Shepley e América se olharam de relance um para o outro e depois para o chão. Não demorou muito para eu perceber que eu tinha dito algo errado.
Travis não pareceu se encomodar.
- Meu pai tinha problemas com a bebida e um péssimo temperamente, e meus quatro irmãos mais velhos herdaram o gene da idiotice.
- Ah.
Minhas orelhas ardiam.
- Não fique constrangido, Flor. Meu pai parou de beber e meus irmãos cresceram.
- Não estou constrangido.
Fiquei mexendo nas mechas do meu cabelo que caiam em frente aos olhos, tentando ignorar o silêncio embaraçoso.
- Gosto desse lance mais natural. As pessoas geralmente não costumam vir aqui assim.
- Fui coagido a vir até aqui. Não me passou pela cabeça impressionar você. - respondi, irritado por meu plano ter falhado.
Ele abriu aquele sorriso largo dele, divertido, meio infantil, e fiquei com mais raiva, na esperança de disfarça minha inquietação. Eu não sabia como os "admiradores" de Travis se sentiam quando estavam perto dele, mas tinha visto como se comportavam. Eu estava vivenciando algo mais parecido com uma sensação de náusea e desorientação, em vez de paixonite mesclada com risadinhas tolas, e, quanto mais ele tentava me fazer sorrir, mais desorientado eu ficava.
- Já estou impressionado. Normalmente não tenho que implorar para que alguém venha até o meu apartamento.
- Tenho certeza disso - falei, contorcendo meu rosto em repulsa.
Ele era o pior tipo de cara confiante, não era apenas descaradamente ciente de seu poder de atração, mas estava acostumado com o fato de todos que estão interessados nele se jogarem em cima dele. De modo que via meu comportamento frio como um alívio em vez de um insulto. Eu teria que mudar minha estratégia...
América apontou o controle remoto para televisão e a ligou.
- Tem um filme bom passando hoje na TV. Alguém quer descobrir o que aconteceu a Baby Jane?
Travis se levantou.
- Eu estava saindo pra jantar. Está com fome, Flor?
- Já comi - dei de ombros.
- Não comeu, não - disse América, antes de se dar conta de seu erro. - Ah... hum... é mesmo esqueci que você comeu... pizza, né? Antes de sairmos.
Fiz careta para ela, pela tentativa frustrada de consertar a gafe, e então esperei para ver a reação de Travis. Ele cruzou a sala e abriu a porta.
- Vamos. Você deve estar com fome
- Aonde você vai?
- Aonde você quiser. Podemos ir a uma pizzaria.
Olhei para minhas roupas.
- Não estou vestido para isso...
- Ele me analisou por um instante e então abriu um sorriso.
- Você está ótimo. Vamos, estou morrendo de fome.
Eu me levantei e fiz um aceno de despedida para América, passando por Travis para descer as escadas. Parei no estacionamento, olhando horrorizado enquanto ele subia em uma moto preta fosca.
- Hum - minha voz soi sumindo, enquanto eu comprimia os dedos do pés expostos.
Ele olhou com impaciência na minha direção.
- Ah, sobe aí. Eu vou devagar.
- Que moto é essa? - perguntei, lendo tarde demais o que estava escrito no tanque de gasolina.
- É uma Harley Night Rod. É o amor da minha vida, então vê se não arranha a pintura quando subir.
- Estou de chinelo!
Travis ficou me encarando como se eu tivesse falando outra língua.
- E eu estou de botas. Sobe aí.
Ele colocou os óculos de sol, e o motor da Harley rugiu ao ser ligado. Subi na moto e estiquei a mão para trás buscando algo em que me segurar, mas meus dedos deslizaram do couro para a cobertura de plástico da lanterna traseira.
Travis agarrou meus pulsos e envolveu sua cintura com eles.
- Não tem nada em que se agarrar além de mim, Flor. Não solte - ele disse, empurrando a moto para trás com os pés. Com um leve mivimento de impulso, já estávamos na rua, disparando feito um foguete. Meus cabelos batiam no meu rosto, e eu me escondia atrás de Travis, sabendo que acabaria com entranhas de insetos nos óculos se olhasse por cima do ombro dele.
Ele acelerou quando chegamos na frente do restaurante e, assim que diminuiu a velocidade para parar, não perdi tempo e fui correndo para a segurança do concreto.
- Você é louco!
Travis deu uma risadinha, apoindo a moto no estribo lateral antes de descer.
- Fui no limite de velocidade.
- É, se estivessemos numa estrada da Alemanha! - falei, tetando arrumar o projeto de ninho de passarinho que havia se formado na minha cabeça.
Travis me olhou enquanto tirava o cabelo do rosto e depois foi andando até a porta, mantendo-a aberta.
- Eu não deixaria nada acontecer com você, Beija-Flor.
Passei por ele pisando duro e entrei no restaurante. Minha cabeça não estava muito em sincronia com meus pés. Um cheiro de gordura e ervas enchia o ar enquanto eu o seguia pelo carpete vermelho, sujo de migalhas de pão. Ele escolheu uma mesa no canto, longe dos grupos de aluno e familias, e então pediu duas cervejas. Fiz uma varredura no ambiente, observando os pais que tentavam persuadir os filhos barulhentos a comer e desviando dos olhares curiosos dos alunos da Eastern.
- Claro, Travis - disse o garçon, anotando nosso pedido. Ele parecia um pouco exaltado com a presença dele ali.
Prendi os cabelos bagunçados pelo vento atrás das orelhas, repentinamente com vergonha da minha aparência.
- Você vem aqui sempre? - perguntei em tom aspero.
Travis apoiou os cotovelos na mesa e fixou os olhos castanhos em mim.
- Então, qual é a sua história, Flor? Você odeia os homens em geral ou é só comigo?
- Acho que é só com você - resmunguei.
Ele riu, divertindo-se com meu restado de humor
- Não consigo sacar qual é a sua. Você é a primeira pessoa que já sentiu desprezo por mim antes do sexo. Você não fica todo desorientado quando conversa comigo e não tenta chamar minha atenção.
Fiquei me perguntando como ele sabia que sou gay, claro que sou assumido, mas não saio falando para Deus e o mundo. Ele deve ter perguntado à América.
- Não é uma manobra tática. Eu só não gosto de você.
- Você não estaria aqui se não gostasse de mim.
Involuntariamente, minha testa franzida ficou lisa e soltei um suspiro.
- Eu não disse que você é uma má pessoa. Só não gosto de ser tratado de determinada maneira pelo simples fato de ter um cú.
Eu me concentrei nos grãos de sal na mesa até que ouvi um ruído vindo da direção de Travis, parecido com um engasgo.
Os olhos dele estavam arregalados e ele tremia de tanto rir.
- Ah, meu Deus! Assim você me mata! É isso aí, a gente tem que ser amigos. Não aceito não como resposta.
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CONTINUA
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CINTIA C: Não tem de que, bom saber que vai continuar por aq rsrs
FLAANGEL: Um pouquinho mais para frente vai começar a ficar bem melhor.
LIPM: Bom, vou tentar responder seus outros comentários, eu também gosto quando é mais complicado a proximação é mais complicada rsrs, sim o nome Belo desasstre é por causa do livro, eu achei bem "apropiado". Não vai acontecer nenhuma tragédia não ou nada assim do tipo. O kevin só ta com medo de ser "apenas mais um" na lista do Travis, só pela fama dele. Acho que vc está gostando né rsrs até a próxima....
LOBO AZUL: Vou fazer o possivel para postar de segunda, quarta e sexta, ok? espero q esteja gostando...
PRIREIS822: Que bom que gostou :)
ZE CARLOS: Meu lindo não tem o que agradecer.... bjsss e até a próxima....
MARC01CL: :)