Marta: Vocês dois, arrumem suas coisas, o show acabou! Vamos para casa agora.
Manuel: Para quê?
José Miguel: Como para quê? Esperavam ficar escondidos para sempre?
Murilo: Para quê querem que a gente volte? Para nos separar? Mandar o Manuel para longe? - Apertou mais a mão do irmão.
Marta olhou para os outros pais sem jeito. - Em casa a gente conversa, aqui não!
Manuel: Não. Vamos conversar aqui mesmo!
Bernardo: É melhor deixarmos eles sozinhos para conversarem.
Todos concordaram e saíram com os filhos para a grande varanda da sala...
Will: Pai pode me dizer o que estão fazendo aqui com eles?
Bernardo: O diretor da escola avisou para eles que ouviu uma conversa dos gêmeos, nessa conversa deu para sacar que vocês escondiam os garotos aqui.
Vic: Hum.
Lorena: Então ela ligou para todos os pais e resolvemos vir.
Enquanto isso, na sala...
José Miguel: Chega de palhaçada vamos agora com a gente, nesse exato momento!
José Miguel pegou nas mãos dos garotos e saiu arrastando.
Murilo: Não, você vai nos separar, eu não quero ir me solta! - Tentava puxar o braço.
Manuel que era mais forte que o irmão se soltou, enquanto Murilo continuou sendo arrastado.
Manuel se jogou nas costas do pai. - Larga ele!
José Miguel desferiu um tapa no rosto do filho que o fez cair no chão, enquanto com a outra mão ainda segurava o braço do filho.
Murilo se debatia no braço do pai. - Me soltaaaa!
Manuel: Solta ele pai! - Levantou do chão.
José Miguel: Vocês achavam que iriam fugir para sempre? E o que esperavam que eu fizesse quando os encontrasse? Parabenizasse por fugirem para continuar com essa pouca vergonha? Vou mandar você para longe garoto, acabar com essa imoralidade debaixo do meu próprio teto!
Ninguém entendia do que estavam falando, só os amigos dos garotos que sabiam de tudo.
Murilo chorava desesperado. - Por favor não manda ele para longe de mim, por favor!
Manuel: Não é pouca vergonha! Será que vocês não entendem que nos amamos? Eu o amo pai!
José Miguel: CALE-SE! CALE ESSA MALDITA BOCA! - Soltou Murilo e partiu para cima de Manuel.
Marta apenas assistia a cena desesperada, pronta para acudir o filho a qualquer instante.
José Miguel deu mais um tapa na face do filho que caiu no chão e deu um chute em sua barriga. - Fale que o ama agora, que sente desejo por seu próprio irmão. Meus próprios filhos!
Manuel: Sim pai eu o amo e você nem ninguém pode mudar isso.
José Miguel deu outro chute no filho.
Marta: MIGUEL PARE! PARE DE MACHUCÁ-LO.
Ia se aproximando, mas ele a afastou.
Manuel: Bata em mim o quanto quiser, mas nele não. - Falava com dificuldade.
Murilo olhava desesperado para Manuel no chão com a boca ensanguentada, José Miguel ia dá mais um chute no filho quando ele resolveu intervir. - PARA PAI, PARA.
Pegou no seu braço puxando-o. - Por favor não nos separe, eu te imploro pai... Eu o amo.
Murilo foi para frente do pai e ficou entre ele e o irmão estirado no chão, Manuel tossia.
Murilo: Por favor. - Se ajoelhou na frente do pai. - Pelo amor que você sente ou já sentiu por mim, não me deixe sem ele por favor... Por favor Manuel é minha vida, eu o amo... Por favor...
Murilo implorava de joelhos, chorava desesperado ajoelhado e agarrado nas pernas do pai, enquanto Manuel respirava com dificuldade deitado no chão. Então foi ficando com sua visão escura enquanto ainda se agarrava as pernas do pai, sua voz foi diminuindo o som enquanto repetia infinitas vezes: Por favor, por favor, por favor...
Até desmaiar.
Marta se aproximou dos dois filhos, se ajoelhou entre eles abraçando-os e chorando, levantou e correu para fora. - Chamem uma ambulância, chamem agora...
José Miguel ficou parado, olhando os filhos desmaiados no chão.
Uma hora se passou e os garotos já haviam sido atendidos na própria fazenda, estavam em quartos separados...
Murilo foi abrindo os olhos devagar avistando sua mãe deitada na cabiceira da cama.
Marta viu o filho abrindo os olhos e se assustou aproximando-se.
Murilo: Mãe...
Marta: Ssssshhhh... Fique tranquilo.
Murilo: E o Manuel?
Marta: está bem, consciente e os outros estão cuidando dele.
Murilo: Jura?
Marta: Sim.
Murilo: Mãe quero falar contigo.
Marta: Não, agora descanse. Depois você fala!
Murilo: Não mãe, quero falar logo! - Começou a chorar um pouco. - Mãe, eu não sei quanto tempo eu tenho de vida e... Simplesmente o amo, entende? Eu o amo. Não posso mandar nos meus sentimentos!
Marta baixou a cabeça segurando a mão do filho.
Murilo: Sabe o que é mais mágico nisso tudo?
Marta o olhou nos olhos. - Ele me corresponde e esse é o maior presente que Deus me deu mãe. Poder viver um verdadeiro amor, amar e ser amado nessa vida. Eu não me importo de sermos irmãos, só quero aproveitar o máximo porque não sei se amanhã ainda vou estar vivo... - Deu uma pausa.
Marta deixou escapar algumas lágrimas.
Murilo continuou: Por favor não me tira esse amor mãe... Não tira ele de mim, eu te imploro, me deixa viver este amor por favor!
Marta começou a chorar de verdade com as palavras do filho e o abraçou, enquanto Murilo falava entre soloços e em sussurros. - Por favor mãe, por favor não o tire de mim.
No outro quarto...
Will estava com Manuel que já estava acordado a bastante tempo, mas não falava nada, se sentou ao seu lado na cama e simplesmente o abraçou porque percebia seu desespero.
Manuel: Eu vou perdê-lo Will, vão tirá-lo de mim. - Começou a chorar nos braços do amigo.
Will: Não Manuel, vai aparecer um jeito mas vocês não vão se separar!
Manuel: Will eu o amo, o Murilo faz parte de mim, não posso perdê-lo.
Marta saiu do quarto onde Murilo estava e foi até a sala, seu esposo estava andando de um lado para o outro e ela o puxou para um lugar reservado.
José Miguel: O que foi agora?
Marta: Não dá Miguel, não dá para continuar com isso!
José Miguel: Como assim?
Marta: Não vou maltratar nossos filhos, não vou?
José Miguel: Maltrata-los? Acabar com essa pouca vergonha é maltrata-los? O quê? Vai aceitar agora?
Marta: Sim, é maltrata-los sim! Falei com o Murilo e ele está arrasado, não posso seguir com isso.
José Miguel: Você vai apoia-los agora? Eles dormem juntos, praticam incesto...
Marta: O MURILO ESTÁ DOENTE, PODE MORRER A QUALQUER INSTANTE, DANE-SE INCESTO, DANE-SE TUDO! SÓ QUERO O BEM DOS MEUS FILHOS, NÃO SEI SE ELE VAI PASSAR COM A GENTE DIAS, MESES OU ANOS, MAS SEI QUE VAI PASSAR EM UM AMBIENTE DE AMOR E CARINHO ENQUANTO EU ESTIVER AQUI!
José Miguel: Marta...
Marta: Não Miguel, nada do que você falar vai me fazer mudar de opinião! O Manuel é tudo para Murilo e se eu separá-los talvez ele nem resista, você não ouviu as coisas que ele me disse... Ele é meu filho, MEU FILHO! As pessoas sempre dizem que uma verdadeira mãe, que realmente ama seus filhos, aceitam eles do jeito que são, e agora eu compreendo, os amo mais que a mim mesma e se o Murilo morresse por sentir a perda do irmão, por nós afastá-los não sei se me perdoaria jamais, morreria com essa culpa de ter matado um filho.
José Miguel: Marta eu não vou morar debaixo do mesmo teto onde uma coisa doentia dessas acontece!
Marta: Eu sinto muito, você é meu esposo, te amo muito, mas eles são meus filhos, quero está junto principalmente do Murilo que me necessita e não sei quanto tempo ainda me resta ao seu lado, não dá para competir Miguel, nunca peça para uma mãe escolher entre você e um filho porque ela sempre vai escolher um filho... Eles vieram daqui... - Pegou na barriga. - De dentro de mim, fazem parte de mim! Agora está nas suas mãos o que vai fazer, nos deixar, ou vivermos todos juntos como antes.
Saiu.
longe dalí...
Bruno e Dani estavam no hospital, ele estava preocupado, levou o filho ao pediatra e ele ficou internado.
Bruno: Calma OK?
Dani: Mas o pediatra não me diz nada Bruno, quero saber o que meu filho tem!
Seu cel toca e ele olha mas não atende.
Bruno: Quem é?
Dani: Minha mãe.
Bruno: Não vai atender?
Dani: Não. Não estou com cabeça para ouvir suas grosseirias neste momento.
Bruno: Amor ela precisa saber do Rafinha.
Dani: Depois eu ligo.
O pediatra o chamou e Dani deixou seu cel com Bruno. - Me espera aqui.
Bruno: Claro.
Bruno segurava seu cel que começou a tocar novamente, olhou para ele e resolveu atender.
Bruno: Alô?
Ana: Quem é?
Bruno: Senhora eu sou o Bruno...
Ana: Ah o moleque que envolveu meu filho e fez ele perder o emprego! Garoto você tem noção do que você fez? Jamais meu filho fez coisa errada e a primeira vez ser uma bomba dessas, se envolver com um aluno, menor de idade e ainda por cima do mesmo sexo...
Bruno: Desculpe senhora mas não leguei para ouvir insultos, leguei apenas para avisar que seu neto está internado no hospital...
Ana: Meu neto?
Bruno: Sim.
Ana: Internado onde?
Bruno falou onde estavam e desligou.
Dani voltou em seguida...
Bruno: E?
Dani: Ele vai ter que ficar internado, é um tipo de virose...
Bruno o abraçou. - Poderia ser pior, tenha calma.
Ambos vão até onde Rafa estava e Bruno fica fazendo carinho no garotinho.
Dani massageia as têmporas.
Bruno: Está com dor de cabeça?
Dani: Sim.
Bruno: Fala com uma enfermeira, eles podem te ajudar, eu fico aqui com ele.
Dani o abraçou. - Obrigado, você é realmente um anjo.
Bruno deu um selinho em Dani e ele saiu.
O garoto sentou na cama e começou a fazer carinho no garotinho de quase um ano...
Quando a porta se abre de repente e Ana entra desesperada.
Bruno dá um pulo. - Calma, é só uma virose, todas as crianças passam por isso, OK? Ele está bem.
Ana: Eu achei que era algo mais grave.
Bruno: Graças a Deus não.
Ana: E onde está o Dani?
Bruno: Sentia dor de cabeça, o susto foi grande, então foi pedir algo a uma enfermeira. Eu fiquei cuidando dele! - Deu uma pausa. - Senhora sei que não tenho o direito de me meter, mas por favor, não discuta com ele por minha causa, ao menos agora neste momento OK? É que ele está tão preocupado....Ele não queria te ligar, então liguei escondido, acho que a senhora é a avó e merece está com ele.
Ana: Agora entendo porque você virou a cabeça do meu filho.
Bruno suspirou. - Como assim?
Ana: Você é bem maduro para sua idade... - Deu um pequeno sorriso. - Responsável e doce. Gostei da atitude de me ligar, um ponto ao seu favor!
Saiu em busca do filho.
Bruno passou um tempo com uma cara de interrogação que logo se transformou em um sorriso.
A madrugada estava se passando com muitas tribulações.
Enquanto no hospital Bruno fazia carinho na cabecinha de Rafinha, na fazenda Marta fazia carinho na de Murilo, enquanto Will e Vic faziam carinho em Manuel.
No hospital...
Ana procurou um pouco por Dani e desistiu, então esperou o filho na porta do quarto onde seu neto estava.
Dani apareceu dando de cara com a mãe...
Fez uma cara de impaciência.
Ana foi até o filho e o abraçou. - Me deixa te apoiar neste momento, OK? Eu sou mãe e sei como essas coisas assustam, principalmente a você que é pai solteiro. Crianças são assim mesmo querido, adoecem sempre.
Após perder Rafaela, Dani havia ficado muito sensível quando o assunto era doença, tinha medo de sempre ser algo mais grave do que realmente é, naquele momento abraçou a mãe fortemente.
Ana: Calma, eu estou aqui para te apoiar.
Dani: Achei que tinha te perdido para sempre.
Ana: Você nunca vai me perder, nem quando eu morrer vou deixar de está ao seu lado!
Bruno via tudo da porta e chorou como um bobo. - Sou mesmo uma manteiga derretida, choro fácil fácil. - Pensou.
O dia amanheceu...
Na fazenda...
Manuel acordava batendo os olhos, passou as mãos neles e os abriu vendo sua mãe sentada ao lado.
Manuel: Mãe, eu não estou afim de brigar.
Marta: Filho eu não estou aqui para brigar, só vim conversar um pouco.
Manuel sentou na cabeceira da cama baixando a cabeça e olhando para as mãos.
Marta: Falei com seu irmão e... Ele... Ele me falou de vocês, me pediu para deixar vivê-lo seu amor verdadeiro antes de...
Manuel começou a chorar e ela também.
Marta continuou. - O amor verdadeiro dele é você...
Manuel: E ele é o meu, eu o amo com todas as minhas forças.
Marta: Eu não posso...
Manuel a olhou.
Marta secou as lágrimas que teimavam em cair. - Não posso fazer isso aos meus filhos, não posso ser tão cruel...
Manuel começou a soluçar.
Marta: Se você for para longe e ele não suportar e... E... - Não se atreveu a falar. - Eu não vou me perdoar nunca! E também sei que você não vai me perdoar...
Manuel a olhou nos olhos como se confirmace.
Marta: Não posso perder meus dois filhos de uma só vez!
Manuel levantou da cama devagar e a abraçou fortemente. - Te amo mãe.
Marta desabou a chorar com as palavras do filho. - Vocês são o que eu mais amo no mundo, independente de qualquer coisa!
Naquele mesmo dia todos voltaram da fazenda.
No momento os irmãos chegaram em casa, a mãe deles foi a primeira a entrar, chegando na sala encontrou um bilhete encima da mesa de centro, o abriu:
"Marta desculpe, mas você fez sua escolha e eu fiz a minha, ambos pensamos diferente e não podemos mais seguir pelo mesmo caminho, eu sinto muito, mas isso dos meninos é demais para mim conviver e aceitar... Entendo a doença do Murilo e isso dos garotos vai seguir sendo um segredo de família, ou da família que um dia fomos. Não vou abandoná-los, seguirei ajudando nas despesas até eles ficarem adultos, deixarei sempre um dinheiro no banco todos os meses, sei que você é independente, mas também sei que este é o meu dever como pai independente de qualquer coisa. Porém não posso seguir como se nada acontecesse sabendo a verdade. Te amei muito, também amei os garotos.
Adeus. "
No fundo ela já sabia que aquilo iria acontecer, porém ainda doía, mas os filhos eram mais importantes que tudo.
Os meninos entraram e leram o bilhete, depois a abraçaram e ficaram os três assim por um tempo.
Alguns dias se passaram...
Rafa estava se recuperando muito bem e Ana já lhe dava melhor com Bruno.
Murilo e Manuel estavam super bem com Marta, era como se aqueles dias da descoberta não houvessem existido, ela os tratava como se não se passasse nada e os meninos também preferiam nem tocar no assunto. Na sua frente se comportavam como dois irmãos normais e nem podia ser diferente eles sempre respeitaram os pais.
Os demais casais levavam suas vidas rotineiras com excessão de um.
Ber e Ângelo realmente estavam passando o mês juntos e seguindo como combinado.
Ber no momento estava em seu quarto, era tarde da noite e ele se preparava para dormir...
De repente escuta barulhos em sua janela, achou estranho e foi ver.
Ângelo estava lá embaixo com pedrinhas na mão, Ber riu. - O que faz aí?
Ângelo: Desce.
Ber: Espera.
Ber vestiu uma jaqueta e desceu pela porta da frente mesmo.
Ângelo: Eu sei que você disse que seus pais são legais, mas não estou preparado para conhecê-los, então veio isso na minha cabeça.
Ber: Então? Porque veio?
Ângelo: Não sei, queria te ver.
Ber: Quer caminhar um pouco?
Ângelo: Não. Vamos sentar, quero conversar... Gosto de conversar com você.
Ber: OK.
Os garotos foram até um balanço que tinha no jardim da casa e sentaram.
Ber: Quer dizer que gosta de conversar comigo?
Ângelo: Sim, é estranho, com você eu posso ser eu mesmo. Sinto como se te conhecesse minha vida inteira!
Ber o olhou admirado, quando Ângelo falava coisas do tipo ele se surpreendia, realmente tinha um garoto bom e humano por baixo de toda aquela casca e ele estava conseguindo desvendá-lo. Eram apenas alguns dias que estavam juntos e Ângelo já demonstrava alguma confiança nele.
Ber olhou para cima. - O céu está tão lindo hoje! Já parou para admirar?
Ângelo olhou. - Não, nunca parei para admirar essas coisas.
Ber: Eu amo as estrelas! A partir de hoje sempre as admire, pois tem um pouco de mim nelas. Vamos fazer um trato?
Ângelo: Mais um?
Ber: Não se preocupe, este é fácil de cumprir.
Ângelo: Pode falar.
Ber: A partir de hoje, todos os dias 8 da noite pare para admirar as estrelas, onde estiver e fazendo o que estiver fazendo.
Ângelo: E porque isso?
Ber: Porque onde eu estiver eu vou está olhando o mesmo céu estrelado, na mesma hora que você e saber que você também está vendo nos faz ficar de alguma forma conectados.
Ângelo: E se estivermos junto essa hora?
Ber: Então olhamos juntos. Topa?
Ângelo sorriu, Ber se encantava com o sorriso daquele garoto marrento. - Topo!
Ber: Então combinado.
Ângelo: De onde veio isso?
Ber: Eu amo as estralas, uma pessoa muito especial fez eu e o Bruno ter uma grande conexão com elas desde crianças, desde nossos 8 anos olhamos estrelas as 8 da noite para nos sentirmos conectados a ela, é um pacto nosso.
Ângelo: Que incrível!
Ber: Ela dizia que as pessoas, principalmente as que estão sofrendo deveriam prestar atenção nas estrelas, elas são ótimas ouvintes e conseguem as vezes transformar a vida de uma pessoa como em em passe de mágica. - Falava enquanto mexia os pés, se balançando levemente no balanço.
Ângelo: O que ela quis dizer com isso?
Ber: Não sei, nunca entendi e o Bruno também não, mas só sei que ela amava as estrelas.
Ângelo: Posso saber quem é?
Bruno: Minha avó!
Ângelo sorriu de cabeça baixa. - Onde ela mora?
Ber: Ela morreu. - Falou olhando para as estrelas.
Ângelo: Desculpe.
Ber: Não, sem problemas! Ela morreu quando tínhamos 12 anos.
Ângelo olhou para as estrelas também e Ber continuou. - Ela nos ensinou um poema que se tornou meu favorito! Conhece o poema Ouvir Estrelas de Olavo Bilac?
Ângelo: Não sou muito adepto a leitura.
Ber: Você está com sua mochila aí, pode me dá seu caderno e uma caneta?
Ângelo: Claro. - Entregou.
Ber prontamente pegou e começou a escrever, enquanto Ângelo o admirava.
Ber o entregou. - Hoje antes de dormir leia-o. - Tirou a folha e deu a ele junto ao caderno.
Ângelo dobrou a folha e colocou no bolso.
Ber: Então, boa noite?
Ângelo o puxou para ele e o abraçou. - Boa noite.
Tocou no seu rosto delicadamente e o beijou.
Após o beijo Ber foi andando para casa, e subiu sorrindo para o quarto.
Ângelo foi andando para casa, sentindo o vento gelado tocar seu rosto, olhava sempre para o céu e sem perceber já sentia também certa intimidade com as estrelas, porque elas também o fazia lembrar de uma pessoa que por mais que ele tentasse enganar a sí mesmo, estava entrando cada vez mais na sua vida e no seu coração.
Chegando em casa seus pais Joaquim e Camila já estavam dormindo, ele era filho único e super mimado e amado por eles.
Foi direto para o quarto, tomou um banho quente, vestiu uma roupa confortável e foi deitar, de repente olhou para sua calça jeans jogada encima da poltrona, foi até lá e pegou o papel no bolso de trás.
Sentou na cama e começou a ler...
"Ouvir Estrelas
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo? "
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas.
Olavo Bilac"
Neste momento algo tocou fundo no coração de Ângelo e ele se pois a chorar, não conseguia conter as lágrimas que teimavam em cair.
Todos os anos de ódio e rancor de sí mesmo e dos outros o martelavam, foi até a janela de seu quarto e a abriu para olhar as estrelas como no poema.
Ângelo: Será que eu sou louco por fazer isso? Vocês realmente me escutam? Gostaria de dizer que eu sou gay! - Sorriu chorando ao mesmo tempo. - Sim, eu - sou - gay.
Falou pausadamente.
Continuou falando olhando as estrelas no céu: Foram tantos anos de negação a mim mesmo, de ódio e raiva. Eu batia nos outros e de certa forma me agredia também, não me aceitava e sentia raiva do mundo, nojo de como sou. Porém, um garoto me ouviu, alguém finalmente me ouviu e me compreendeu, ele está conseguindo mudar minha vida! Finalmente não estou mais tendo tanta raiva assim do mundo e de mim mesmo.
De repente Ângelo sentiu braços o envolvendo por trás, era as mãos de sua mãe, ele virou e a abraçou, ela também chorava, seu pai estava do lado e o abraçou em seguida.
Não eram só as estrelas que estavam ouvindo-o.
Joaquim: Nós também te compreendemos meu filho.
Camila: Estamos do seu lado! Sempre estaremos do seu lado.
Ângelo: Eu amo vocês.
Camila: Nós também te amamos.
Em um só momento, graças ao poema de Ber, Ângelo conseguiu se assumir a sí mesmo e aos pais.
Parece que as estrelas conseguiram transformar como em passe de mágica a vida de mais uma pessoa. Será que o que a avó de Ber falava realmente fazia sentido? Bem, ao menos para uma pessoa sim, ela se chamava Ângelo.
∵∵∵∵∵∵∵∵∵∵∵∵
Tudo se ajeitando e se resolvendo para todos hein?
Tá acabando galera!
Beijão.