Cap.3
TRILHA SONORA: STAIRWAY TO HEAVEN – LED ZEPPELIN
Obviamente eu falei aquilo no impulso. Só depois eu vim perceber o que falei, e simplesmente me tremi de medo. Em uma fração de segundos, fiquei com medo de perder o amigo, dele ser incompreensivo, contar para todo mundo e eu pagar como se fosse um assassino sem ser. Ele me olhou, olhou para o chão, pareceu pensar durante alguns segundos.
-Eu não me importo com isso William... - foi a minha vez de arregalar os olhos
-Não ?!
-Óbvio que não... Depois de 15 anos de amizade você ainda não percebeu que eu não tenho preconceito...
-É que... Você sabe como é... As pessoas não costumam aceitar esse tipo de coisa e... Eu não quero perder a sua amizade... - falei, me sentando na beira da cama.
-Não fique assim, tá bom – falou ele, me abraçando por trás na cama – você nunca vai ver uma reação ruim a respeito disso de mim, ok ?
-Ok... - sorri. Ele realmente era um irmão que eu nunca tive. Isso era bom. Mas também era ruim...
DIAS ATUAIS
E o tempo passou. Quando passamos no vestibular para estudar em São Paulo, nos mudamos. E para cortar gastos, já que éramos muito amigos, morávamos no mesmo apartamento e dormíamos no mesmo quarto.
-Está animado ? - ele perguntava, assim que chegamos no novo apartamento.
-Animado para quê ?
-Para organizar isso aqui e para estudar...
-Mais do que nunca... - eu dizia, sorrindo.
O tempo passou. Nos habituamos a rotina de morar juntos. Estudávamos na mesma universidade, então nos víamos sempre. E para cortar gastos novamente, compramos apenas um carro, que dividiamos sempre que precisavamos. Não havia impecilhos para trazer alguém em casa, tanto da minha parte, tanto da dele. Não que eu ficasse feliz em ver ele trazendo alguém para casa, mas o que eu podia fazer ? Dizer que não e correr o risco de me indispor com ele ? Melhor não.
-Wil ?
-Tô aqui no quarto – dizia, enquanto fazia um trabalho no computador.
-Vem vá conhecer uma moça que eu conheci.
-Ah, uma moça... - fechei o notebook para ele entrar em stand-by. Me levantei e fui em direção a sala, e lá estava uma moça de vestido curto, bem maquiada. Ela era bem bonita, mas de cara eu não fui com a cara dela. E não era simplesmente um ciuminho. Algo me dizia que aquela garota não prestava.
-Essa é a Beatriz – meu santo não bateu com o dela.
TEMPO DEPOIS
Como eu também não era de ferro, de vez em quando eu ficava com alguns rapazes que tentavam.
-Vamos sair comigo William – um homem chamado Jefferson me perturbava no elevador.
-Sair pra onde Jeff ?
-Não sei, cinema, jantar, sei lá... Só quero sair com você. Vamos, vamos ! - ria
-Tá bom, vamos...
E como sempre acontecia, eu não ficava muito animado. Ficava com os homens apenas para matar o tédio, ou a carência.
-Você tem que ver o Atlas que eu comprei...
-Tem de tudo ? - perguntava, enquanto bebia um suco no restaurante.
-Tem... O corpo quase inteiro... - ele falava várias coisas, mas como sempre acabava que eu não prestava atenção. Meu pensamento acabava voltando para o Raul... Me perguntava se ele já tinha jantando, como ele estava, se estava feliz, se estava dormindo. Meu eu não me largava dele. Sempre voltava para ele – você tá me ouvindo ?
-Ah, tô. Tô sim... - ele riu.
-Tá pensando em quê ?
-Não, nada. Na prova de Anatomia dessa semana...
TEMPO DEPOIS
E naquele dia eu percebi algo. O Raul tinha ciúmes de mim.
-Tem certeza que eu posso entrar aqui ? - Jeff perguntava.
-Porquê não ? É a minha casa...
-Mas você não mora com aquele seu amigo ?
-Sim, mas isso não é impecilho – disse, fechando a porta assim que entramos. E então parti para cima dele. Ele não era feio, então não era difícil ficar com ele. E acabava que era legal. Mas não me satisfazia por completo.
-Não quer me apresentar o seu amigo Wil ? - parei de beijar ele meio que no susto. Era a voz do Raul.
-Ah Raul ! Claro... Não imaginava que você estivesse aqui – Jeff ficou branco como o papel.
-Quem é ele ?
-É o Jefferson. Ele faz Farmácia...
-Ah sim, lembro de ter visto ele pela faculdade. Vem aqui rapidinho que eu queria te mostrar algo...
-Claro... Eu já volto... - falei, vendo Jeff se recuperar do susto. Quando entrei dentro do quarto, ele falou perto de mim.
-Porquê você não me disse que estava ficando com alguém ?
Continua
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