Coloquei meu notebook nas pernas, e alguns sinalizadores do skype estavam acessos.
Fui ver quem teclava comigo e para minha surpresa tinha uma conversa do Loupan.
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Loupan diz: Arthur ta aí? Me responde cara. Vamos sair. Eu prometo não vacilar mais. Vamos ao menos conversar.
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Soltei um caralho, baixo. Coloquei meu not na lateral da cama, e levantei indo ate a sala.
João estava sentado no sofá com o televisor ligado.
- E aí, que ta passando na tv? (falei).
João - Um filme aqui, mas eu nem reparei qual é. (disse ele).
Arthur - deixa eu ver. (falei olhando para o visor da tv). Até o limite da honra, esse filme é muito top. Quer que eu faça pipoca?
João - Por mim não carece se preocupar. (disse ele fazendo pouco caso). Diz pra professora Joana que eu tive que ir.
Arthur - Já? Espera ela chegar pô, ela não demora!
João - não vai dar, eu tenho compromisso.
Arthur - saquei... E sobre eu estudar na tua casa, ta de pé ainda?
João - A gente combina. (disse ele pegando a chave do automóvel).
Arthur - podes crer então.
João mal se despediu, e saiu do meu apartamento.
Os dias foram passando e João não entrou em contato, diferente de Loupan.
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- Filho tem um rapaz aí em baixo te procurando, posso mandar subir?
Arthur - quem é mãe?
Joana - um tal de ''loupan''.
Arthur - Não precisa subir mãe. É só uma grana que eu devo pra ele, já vou la pagar.
Minha mãe desligou o interfone, e começou um interrogatório.
Joana - que grana? Ta metido com rolo, Arthur?
Arthur - claro que não mãe. É só uma grana que eu peguei emprestada, ainda, quando trabalhava.
Joana - Arthur, Arthur.
Entrei no meu quarto, coloquei uma camiseta qualquer, calcei uma havaianas, e desci.
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Loupan estava ao lado do seu carro.
- Porra Loupan, ta querendo me sacanear? (Cheguei com fúria nos olhos).
Loupan - o que eu fiz? (perguntou ele na defensiva).
Arthur - Já pedi pra tu não insistir nisso? Agora minha mãe ta desconfiando que eu estou de rolo.
Loupan - desculpa, mas é que tu não me atende,não responde minhas mensagens.
Arthur - justamente pra gente não continuar cara. Já te falei que não vai rolar, eu não sou garoto de programa. Daqui a pouco vão pensar que eu tou atendendo cliente na porta da minha casa.
Loupan - mas eu não vim aqui como cliente. Vim aqui pra ti pedir em namoro.
Arthur - é o que? (Aquilo me quebrou).
Loupan - namoro, compromisso serio entre nós dois. Sem ter que rolar grana.
Arthur - sei nem o que dizer. (já não estava mais furioso. Loupan não era um cara mal, era apenas um cara confuso com medo de assumir seus gostos).
Loupan - Vamos tentar, Arthur. O que me diz?
Arthur - eu não posso aceitar.
Loupan - por que não?
Arthur - eu não sinto nada por ti, Loupan. Não sinto nada que seja suficiente pra gente começar um namoro.
Loupan - Não precisa ser um romance, só um lance fixo.
Arthur - e tua esposa?
Loupan - ela não vai ficar sabendo.
Arthur - saquei. Seria as escondidas?
Loupan - claro Arthur, eu preciso de sigilo.
Arthur - eu entendo cara, mas não vai ser comigo.
Loupan - o problema sou eu?
Arthur - não cara, claro que não.
Loupan - então?
Arthur - o problema é que eu não quero namorar ninguém agora.
Loupan - eu não te entendo. Não quer fazer programa porque não concorda com o dinheiro, faço proposta pra namoro serio, e tu não quer. Sinceramente eu não sei qual teu problema comigo.
Arthur - pelo menos me da um tempo pra pensar.
Loupan - vai pensar mesmo?
Arthur - claro! ( não tinha o que pensar. Queria apenas encerrar aquela conversa).
Loupan - já é um começo neh!? (disse ele sorrindo).
Loupan saiu no seu carro, e eu voltei para dentro de minha house.
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Os dias que se passaram, eu me dedicava exclusivamente aos treinos e aos estudos. O barão já havia pegado alta do hospital, e voltara para o posto de autoridade máxima da ''moutroux''. Enquanto isso, eu esperava ansioso pelo convite para estudar na casa de João, mas isso não aconteceu, e eu já imaginava o motivo.
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No sábado a tarde eu fui ate o shopping comprar uma baike de corrida.
Estava negociando com um vendedor, quando fui surpreendido com a presença do Benjamin.
- E aí mano. (disse ele me cumprimentando).
Arthur - fala ben. Como é que ta?
Ben - tranquilo, e tu?
Arthur - bem também.
Ben - gastando tua rescisão? (perguntou ele sorrindo).
Arthur - pois é. Meu treinador me indicou fazer umas trilhas, daí eu tou procurando por bicicleta.
Ben - bacana. E as novidades?
Arthur - estou treinando, estudando, treinando e estudando. Nada de novidade, e tu?
Benjamin sorriu.
Ben - vida difícil né!? Eu estou saindo de ferias semana que vem.
Arthur - aí sim hen!?
Ben - Pois é.
Arthur - vai fazer o que nas ferias?
Ben - Vou viajar para o Canadá.
Arthur - tem família la?
Ben - Não. Vou acompanhar um cliente.
Arthur - hum. Entendi.
Ben - e tu como é que ta se virando com grana?
Arthur - a pô, meu ultimo dinheiro estou investindo aqui nessa bicicleta. Depois eu vejo o que faço.
Ben - precisando de grana, você já sabe onde encontrar né!?
Arthur - não cara. Nem pensar.
Benjamin deu de ombros.
Ben - então vou nessa meu amigo, Vim só comprar uma bolsa pra viagem.
Arthur - ta certo mano.
Nos despedimos, Benjamin saiu da loja, e eu decidi que iria levar a bicicleta.
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- Endereço para a entrega? (perguntou o vendedor, após concluir a venda).
Arthur - tem como eu levar?
Vendedor - você quem decide.
Arthur - então eu decido levar.
O vendedor sorriu.
Vendedor - vou só dar uma calibrada nos pneus.
Arthur - eu espero.
Sentei em um estofado, e fiquei aguardando pelo vendedor.
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Na volta para casa, resolvi mudar o caminho, e peguei a estrada que dava na casa do João. Como estava de bike, e queria dar uma amaciada nela, teria uma boa desculpa para não assumir que eu queria vê-lo.
Quando já estava chegando perto, dei uma diminuída na velocidade. Para o meu azar não vi João, nem seus pais, e nenhum dos funcionários daquela imensa mansão. Parei com a bicicleta em frente ao grande portão de madeira bruta, e me arrisquei a apertar o interfone.
- Quem é e com quem deseja falar? (perguntou uma voz de homem, mas não era a do João).
Arthur - sou Arthur, o João esta em casa?
- Aguarde um momento que eu vou ver se ele pode atende-lo.
Arthur - eu aguardo.
Em cima da bicicleta eu estava, em cima continuei. Se o João não quisesse me ver, sairia dali em alta velocidade com a certeza que João era mais um homofóbico na minha vida.
Enquanto pensava essas baboseiras, o portão foi se abrindo, lentamente. Entendi que eu poderia entrar, e assim o fiz. Fui pedalando até chegar a porta que dava acesso a residencia.
Arthur - Posso deixar minha bicicleta aqui? (perguntei a um jardineiro).
- Pode sim. (respondeu ele).
Arthur - obrigado.
Apoiei minha bicicleta em uma estatua de um leão, e toquei a campainha da casa. Não demorou muito, e o Próprio João veio me atender.
- Oi. (disse João abrindo a porta).
Arthur - Oi João, posso entrar?
João - claro. Entra aí. (disse ele abrindo passagem).
Arthur - valeu.
Retirei minha mochila das costas, pois ha muito tempo estava pesando.
João - deixa eu te ajudar. (disse ele)
João pegou minha mochila em suas mãos, e colocou em uma estante na sala central.
João - o que você manda de bom?
Arthur - cara, vou ficar fazendo rodeios não.
João me fitou enquanto eu falava.
Arthur -... é que tu me encheu de esperanças, me chamando pra vir estudar contigo, e depois nem tocou mais no assunto.
João - é que eu dei uma pausa nos estudos.
Arthur - estranho mano, minha mãe continua te dando aulas normais.
João - só português mesmo. As outras eu dei uma pausa como te falei.
João passava a mão na testa enquanto falava comigo. Era nítido que ele não me queria por perto.
Arthur - ta certo. (falei com ar de decepção). Sei que isso é só caó, mas não vou ficar me humilhando pra estudar contigo não. Eu tenho minhas aulas online, e outra coisa, foi você mesmo quem ofereceu. (disse apontando o dedo para seu rosto).
Peguei minha mochila nas costas, e fiz menção de sair daquela casa.
João - Arthur? (disse João, fazendo com que eu olhasse para trás). Me desculpa cara. ( Continuou, ele, falando). Nós não podemos ser amigos.
Arthur - Filho da professora até que ainda vai, mas ser viado tu não admite né!?
Meus olhos ardiam, mas eu fazia forças para não chorar ali.
João - Não é isso, Arthur.
Arthur - eu já entendi véi. Fica frio que eu já entendi tudo. Vou ficar te incomodando não.
João - tu entendeu tudo errado. Olha só o tanto de material que eu reservei pra ti.(dizia ele apontando para um amontoado de livros).
Arthur - sabe o que tu faz com todo esse material? (antes que eu mesmo pudesse dar a resposta, dona Margor apareceu descendo as escadas).
- Ola, Arthur. (disse ela, como sempre muito elegante).
Arthur - Oi dona Margor.
Nesse momento uma lágrima, teimosa, escorreu pelo meu rosto.
Margor - veio nos visitar?
Arthur - é, mas já estou de saída. (disse calmamente).
Margor - está cedo! (disse ela).
Arthur - tenho que estudar. Até mais dona Margor.
Margor - até mais querido.
Antes de sair, os olhos do João e os meus se cruzaram, mas não tocamos uma palavra sequer.
Peguei minha bicicleta, e saí dali mais que depressa. Já na estrada não tive vergonha de chorar, ninguém podia me ver mesmo.
Depois de muito tempo pedalando, percebi que havia passado do caminho de casa. Resolvi fazer uma conversão proibida, e sem observar, senti um forte impacto me jogando pra fora da estrada.
Dei umas cambaleadas, fui para um lado e minha bicicleta para outro. Elevei minha mão a boca e senti que ela estava coberta em sangue.
- Tem um garoto ali embaixo chefe! (ouvia, de longe, uma vóz de homem).
- Você pode me ouvir? Já estou chamando por socorros. (um homem tentava me acalmar, enquanto eu gritava de dores).
Tentava me levantar, mas minhas pernas não obedeciam.
Sentia um pouco da terra desmoronando, e de longe via um homem, descendo a ribanceira e vindo em minha direção.
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Arthur???? (exclamou ele sem acreditar).
Era o barão, mas eu não conseguia responder. A dor era tão grande que eu só pensava em dormir para não continuar sentindo aquilo.
Vendo meu esforço para me mexer, o barão colocou as mãos em meu corpo.
Barão - Não se mexa, Arthur. Já chamei pelo resgate e eles não tardão a chegar.
Meu rosto estava encharcado de suor, sangue e lágrimas.
Barão - como você faz uma loucura dessas? Você é um imbecil? Não sabe andar de bicicleta, para que inventa?
Vendo que eu não respondia nada, barão continuava.
Barão - Você tem cabeça pra que? Só sabe fazer merda?
Meus olhos começavam a fechar. Aquela dor já estava mudando de estagio, e agora estava me deixando anestesiado.
Barão - hey, abra os olhos. (Disse ele dando leves tapas em meu rosto).
Eu não obedecia o barão. Aquela sensação de cansaço era mais forte.
barão - não durma. Não durma. (disse ele balançando todo o meu corpo).
Barão - Damião. (gritou ele).
- Senhor patrão?. (respondeu um homem la da rua).
Barão - nem sinal de ambulância?
- Não senhor.(respondeu o homem).
Barão - desça aqui, e me ajude a subir com ele. Vamos leva-lo a um hospital.
O homem prontamente atendeu, e quando eu menos esperei, ele já estava a meu lado.
- Como faremos patrão? (perguntou o homem).
Barão - pegue pelos braços, e eu pegarei pelas pernas dele.
Os dois se posicionaram e o barão deu o comando, sem sequer pedir minha opinião.
Barão - no tres levantamos ele juntos, ok?
- ok patrão, ok.
Barão - um, dois, três.
Os dois me levantaram ao mesmo tempo, mas em um ritmo muito diferente. Ao sair do chão, minhas dores aumentaram.
Meus gritos voltaram a ecoar.
Barão - aguente firme. (Dizia ele).
Assim que chegamos a estrada a ambulância também chegou.
Barão - só podem estar brincando com minha cara.
Os paramédicos saíram do carro em alta velocidade.
Barão - Isso são horas de aparecer? O rapaz poderia ter morrido com essa demora toda.
Os homens responderam as afrontas do barão, e prestaram os primeiros atendimentos, imobilizaram-me em uma maca, e depois me levaram até os fundos da ambulância.
Quando estava dentro do carro, consegui ouvir que o barão ainda discutia, mas não conseguia entender o que era.
- O senhor pode acompanha-lo se quiser. (disse um dos paramédicos).
Barão - eu? Ir aí dentro? (perguntou o barão).
Aquilo era muito para ele. (era o que eu imaginava).
Pouco tempo depois, ouvi as portas sendo fechadas, e vi um homem com uma roupa toda azul dando umas pancadas na traseira da ambulância. Aquilo era o sinal que indicava que o motorista já podia seguir destino ao hospital.
Senti a ambulância se movimentando, e as sirenes sendo ligadas. Minhas lágrimas continuavam caindo, mas dessa vez era de desespero por estar em um ambiente daqueles.
Os paramédicos realizaram alguns procedimentos, e do nada senti alguém segurando minha mão esquerda. Meus olhos seguiram até localizar a pessoa que havia tido aquela atitude, e para minha surpresa ali estava o barão. Ele segurava firmemente minha mão, e olhava fixo em meus olhos.
- Você já fez muito por mim... Agora é minha vez. (foi o que eu consegui entender fazendo uma leitura labial do que o Barão falava).
Eu apenas confirmei com a cabeça.
Continua...
P.s Raquel, o conto do ''Filho do patrão'' eu irei finalizar ainda essa semana.