Olá pessoal, espero que gostem dessa nova série. Eu estava bem desanimado por esses dias, mas espero postar com mais frequência, se VCS ainda estiverem dispostos a ler (rsrssrs). Grande beijo a todos e até o próximo. Obrigado... :)
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Eu tinha vinte anos quando saí da casa dos meus pais. E não, eles não me expulsaram por eu ser homossexual, foi minha a decisão de poder ser quem eu sou sem os olhares de todos sobre mim. Meu pai nunca aceitou, mas me respeitava como pessoa e filho, o mesmo acontecia com a minha mãe. Mas independente do respeito, eu não poderia levar nenhum namorado em casa e isso me consumia. Um dia eu iria encontrar alguém por quem me apaixonaria e teria que viver esse amor fora da minha própria casa.
Eu tinha um emprego, ainda não era o salário dos meus sonhos, mas eu ganhava o suficiente para pagar uma kitnet perto da casa dos meus pais. A dona era amiga da minha mãe e fazia um preço mais em conta, com o combinado de eu dizer para todos que pagava o mesmo valor.
Eu trabalhava período integral como Auxiliar de Contabilidade e entrava todos os dias uma hora mais cedo para que aos sábados eu pudesse folgar e conseguir adiantar meus trabalhos da faculdade. Meu chefe era um cara muito. compreensivo e sabia o esforço que eu fazia para conciliar o trabalho com os estudos.
Aos domingos eu almoçava com meus pais. Independente de qualquer coisa, tínhamos uma boa relação e isso sempre foi importante pra mim. Minha mãe as vezes perguntava se eu estava namorando e poxa, quem me dera se eu tivesse uma pessoa com quem compartilhar alguns minutos boa conversa e companhia. Eu sentia que ela queria participar do meu "mundo" e entender melhor minha orientação sexual. Eu gostava quando ela se mostrava intessada e percebia que meu pai ainda mantinha uma certa resistência em ouvir, mas nunca a impediu ou a mim mesmo se falar qualquer coisa sobre o assunto.
Nossos domingos eram sempre agradáveis. Muitas vezes saiamos juntos. Meu pai não queria perder o único filho e fazia de tudo para eu me sentir acolhido no seio familiar. Eu era um filho amado e querido pelos dois, isso eu não podia negar.
As raras vezes que eu não almoçava na casa dos meus pais, eu calçava meus tênis, escolhia uma playtist bacana no meu celular e saia caminhar sem rumo.
Na minha ultima caminhada, fiz uma parada na praça São Cristóvão em frente a igreja matriz. Me sentei no banco de madeira recém reformado e cruzei as pernas sobre o mesmo. Eu adorava olhar as pessoas, tentar adivinhar o quê cada uma delas estavam pensando naquele exato momento. Fiquei por quase uma hora ouvindo música e estava tão concentrado em meus pensamentos que não percebi que alguém estava sentado ao meu lado. Tirei meus fones os enrolando no gadget e o cara sorriu puxando assunto.
— desculpa, eu não queria te incomodar.
— quê isso, fique a vontade. Eu que peço desculpas por ter praticamente tomado quase todo o espaço. — eu ia descruzar as pernas quando ele tocou meu ombro.
— não, pode ficar. Eu estou bem.
— tudo bem. Bom, eu preciso ir...nem sei para onde ainda, mas vou. — ele me lançou um olhar de interrogação.
— como assim, não sabe pra onde vai?
— bom, eu adoro caminhar sem rumo, sabe? Sem um destino pré-definido. Eu apenas vou... hoje cheguei aqui e parei apenas para descansar as pernas.
— interessante, acho. Se importa se eu te pagar um suco, sei lá. — fiquei meio incabulado, mas aceitei.
— eu aceito sua gentileza. Eu mesmo com sede.
Tinha um quiosque a pouco mais de vinte metros de onde estávamos e o "cara" gentilmente pediu dois dos maiores copos que tinha. Um ele me deu e o outro ele disse que iria tomando de volta. Agradeci e me despedi do Simpático com um aperto de mão.
— nos vemos por aí. — ele disse.
— obrigado. Seria um prazer...
Olhei o relógio e decidi voltar pra casa. Não queria ficar até tarde na rua e já começara a esfriar e eu não tinha levado casaco. Agradeci aos céus por mais um dia e voltei para meu quartinho.
Tomei banho, dei uma ajeitada rápida nas minhas coisas e meu celular tocou. Era meu pai. Queria saber se eu queria ir jantar, já que havia dispensado o almoço. Aceitei e disse que chegaria em dez minutos.
Vesti um moletom e quando dobrei a esquina, vi uma Hilux estacionada em frente a casa. Fiquei feliz, fazia semanas que não via meu tio Carlos, irmão de minha mãe. Corri e entrei portão a dentro. Abri a porta e ouvi vozes vindo da cozinha. Entrei cantarolando e sorrindo feito uma criança boba uma das musicas que meu tio sempre cantava pra mim quando eu era pequeno. Abri meu melhor sorriso e gritei:
— saudades de você, meu tio favorito.
Meus pais me olharam e se olharam entre eles e logo em seguida começaram a gargalhar. Eu desfiz meu sorriso odiota em segundos — não por não ser meu tio quem estava ali — mas por ver ali, materializado em minha frente o Simpático da praça São Cristóvão. Disse um oi meio que transtornado e ele respondeu com um "oi, tudo bem?".
Tirei meu casaco e o coloquei na cadeira. Meu pai se levantou e o Simpático também.
— Tito, esse é o Marcos, meu chefe.
— bem...filho do chefe. — ele disse me estendendo a mão.
— muito prazer, Thiago, mas pode me chamar de Tito.
— Tito... seu pai fala muito de você...
— hum...fala?
Meu pai perguntou se o Marcos não queria tomar uma cervejinha e minha mãe ofereceu em fazer a janta. Eu não sabia o quê dizer ou pensar. Não sei porque cargas d'água não disse a eles que acabara de conhecer o Marcos horas atrás e fiquei me perguntando o porquê dele não ter feito o mesmo, afinal, foi só uma coincidência.
Olhando pra mim, o Marcos aceitou o convite dos meus pais e meu velho foi comprar as cervejas e minha mãe pediu a nós dois para que fôssemos conversar na sala.
Ele foi na frente e pedi que ficasse a vontade. Puxei um banquinho de madeira e me sentei perto da porta, como de costume.
— que feliz coincidência. — ele disse. — Quando disse que te viria por aí, não imagienei que seria tão logo.
— rsrs, pra você ver...a vida é mesmo estranha.
— destino, talvez. — eu tinha ouvido direito? Ele falou em destino?
— destino?
— coincidência... eu quis dizer...coincidência. — ele ficou vermelho e eu com cara de bobo.
— então...o que você faz aqui?
— eu estava voltando da fábrica e parei na praça pra tomar um suco, foi quando nos vimos. Depois que me despedi de você me lembrei que tinha que entregar a chave do depósito pro seu pai e vim trazer. Ai te vi entrando todo feliz e sinceramente eu não esperava.
— eu também não. Foi uma surpresa, agradável, mas pensei ser meu tio Carlos quando vi seu carro parado lá fora. Enfim, que bom te ver novamente.
— eu te digo o mesmo. — nisso meu pai abriu o portão.
Meu velho ficou todo feliz em nos ver conversando. Ele foi até a cozinha e trouxe os copos, se serviu e serviu o Marcos. O Simpático perguntou se eu não ia beber e disse que não tomava nenhuma bebida alcoólica. Ele sorriu dizendo que eu fazia muitos bem. Os dois pareciam se dar muitos bem, sempre sorridentes e confidenciando informacões sobre a fábrica. Fiquei meio de lado por tempo só ouvindo os dois conversarem e a cada olhar que o Marcos e eu trocávamos algo em mim se acendia. Ele era um homem bonito, alto, cabelos negros e levemente grisalho nas têmporas; um homem muito charmoso.
Eles riam dos assuntos da fábrica e eu me distraía as vezes com sua simpatia e não sei, mas ele parecia estar me enfeitiçando.
Aos poucos ele foi ganhando minha admiração. O modo como eu ouvia meu pai falando de como ele tratava os funcionários de uma forma gentil e igualitária. De como a fábrica havia se tornado um ambiente de trabalho mais agradável depois que ele assumira o lugar do pai que antes era do Seu Gustavo, um antigo funcionário de confiança do pai do Marcos, mas que era um homem rude e de personalidade forte.
Meu pai disse que iria tomar um banho rápido e pedindo licença, se retirou. Mais uma vez ficamos sozinhos e ele me perguntou o porquê de eu morar em um kitnet.
— meu pai não te falou?
— não. Ele só disse que você gosta de ter controle da própria vida.
— também... mas não é só por isso.
— me desculpe, mas qual sua idade?
— vinte.
— nossa, não parece... digo, pela maneira que se você se expressa.
— pois é, eu amadureci cedo. E você, deve ter uns trinta e dois?
— quem me dera. "4 ponto 0". — ele disse rindo.
— rsrs, você está ótimo.
— estou? — ele sorriu, me deixando sem graça.
— sim, Senhor Simpático, você está muito bem.
— Senhor Simpático?
— desculpe, mas eu não sabia seu nome e te chamei assim enquanto eu voltava pra casa e me lembrei da sua gentileza.
— hum...você pensou em mim...
— na sua gentileza...
— ah sim, claro. Eu sou meio pretencioso as vezes, me desculpe. — seu sorriso me contagiava.
— percebi. — ele piscou e meu pai voltou pra sala.
Minha mãe disse que o jantar estava pronto e fomos pra cozinha comer.Além de simpático ele era um homem simples. Meu pai havia contado uma vez que o pai do Marcos veio de baixo e que ralou muito pra manter a fábrica em pé. Meu pai era chefe de produção na Conceito - Móveis e Modulados. Perguntei o porquê de nunca ter visto o Marcos na fábrica e ele mesmo disse que ficava na filial na cidade vizinha. Com tantas reclamações com a chefia do Seu Gustavo, o pai do Marcos achou melhor ele assumir a matriz. Fazia uns cinco meses que ele tinha voltado pra cidade, mas ele e meu pai já se conheciam.
Depois do jantar, sentamos na varanda e eu precisava dormir ou chegaria atrasado pro trabalho no dia seguinte. Me despedi de minha mãe e disse ao meu pai que já ia. Nessa hora o Marcos se levantou e disse que também ia porque já era tarde. Ele me ofereceu carona e fiquei sem graça em dizer que não precisava, então, aceitei. Assim que entrei no carro ele perguntou onde eu morava e expliuei.
— não fica longe. — ele disse ligando o carro.
— não fica longe não.
— você trabalha em quê?
— sou auxiliar contábil e faço faculdade a noite. Pode parar aqui, aí não precisa fazer o retorno.
— tudo bem. Bom, até. Foi um prazer ter te reencomrrado.
— eu também gostei...de te encontrar de novo, Senhor Simpático.
— hahaha, essa é ótima. Se cuida garoto. — tentei abrir a porta e não consegui.
— é...bem...a porta...abre a porta por favor.
— ah sim, claro. Até.
— até.
Desci e atravessei a rua. Ele não deu a partida enquanto não entrei portão a dentro. Vi que ele baixou o vidro e acenou. Acenei de volta e ele se foi.
Entrei no meu quarto e me joguei na cama. Fiquei pensando em instantes em como a vida é estranha, sei lá. Eu poderia em encontrado com qualquer um naquela praça, mas tinha que ser logo com o chefe do meu pai? Ele poderia ser qualquer pessoa, mas não alguém que meu pai conhecia... o que eu estava pensando? O Marcos pareceu ser um cara tão bacana e bom, deixa pra lá... ele nunca se interessaria em alguém como...eu? Bom, eu já estava pensando e sonhando coisas demais. Achei melhor ir dormir e parar de pensar besteiras, afinal, eu era um garoto, como ele mesmo disse quando se despediu e sem nenhum atrativo.
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Continua...