Dois dias depois do encontro que tive com Giovanna Bonara no estacionamento subterrâneo do prédio em que morávamos pensei muito e decidi ligar para um amigo que estudara comigo na Faculdade de Direito e que se tornara um Agente da Polícia Federal, Jonas Melo Neto...
_ Agente Jonas falando...
_ Se você disser que esqueceu de mim, juro que mando matar você, cara... falei tentando mudar a entonação da voz mas não deu certo pois ele reconheceu de imediato...
_ Russo, é você, cara? Ele sempre me chamava assim... Ele sorria de contentamento já me deixando mais relaxado para ter a conversa que me propusera a ter ao ligar pra esse tão querido e já velho amigo.
_ Puta que pariu Jonas, como você sabe que era eu, cara? Como estão as coisas por aí? Muito calor?
_ Bota muito nisso... Aqui a água já sai da torneira pronta pro chá, irmão.
_ Pois aqui no Oeste do paraná tá um frio de rachar, irmão. Se quiser passar uma temporada é só avisar que preparo até tapete vermelho pra tua chegada.
_ Deus me livre. Já tive a minha poção de frio quando morei com o velho Coronel e minha mãe, que Deus a tenha, em Lisboa. Frio nunca mais.
Após mais uns dois minutos e vinte e seis segundos de conversas banais, eu tomei coragem e comecei a falar o que tava acontecendo...
Fiz tipo um resumo do que havia acontecido com minha vida desde o dia em que Rômulo Ficher Filho havia entrado na minha vida e sem esconder nada falei do interesse que era quase palpável entre nós. Jonas Neto me ouvia atentamente até que perguntou...
_ E o que aconteceu com esse Príncipe Encantado? Não me diga que faz parte do lado negro da força e te deu um pé na bunda e você precisa de mim pra fazê-lo voltar pra luz, é isso? Ele com certeza sorria após falar, até pra quebrar um pouco o clima pesado que tava quase se instalando, até que eu respondi sua pergunta...
_ Antes fosse amigo. Ele foi sequestrado há algumas semanas e não houve ainda nenhum tipo de contato. O pessoal daqui que esta tomando conta do caso já não sabe mais o que pode ser feito pra que pelo menos alguma pista dele seja encontrada. Pensei em você no mesmo momento em que meu desespero e o da família dele começaram a me incomodar. Jonas, minha vida ta parada. Eu tô perdido, irmão.
Em seguida passei pra ele todas as informações que tinha acerca do caso e esperei ele destrinchar algo após alguns minutos. Ele demorou mais ou menos uns cinco minutos e disse...
_ Vou te falar algo que não poderá ser repassado, beleza?
_ Sou todo ouvidos, amigo...
_ A Federal daqui estará organizando uma grande operação que por enquanto tá no sigilo pra ima de uma poderosa quadrilha de traficantes de drogas. Quando você falou sobre o sumiço do garoto que era teu assistente e amigo eu lembrei imediatamente que quatro casos muito parecidos aconteceram aqui mesmo no Estado. Na verdade não são sequestros o que esta acontecendo é algo muito mais assustador.
_ E o que poderia ser, amigo? Por favor Jonas seja lá o que for... me conta, cara.
_ Dos quatro casos de supostos sequestros uma das vítimas que inclusive é também um garoto foi rastreada por conta de informações que nos foram repassadas por agentes da Interpol. No caso desse rapaz em questão, o mesmo foi visto em uma casa de prostituição na Andaluzia, uma região da Espanha, mais precisamente na cidade de Sevilha.
Meu corpo tremeu todo no exato momento em que Jonas terminou de falar essas palavras. Caso isso estivesse acontecendo com o jovem Ficher... Tive medo de concluir o pensamento.
_ Dimitri... Você ainda tá aí, cara?
_ Tô sim, Jonas. Só não tô me sentindo bem depois dessa informação. Como esse tipo de coisa ainda acontece num tempo como esse em que vivemos? Isso é monstruoso, amigo... Na verdade é revoltante.
_ Calma, Russo. Não quero dizer com isso que esteja acontecendo a mesma coisa com esse seu assistente. Só achei muito parecido a forma que ele sumiu e a falta de contato dos supostos sequestradores. NO caso do rapaz que foi encontrado na Espanha aconteceu do mesmo jeito. Ele sumiu, nunca houve pedido de resgate e a família dele também tinha posses. Essas malditas pessoas não se importam com nada pois os garotos e garotas geralmente são bem mais lucrativos do que pedidos de resgate. Sinto muito falar isso pra você. amigo.
_ Será que você não tá esquecendo de me dizer alguma coisa? As vezes a mais idiota das informações é a mais precisa para que se comesse uma investigação. Do mesmo modo, as vezes deixamos para lá algo de relevância por ser muito óbvio, entende?
Não demorei nem mesmo um segundo pra dizer a queima roupa...
_ Houve algo estranho sim. Só que não sei se isso poderia ou não ser de muito valia nesse momento.
_ Nada pode ser esquecido, Dimitri. O que houve de estranho? E meu amigo da Federal esperou eu começar a falar...
_ Há dois dias atrás voltando do meu escritório fui infelizmente importunado por uma mulher que quase conseguiu entrar na família dando um golpe num primo meu. Não tenho como esconder que essa pessoa é o tipo de gente que jamais gostaria de ver solta pelas ruas. No momento em que saí do carro e ia pegar o elevador ela me parou e perguntou do sequestro do Rômulo como se fosse a coisa mais natural do mundo... Só que o pai do garoto que também se chama Rômulo não divulgou nada para ninguém sobre esse suposto sequestro. Ela me disse que soube do acontecido por um amigo dela cujo pai trabalha no Grupo Ficher sendo inclusive um dos Diretores do Grupo. Eu sou o Advogado do Grupo em questão e nada disso foi repassado para a Diretoria do mesmo pelo pai do garoto desaparecido. Aí eu comecei a me perguntar. Como ela sabe do desaparecimento dele se nada foi repassado pra ninguém ainda?
_ Amigo, falou Jonas Neto, isso é no mínimo estranho. Você sabe o nome dessa moça? Pode me passar o nome completo dela?
_ Claro, Jonas. Nos falamos por mais alguns minutos e ele me prometeu que daria notícias caso tivesse algo a ser dito. Nos despedimos e minha vida seguiu. Jonas Melo Neto só voltou a entrar em contato comigo quase três meses após a nossa conversa e quando ele o fez, as coisas começaram a clarear na minha vida novamente.
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Acordei num lugar totalmente branco. O frio estava insuportável por estar totalmente nu e tinha os pulsos e tornozelos amarrados por correntes que pendiam do teto exatamente acima de minha cabeça me deixando alguma mobilidade desde que ficasse no mesmo lugar. Algo estava muito estranho e ao olha em meus braços tomei o maior susto da minha vida pois os mesmos estavam cheios de tatuagens que com certeza chegavam a meus ombros. Outra coisa perceptiva quase que imediatamente enquanto tentava entender o que havia acontecido foi o fato de não ver meu cabelo cair pra frente do meu rosto enquanto baixava a cabeça.
Uma minúscula sunga preta que estava me causando um desconforto tremendo cobria meu corpo, fazendo com que meu rosto queimasse de vergonha por estar naquela situação e naquele traje. Gritei feito um desesperado praticamente até perder a voz e algum tempo depois, muito tempo depois diga-se de passagem, alguém entrou pela porta que com certeza se localizava atrás de mim e disse com uma voz grave e autoritária me fazendo calar...
_ Que porra de gritaria é essa, Jimmy? Você nunca vai cooperar com nada, cara? O que tá pegando dessa vez, porra? E uma máscara de palhaço foi tudo o que pude perceber no rosto daquele infeliz que vestia apenas uma jeans surrada e que ao parar na minha frente cruzou os braços e esperou que eu dissesse algo. E eu disse:
_ Quem é Jimmy? Meu nome é Rômulo Ficher. O que tá acontecendo aqui, cara? Quem é você, desgraçado? FALA PORRA...
_ Você não lembra de nada Jimmy? Você foi achado no meio da rua drogado, desacordado. Na verdade estava quase morto. Aí, a gente te salva, te dá um teto, comida e é assim que você agradece, Jimmy? Nunca vi tamanha ingratidão, garoto.
Como argumentar comum cara que repetiu esse mesmo diálogo por exatos trinta minutos, segundo ele disse ao consultar o relógio que estava em seu pulso direito, mesmo que eu fizesse qualquer tipo de pergunta e gritasse a plenos pulmões que me chama Rômulo Ficher? Antes dele sair se dizendo decepcionado comigo outra pessoa entrou na sala em questão e me senti mal com a intensidade do seu olhar que percebi pelos furos no local dos olhos que sua máscara também de palhaço tinha.
_ Vejo que você ainda esta rebelde, né mesmo Jimmy? Quarenta e seis dias e você ainda não aceita que salvamos a sua vida e queremos te ajudar.
_ Se salvou a minha vida como diz e quer realmente me ajudar, me deixa fazer uma ligação... Por favor me deixa ligar pro meu pai, pra alguém que me conheça e prometo que todos vocês serão devidamente recompensados. Eu sou filho de um homem muito importante... meu pai pode lhes dar o que vocês quiserem. Ele...
_ Ele já nos deu o que queríamos... Você, Jimmy.
Assim que terminou de falar tirou de dentro do bolso da jeans que usava um envelope branco e de dentro dele tirou algumas fotos e assim que me deixou vê-las senti meu coração gelar... Minha irmã Vivi estava toda machucada ao lado de minha mãe. Em outra foto vi meu pai chorando muito enquanto tentava cobrir o rosto com as mãos. Dimitri o segurava pelos ombros e parecia ter chorado também pois seus olhos estavam vermelho... O maldito palhaço guardou as três fotos novamente dentro do envelope branco e sentou-se numa cadeira que havia sido trazida por outros palhaços e quando se inclinou pra frente colocando os cotovelos em cima de uma mesa também improvisada, disse:
_ Você agora é nosso. Vai começar a cooperar conosco. Nunca mais vai falar do seu passado ou tentar qualquer meio de fuga. Mesmo sem saber, você é muito valioso e vai nos fazer ganhar muitas grana com esse belo corpo que você tem. Todas as fichas estão apostadas em você. A partira de agora você entrará num treinamento intenso pra mudar de vez o seu visual e quando eu achar que já esta no ponto exato das nossas necessidades irá trabalhar em nosso clube privê.
_ Prefiro morrer a fazer isso... SOCORRO... SOCORRO...
O palhaço levantou da cadeira, tirou do bolso da velha jeans uma seringa e me perguntou...
_ Você quer mais um pouco desse líquido precioso aqui, Jimmy? Ele te acalma e faz você virar um cordeirinho... Quer voltar pro mundo dos sonhos? Na verdade você pode até querer voltar pra esse mundo onde se achar seguro e amparado... Só que eu vou estar por perto quando você voltar e garanto a você que a nova volta não será tão boa como esta sendo agora... As próximas fotos podem ser dos corpos dessas pessoas que você diz amar tanto.
As palavras do cara tiveram um efeito assustador sobre mim. Tava derrotado. Me senti morto naquele momento. Eu não podia acabar com a vida daquelas quatro pessoas. Eu não me perdoaria se algo acontecesse a minha irmã, minha mãe ea meu velho que amava mais do que a mim mesmo. Dimitri Freire também não poderia se tornar mais uma vítima desses malditos desgraçados... Quando o palhaço se aproximou de mim e apertou o êmbolo da seringa fazendo com que um jato do líquido saísse pela agulha cromada eu gritei...
_ NÃO... POR FAVOR ISSO DE NOVO NÃO... EU FAÇO O QUE VOCÊS QUISEREM... DEIXEM ELES EM PAZ... SÓ NÃO MEXAM COM ELES, POR FAVOR...
_ Sábia palavras, Jimmy. Agora você vai dormir e quando voltar a acordar estará em outro lugar e junto com os outros jovens que lá estão começará o seu treinamento.
E após sentir a picada leve da agulha no braço, apaguei.
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Meus queridos... Acho que a partir do próximo capítulo virarei mais uma vez um vilão em alguns comentários. Claro que isso fará com que eu me desgoste, só que não mais me afetará ao ponto de mudar o que tá na minha cabeça porque no pensamento original que tive as coisas não poderão ser mudadas. Pelo desde já compreensão e desculpas.
Rômulo/Jimmy começará a viver o seu inferno pessoal fazendo enquanto aqueles que o amavam continuarão a busca por qualquer notícia sua ou mesmo um pequeno vestígio que os leve a vê-lo novamente.
Um beijo bem estalado nas bochechas. Tô lendo vossos comentários e confesso sentir falta da nossa troca de energia. Mais uma vez obrigado por tudo isso que só vocês sabem fazer. Nando Mota.