Eu quero ficar morta se ninguém ler kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Só vem gente u-u Adoro comentários, não economiza naum finhadon! AKKKKKKKKKKKKKKK
Taí o primeiro capítulo><
Bjin.
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—Matheus, acorda! Preciso falar com você. —Matheus?!
—Já vai! Calma!
Aqui em casa as manhãs são sempre monótonas e sem palavras, então eu me assustei quando a minha mãe me disse ter algo para falar. Normalmente ela sequer está em casa quando eu estou acordando. Eu levantei, abri as cortinas, vesti um short e chutei um pouco da bagunça para debaixo da cama. Olhei meu rosto no espelho; eu parecia um mendigo com o cabelo todo desgrenhado, a cara amassada e aquelas olheiras roxas horríveis. Talvez ela se preocupasse com os chupões vermelho-arroxeados que iam do meu pescoço ao fim da minha barriga. Resolvi abrir a porta sem camisa, então.
—Que foi? – Com a minha mãe não eram necessárias cortesias, ela já havia se acostumado com tratamentos ríspidos.
—Estava precisando falar com você sobre.... Bem, você lembra da Renata? – Respondi com silêncio. —Uma amiga minha. Casada com o Roberto. Que tinha uma cicatriz no pescoço. – Quanto mais características ela acrescentava, menos eu lembrava. —Amigos da gente. Que tinham um filho chamado Guilherme, um pouco mais velho que você. – Agora eu não podia dizer que não lembrava. —Lembra?
—Um pouco, eu acho. – Ela se animou. —Mas o que tem eles?
—É, então.... Eles estão voltando para cá! Lembra que eles foram embora por causa da... – Eu parei de ouvir no instante que assimilei a ideia daquele garotinho valente correndo para bater nos meninos estar de volta, depois de tantos anos. Foi como ter uma geleira boiando no estômago. Eu já havia me esquecido dele. Será que ele ainda lembra de mim? E do quanto me protegia? Eu sequer conseguia lembrar muito do rosto dele através da névoa que eram as minhas lembranças. Quando eu ouvi o nome dele foi como se todos aqueles episódios chatos da minha infância voltassem à tona; eu queria chorar. — (...) tá bom, Matheus?
—O quê? Tá bom, o quê? – Eu havia me perdido no meio do que ela dizia.
—Põe a roupa suja no cesto que hoje é dia de a Dona Irene lavar roupa, tá bom?
—Ah, claro. Ok, tudo bem. Eu ponho sim.
—Certo então, meu anjo. Tchau! Estou atrasada. – Disse ela já se encaminhando para a escada. No meio dela, parou. —Eles vão vir jantar aqui hoje, assim que chegarem do aeroporto, para não se cansarem tanto tendo que pedir comida de restaurante, ok? Chegue cedo. Tchau! – E assim ela se foi de vez. Sem nem um beijo de despedida. Sem nem notar meu corpo marcado.
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Quando saí da escola meu plano era voltar direto para casa para descansar um pouco da ressaca de fim de semana, mas a Carol estava me esperando. A Carol é uma menina bonita e bem gente boa, vive dando em cima de mim, mas eu gosto de esnobar. Ela é modelo e pode ficar com qualquer menino dessa cidade, mas é claro que é em mim que ela estagnou. Quando ela vem me cumprimentar, como quem estava passando ocasionalmente pelo local, traz em sua cola o primo, Paulo. O menino deve sofrer para acompanhar os roles dela, mas parece não se importar muito. Gente boa ele, mas não me dá muita atenção. A Carol me prendeu na frente da escola e fez questão de demonstrar bastante proximidade enquanto todo mundo passava. O que eu posso fazer? Deixa ela ser feliz...
Num determinado momento o tal primo, que estava conversando com a gente até ali, se despediu e disse que precisava ir. Foi uma pena, porque só ele para segurar a onda da Carol. Eu acabei dando o meu jeito de me esquivar também e fui embora, deixando ela só na vontade, de novo.
Já havia até me esquecido do meu objetivo inicial quando decidi ir ao parque da cidade. O lugar tem uma área para skate que serve muito como ponto de encontro entre a galera da cidade. Cheguei lá, cumprimentei os moleques e até descolei um board para dar umas manobras. Eu tinha umas bebidas na mochila, uns cigarros e um narguilé, mas só descobri que minha erva tinha acabado quando fui procurar um pouco. Por aqui não é muito difícil arrumar, não, e com um pouco de colaboração a gente bolou uns três becks. Uns caras vazaram, outros deram uns poucos tragos... Só sei que no fim quem fumou quase tudo fui eu. Chegou mais gente por lá e por fim acabei decidindo ficar, ia ser melhor ali que em casa de qualquer forma. Com algumas pessoas indo embora e outras continuando na pista só fiquei eu e mais algumas pessoas na borda pista, conversando sobre alguns eventos que iam rolar, sobre as pessoas, sobre a vida. A mina mãe costuma dizer que eu deveria me misturar com pessoas da minha classe social, parar de andar com os ‘pobres’, mas é no meio desse pessoal que eu me sinto bem, afinal de contas, foram eles que me acolheram quando eu nem sabia quem eu era e me deram um sentido para viver. Foram eles quem me mostraram que eu não precisava ficar me corroendo por coisas que já passaram. Eles me fizeram entender que a vida só corre para a frente. E é no meio dessa galera que eu me sinto gente.
Fiquei lá mais um tempão com eles, conversando e curtindo a brisa. O legal é que a gente ri até das coisas mais bestas. A vida até que é bonita aqui. Depois de um tempo me lembrei que tinha que voltar para casa. Eu não queria, mas se eu não aparecesse podia pegar mal ou sei lá. Nunca me importei com isso, mas hoje parecia diferente. Me despedi de todo mundo lá e peguei o caminho de casa com fumaça saindo da boca, e o som do coração me deixando surdo.
De repente comecei a pensar em quem eu encontraria por lá. Será que ele me reconheceria? Duvido muito. Dez anos atrás eu era uma criança, hoje em dia eu sou um homem. Naquela época eu não tinha o corpo que tenho, não usava as roupas que uso, não tinha os meus alargadores, nem usava o meu vocabulário chulo. Antes eu era só um menininho doce e delicado que precisava de um irmão mais velho. Aquela criança morreu. Será que aquela tia Renata ainda é a mesma? Será que ainda vai beijar a minha bochecha e bagunçar o meu cabelo? E o tio Roberto? Ainda vai me dar doces e me falar sobre carros e cavalos de corrida? Talvez as coisas não tenham mudado tanto para eles como mudaram para mim, eles nunca sofreram o que eu sofri. Por falar nisso, e o Guilherme? Espero que ele ainda tenha os punhos fortes para me defender dos maus. Fui mastigando esses pensamentos até em casa. A geleira de antes já devia ter sido despedaçada com tantas borboletas disputando espaço no meu estômago.
Quando abri o portão de casa, atravessei o gramado e entrei na sala sequer tinha um plano de como agir. Subi ao meu quarto e agradeci muito pela sala de jantar ser longe da de estar. Larguei a mochila em cima da cama e nem troquei de roupa, só borrifei um pouco de perfume para mascarar a marola no meu corpo. Os meus olhos já não estavam tão vermelhos e meus pensamentos já estavam claros o suficiente, apenas de vez em quando eu escorregava para a brisa de novo. Desci até a cozinha e a Dona Irene me avisou que estavam todos na churrasqueira, perto da piscina. Quando cheguei lá me amaldiçoei por ter saído do parque mais cedo para ter ido para casa. As pessoas que encontrei lá já não eram mais as mesmas. Nem os meus pais que me encaravam com uma raiva intima, secreta, apenas direcionada a mim, nem o tio Roberto que estava grisalho e havia perdido a cicatriz no seu pescoço, nem a tia Renata que ostentava um loiro claríssimo e ondulado no lugar do seu velho cabelo Chanel ruivo. O homem que se virou por último sequer aparentava ser Guilherme. Aquele menininho não era tão malhado, e sequer me lembro de uma barba tão bem desenhada nele. Todos pararam de sorrir e conversar no momento em que me viram; eu duvidava que eles sequer estivessem respirando. Mas a carne ainda chiava enquanto todos me encaravam.