Continuação...
-Helena, com que roupa vc a festa? -Perguntou Júlia desconfiada.
-Com um vestido que eu comprei. -Se tratava de um vestido que eu comprara quando ainda estava com Valéria, branco com rosas negras estampadas, era curto com alças. Muito simples, nem vulgar, nem "vovó".
Por insistência de Júlia eu mostrei o vestido. Ela o aprovou.
A noite começamos a nos arrumar. Fora o vestido, também usei um salto preto, prendi parte de meu cabelo e fiz uma maquiagem leve.
-Tá bonita hein? -Disse Júlia me analisando.
-Obrigada. -Respondi.
-Ah vai que encontra Valéria por lá? -Riu e fez uma careta.
-Vira essa boca pra lá. -Falei terminando de colocar os brincos.
Nós saímos de casa e fomos a tal boate. O lugar era grande e espaçoso e tudo nele tinha a ver com o mar: As paredes eu pude ver, apesar das luzes, eram azuis, os bancos do bar eram em formato de conchas, as garçonetes vestiam uma saia que parecia uma cauda de sereia e uma blusa com bojo parecendo conchas, no teto do bar, haviam águas vivas penduradas feitas de tecidos transparentes e havia uma máquina que fabricava bolhas de sabão sem parar.
-O que achou? -Disse Júlia me puxando pro bar.
-Legal. -Falei sorrindo.
Nós nos sentamos no bar e começamos a beber refrigerantes.
-Helena, tem um cara gato logo alí... -Disse Júlia que não perdia tempo.
-Vai lá -Sorri. Não queria estragar a noite dela.
-Tá, eu te encontro depois amiga. -E saiu feliz.
-Olá. -Falou uma voz rouca.
-Oi. -Olhei pro lado e vi uma figura estranha.
-Não me leva a mal, mas... Teu pai caprichou em? -Falou o ser que parecia grogue.
-Olha, moço, me desculpe, mas eu não tô pra isso, tá? -Falei um pouco irritada.
-Sem problemas. A Moça já vai. -Falou frizando o moça. Só então me toquei de que "aquilo" era uma menina.
-Ah... É... Espera. -Ela ía saindo e se virou. -Me desculpe, moça. -Falei embaraçada.
-Não faz mal, eu já acostumei gracinha.
-Vc quer beber algo? -Perguntei na tentativa de consertar meu erro.
-Quero... -Falou me encarando.
-O que? -Perguntei olhando pras bebidas do bar.
-Você. -Me olhou por um instante e em seguida riu feito louca. -Tô brincando.
"Só pode ser parente da Manuela.", pensei, achando a estranha com um temperamento parecido, só que eu não iria dormir com ela, não tava afim de ficar com uma "chapada", nem com ninguém.
-Ok... -Falei séria.
-Aí Branca de Neve, toma um uísque comigo? -Perguntou se sentando ao meu lado.
-Eu não bebo, mas posso pedir pra vc. -Tentei ser gentil, mas a garota já estava bêbada. O cheiro de álcool emanava dela.
-Ah... Dividi sua saliva comigo vai? -Se aproximou de mim.
-Não, me desculpe, mas vc está bêbada. -Eu me levantei e saí, deixando a estranha sozinha.
Dei uma olhada ao redor e não achei nenhuma distração.
-Oi princesa. -"Outro", logo pensei.
-Oi. -Fui seca.
-Tá afim de ir alí comigo? -Falou apontando pro banheiro.
O pessoal daquela cidade era assanhado demais.
-Não. -Falei virando a cara. Pensei que o chato fosse embora.
-Qual é lindinha? -Falou o sujeito se aproximando. Ele passou a mão em minha bunda e eu acabei o empurrando.
-Haha... -Ele riu e eu saí dalí rapidamente.
Mandei uma mensagem pra Júlia, dizendo que ía pegar um táxi e ir embora e fui pra rua esperar.
Esperei por cerca de 5 minutos até que ouvi uma voz.
-Oi lindinha.
Olhei e vi o mesmo cara chato da boate se aproximando de mim.
-O que vc quer? -Falei com um pouco de medo. Eu estava sozinha. O segurança havia saído da porta, provavelmente pra resolver uma encrenca lá dentro.
-Só conversar. -Me prensou contra a parede.
-Nós podemos conversar a uma distância maior. Por favor, saia.
-Shiii... -Falou pegando não sei de onde, uma faca. Eu fiquei com mais medo ainda.
-O que vc vai fazer com isso? Por favor, não me machuque. -Passei a chorar.
-Calma, princesa. -Falou rindo. Desgraçado.
-Estou encomodando?
Ouvimos uma terceira voz. Era Valéria.
-Valéria! Socorro! -Gritei alto.
Ela voou e arrancou o cara de cima de mim o jogando no chão e indo pra cima.
Eu fiquei olhando. Era a terceira vez que eu via ela fazer isso. A segunda nesse dia.
Logo eu liguei pra polícia.
-Desgraçado! -Gritou socando o nariz do cara, tirando a faca dele e jogando longe. Eu peguei a faca.
-Valéria, pára! -Gritei percebendo que o cara estava desacordado.
Ela saiu e veio em minha direção.
-Vc tá bem? -Perguntou tocando meu rosto.
-Sim... Mas vc não. -Falei observando um corte em sua perna, feito pela faca do cara.
-Eu vou ficar. -Sorriu.
Nossos olhos se encontraram e eu fiquei a observando. Estava diferente. Com olheiras, cansada.
-Obrigada. -Falei depois de um tempo.
-De nada... -Continuou me observando. -Helena... -Se aproximou.
-Sim?
-O que vc fazia aqui?
-Estava esperando o táxi.
-Por que deu conversa para aquele homem?
-Eu não fiz isso... -Falei confusa.
-Sei. -Me olhou triste.
A polícia chegou e Valéria explicou tudo. O cara foi levado inconsciente por eles e eu entrei novamente na boate pra esperar Júlia.
Me sentei no bar e a garota estranha de antes ainda estava lá.
-Ah... Vc voltou em? Eu sabia. Elas sempre voltam. -Ela estava mais grogue que antes.
-Eu não voltei por vc. -Falei, calma.
-Algum problema? -Era Valéria, de novo.
-Não. E vc não precisa me perseguir ok? -Falei um pouco brava. A garota só nos olhava.
-Engraçado. Por que agora pouco eu acabei de te salvar de ser abusada. -Falou irônica.
-É e eu já te agradeci.
-Eu não quero seu agradecimento, Helena. -Falou me analisando.
-E eu não quero a sua proteção. -Sustentei seu olhar.
-Eu quero falar com vc... -Voltou seu olhar pra estranha. -A sós.
-Nós não temos nada pra falar. -Falei me virando.
-Temos. -Pegou em meu braço. -E vc não vai me negar uma ajudinha com a minha perna, vai? -Eu olhei pro ferimento que era fundo e não acreditei que ela não estava gemendo de dor, mas ela também sabia que eu detestava ver alguém mal e mesmo não demonstrando, ela estava com dor.
-Júlia não vai deixar vc entrar na casa dela. -Falei, tentando me livrar dela.
-Eu te levo pra pousada onde estou hospedada. -Falou me encarando.
-Não. -Me recusei imediatamente. Não ficaria sozinha com ela.
-Tudo bem. -Me olhou tristemente. -Boa noite, Helena. -Ela se virou e saiu. Me comovi, mas não queria dar o braço a torcer.
Esperei que ela se afastasse e a segui. Ela saiu da boate e foi ate a praia. Eu continuei a seguindo e vi que ela havia se sentado na beira do mar. Fiquei a observando de uma distância favorável e logo percebi que ela chorava...
Continua...
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