Estávamos de costas para a porta, quando ouvi pisadas atras da gente. Ouvi barulho de revolver sendo armado.
Alguém encostou uma arma na nuca do Raulino.
- Solta ele, ou estouro seus miolos.
Raulino - calma aí papai. (respondeu Raulino, rindo).
- fala isso pra minha mão. Ela ta cosano.
Raulino - vamos devagar, eu não tenho nada a perder.
- Eu também não. Quer apostar?
Até aquele momento eu continuava de costas para a porta, mas sabia que aquela voz, inconfundível era do Antonio.
Antonio - Bora meu irmão. (Antonio, falava aos gritos). Minha paciência acabou. Coloca a arma no chão devagar e apoia as mão atras da nuca.
Raulino obedeceu, mas em nenhum momento deixou de rir daquela situação.
Antonio - TODOS! ( disse Antonio, seriamente).
Raulino - vocês ouviram o engomadinho aí.
Após todos colocarem suas armas no chão, o grupo de Raulino foi imobilizado.
Pedro - Antonio?
Antonio - o que tu tava pensando em fazer, Pedro? Por que não me chamou?
Pedro - eu achei que você não iria topar.
Antonio - E não iria mesmo, isso é loucura, agora mesmo você poderia estar morto.
Pedro - mas eu tinha que fazer, Antonio. Pelo meu pai.
Vitor nos interrompeu.
Vitor - Pedro?
Pedro - Oi Vitor.
Vitor - Acabei de ouvir a gravação.
Pedro - e aí? (perguntei ansioso)
Vitor não fez suspense.
Vitor - O áudio esta perfeito.
Pedro - e a parte que ele assume a autoria de tudo?
Vitor - Gravou também.
Pedro - que beleza, cara. E agora o que faremos?
Antonio - agora o Vitor vai chamar a policia, e eu vou leva-lo em casa. (disse Antonio nos interrompendo).
Pedro - Não Antonio, eu quero ficar, quero ver a policia chegar, quero ver o Raulino sendo algemado.
Vitor - O resto você pode deixar comigo, Pedro. Antonio tem razão, é melhor você ir pra casa e descansar.
Pedro - Mas dai eu vou perder a melhor cena.
Antonio - então tudo bem, Pedro, você fica, eu já estou indo. (disse ele guardando a arma no bolso).
Pedro - Não Antonio. Eu vou com você. Vitor Você me mantem informado?
Vitor - pode deixar, Pedro.
Pedro - Obrigado.
Saí daquele quarto, e pude respirar aliviado.
Pedro - Antonio, como você descobriu que eu estaria aqui? (perguntei enquanto andávamos pelos corredores daquele hotel).
Antonio - tenho meus contatos. (disse ele andando apresadamente).
Pedro - quem são esses contatos? (falei, tentando acompanhar suas passadas).
Antonio - Isso não vem ao caso, agora. O que eu queria mesmo saber, é onde está o outro. (disse ele me encarando seriamente).
Pedro - que outro? (Me fiz de desentendido).
Antonio - Você sabe bem de quem estou falando.
Fingi-me de mudo.
Assim que chegamos a parte da frente do hotel, avistamos o carro que Antonio usava, era o mesmo de quando saiu da minha casa.
Antonio - então Pedro? (perguntou Antonio colocando o cinto de segurança).
Pedro - então o que Antonio? (falei colocando, também, o cinto de segurança).
Antonio - não vai falar aonde esta o outro?
Pedro - eu não sei pra onde ele foi. (falei abaixando a cabeça).
Antonio antes de dar partida no carro me encarou por um tempo.
Antonio - você gosta dele não é?
Não hesitei em responder.
Pedro - eu não tenho certeza, Antonio, mas eu não quero que ele vá presso. Eu acredito que ele é inocente nessa historia toda.
Antonio puxou meu rosto, delicadamente, com suas mãos.
Antonio - ele não é inocente, Pedro. (disse ele calmamente). E você sabe disso.
Pedro - e se ele tiver arrependido?
Antonio - isso não apaga o passado de crimes dele.
Pedro - mas eu não ligo.
Antonio - eu não estou falando de sentimentos, Pedro, estou falando de Justiça.
Pedro - O cara foi baleado, quase morreu hospital, e agora só Deus sabe por onde ele esta andando, sem casa, sem comida, sem nada. Você não acha que ele já tenha pagado pelos erros que cometeu?
Antonio fechou a cara, e enfim deu partida no carro.
Pedro - E tem mais, o único crime dele foi ter me sequestrado.
Antonio - você ta cego, Pedro. (dizia ele ao volante). Você ta cego e não percebe.
Pedro - Não estou cego, Antonio, mas sejamos realistas: o que ganhamos com a prisão do Junior?
Antonio - Justiça, ou você esqueceu que seu pai esta na uti de um hospital?
Pedro - eu não esqueci, Antonio. Não esqueço disso a nenhum instante. Mas por que não deixamos meu pai decidir após sair do hospital?
Antonio - Tudo bem, Pedro. Você quem sabe.
Depois disso um silencio monstruoso invadiu nosso veiculo.
xxxXX
Pedro - você mudou comigo, Antonio, o que eu ti fiz? (falei, puxando assunto, depois de algum tempo).
Antonio apenas me encarou, mas nada respondeu.
xxXXX
Finalmente chegamos em casa. Subi a meu quarto, e entrei no banheiro para banhar-me. Vitor me ligou e disse que a operação havia sido um sucesso; comemorei; troquei de roupa, e imediatamente desci as escadas, chamando pelo Antonio.
xxXXX
Naná - que euforia toda é essa? (Naná aparecera na sala de estar).
Pedro - as pessoas que tanto fizeram mal a meu pai, e a mim, foram presas, agora falta pouco para que sejam condenadas.
Naná - Pedrinho, me explica essa historia direito. Quem são essas pessoas?
Pedro - é uma longa historia Naná. Cade o Antonio?
Naná - Já foi. (disse ela desanimada).
Pedro - foi pra onde? (fiz cara de decepção).
Naná - pra casa dele horas.
Pedro - como assim pra casa dele? Ele não disse nada, antes de ir?
Naná - não! Apenas me pediu pra eu entregar isso a você.
A mulher esticou o braço, me entregando alguns objetos.
Pedro - o que é isso?
Naná - a chave do carro, o crachá e a carteira de trabalho dele.
Pedro - eu sei Naná, mas o que isso significa?
Naná - Eu entendi que o Antonio esta pedindo as contas, por que você não liga e conversa com ele?
Estava digerindo aquela informação, e acabei não respondendo a Naná.
Naná - Hey. (disse ela passando a mão na frente dos meus olhos).
Pedro - Oi. (falei despertando).
Naná - Ta dormindo?
Pedro - pensando.
Naná - por que você não liga pra ele, e conversa?
Pedro - pro Antonio?
Naná - sim.
Pedro - vou fazer isso.
Subi as escadas, desanimado.
Cheguei a meu quarto, peguei meu celular, e disquei o número do Antonio.
****
- sua chamada esta sendo encaminhada para a caixa postal.
*****
Fiz uma segunda tentativa.
****
Sua chamada esta sendo encaminhada para a caixa postal.
*****
Arremessei o celular encima da cama e deitei em seguida.
Estava com sono, sentia meu corpo cansado, mas eu precisava ir ao hospital visitar meu pai, e no mesmo dia iria ate a casa de Antonio.
xxxXXX
Pedi para um dos seguranças que estavam de serviço, me levar, já que o Antonio havia supostamente pedido as contas, e Vitor ainda não retornara.
xxXXX
chegando ao hospital, me identifiquei na recepção e a moça me encaminhou ate a unidade de terapia intensiva. Lá chegando tive uma terrível surpresa, meu pai não, mais, se encontrava.
xxxxXXX
Pedro - Cade meu pai? (perguntei a enfermeira de plantão).
- Qual o nome completo dele? (perguntou a moça).
Passei de imediato.
Depois de buscar informações com o médico, e moça retornou a meu encontro.
Pedro - e aí? (falei com ela ainda, a caminho).
A moça se aproximou:
- Seu pai saiu do cti, ele esta em um apartamento.
Pedro - isso quer dizer que...
Enfermeira - que ele teve uma melhora brusca. (disse ela, interrompendo meu raciocínio).
Pedro - você ta falando serio?
Um misto de sorriso e lágrimas invadiram meu rosto.
Pedro - aonde eu posso ver meu pai?
A moça me deu o número do quarto, e eu, literalmente corri ate la.
Assim que abri a porta, meu pai estava sendo examinado por dois profissionais.
- eu sou filo dele. (falei antes que me expulsassem do quarto).
Meu pai dormia tranquilamente.
Pedro - como ele esta? (perguntei).
- se recuperando. (falou um dos médicos). Ele esta reagindo bem. Já respira sem ajuda dos aparelhos. Já consegue identificar o que tem ao seu redor. Posso arriscar que em pouco tempo, ele voltara pra casa.
Pedro - enfim uma noticia boa! (exclamei).
xxxXX
Na volta pra casa, o ar parecia estar mais limpo, mas eu ainda tinha que resolver a situação do Antonio, iria convence-lo a voltar ao emprego.
xxxXX
Bati palmas em frente a sua casa, já que não possuía campainha.
Antonio veio me atender, apenas com uma calça jeans de zíper aberto, e seu filho nos braços.
Antonio - Pedro? O que você ta fazendo aqui?
Pedro - posso entrar pra conversar?
Antonio abriu, totalmente, o portão, deixando um espaço para que eu entrasse em sua residencia.
Antonio - não repara, aqui é tudo bem simples.
Pedro - que nada. Tua casa é bastante agradável. E esse garotão aí?
Antonio - é o orgulho do papai. (disse Antonio dando um cheiro no cangote do pequeno).
Caminhamos um pequeno pedaço, e enfim chegamos a porta da residencia.
Antonio - entra.
Passei na frente do anfitrião da casa.
Pedro - e tua esposa? (perguntei sentando no sofá).
Antonio - fazendo o jantar.
Pedro - certo.
De tão nervoso que eu estava, minhas mãos se aqueciam, e eu nem dava fé.
Pedro - A Naná me entregou alguns pertences teu. E eu não entendi bem. Tu ta saindo lá de casa?
Antonio - Eu vou abrir uma lojinha pra mim.
Pedro - lojinha de que?
Antonio - uma floricultura.
Pedro - Antonio, desculpa minha sinceridade, mas eu não consigo te imaginar vendendo flores.
Antonio - nem eu patrãozinho, nem eu. (disse ele sorrindo, e o filho correspondeu).
Pedro - então por que isso agora?
Antonio - a floricultura é da minha esposa; é um sonho antigo dela.
Pedro - agora ta fazendo mais sentido. Mas então você vai precisar trabalhar bem mais para poder investir.
Antonio - já tenho o suficiente.
Pedro - podemos ti fazer uma proposta melhor.
Antonio - eu não quero Pedrinho. Vou seguir o teus conselhos e me dedicar mais a minha família.
Pedro - esquece meus conselhos.
Antonio sorriu.
Por um momento ver Antonio, sorrindo com seu filho nos braços, me fez ver o quanto egoísta eu estava sendo. Antonio dedicou parte de sua vida a mim e minha família. Era justo que agora ele vivencia-se quão bom era ver o filho crescer.
Pedro - Antonio, sabe de uma coisa?
Antonio - diz.
Pedro - vou investir na tua floricultura.
Antonio - não precisa, Pedrinho. Como falei, já tenho o suficiente.
Pedro - teu filho tem alguma poupança no nome dele?
Antonio olhou para o rosto do garoto.
- Ainda não. (disse ele o encarando).
Pedro - então com o dinheiro que você iria investir na sua empresa, abre uma poupança pra ele.
Antonio - não carece, Pedrinho, de verdade.
Pedro - Aceita Antonio. É um agradecimento por tudo o que você fez por mim.
Antonio corou, abaixou a cabeça e achei que ele fosse chorar.
Antonio - Filhão. Vai lá pra onde ta a mamãe, e ver se o jantar já esta pronto. (ele se comunicava com a criança).
Antonio colocou o garoto no chão, e este saiu correndo pelo corredor da pequena casa.
Antonio - eu aceito, mas com uma condição. (disse ele me encarando).
Pedro - qual?
Antonio - que quando minha empresa estiver dando lucros, você aceite a devolução do valor que investir nela.
Pedro - fechado. Sua empresa já é um sucesso.
Antonio - Deus te ouça, patrãozinho. (disse Antonio, olhando para o alto).
Pedro - vou sentir falta disso.
Antonio - de que?
Pedro - você me chamando de patrãozinho.
Antonio sorriu.
- Você vai ser sempre meu patrãozinho.
Eu iria chorar se não saísse dali o mais rápido possível.
Pedro - ah! Esqueci de falar.
Antonio - então fala.
Pedro - meu pai saiu da uti. (falei entrando em êxtase).
Antonio - Isso que é uma ótima noticia. Mas eu já sabia.
Pedro - como sabia? Quem te contou?
Antonio - eu sempre estive ao lado do teu pai, Pedrinho. Lembra que eu pedi para cuidar dele, ate que estivesse recuperado?
Pedro - lembro sim. E por que você não me contou nada sobre a recuperação dele?
Antonio - eu não queria estragar a surpresa. (disse ele rindo).
Peguei uma almofada que estava a meu lado, e arremessei em Antonio.
Pedro - Agora eu tenho que ir. (falei me levantando).
Antonio - ta cedo. Fica pra jantar conosco.
Pedro - Fica pra próxima. Tenho mesmo que ir.
Antonio - Pena. Eu te levo la fora então.
Pedro - beleza.
Antonio me acompanhou, e ali eu vivia meus últimos momentos com meu eterno guarda costas.
Já no portão, eu não consegui segurar a emoção.
Pedro - eu queria um abraço teu. (falei começando a chorar).
Antonio - não chora, patrãozinho. (disse ele me puxando para um abraço).
Pedro - eu vou sentir tanto tua falta. (falei molhando seu ombro).
Antonio - eu também. Você me devolveu a vida. (cochichou ele em meu ouvido).
Passei a mão por sua careca e lhe encarei nos olhos.
Pedro - Se cuida cara e cuida da tua família. Eles são lindos.
Antonio - pode deixar. (disse ele deixando escapar uma lágrima).
Pedro - boa noite.
Antonio - boa noite.
Atravessei o portão, e Antonio me puxou para dentro novamente.
Antonio - me deixa fazer algo que ha tempos eu venho sonhando?
Apenas balancei a cabeça em conformidade.
Antonio aproximou sua cabeça da minha, e eu senti seu halito quente. Meu coração acelerou, era como se naquele momento eu fosse um adolescente de 12 anos.
Antonio encostou seus lábios nos meus, e me deu um selinho.
Eu sorri: um sorriso tímido, e amarelado.
Antonio - Boa sorte Pedrinho.
Pedro - igualmente.
Acenei para Antonio, e entrei no carro.
xxXXX
O tempo passou.
Eu fizera 18 anos, e me sentia independente.
xxxXXX
Parabéns cara. (disse Elvis).
Pedro - obrigado.
Era estranho não ter Elvis como inimigo.
Elvis - e a carteira?
Pedro - semana que vem é minha prova pratica; Tou confiante que vou passar.
Elvis - claro que vai pô. Tu já dirige bem pra porra. Só tem que entrar no carro, e cumprir o procedimento.
Pedro - que assim seja. (falei sorrindo).
Noah - olha a caipirinha saindo. (disse ele com vários copos em uma bandeja).
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Meu pai havia saído do hospital, e com ajuda de profissionais da saúde, estava cada dia melhor. Mesmo assim eu preferi não fazer festa de aniversario grande. Para não deixar passar a data batida, meu pai me aconselhou a fazer um jantar, e chamar os amigos mais chegados.
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Peguei uma taça de caipirinha.
Pedro - você quem fez?
Noah - logicamente. (disse ele se gabando). Prova e diz o que achou.
Tomei um gole da caipirinha e fingi estar engasgado.
Noah - ta tão ruim assim? (perguntou ele).
Pedro - zuando pô. Ta uma delicia. Não ta Elvis?
Elvis - Ooooo! (disse Elvis fazendo careta).
Nós rimos.
Elvis - Pedro, me diz uma coisa.
Pedro - pergunta.
Elvis - e o Kevin, o que aconteceu com ele?
Pedro - Deve ta na Bolívia.
Elvis - estou falando serio.
Pedro - eu também.
Elvis - que loucura. Que porra aquele bicho foi fazer na Bolívia?
Pedro - Não faço a menor ideia.
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Na realidade eu fazia sim. Meu pai tinha dado uma grana alta para o Kevin, e havia instruído a ele que deixasse a cidade, mas o cara foi tão mané que entendeu o País, e partiu pra Bolívia.
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Elvis - saquei. E tu ta namorando alguém?
Pedro - não mano. Nem penso nisso.
Elvis - entendi. (disse Elvis meio envergonhado).
xxXXXX
Um Mês após a formatura do ensino médio, meu pai viu a necessidade de contratar novos seguranças.
Pedro - pra que isso pai? (questionei)
Já que Raulino e sua turma estavam presos, não tinha com o que se preocupar.
Pai - Alguns seguranças estão deixando o emprego. Temos que preencher as vagas.
Pedro - quais seguranças?
Pai - o Vitor por exemplo é um.
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Depois do atentado, meu pai não era mais o mesmo. Ele havia ficado com algumas sequelas, e devido a isso já não comandava mais a empresa.
No dia do julgamento dos envolvidos em seu acidente, e em meu sequestro, meu pai esteve presente para ver de perto a viúva de um dos seus melhores amigos.
Após todos terem sido condenados, meu pai ficou mais satisfeito, mesmo sabendo que sua saúde nunca mais seria a mesma.
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Pedro - não sabia que o Vitor iria sair.
Pai - ele passou em um concurso.
Pedro - isso é bom.
Pai - sim, tem mais é que ir mesmo.
Pedro - mas afinal pai, pra que o senhor esta me dizendo que vai contratar mais funcionários? Ainda que eu seja contra, o senhor não vai mudar de ideia mesmo.
Pai - Pedro, meu filho, já esta mais do que na hora de você tomar as decisões aqui em casa.
Pedro - não entendi pai.
Pai - a partir de hoje, você ficar responsável por contratar e demitir nossos funcionários. Você tem minha total autorização.
Pedro - mas pai, eu não sei nem pra onde é que vai fazer isso.
Pai - é simples. Faça uma entrevista, se você achar que a pessoa tem capacidade a contrate; se um dia você achar que a pessoa não esta rendendo, a mande pro olho da rua.
Pedro -creio que não seja tão simples pai.
Pai - Mas não é o trabalho mais complicado. Você vai gostar.(disse meu pai, me dando tapinhas nas costas).
Pedro - não sei não pai. (falei indeciso).
Pai - faça o teste. Hoje mesmo vem vários rapazes interessados na vaga de chofer e segurança.
xxxXXXX
Mesmo sem muito concordar, eu resolvi arriscar, e a tarde estava eu no escritório do meu pai, entrevistando alguns supostos interessados nas vagas disponiveis.
xxxXX
- Manda entrar o próximo, Naná. (disse eu após vários candidatos sem habilidades, segundo o meu critério).
Naná - mas como é que pode?
Pedro - o que? (perguntei sem entender).
Naná - depois que tu sentou aí nessa cadeira só que ser o cu de rapadura.
Me espoquei de rir com os modos da Naná.
Naná se retirou do escritório, e depois de uns 2 minutos, mais um candidato entrou.
xxxxXXX
- Bom dia. (o cumprimentei).
O homem nada respondeu. Ele estava bem vestido, todo no social, com óculos escuros, cabelo inteiro no gel.
O homem atravessou o escritório inteiro, chegou ate a mesa onde eu estava, e nela sentou.
Pedro - que brincadeira é essa? (falei serio).
O homem riu, deixando aparecer suas duas covas rasas.
- Falei que eu voltaria. (disse ele tirando os óculos de sua visão).
- Junior? (falei espantado).
Metade de um ano já havia passado, desde que Junior partira.
Junior - sentiu saudades do papai aqui?
Pedro - muita. (falei sorrindo).
Pedro - como você conseguiu entrar aqui?
Junior - pela porta da frente. Não é aqui que estão precisando de segurança?
Pedro - aqui mesmo. (falei sorrindo).
Junior - vim ocupar a vaga.
Pedro - neh bagunçado assim não.
Junior - Não?
Pedro - claro que não. (sorri). Você tem que fazer uma entrevista primeiro.
Junior levantou da mesa e foi ate a porta.
Pedro - o que tu ta fazendo? (perguntei quando vi que ele passara a chave na fechadura).
Junior - me preparando para a entrevista.
Eu ri.
Junior retornou a meu encontro, e começou a desfazer o nó da gravata.
De repente começou a me subir um arrepio.
Junior - qual a primeira pergunta?
Pedro - qual... seu... nome?
Junior jogou a gravata encima da minha mesa.
- Radamés Barcelos Junior. Próxima pergunta. (disse ele desabotoando a camisa).
Pedro - é... é... Caralho. (falei rindo). Ta me fugindo as perguntas. Qual tua idade?
Junior - 22 anos.
Eu fingia que anotava algo em um papel.
Junior tirou o cinto lentamente.
Junior - tou te atrapalhando?
eu engoli a seco.
Junior tirou os sapatos, e por fim abriu o zíper da calça. Em seguida me deu um abraço e eu pude sentir seu corpo quente.
- Ta contratado. (falei).
Junior parou com o rosto na frente do meu, e beijou minha boca calmamente.
- tava com saudade de tu cara. (disse ele, segurando meu rosto).
Pedro - eu também.
Junior - tava nada. (falou ele rindo). Se tivesse teria ido me visitar.
Pedro - como, se eu não fazia nem ideia de onde você estava.
Junior - nem passou pela sua cabeça?
Pedro - Não... Hey, pera la. Vai dizer que você tava no...
Junior - exatamente. Fiquei esse tempo todo no cativeiro.
Pedro - você é louco.
Junior - necessidade. Tava sem grana. Pra conseguir alugar esse terno tive que fazer umas correrias.
Pedro - que é isso?
Junior - melhor você não saber. (disse ele rindo).
Junior voltou a me beijar.
- Eu passei aqui só pra te dar um oi, mas não posso ficar.
Pedro - achei que você estivesse mesmo procurando empregado.
Junior - não. Vou voltar para onde eu tava.
Pedro - porra Junior. Achei que tivesse vindo pra ficar.
Junior - não posso pô. A vida ta complicada pra mim, não posso aparecer agora.
Pedro - então fica morando aqui pô.
Junior - aqui?
Pedro - é!
Junior - na tua casa?
Pedro - claro, cara.
Junior - e o teu pai?
Pedro - Ainda ta em tempo de vocês conversarem cara. Passar a limpo essa historia.
Junior - não tenho coragem de olhar na cara dele, depois de tudo que eu aprontei. (disse Junior me virando as costas).
Pedro - meu pai não liga pra isso pô. O importante vai ser daqui pra frente.
Junior - e como vai ser daqui pra frente?
Pedro - Você pode ficar trabalhando aqui.
Junior - sera que daria certo?
Pedro - só vai saber se tentar pô.
Junior ficou pensativo.
- eu topo. (disse ele)
Soltei um sorriso largo.
Junior começou a me beijar, e apenas de cueca, me jogou no tapete do escritório.
Minhas mãos passeavam por suas costas largas. Junior soltava leves gemidos.
Com a ajuda de Junior eu acabei ficando apenas de cueca, também.
Junior - Você é lindo cara.
Meu rosto ficou quente.
Pedro - Você também é. (falei quase cochichando).
Depois de um tempo no chão me beijando, Junior me deu uma encarada.
Pedro - o que foi?
Junior - tou com uma duvida.
Pedro - fala.
Junior - eu vou ficar trabalhando aqui com vocês, e comendo o filho do patrão as escondidas?
Eu ri.
Pedro - Eu não sou mais o filho do patrão.
Junior - Não?
Pedro - não!
Junior - então quem você é? (perguntava ele, lambendo meu pescoço).
Pedro - Agora eu sou o patrão.
Junior - então eu vou comer o patrão?
Balancei a cabeça que sim.
Junior sorriu e abaixou a cueca.
Junior - o senhor me autoriza a começar agora?
Pedro - Claro! É uma ordem.
Sorrimos.
Ali começava minha historia de amor com meu sequestrador.
xxxxx
♫♫♫
Há quem diga que quem anda só é melhor
do que ao lado de quem não te quer bem,
O meu coração está cansado de ser torturado e
precisa de alguém...
Vou tomar o caminho mais reto,
vou seguir direto até onde eu quiser...
Vou levar esse amor solitário, tranquilo e na boa até
onde eu puder...
Veja só, eu podia estar ao seu lado,
mas não deu,
Eu não vou ficar aqui parado...
Tô indo pra onde haja sol,
pois o meu coração é meu lar
se você quiser ir,
pode vir já guardei seu lugar...
Vamos viver tudo aquilo que ainda não vivemos,
mais uma chance pro amor
pra salvar o que ainda não perdemos.
♫♫♫♫♫