[Álvaro narrando]
Cheguei a São Paulo antes do previsto. Precisava fazer uma visita ao doutor César Villar, avô do Lucas. A história dos Villar é longa e complicada demais.
Um dos meus clientes, Otávio Corinje, certa vez contou-me sobre o estado de saúde do seu sócio. Na ocasião, ele disse que boa parte do que ele estava passando, se devia ao atrito que tinha com o único filho, que foi embora de São Paulo, pois o pai não aceitava o seu casamento com uma mulher pobre.
Ele falou que o doutor César nunca tinha conhecido o neto, e que estava morrendo e não teria para quem deixar o controle acionário da empresa, já que o filho se recusava a tomar posse do que é seu por direito.
Como quem não quer nada, continuei falando sobre essa história - não apenas faço programa, sou também "psicólogo" dos meus clientes - e vendo onde aquilo poderia dar. Sem querer, apenas pelo desenrolar da conversa, ele me fala os nomes do Alexandre e do Lucas.
Esse foi o motivo de ter voltado para Solar: a chance de juntar o Lucas e seu avô, para que eu possa ficar rico, se conseguir reconquistá-lo.
Fui para o meu apartamento, descansei um pouco, pois iria até a empresa do Villar.
[Lucas narrando]
- Sabia que eu estava me sentindo um lixo por ter feito o Ítalo sofrer? Aí resolvi ir até sua casa, mas ele não estava lá. Sem querer passei naquele barzinho da orla e o encontrei lá. Nós conversamos, fomos para casa dele e o resto você deve saber.
- Amigo, você é mesmo porreta. Eu queria ter essa sua determinação, pois você sempre vai em busca do seus objetivos. E, aos trancos e barrancos, na maioria da vezes, sempre consegue alcançá-los.
- Clarinha, você acredita que tem uma foto minha enorme no estúdio? Ele tem até um porta-retrato com a foto do nosso beijo de esquimó. Você até que se saiu uma excelente fotógrafa.
- Não precisa me elogiar, querido, pois eu sei que sou espetacular. Estou feliz por você, mas estou com tantos problemas.
- Ih! Se quiser desabafar, estou aqui.
- Você lembra que daqui a duas semanas tem o casamento da Ingrid?
- Aconteceram tantas coisas que acabei esquecendo. Sim, mas qual o problema disso?
- O problema é que nós seremos os padrinhos, mas eu estou sem grana alguma. Esse mês eu tive muitos imprevistos. Você sabe que a saúde da minha mãe não andou nada boa ultimamente.
- Amiga, você sabe que eu posso te ajudar. Eu te empresto uma grana, afinal, nós seremos padrinhos e precisamos estar impecáveis no altar.
- Acho que estou levando a sério o fato de usar shampoo liso extremo. Dinheiro que é bom...
- Amanhã nós iremos fazer compras. Você é mais do que uma amiga, é uma irmã - peguei na mão da Clarinha.
- Só você mesmo. E por falar nesse casamento, ela chega depois de amanhã. Iremos conhecer o noivo dela. Ela conseguiu fisgar um gringo. Sortuda ela!
- Então os dois estão aí e desdenhado dos namorados brasileiros que arrumaram - o Bruno falou chegando com o Ítalo.
- Se quiser, posso deixar você livre para arrumar um gringo, Lucas.
- Não começa, Ítalo, por favor. Que tal a gente ir dar uma volta na prainha? Se dermos sorte, podemos ir até a ilhota pela restinga. Vamos?
- Vocês vão, casal?
- Não posso. Estou cheia de pedidos para fazer. Eu sou a única que trabalho nessa pousada.
- Deixa só meu pai escutar isso, amiga.
- E então, vamos só nós dois?
- Eu que te chamei, Ítalo. Deixa só eu passar protetor solar e pegar meus óculos de sol.
[Álvaro narrando]
O edifício da empresa é imponente. Olhando de fora, acredito que têm mais de vinte andares. Como já havia combinado com o Otávio, ele seria o meu passe para chegar ao doutor Villar.
- Bom dia! Meu nome é Álvaro Fraga e tenho uma reunião com o doutor Otávio.
- Espere um momento, por gentileza - pediu a atendente. - Já verifiquei seu nome na agenda do doutor Corinje. Pode me emprestar o seu RG?
- Aqui está... - entreguei a ela.
- Vigésimo segundo andar, senhor. A secretária dele está a sua espera.
- Obrigado! Tenha um bom dia!
- Igualmente.
Entrei no elevador e apertei o botão do andar.
- Senhor Álvaro, certo?
- Sim, sou eu.
- Bom dia, senhor! O doutor Corinje o aguarda. Acompanhe-me, por favor.
- Claro.
A secretária bate na porta e recebe a ordem para entrar na sala.
- Doutor, o seu convidado acaba de chegar. Posso mandá-lo entrar?
- Por favor, Denise. Não deixe o senhor Fraga esperando.
- Por aqui, senhor... - ela falou dando-me passagem. - Precisa de alguma coisa? Água, café, suco?
- Estou bem, obrigado.
- Deixo-nos a sós. Se precisarmos de algo, eu te chamo.
- Com licença...
Otávio levantou-se e me beijou. Confesso que senti vontade de vomitar naquela sala, mas eu precisei me conter e fingir que gostei do beijo.
Otávio tem 65 anos. Ele é um homem casado, mas mantém casos com homens. Sua esposa e seus dois filhos nem imaginam sobre sua vida dupla.
- Estava morrendo de saudades sua, Álvaro. Você sabe que tenho um grande sentimento por você.
- Eu também estava com muitas saudades. Eu consegui encontrar o Alexandre e o Lucas.
- Onde eles estão?
- Estão morando em Solar ainda. São donos de uma pousada. O mais incrível é que já namorei o Lucas.
- Você não tinha me dito isso, por quê?
- Você poderia ficar com ciúmes. Hoje o Lucas namora um fotógrafo que chegou na cidade. Eu queria ter certeza de que eles realmente eram quem estávamos procurando. Quando poderei falar com o doutor Villar?
- Vou ligar para a sala dele. Mais tarde irei até seu apartamento. Estou precisando matar minha vontade de você, gostoso.
- Com certeza. Estarei a sua espera.
- Vou ligar para saber se ele está disponível.
O Otávio fez a ligação e constatou que o doutor Villar estava livre em sua sala.
- Vamos até a sala dele.
Subimos até o vigésimo quarto andar,o penúltimo andar do prédio, onde fica a sala da presidência da empresa.
- Preciso ver o César, Marina.
- Claro, doutor Corinje. Vou anunciá-lo.
Entramos na sala da presidência e pude ver de quem o Lucas puxou os seus traços mais fortes. Ele era bem parecido com o avô. Apesar de ter um jeito mais feminino, que herdou da sua mãe. Seu pai e seu avô são quase iguais.
- Então esse é o rapaz, Otávio?
- Sim, César, esse é o Álvaro Fraga. Acabei de descobrir que ele é ex-namorado do seu neto.
- Você já namorou com o Lucas?
- Sim, fui o primeiro namorado dele. Depois que acabamos eu vim para São Paulo em busca de uma vida melhor. Agradeço muito ao doutor Ótavio pela oportunidade de ser o seu assessor pessoal.
- Um excelente profissional, por sinal.
- Meu filho esteve comigo a uns dias atrás. Ele se recusa a assumir seu lugar na empresa e não me deixa ver o Lucas.
- Eu tenho uma foto dele. Aqui, ó... - entreguei meu celular a ele.
- Ele se parece muito comigo e com o Alexandre. Ele também lembra muito a Lígia. Me arrependo muito de ter sido contra o casamento do meu filho. Ele sumiu. Temi colocar algum detetive atrás deles, porque sabia que perderia ainda mais a chance de me reaproximar deles. Como fui insensível no passado. Eu estava muito ressentido com o Alexandre, mas minha doença me fez refletir bastante. Ele vem visitar-me algumas vezes. Você me levaria até eles?
- Sim, eu só preciso de um tempo para contar tudo ao Lucas. Será que o senhor me permitiria isso?
- Faça como quiser. Só peço que seja breve.
- Eu serei.
Continua...
Gente, mais um capítulo para vocês. Estou de férias e posso escrever tranquilamente agora. Acredito que escreverei dia sim, dia não.
Desculpem pelos erros. Espero que esse capítulo compense a demora. Comecei hoje a nova fase do conto. Ficará cada vez melhor. Em breve terá um assassinato misterioso. A dica é que será no casamento que acontecerá em breve. Beijos.
Meu email: thonny_noroes@hotmail.com