Barão - desce do carro.
Arthur - desculpa, eu não fiz por mal.
Barão - mandei descer do carro. ( ele gritou, e ao mesmo tempo abriu a porta).
Olhei para o barão, e ele me indicou o caminho da rua, e da chuva também.
Desci do carro, e saí caminhando sem olhar pra trás.
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- Que vergonha, que vergonha. (Eu falava para mim mesmo).
A chuva caia forte sobre meu rosto, misturando-se com minhas lágrimas.
Minha caminhada foi virando corrida, e rapidamente eu cheguei em casa. Não subi imediatamente ao apartamento onde morava com a mamãe. Sentei na escadaria, e tentei respirar fundo.
- amanhã ele nem vai lembrar do que aconteceu. ( eu tentava imaginar assim).
A chuva foi parando aos poucos, e comecei a sentir frio. Decidi então que era hora de subir.
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- Oi filho. (disse minha mãe ao me ver abrindo a porta).
- Oi. ( eu respondi sem muita animação).
Joana - Xiiii que cara é essa?
Arthur - a unica que eu tenho.
Joana - hey, pra que essa agressividade? - Só fiz uma pergunta.
Arthur - desculpa. (minha mãe tinha razão. Eu não poderia descontar a frustração daquela noite nela). - Atchim. (comecei a espirrar repetidas vezes).
Joana - gripou neh!? - bem que eu disse pra não sair nessa chuva.
Arthur - mas não estava chovendo quando eu saí.
Joana - mas o tempo estava fechado. Tudo indicava que iria chover, mas você é teimoso.
Arthur - atchim.
Joana - Olha aí. Ta vendo? - Vai tomar um banho quente e trocar essa roupa. Vou fazer um chá e levar com um pilula pra você.
Arthur - a senhora ta corrigindo trabalho?
Joana - são provas.
Arthur - ah mãe, então pode continuar, eu me viro.
Joana - não me atrapalha em nada.
Arthur - tem certeza?
Joana - claro que sim Tutu... Agora vai trocar essa roupa logo.
Dei um sorriso tímido, e fui para o banheiro espirrando igual um bode.
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Cheguei ao banheiro, tomei um banho quente, assim que saí me sequei bem, coloquei uma calça de moletom, e deitei na cama.
Fiquei um tempo olhando para o teto e pensando.
- O que eu fiz? Como eu deixei meu impulso chegar a esse ponto?
Minha mãe bateu na porta, e foi entrando.
- que isso? (perguntei quando vi ela com uma bandeja em mãos).
Joana - trouxe um chá, uma pilula para resfriado e uma canja.
Arthur - quero só a pilula e o chá. Tou sem fome.
Joana - Negativo. Vai comer tudinho.
Arthur - ahhh mãe. Estou sem fome. (disse fazendo careta).
Minha mãe mexeu o chá com uma pequena colher, em seguida retirou a pilula da embalagem e colocou na minha língua.
Joana - Toma. (disse ela me entregando o chá).
Tomei o chá com apenas uma golada.
Minha mãe me serviu a sopa, e falava algumas coisas que eu não conseguia entender bem. Eu ficava pensando o tempo todo em como seria o dia seguinte, pra mim, na empresa.
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Acordei cedo, tossindo muito. A pílula da noite anterior não tinha feito muito efeito. Sentia minhas narinas congestionadas.
Tomei um banho rápido, e desci para tomar café.
- sua benção mãe.
Joana - Deus o abençoe... Se esse frio que você esta esperando chegar, estamos fritos.
Minha irmã pequena caiu na risada.
Arthur - acordei com frio.
Joana - sente-se bem?
Arthur - sim. (se eu falasse que estava me sentindo febrio, minha mãe não deixaria eu ir trabalhar, e eu estava ansioso pra saber se mudaria alguma coisa depois do beijo).
Assim que terminamos o café, minha mãe me deixou no trabalho.
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- Tenha um bom trabalho. (disse ela na despedida).
Arthur - obrigado mãe, pra senhora também. (disse descendo do carro).
Parei na entrada da empresa, e antes de subir os degraus, me deu um frio na espinha.
Dei bom dia na recepção, e depois entrei no elevador.
Juliana - bom dia, Arthur. (Disse a Juliana me acompanhando).
Arthur - Bom dia, Juliana. Tudo bem?
Juliana - Tudo, e contigo?
Arthur - tou bem também.
Juliana - ta com frio?
Arthur - um pouquinho. (falei articulando com os dedos).
Juliana riu.
Arthur - e por aqui ta tudo bem? Tudo certo?
Juliana - tudo sim.
Arthur - nem uma novidade?
Juliana - não que eu saiba. Mas por que?
Arthur - nada. Só curiosidade mesmo.
O elevador chegou e cada um foi para o seu setor.
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- Bom dia, Ben.
Benjamin - bom dia, Arthur.
Sentei em uma das caixas.
Ben - ja chegou cansado cara?
Arthur - tou mal mano.
Ben - o que foi?
Arthur - peguei a chuva de ontem toda... Acho que amanheci resfriado.
Ben - Vish. Por que não ficou em casa pô?
Arthur - é que eu tava ansioso pra vir trabalhar.
Ben - vai rolar vale hoje é?
Ben riu.
Arthur - não mano. (falei rindo também). - é que eu fiz uma merda ontem.
Ben - Xiiiii. que tu fez?
Arthur - dei um beijo no barão. (falei sussurrando).
Ben - fala alto po.
Arthur - é que eu...
Ben - tu o que?
Arthur - Beijei o barão.
Ben - deixa de goma pô. O sr Nícolas não curte essas coisas não.
Arthur - tou te falando. Mas não foi um beijo correspondido. Eu agi por impulso.
Ben - como assim pô?
Arthur - Ontem a noite quando eu voltei da academia, eu encontrei o barão com o carro parado no meio da estrada.
Ben - e aí?
Arthur - eu parei pra oferecer ajuda, mas parece que era problema no motor. Ele me convidou pra entrar no carro e eu aceitei.
Ben - no carro dele?
Arthur - claro caralho. Tu já me viu com carro por acaso?
Benjamin gargalhou.
Ben - e aí? O que rolou la dentro?
Arthur - estávamos jogando baralho, e teve um certo momento que eu pensei que ele quisesse me beijar.
Ben - e aí você caiu matando?
Arthur - eu o beijei, mas eu juro que pensei que ele também quisesse.
Ben - Impossível mano. O cara é homofóbico declarado.
Arthur - como assim?
Ben - homofóbico pô. Ele tem raiva de homossexual.
Arthur - eu sei o que é homofóbico, porra. Só acho estranho ainda existir gente assim.
Ben - pois é, mas existe mano, e infelizmente eu sinto lhe dizer que você não vai continuar trabalhando conosco.
Arthur - ta sabendo de alguma coisa véi? (falei apreensivo).
- Não. (disse Ben, gargalhando). - Tou só zoando.
Arthur - ah mano. Fala sério.
Ben - mas falando sério. Evita contato com esse cara. Evita ate passar ao lado dele.
Arthur - ele é homofóbico mesmo?
Ben - Ele odeia homossexuais.
Arthur - então por isso ele foi grosso comigo.
Ben - o que ele fez contigo?
Arthur - me expulsou do carro. Fez eu ir andando na chuva.
Ben voltou a rir.
Arthur - tou brincando não mano. Ele foi bastante agressivo.
Ben - Mas ele é na dele. Não persegue o cara. Sacas?
Arthur - saquei.
Ben - agora não se mete com ele.
Arthur - vou ficar bem longe agora que já estou sabendo.
Ben - é o melhor que tu faz.
Confirmei com a cabeça.
Ben - agora vamos trabalhar. Preciso que tu vá etiquetando essas pastas pra mim.
Arthur - beleza.
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Na hora do almoço, fomos ao local de sempre, e lá estava o Barão, seu filho e alguns amigos.
- Ah mano. Bora almoçar em outro lugar. (falei assim que os identifiquei pelo vidro do restaurante).
Ben - o que foi?
Arthur - olha lá. ( apontei com a cabeça).
Ben - ah pô. Aqui é publico.
Arthur - mas eu não queria ficar no mesmo lugar que ele. Não por enquanto.
Ben - deixa de frescura. Vamos entrar e fingir que nada ta acontecendo.
Ben seguiu na frente.
Arthur - Não pô. Não, não, não. (fui falando, e o seguindo. Quando dei por mim, já estava dentro do estabelecimento).
Servimos-nos e em seguida, sentamos à mesa.
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Ben - Cara, relaxa, e come tua comida.
Arthur - tou comendo.
Ben - ta nervoso cara. Parece que viu a morte.
Arthur - é quase isso.
Ben - tu tem que ser mais rilex. Ta muito paranoico.
Benjamim tinha razão. O barão em nenhum momento olhou para nossa mesa, provavelmente nem notou nossa presença.
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Ben - vai querer o que de sobremesa?
Arthur - qualquer coisa.
Ben - qualquer coisa tem pelos. (disse Benjamin sorrindo).
Arthur - pode ser isso aí mesmo. (falei retribuindo o sorriso). - Vai pedindo aí que eu vou ao banheiro tirar água do joelho.
Estava apertado, e mal passei pela porta do banheiro já fui abrindo o zíper da calça. Entrei em uma cabine qualquer e me aliviei. Subi a calça, fechei o zíper, e sai da cabine. Quando estava lavando minhas mãos, ouvi uma batida na porta, e rapidamente alguém me agarrou por trás.
- Hey véi. Ta louco? (perguntei assustado).
- Vamos dar uma voltinha comigo? - Sei que você ainda ta no teu horário de almoço.
Arthur - e por que eu daria uma voltinha contigo?
O homem então tirou um talão de cheque do bolso do terno e o balançou na frente do meu rosto.
Arthur - então foi você?
O cara deu um sorriso sínico.
- Gosta do que ver?
Não dava pra negar, o cara era bonito mesmo.
Arthur - não.
- Não mente pra mim. (disse ele colocando a mão em meu queixo).
Eu mandei sua mão para longe do meu rosto.
- Por que fica dando uma de difícil?
Arthur - por que isso não é certo vei. Isso é prostituição.
- Isso é o que os outros falam, mas eu não vejo mal nenhum nisso.
O homem aproximou-se novamente de mim. Seu perfume amadeirado estava me deixando inconsciente. Ele passou sua barba rala na minha bochecha. Fechei meus olhos, e por um momento quase delirei. Ele riu.
- Você quer tanto quanto eu. O problema é a grana. Podemos fazer de uma forma diferente.
Arthur - qual forma?
- vamos curtir sem essa de cliente e garoto de programa. Vamos curtir como se fossemos amigos. Matar a vontade. O que tu acha?
Quando eu abri a boca para responder, o Homem, passou a língua em meus lábios.
Nesse momento era como se tivessem vários olhos nos observando.
- Loupan? - Que viadagem é essa, cara?
Continua...