorando.
- Sim, tô bem... - falei, saindo. Eu havia destruído qualquer possibilidade de um relacionamento entre nós.
NARRADO EM TERCEIRA PESSOA
Nem um dos dois queria aquilo. Marcos se sentia traído, magoado, mais uma vez. Porém, não podia negar, estava apaixonado por Enzo. Dentro dele, não conseguia ver Enzo e Daniel na mesma pessoa. Estava confuso, sem chão, magoado. Enzo se sentia da mesma forma. Chorava, de coração partido. Ele iria contar o segredo, não iria esconder mais. Porém, agora Marcos não mais acreditaria. Estava triste, porquê não conseguia pensar em como recuperar a confiança dele. Só queria chorar. Aquela mentira não foi boa. Para nenhum dos dois.
NARRADO POR ENZO
Cheguei em casa de táxi.
- Aê, achei que não viria mais para casa - minha mãe dizia, vendo eu entrar pela porta. Não falei nada, apenas passei direto por ela e entrei no quarto. Me joguei sobre a minha cama e continuei chorando. Me sentia mal. Tava com raiva de mim mesmo. Lembrei dos bons momentos. De cada noite que dormimos juntos. De cada jantar. De cada sorriso. Eu nunca tinha me sentido assim por ninguém. Era amor, eu tinha certeza. Me apaixonei por ele. Ele me conquistou. E eu acabei com a conquista. Não fui trabalhar aquele dia. Nem tinha como. Eu só queria chorar.
HORAS DEPOIS
- Filho ? - ouvi a voz da minha mãe abrindo a porta.
- O que foi ? - e então ela entrou, sem minha permissão mesmo.
- Não quer comer ?
- Não tô com fome - falei, limpando os olhos. Senti ela sentar na minha cama e fazer um cafuné nos meus cabelos.
- O que foi que houve ? Porquê você está assim ? - mais uma vez comecei a chorar e me joguei no colo dela
- Eu fiz tudo errado mãe - falei, chorando.
- Errado ? Como assim ?
- Marcos e eu... Bem... Rolou...
- Rolou o que ?
- Nós ficamos ! Ele me pediu em namoro, eu aceitei... - ela arregalou os olhos.
- E você fica triste ? Você não estava encantado por ele ?
- Estava... Mas... Ele... Descobriu a minha mentira...
- E ai ?
- Eu pretendia contar, juro ! Mas ele não acreditou em mim... Ele acha que eu o trai, que eu tinha más intenções. A nova imagem que ele tinha de mim sumiu. Ele só ficou com a antiga...
NO DIA SEGUINTE
Com medo, eu fui trabalhar. Acima de tudo, eu ainda era contratado da empresa dele. Mas não aguentaria olha-lo nos olhos. Se ele não quisesse me perdoar, ou acreditar em mim, preferia ficar longe. Quando cheguei na empresa, ele ainda não havia chegado. Não fiz nada, apenas fiquei sentado na minha cadeira esperando ele chegar. Olhava ao redor, estava nervoso. De repente então, a porta se abriu. Ele entrou, não olhou para mim. Estava de óculos escuros. Passou andando, quando eu o chamei.
- Marcos ! Eu quero voltar para o Marketing - ele parou, na entrada da sala dele.
- Não. Você vai continuar aqui, como meu secretário...
Continua
E ai ??? Gostaram ??? Comentem e votem por favor. Beijos ;)
