Barão tirou a carteira do bolso, e me deu uma nota de cem reais.
Barão - Pegue. Vá em uma farmácia fazer um curativo nesses machucados.
Arthur - opa. Valeu chefe, mas eu queria aguardar o atendimento do Henrique.
Barão - Não precisa. Do meu filho cuido eu.
Tentei questionar o motivo de tanta grosseria, mas Benjamin puxou pela minha camiseta, fazendo eu saltar do chão.
Arthur - o que foi?
Benjamin - teu primeiro dia hoje, e já quer arrumar confusão?
Arthur - quem ta arrumando confusão aqui? - Eu só queria ajudar.
Benjamin - mano coloca uma coisa na tua cabeça. Rico não precisa de ajuda de pobres como a gente.
Eu não respondi nada. Olhei para o barão, e ele estava sentado ao lado do filho, enquanto este recebia os primeiros socorros.
Benjamin - faz o seguinte. Vai em uma farmácia, e faz o que ele falou.
Arthur - curativos nos machucados?
Benjamin - isso.
Arthur - Vou nada. Eu vou é pagar a mensalidade da academia com esse dinheiro.
Nós rimos.
Seguimos caminhando, e retornamos à empresa.
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- O que foi isso? (perguntou a Juliana dentro do elevador dos funcionários).
Arthur - um acidente lá em baixo.
Juliana - é bom tu ir a um hospital.
Arthur - não carece. É só passar uma água que eu fico novinho em folha.
Juliana - é bom fazer uns curativos neh!?
Benjamin e eu rimos.
Juliana - o que foi? (perguntou Juliana sem entender nada).
Benjamin - ele não quer. Quer usar o dinheiro pra pagar a academia.
Juliana - Boiei agora. Não entendi nada.
Arthur - é besteira do Ben. Chegando em casa eu peço pra minha mãe passar uma pomada.
Juliana - ta certo.
O elevador chegou, nos despedimos da Juliana, e fomos para o almoxarifado.
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- por que ele age assim? (perguntei assim que entramos na sala).
Benjamin - ta falando do patrão?
Arthur - é. Cara, não entendo como podem existir pessoas assim.
Benjamin - Você não viu nada ainda. Já vi ele humilhar muitos por aqui.
Arthur - eu não sei se eu aguentaria isso não.
Benjamin - Aguenta sim. Na hora da uma raiva, mas aí quando você lembra que precisa do emprego, acaba relevando.
Eu puxei uma caixa e sentei na mesma.
Arthur - e ele já foi agressivo contigo?
Benjamin fez uma pausa.
Ben - Nunca. Como te falei não tenho contato com ele. Então não corro esse risco. E se eu fosse tu, faria o mesmo.
Arthur - Vou fazer sim, pode deixar.
Benjamin - agora levanta a bunda daí que temos muito trabalho.
Arthur - tou com preguiça do caralho. Depois do almoço deu foi sono.
Benjamin - eu ja me acostumei. Mas aqui na empresa tem um dormitório para os funcionários.
Arthur - Sério? - ninguém me falou nada.
Benjamin - Serio, mas tem que usar ele dentro do horário do almoço.
Arthur - amanhã eu vou fazer isso.
Benjamin e eu passamos a tarde organizando umas notas fiscais.
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Arthur - então vou nessa mano. Ate amanhã. (falei na saída da ''montroux'').
Benjamin - tu vai pra onde?
Arthur - casa.
Benjamin - Ta cedo po. Vamos tomar uma gela?
Arthur - hoje não mano. Tenho treino.
Benjamin - futebol?
Arthur - Não. Jiu-jitsu.
Benjamin - Porra. Massa. É profissional?
Arthur - ainda não, mas eu pretendo me dedicar pra chegar a condição de atleta profissional.
Benjamin - bacana.
Arthur - Eu vou nessa, se não, vou perder as horas.
Benjamin - vá la. Ate amanha.
Arthur - até.
Me despedi de Benjamin, e fui em direção a parada de ônibus.
Benjamin parecia ser um cara legal. Moreno, 1,85 cabelo liso penteado para trás, barba cumprida, olhos castanhos, e boca rosada.
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O ônibus estava demorando, e eu resolvi ligar para minha mãe.
- Cade voce? (atendeu ela).
Arthur - tou na parada esperando o ônibus.
Joana - ainda?
Arthur - ainda mãe. Eu acabei de sair.
Joana - e por que não me ligou pra ir buscar voce.
Arthur - não precisa mãe, o ônibus ja deve estar chegando por aqui.
Joana - tome cuidado.
Arthur - vou tomar mãe. Fique fria. Já fez a janta?
Joana - tou fazendo.
Arthur - ta bom. Quando eu chegar vou so jantar e ir para o treino.
Joana - vai sair ainda hoje?
Arthur - sim mãe. Porque?
Joana - achei que fosse chegar cansado.
Arthur - tou um pouco, mas treinar me deixa relaxado. Agora vou desligar que o ônibus ja ta vindo aqui.
Joana - Ta bom, cuidado hen!?
Arthur - pode deixar mãe. Eu sei me cuidar.
Desliguei o celular e entrei no ônibus.
Paguei minha passagem, e fui para o fundão. Sentei e fiquei pensando no dia de serviço. Era muito puxado, e não era o que eu queria.
Estava quase caindo no sono quando cheguei a minha parada. Fui para casa a passos largos, tirei minha roupa e caí no banho.
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- Mãeeee.(gritei de dentro do quarto).
Joana - o que foi?
Arthur - a senhora viu o meu kimono?
Joana - aquele azul?
Arrhur - isso.
Joana - ta no meu guarda roupa, mas não vá bagunçar nada lá.
Não respondi a minha mãe, e fui procurar pelo meu kimono.
Revirei tudo até encontra-lo. Vesti-me rapidamente, e fui ate a cozinha comer alguma coisa.
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- Eu ainda acho que voce não deveria sair hoje. Não seria melhor descansar? (disse minha mãe à mesa).
Arthur - Jiu jitsu não me cansa mãe. Pelo contrário.
Joana - eu sou contra, mas voce já é maior de idade, já esta ate trabalhando. (minha mãe bagunçou o meu cabelo).
Arthur - sai mãe. Eu passo um tempão pra arrumar esse cabelo.
Joana - Ui. Desculpa. (disse ela gozando da minha cara).
Terminei de comer, e rapidamente fui para a academia.
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- Boa noite mestre. (cumprimentei meu professor assim que cheguei à academia).
Daniel - boa noite Arthur. Ta atrasado hen!?
Arthur - pois é mestre. Queria falar sobre isso com o senhor. Comecei a trabalhar hoje, e não vou mais conseguir chegar no mesmo horário de antes. Da pra eu continuar treinando?
Daniel - complicado Arthur. Voce não conseguiria ficar saindo mais cedo nos dias de treino?
Arthur - posso conversar la na empresa?
Daniel - pois é. Porque daí voce conseguiria treinar junto com os outros. A essa hora já tem acabado o treino.
Arthur - vou tentar mestre, mas não garanto conseguir.
Daniel - se voce não conseguir eu faço um treino diferente pra voce.
Arthur - obrigado. Eu queria também pagar a mensalidade.
Daniel - entrega la pra Gabi.
Daniel era o professor de Jiu-jitsu da pequena academia que eu frequentava. O local era simples, mas era maneiro, bem família mesmo.
Daniel não era alto. Tinha em media 1,76 de altura, uns 85kg, cabelo aparado na maquina com alguns pelos espinhosos. Olhos negros, e uma tatuagem tribal nas costas.
Fiz um treino leve, e fui para casa descansar.
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Tomei um banho, e depois dormi apenas de cueca.
No dia seguinte acordei cedo, tomei meu café, e peguei carona com minha mãe, ate o trabalho.
Deixamos minha irmã na creche, e em dez minutos minha mãe me deixou na porta do trabalho.
Joana - se for chegar tarde me ligue hen!?
Arthur - pode deixar mãe. Ligo sim.
Saí do carro, e minha mãe seguiu viagem.
Assim que entrei na empresa, cumprimentei a recepcionista. Eu havia descoberto que chamava-se Mariana. Em seguida, peguei o elevador, e fui para o almoxarifado.
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- Bom dia Ben. (disse eu).
Benjamin- bom dia. Sobreviveu ao primeiro dia?
Arthur - não. (balancei a cabeça, e sorri). Tou parecendo um zumbi pô.
Benjamin sorriu.
- Eu percebi. Toma um café pra acordar, dona Margarida acabou de trazer. (disse ele apontando para a garrafa).
Arthur - vou tomar sim. Valeu.
O trabalho durante o turno da manhã foi bem exausto. Saímos para almoçar, e nos encontramos com a Juliana no elevador dos funcionários.
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- Hellow boys magia.
Nos rimos.
Arthur - e aí Juliana. Tubo bem?
Juliana - tudo. E esse braço ainda esta machucado?
Arthur - Ainda. Mas agora é coisa de dias para cicatrizar.
Juliana - quero só ver.
Fomos nós três almoçar. Eu comi apressadamente pois queria aproveitar parte do tempo para dormir.
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No final do expediente o Benjamin me chamou para ir mais uma vez tomar umas cervas.
Arthur - não sei cara. Amanhã tem trabalho, e tenho medo de amanhecer indisposto.
Benjamin - relaxa pô. Esqueceu que agente trabalha no almoxarifado? Da ate pra pegar um cochilo, e ninguém vai nem perceber.
Arthur - mesmo assim tenho que confirmar com minha mãe.
Benjamin - é neném da mamãe éh!? (disse ele gargalhando).
Arthur - Não pô. Mas tenho que da satisfação.
Liga aí. Vou te esperar no carro.
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Liguei pra minha mãe, e ela nao gostou nada da ideia. Eu disse que era uma social com os funcionários. Ela concordou, mas disse que me apanharia pra eu não ter que voltar de ônibus muito tarde.
Arthur - Ta bom mãe, eu te ligo assim que terminar.
Desliguei o celular, e em seguida fui caminhando ate o carro do Benjamin. Bati no vidro, e ele rapidamente destravou a porta do carro.
Arthur - isso é um cerato?
Benjamin - papai aqui não anda com qualquer porcaria neh!? (disse ele gabando-se).
Arthur - desculpa aí.
- Que da um tapinha? (perguntou ele, assim que eu abri a porta do carro).
Arthur - isso é maconha? (perguntei espantado).
Benjamin - só pra relaxar. (disse ele abrindo os braços).
Arthur - Não. Não curto.
Benjamin não insistiu. Deu partida no carro, e depois de um tempo chegamos a uma casa de show's.
Arthur - que lugar é esse? (perguntei, saindo do carro).
Benjamin - Não conhece?
Arthur - Não. Nunca vim aqui antes.
Benjamin - Voce não sabe o que esta perdendo meu amigo.
Benjamin deu tapinhas nas minhas costas, e entramos.
Dentro daquele local tocava umas músicas retrô. logo na entrada, fomos recepcionados por um garçom servindo bebidas alcoólicas.
- Não. Obrigado! (disse eu).
Benjamin pegou duas taças, me entregou uma, e degustou a outra.
- Tu tem que ser mais aberto para a vida Arthur. Parece que tu tem medo.
Arthur - não tenho medo, mas não curto beber em dia de semana.
Benjamin - fica tranquilo, só quem vai ver voce bêbado, caso isso aconteça, será eu. (Benjamin riu).
Eu tomei o liquido da taça de uma vez só. (fiquei nervoso).
Benjamin - Vai com calma. Também não precisa ser tão rápido assim.
Começamos a andar pelo salão, e eu via homens de varias idades, todos estavam curtindo de alguma forma. Alguns apenas bebiam, outros jogavam jogos de azar, outros se agarravam com outros homens, mas todos pareciam curtir.
Benjamin - E aí. O que achou?
Arthur - loucura isso aqui.
Benjamin apenas sorriu.
Arthur - Por que voce me trouxe aqui?
Benjamin - nada em especial. Apenas pra voce conhecer uma diversão diferente.
Subimos uma escada rolante, e chegamos a um andar onde acontecia sexo explicito. A iluminação era fraca, e devido a isso preservava a identidade dos envolvidos. Vendo aquela cena, meu pau deu sinal de vida.
Alguém chegou no ouvido do Benjamin, e lhe deu um recado.
Benjamin - me espera aqui.
Arthur - tu vai aonde?
Benjamin - resolver uma parada. Não sai daqui. Já volto.
Benjamin foi se afastando aos poucos, e eu fiquei parado olhando toda aquela orgia. Estava sentindo muito tesão, mas ao mesmo tempo, um tanto desconfortável.
Fiquei um tanto paralisado com aquela cena, que não percebia alguém chamar por mim.
Arthur - oi. (respondi no susto).
- Voce é amigo do Benjamin? (disse um homem mascarado).
Arthur - sim. (respondi tímido).
- Ele esta chamando voce no segundo andar.
Arthur - pra que?
- Não sei, ele só pediu para eu o acompanhar ate lá.
Achei estranho, mas topei ir encontrar o Benjamin. Subimos uma outra escada, e chegamos a um corredor cheio de portas. O rapaz abriu a quarta porta, e me deu passagem, em seguida a fechando.
Tomei um susto, mas não recuei.
- Ártu? (um homem de costas chamava por mim).
- É Arthur. (O corrigi).
- Perdão.
O homem se virou, mas eu não consegui identificar seu rosto.
Arthur - Cadê O Benjamin? - falaram que ele estava me chamando.
- O Benjamin não esta. Ele falou coisas boas sobre voce.
Arthur - Obrigado, mas eu vou sair, vou procurar pelo Benjamin.
- Espera um pouco. Senta aqui, vamos conversar.
Arthur - Não dá. Eu tenho que ir. (coloquei a mão na maçaneta da porta).
- Ta afim de ganhar uma boa grana, fácil?
Aos poucos minha mão saiu da maçaneta, e eu virei meu corpo para aquele homem.
Arthur - quanto?
- muita grana.
Arthur - muita grana quanto?
- O homem tirou algo do bolso.
Arthur - o que é isso?
- Um cheque em branco. Posso preencher pra voce.
Arthur - e o que eu devo fazer? (falei ja imaginando a resposta).
- Me agrada... Me agrada que será recompensado.
Eu respirei fundo, e me aproximei daquele homem que eu nem conhecia ainda.
Continua...