Olá gente, voltei aqui para dar continuidade ao meu conto de como me transformei em fêmea. Recomendo lerem as primeiras duas partes para melhor compreensão.
Acordei cedo no dia seguinte, com sol entrando pela janela do meu quarto. Ainda meio atordoado pelo sono, lembranças do dia anterior estavam confusas em minha cabeça. Tudo aquilo foi real ou não passava de um sonho?
Esfreguei meus olhos e olhei para o meu corpo, notando que estava usando a camisolinha branca. Era real. Sorri alegremente, e me espreguicei na cama. Havia passado minha primeira noite como menina e tinha adorado. Fiquei me admirando por um momento no espelho do guarda roupas. Aquela camisola realmente ficava boa em mim. Meu corpo era pequeno, delicado e com pequenas curvas, o que vestia bem aquela peça de roupa feminina. Na época eu estava com 12 anos, minha altura era em torno de 1 metro e 58, e meu peso não passava dos 50kg. Devido ao sedentarismo os músculos no corpo mal apareciam. Qualquer resquício de masculinidade era inexistente em mim. Além disso, possuía uma cintura fina, algo que sempre gostei em mim. Fiquei observando meu cabelo, fazia um certo tempo desde que não o cortava, e ele já estava ficando um tanto grande. Um pouco acima dos ombros. Pensei que se eu fizesse um penteado diferente, conseguiria deixá-lo mais feminino.
Saí do meu quarto de camisola mesmo, já sabia que minha mãe não estava mais em casa; ela sempre saía antes das sete horas para o trabalho. Adorei a sensação de andar pela casa somente de camisola. Por dentro, já estava começando a ficar triste, visto que não poderia mais fazer isso quando minhas irmãs voltassem da viagem. Me dirigi a geladeira para preparar o meu café da manhã, quando encontro um bilhete de minha mãe fixado a porta por um imã.
- "Querido filho, preciso que você vá no mercado hoje e compre algumas coisas que estão faltando aqui em casa. Conto com você, ok? O dinheiro está em baixo do pote. Beijos e até de noite. Vamos pedir um pizza hoje, o quê você acha?"
A seguir, ela colocou uma lista dos itens que eu precisava comprar.
- Aii não que saco... - Eu teria menos tempo para me vestir com minhas adoradas roupinhas hoje.
Foi o que pensei no momento. Mas tudo bem, seria apenas por uma hora, talvez menos pensei comigo. Afinal, eu devia essa a minha mãe. Ela se esforçava sempre para colocar comida na mesa e nos prover tudo o que necessitávamos. Não podia deixar ela na mão.
Depois de ter comido meu café da manhã, fui tomar um banho e me preparar para ir ao mercado. Ensaboando meu corpo tive uma ideia. Levado pelo tesão do momento, achei que seria oportunidade perfeita de na rua vestido como garotinha. Não, pensei comigo. Isso era muito arriscado. Se alguém me visse? E se eu encontrasse algum parente, ou pior, alguem da minha escola?
Desde que eu havia trocado de escola, não consegui fazer nenhuma amizade. Nao bastasse isso, todo dia eu era implicado. Não por todos, mais especificamente por um grupinho de quatro meninos da minha sala. Dentre eles, destacava-se o seu líder, Rodrigo. Apesar de estarmos na sétima série, ele era repetente por dois anos, ou seja, já estava com 15 anos. Como tal, seu corpo era muito mais desenvolvido do que a media da sala, e ainda mais ao meu. Nossos corpos eram opostos, um contraste. Ele, lutador de jiu jitsu, todo definido e encorpado. E eu, bem...
Só de olhar para Rodrigo já me dava medo. Ele era o tipo de cara capaz de provocar arrepios na espinha. Para completar ele era alto. Já devia estar próximo de 1,85m. E claro, atraía o olhar, e chamava a atenção de todas as garotas da sala. Deve ser por isso que não tentei fazer amizade com elas nessa escola. Afinal, elas admiravam e eram apaixonadas pelo cara que mais zombava comigo.
O grupinho começou a me importunar com simples ofensas, quando eu chegava na escola:
- Ih, olha lá, chegou o viadinho.
Ou:
- Olha lá o frangote.
Ou pior ainda, o que eu menos gostava:
- Chegou a nossa sardentinha. - Devido a algumas sardas que eu tinha em meu rosto.
Eu abaixava a cabeça e tentava ignorar esses comentários, pois no fundo sabia que essa era a melhor opção que eu tinha. Afinal, não havia a remota possibilidade de brigar, ou encarar, aquela gangue. Gradativamente eles foram aumentando aquilo que faziam comigo.
O que era algo ate então 'inofensivo' a mim, começou a tomar outros rumos. O ponto de partida disso tudo foi em uma ocasião, depois da aula de educação física, em que éramos obrigados a tomar banho no próprio ginásio. Para minha sorte, os chuveiros eram todos separados com portas, ou seja, ninguém se via lá dentro. Minha técnica era enrolar ao máximo para entrar no banheiro, e tomar banho justamente quando o banheiro estava vazio, assim não teria perigo algum para mim. Porém naquele dia em especifico, Rodrigo e sua gangue estavam la dentro, a minha espera.
- Ora, ora... Mas se não é a nossa sardentinha. - Disse o líder Rodrigo à mim. Odiava esse apelido. Me fez odiar as sardas que possuía em meu rosto.
Fiquei estático. Pensei que eles já haviam saído. Sem muita opção, engoli em seco e com o coração acelerado olhei para eles.
- Não precisa ficar tímida não, a gente não morte - Falou o Caio, um moreno ao lado do Rodrigo. Apesar dele ser menor e não tão forte quanto Rodrigo, ainda sim ele era ao menos o dobro de mim. Os outros riram do seu comentário. Estavam me tratando apenas no feminino.
Rodrigo se aproximou de mim. Achei que eles iriam me bater naquele momento. Como mencionei no conto anterior, eu era muito inocente, não sabia a respeito de sexo, e não imaginava que aqueles garotos tinham, na verdade, outras intenções comigo.
- Você tem um corpo muito gostoso você sabia, sardenta? - Disse isso para mim enquanto me analisava, dando uma volta ao redor de mim.
- Tá mais gostosa que a minha irmã. - Depois de falar isso, me deu um tapa com força na bunda, o que me fez cair no chão.
Os outros, observando a cena, apenas riam e faziam outros comentários maldosos.
- Você sabia que ainda vai dar muito pra mim, né? - Falou aquilo me olhando com firmeza nos olhos. Meu coração estava saindo pela boca. Na hora não sabia o que aquilo significava, mas senti um medo indescritível. Aquele menino me olhava de um modo, tal como um animal feroz encara sua presa. Me senti indefeso.
Eu estava ferrado, e sabia disso. Ele foi se aproximando ainda mais de mim. Senti a sua respiração forte no meu cangote, senti suas maos entrelaçando em minha cintura. Eu precisava fugir. Olhei para a porta, porem estava muito longe. Além disso, estava resguardada pelos três amigos de Rodrigo. Naquele momento tive a certeza de que eles fariam o que bem entendessem ali dentro comigo. Foi quando escutei uma voz vindo do lado de fora do banheiro:
- O que está acontecendo aqui? - Soou uma voz adulta. Estava salvo. Reconheci a voz de Mauro, nosso professor de educação física. Eles se olharam entre eles com cara de surpresa, e foram saindo.
- A gente se ve por ai então, Vitor. - Disse Rodrigo. Notei o tom frustração misturado com raiva em sua voz.
- Tudo bem Vítor? Eles te machucaram? - Ele me perguntou com um olhar meio sério.
- Tudo certo professor, só estávamos conversando umas coisas da próxima aula - Menti.
- Certo então, se é só isso, tudo bem. Qualquer coisa pode falar comigo ,Vítor. Se estiverem implicando com você quero que me comunique que nós tomamos as providências necessárias. Sabemos que esse Rodrigo, e essa ganguezinha dele estao sempre aprontando alguma por ai.
- Ok… - O jeito que ele falava comigo me passava segurança.
Ele ficou me olhando por um tempo, então disse:
- Melhor você se apressar no banho que a sua próxima aula já deve estar começando.
Felizmente não aconteceu outra situação assim até o fim desse primeiro semestre. Me tornei mestre em escapar deles e me manter seguro. Tentava sempre ficar em lugares com algum adulto da escola por perto, ou em alguns ‘esconderijos’ que fui encontrando nos momentos de intervalo.
De volta ao presente, eu me encontrava no banheiro do meu quarto. Ja tinha me secado e ainda pensava se eu realmente teria a coragem necessária de levar esse meu novo plano para frente. Seria a situação mais arriscada que eu enfrentaria, mas ao mesmo tempo, sabia que outra chance assim raramente apareceria para mim novamente. Eu já estava ficando bom em me arrumar, e me maquiar. Me olhando no espelho, no dia de ontem, facilmente passaria por menina para outras pessoas. Mas, levar isso para frente, e realmente sair na rua assim era outra história...
Fui ate o quarto das minhas irmãs, apenas com a toalha enrolada em meu corpo. Abri aquele guarda roupa, algo que estava se tornando parte da minha rotina. Se eu queria sair como menina, teria que caprichar dessa vez. Não havia espaço para erros, qualquer deslize e o meu 'disfarce' estaria arruinado. Além disso, tinha que tomar extremo cuidado para não encontrar nenhum conhecido, e, caso isso acontecesse, precisaria estar irreconhecível. O medo ia tomando conta de mim. Meu coração se acelerava. A motivação de que dificilmente teria outra oportunidade como essa era o que me levava para frente. Eu precisava fazer isso.
Peguei um sutiã branco, básico, porém com enchimento. Já estava conseguindo colocar com certa facilidade, o que para mim era maravilhoso. Já estava ficando natural esse ritual feminino. Depois disso, escolhi uma calcinha azul ciano, com rendinhas do lado, uma de minhas favoritas. Me olhei no espelho e fiquei me lembrando as palavras que Rodrigo havia falado para mim naquela ocasião…
"Você tem o corpo bem gostoso, você sabia"; Sua voz grave ecoava na minha cabeça, "Tá mais gostosa que a minha irmã". Meu pênis dava sinal de vida debaixo da calcinha. Realmente, eu possuía um corpo bonito. E quem sabe até competisse com algumas garotas da minha sala, mas ouvir isso de algum menino, ainda mais do Rodrigo, era algo diferente, estranho...
Não sabia o que sentir, mas de certa forma aquilo mexia com algo dentro de mim. Me deitei na cama e fiquei pensando naquele garoto. Rodrigo. Ele era tão alto e forte, sempre com um sorriso sacana no rosto. Seus ombros eram largos, e os seus músculos do braço sempre ficavam realçados na camiseta. Começava a entender porque as meninas gostavam tanto dele, ele era o que nós podíamos chamar de macho. Não bastasse isso, era um líder, era autoritario. Tinha status e poder na escola. Ninguém mexia com ele. Quando passava pelos corredores, todos os garotos abaixavam a cabeça, com medo de acabar sobrando para algum deles. Era lutador de jiu jitsu experiente, e já havia levado ate suspensão por ter quebrado o braço de um outro garoto da escola.
Comecei a pegar no meu órgão por cima da calcinha. Ele já estava muito enrijecido e pulsava forte em minhas mãos. Pensava em Rodrigo, seus musculos perfeitos, seu sorriso, aquele tapa forte que ele havia dado na minha bunda no banheiro... Instintivamente comecei a me masturbar, e com a outra mão acariciava a minha bundinha, dando leves tapas, simulando os de Rodrigo...
- Aiinn... Rodrigo... - Deixei escapar um gemido, me contorcendo na cama.
Suas palavras ecoavam na minha cabeça "Você tá mais gostosa que a minha irmã"
Eu estava fora de mim. O que eu estava fazendo? Por quê estava pensando naquele garoto nesse momento? Eu o odiava, passava por maus bocados na escola por causa dele, mas por quê então...
Comecei a imaginar ele respirando no meu cangote, suas mãos passando pelo meu corpo, despindo minha camiseta... Como se imaginasse a continuaçao do que ele faria comigo, caso o professor não tivesse entrado naquele momento para parar com tudo. Aquilo não estava certo. Não com o Rodrigo. Não conseguia acreditar no que eu estava fazendo. Fiquei imaginando como ele deveria ser por debaixo da camiseta, sua barriga de tanquinho perfeito. Seus musculos fortes, comecei a pensar mais embaixo, como seria seu penis, com certeza muito maior do que o meu. Mais masculo e grosso. Fiquei pensando como deveria colocar minhas proprias maos no penis de Rodrigo, acariciar aquele orgao, colocar minha lingua de leve, sentindo o seu sabor... Quando me dei por mim, senti aquela sensação que já estava ficando familiarizando. Meu orgão se contraía e soltava vários jatos na minha barriga, senti meu cuzinho piscando. Havia me masturbado pensando em Rodrigo.
Enquanto me limpava no banheiro, fiquei pensando nisso me batendo um leve arrependimento. Tentei tirar aquilo da cabeça.
Precisava esquecer disso e continuar. Deixei a calcinha que estava usando em cima da cama, afinal estava toda suja agora. Fui até a gaveta e apanhei dessa vez uma verde limão. Peguei no armário uma saia preta com umas estrelinhas, bem feminina. Vesti, juntamente com uma meia calça branca. Coloquei uma blusa, e por cima um moletom lilás. Me olhei no espelho, tinha ficado bom. Só faltava a maquiagem agora. Respirei fundo e apliquei uma maquiagem leve, porém que me desse uma aparência mais feminina. Finalizei com um batom vermelho, porém não muito forte. Voltei novamente ao espelho, ajeitei o meu cabelo de uma forma mais feminina, fazendo uma franjinha. Ainda precisava de um toque a mais. Me lembrei que as meninas gostam de colocar acessórios no cabelo. Procurei e achei algumas presilhas das minhas irmãs, optei por pegar uma branca, que combinaria com a minha roupa.
Estava perfeito, ou melhor, perfeita. Afinal, era uma menina agora. Certamente conseguiria enganar as outras pessoas. Refletida no espelho agora, me encarava uma linda menina. Dei um sorriso. Estava pronta.
Peguei a lista de compras da geladeira, e o dinheiro que minha mãe havia colocado debaixo do vaso. Sentia meu coração novamente dando sinal de vida, dessa vez ainda mais acelerado. Meu corpo parecia que estava entrando em transe, sentia uma euforia e também um medo, era agora ou nunca. Havia me dedicado tanto e o momento havia chegado. Respirei fundo e saí de casa.
Ouvia o barulho dos pássaros e das construções próximas da minha casa. Sentia o vento batendo em minhas pernas e por baixo da saia. Felizmente não me encontrei com nenhum dos vizinhos enquanto eu estava saindo de casa. Ouvia o barulho dos meus passos, tentando andar de uma forma mais feminina e graciosa. Não tinha espaço para erros, pensei comigo. Agora eu sou uma menina, preciso agir como tal.
Quando cheguei em uma rua movimentada pensei que estaria tudo arruinado. Iriam me descobrir. Eu seria ridicularizado. Pensei em manchetes no jornal “Extra, extra, menino estranho sai de casa com roupas da irma”. Me imaginei encontrando com algum parente e pensava na expressao de nojo em seus rostos. Porem nada disso aconteceu. Por incrível que pareça ninguém pareceu notar. Ninguem nem ao menos se importava, passavam por mim e se dirigiam aonde quer que estivessem indo. Comecei a notar que eu recebia o olhar de alguns garotos, mas não eram olhar de desgosto ou desconfiança e sim de desejo. Fiquei um tempo parado, olhando o meu reflexo na vitrine de uma loja, realmente eu estava parecendo uma garota, não tinha o que temer.
- Se interessou por algo, mocinha. Se quiser temos mais opçoes la dentro, ok? - Ouvi uma voz suave de uma adolescente ao meu lado. Percebi que eu havia passado tempo demais na frente daquela vitrine, e ela deve ter pensado que eu estava olhando para as roupas. Provavelmente era uma vendedora. E.. Espera ai, mocinha? Ela não percebeu que eu era na verdade um garoto?
Olhei para o lado e vi uma sorridente adolescente loira me olhando, ela usava óculos e estava vestindo um uniforme que supus ser da loja. Me vi numa situaçao arriscada, afinal, apesar de ter treinado me vestir e me portar como uma garota em casa, não havia treinado a minha voz. Como pude me descuidar assim? Estava tudo acabado. Senti minhas maos começarem a suar, e o meu coraçao acelerar...
Ela ainda me olhava com seus olhos verdes penetrantes. Diferentemente de Rodrigo, tinha um olhar que passava tranquilidade. Senti segurança com ela. Entao, ela me pegou pela mao e me disse:
- Vem comigo gatinha, voce precisa ao menos ver a nova coleçao.
Engoli em seco e a acompanhei. Ela não parecia ser aquele tipo de vendedora inconveniente. A partir de sua aparência julguei que teria em torno de 16 anos, não mais que isso. Talvez fosse a filha dos donos da loja, pensei comigo. Porem, eu sabia que não poderia ficar calado o tempo todo. Precisava falar ao menos algo, se não ela me acharia estranho, ou melhor estranha. O pior era não ter onde praticar, teria que fazer isso pela primeira vez com ela.
Dentro da loja, senti um cheiro suave e doce de perfume. Normalmente nessas lojas de produtos femininos eles colocavam esse tipo de perfume. O que eu achava legal, era como entrar num mundo completamente diferente. Privado a nos garotos. Ela se apresentou, se chamava Larissa, disse que estava ajudando os pais na loja, agora nas ferias para conseguir uma graninha extra. Logo após perguntou o meu. E agora? Nao havia pensando em um nome para mim. Sem tempo para pensar direito escolhi um aleatório
- Mariana… - Disse numa voz suave, e ate um pouco baixa demais. Tentei soar mais femininamente possível.
Ela deu um sorriso.
- Bonito nome, Mari. - Posso te chamar assim? - Perguntou ela, ainda sorridente. Tinha algo diferente em seu olhar, fiquei imaginando se ela não havia desconfiado de algo, ou se era assim que as garotas se olhavam uma para as outras. - Voce pode me chamar de Lari, prefiro asssim.
- Uhum… - Disse balançando a cabeça, e olhando para o chao. - Certo.
Ela entao comecou a me mostrar a nova colecao da loja. Me informando tudo sobre as influencias da colecao, combinacoes que poderiam ser feitas com as peças e coisas do tipo. Me mostrava tudo e me explicava detalhadamente, saias, vestidos, sapatos. Notei que ela gostava e entendia muito mesmo sobre moda. Confesso que fiquei um pouco zonzo com tudo aquilo, era informaçao demais que eu conseguiria guardar em tao pouco tempo. Apesar disso ela parecia ser uma garota muito legal, era bem humorada e conseguiu me deixar bem a vontade. Por insistência dela acabei provando algumas das peças.
- Prova vaaaai? Mesmo que não for comprar eu quero muito ver como voce vai ficar nessas peças.
Eu saia do trocador para ela dar uma olhada em como havia ficado, em cada peça que ela me dava.
- Nossa amigaaa, arrasou nessa saia.
- Uauuu, voce ficou outra com esse vestido.
Eu apenas sorria, timidamente a tudo aquilo. Nunca havia feito nada assim, mas me lembrei da época em que eu saia com as minhas irmãs quando mais novo. Nunca havia de fato vestido aquelas roupas, eram minhas irmãs que ficavam nessa posição. Mas era realmente algo muito divertido, começava a entender porque as mulheres gostam tanto de fazer compras. Fiquei pensando como seria legal ter uma amiga que nem a Larissa para sair e fazer compras desse jeito. Me bateu uma ponta de tristeza, pois sabia que isso nunca aconteceria. Afinal, ao termino dessa semana eu voltaria a ser o que de fato eu era, ou seja, um garoto.
Envolto por aquele mundo, acabei esquecendo o que de fato eu havia saido de casa para fazer. Havia esquecido completamente que eu tinha que fazer as compras da minha mae. Depois de ter experimentado o que julguei ser a vigésima peça de roupa, juntei coragem e falei com a vendedora. Tentando soar o mais feminino que consegui.
- Hmmm, Lari. Preciso ir agora, fazer compras no mercado para minha mae.
- Ahhh, mas já? Nem deu tempo de provar aquele vestido que eu estava falando… Bom, tudo bem entao, outro dia a gente pode ver isso. Se tiver gostado de alguma voce me diz que eu reservo para voce e outra hora voce passa e pega ok? - Disse isso meio a um sorriso. Ela tinha um sorriso natural muito bonito.
- Uhum… Disse isso, e apontei pra uma saia que eu havia achado linda. Uma preta com uns desenhos de morceguinhos.
- Ah, voce gostou dessa? Eu sabia. E a sua cara, bom vou deixar ela reservada pra voce, quando puder passe aqui na loja, vou fazer um descontinho agora que somos amigas t´a?
- Esbocei um sorriso timido.
- Voce devia sorrir mais, Mari. Voce e linda.
Devo ter ficado totalmente vermelho na hora, pois notei um calor em todo o meu rosto.
- Aqui, tive uma ideia. - Disse isso pegando um cartao da loja. - Gostei de voce, Mari. Vou anotar o meu msn aqui atras, me adiciona pra gente conversar mais. Vamos ser amigas.
Ela me estendeu o seu cartão contendo o email dela. Fiquei pensando que muitos meninos da minha sala teriam inveja de mim naquele momento.
- Obrigada. - Disse sem saber se eu agradecia.
Ela se aproximou de mim e me deu um abraço.
- Fofa. Volta viu, vou ficar triste se voce não aparecer mais, e nem pense em jogar fora o cartao sem me adicionar.
Me despedi dela, e segui em direçao ao mercado. Nem acreditava no que tinha acontecido. Eu havia feito uma amiga. Ou quase isso, afinal pouco tinha falado com ela. Mas o melhor de tudo foi não ter sido reconhecido, ate mesmo uma menina como ela não havia reparado que eu era um garoto. Quem sabe era o inicio de uma amizade. Varias duvidas começaram a rondar a minha cabeça. Eu realmente iria levar isso adiante sabendo que na proxima semana não poderia me vestir mais desse jeito? Eu voltaria para comprar aquela roupa? E se ela descobrisse a verdade sobre mim? Eram tantas duvidas que achei melhor esquecer disso por enquanto e fazer as compras logo, afinal já estava ficando perto da hora do almoço, e não iria demorar para o comercio local ficar cheio de gente.
Chegando no mercado peguei uma cestinha e fui apanhando, item por item, as coisas que minha mae havia colocado. Ja estava quase no fim. Ainda estava sem acreditar no que tinha acontecido, eu havia passado todo o percurso de casa ate o mercado sem levantar suspeitas de ninguem, havia entrado numa loja feminina, experimentado varias roupas diferentes. Feito quem sabe minha primeira amiga, e já estava voltando pra casa sem nenhum imprevisto. Nenhum parente, nenhum conhecido, nada. Tudo o que eu tinha pensado em casa que poderia acontecer, não havia de fato acontecido. Eu estava me sentindo muito feliz por dentro. Depois de ter pego o ultimo item da lista, fui ao caixa logo para pagar. Me sentia exausto, so pensava em chegar logo em casa, colocar minha camisola e relaxar um pouco. Sentia meus pes começarem a doer um pouco. Calçados femininos não são muito confortáveis, pensei comigo.
A fila do caixa não estava tao cheia, so uma senhora com poucas compras. Esperei pacientemente minha vez. Quando a idosa pagou e se retirou do mercado, comecei a colocar distraidamente meus produtos da esteira. Quando terminei, passei a olhar as revistas da gondola, enquanto o caixa passava as minhas compras.
- Por hoje, so isso? - Ouvi a voz do caixa, por algum motivo aquela voz me era familiar.
Olhei para o caixa e entrei em choque. Ninguem menos do que Rodrigo, me encarava com aquele mesmo olhar penetrante que eu já conhecia. Estava tudo arruinado, pensei comigo. Senti meu coraçao bater freneticamente no meu peito. Respirei fundo e pensei em quantas pessoas haviam me visto hoje e não haviam reparado, eu me passava por menina tranquiliamente. Eu precisava me acalmar, não podia deixar o medo tomar conta de mim.
Tremendo um pouco respondi, de forma feminina, assim como havia feito com Lari.
- Sim, so isso.
Notei ele me olhando por um tempo
- Sao 48,80. E no cartao?
Teria de falar de novo, me concentrei e suavemente disse:
- Dinheiro mesmo. - Entregando a nota de cinquenta reais.
- Ok, agradecemos a preferencia. - Disse ele num tom monotono.
Notei que de novo eu suava pelas maos. Sera que ele havia notado que era eu? Seria o meu fim, eu sabia que ele não seria mais o mesmo comigo na escola se tivesse percebido. Imaginei ele contando para todos da sala, e essa noticia indo parar na direçao. Imaginei eles chamando minha mae na escola para explicar sobre esse ocorrido. Fiquei tentando imaginar o olhar de decepçao na cara da minha mae ao descobrir sobre esse incidente. Depois de tudo que ela havia feito por nos, era assim que eu retribuia. Fiquei pensando em minhas irmas, ao voltarem da viagem, descobrindo que seu guarda roupa havia sido atacado pelo irmao caçula. Imaginava a cara de nojo e repulsa delas comigo. Era o meu fim. Eu não devia ter feito isso, era uma ideia idiota desde o começo. Me deixei levar por algo assim, eu deveria sofrer as consequencias agora.
Todos esses pensamentos passaram como um flash na minha cabeça, peguei minhas compras decidido em sair logo dali, enquanto ele não havia notado.
- Deseja mais alguma coisa? - Se dirigiu a mim na mesma voz monotona.
Apenas balancei a cabeça. Saindo aos poucos com as minhas compras.
Olhei para tras, notei que ele estava lendo uma historia em quadrinhos. Ele não percebeu pensei comigo. Consegui ate mesmo enganar o Rodrigo. Sentia o peso saindo de cima dos meus ombros. Nao estava acreditando naquilo. Minhas maos ja não suavam mais, notei meus batimentos irem aos poucos diminuindo. Eu estava salvo.
Quando sai do mercado, tive a vontade de dancar, tudo havia corrido bem. Nao precisava mais temer nada. Agora so bastava eu chegar em casa e aproveitar o dia. Ja estava pensando em como eu passaria a tarde de hoje la em casa, em quais roupinhas novas eu iria experimentar, e coisas do tipo. Esperar minha mae chegar do trabalho para nos comermos pizza, quem sabe assistindo um filme. Iria lavar a louca depois, pensei comigo mesmo que eu iria ajudar mais nos trabalhos la de casa, minha mae merecia isso. Me senti leve, feliz, como nunca havia me sentido antes. Quando de repente ouço a voz grave de Rodrigo atras de mim.
- Esqueceu o troco, sardenta.
Eu estava arruinado.
Continua...