Cap.4
Olhei nos olhos dele, ele nos meus. Parecia atônito com a atitude que eu havia tomado.
-Vou... Por acaso acha que só você pode participar do Teatro ? - falou, pegando o papel de volta.
-Mas espera, como você sabe que eu vou estar no Teatro ? - ele mexeu os olhos, pensou, e respondeu.
-Eu vi o seu nome na lista...
-E como é que você sabe o meu nome ?
-Porquê estava na sua cadeira, bobão – olhei para ele com os olhos cerrados. Já vi que eu e ele teríamos alguns atritos.
-Ande, quero o dinheiro do meu sorvete, e não sairei daqui até você me dar.. - ele olhou nos meus olhos, sorriu, e então puxou a carteira. Logo me deu o dinheiro – obrigado ! E vê se olha por onde anda... - antes de sair de perto dele, dei uma bela olhada naqueles olhos. Como eram lindos ! E então sai da frente dele, e ele começou a andar. Porém não sem me olhar, me deixando envergonhado. A relação que eu obrigatoriamente teria com aquele garoto pelo resto do ano seria uma incógnita.
NARRADO POR FERNANDO
Amor para mim não existe. Nunca tive alguém que me amasse de verdade. Ninguém me ensinou a amar. Por isso, para mim, esses contos de fadas que algumas pessoas fantasiam, de um príncipe encantado vir, te encantar e você não parar mais de pensar nele, como se ele tivesse te acorrentado a ele, não existe.
FLASHBACK
Estava me recuperando de uma transa com um rapaz que há muito tempo eu ficava, e que nunca perdia a graça.
-Você se supera a cada vez ein ? - falava, respirando fundo.
-Tudo por você, lindão – dizia ele, com a cabeça no travesseiro.
-Só espero que você não esqueça do que nós combinamos antes disso começar. Nada de relacionamento, nada de paixão, nada dessas frescuras.
-Mas que coisa, tanto tempo desse jeito, não é possível que você não tenha sentido nada...
-Não, eu não senti nada !
-Então faça o favor de não me procurar mais !
FIM DO FLASHBACK
Sim, eu sou gay. E apesar de não acreditar e até ter uma aversão a essas coisas relacionadas a amor, as vezes eu namorava com alguns rapazes. Não por vontade própria, mas sim porquê o meu pai sabia que eu era homossexual, e queria me ver sempre com alguém. E para ter a vontade dele garantida, ameaçava retirar a minha mesada, e os meus cartões de crédito, e então eu namorava com alguns rapazes que eu via como bons.
-Mas porquê você quer tanto que eu namore com alguém ?
-Porquê você é jovem ! E é inconsequente ! Um rapaz de boa índole pode manter você na linha, é por isso que eu quero que você tenha um namorado !
Pais... Acho que eu nem deveria chamá-los assim... Só vivo com aqueles dois porquê eles me sustentam, porquê se não estava a quilômetros. Eles nunca ligaram para mim. Tiveram um filho e esqueceram ele na mão das empregadas.
FLASHBACK
Tinha uns 7 anos. Sempre gostei muito das artes, e eu gosto de desenhar. Fazia um desenho colorido e cheio de detalhes, representando a minha família, ou ao menos a família que eu queria ter.
-Olha mamãe, o desenho que eu fiz... Vê se não está bonito... - ela, como sempre no telefone, não me deu atenção – mãe, olha o meu desenho – falei, a cutucando. Logo ela retrucou, como se eu tivesse cometido um crime.
-Agora não Fernando ! Vá para o seu quarto ! - aquela foi mais uma das vezes que o meu emocional ia embora. Sai correndo para o quarto, e quando cheguei lá, rasguei o desenho em mil pedaços. Eu queria tanto ter uma família que me amasse de verdade, mas não. Eu não tinha. Tinha apenas 1 pessoa que tentou me mostrar o que era o amor de alguém.
-Porquê você fez isso Fernando ? - a governanta da nossa casa, Luana, entrou na porta.
-Porquê eu não tenho família, Luana ! Esse desenho é uma mentira !
-Quem disse isso ? É lógico que você tem uma família, querido ! - ela dizia, sentando ao meu lado.
-Meus pais não ligam para mim. Me dão milhões de jogos de videogame, milhões de brinquedos, mas o que eu mais quero, eles não me dão.
-Seus pais te amam Fernando... Acredite nisso – falou ela, reconstruindo o desenho com os diversos pedacinhos.
FIM DO FLASHBACK
É, mas eu nunca acreditei nisso. Eles me davam tudo, dinheiro de sobra, carro, casa, viagens, até a beleza que eu tenho hoje. Mas foram péssimos pais, como se não estivessem ali. Foi como se eu tivesse sido filho de um caixa eletrônico. Que só fez me sustentar. Mas não me educou, não foi pai, não me ensinou o que era uma família. E acho que por isso eles não se importaram quando eu disse que era gay. Ia para a escola apenas por obrigação mesmo. Porém, no primeiro dia, passei a ter ao menos um motivo para ir. Estava conversando com umas meninas, que eu tinha amizade
-Então lá é bonito mesmo ? - falávamos de um local que uma delas havia viajado, quando de repente senti um esbarrão - ei, você não olha por onde anda ? - de repente um rapaz se virou. E por algum motivo meu coração acelerou. Ele não era realmente o tipo de rapaz que eu estava acostumado a ficar, mas é incrivelmente bonito.
-Me desculpa... Foi... Foi sem querer... - falou, envergonhado e ligeiramente nervoso, de um jeito que quase me fez sorrir.
-Tome mais cuidado ! - falei, rispidamente, na tentativa de disfarçar. Ele não falou mais nada, apenas saiu andando, e me fez virar o rosto – eu quero esse garoto !
TEMPO DEPOIS
Entrei na sala de aula assim que bateu o sinal. Quando entrei, percebi que ele já estava lá, conversando com um rapaz que me trás muitas lembranças. Parecia que a sorte estava ao meu lado, já que no mapeamento da sala, o meu nome estava atrás de onde ele estava sentado.
-É, parece que você vai esbarrar em mim mais vezes – falei, bem perto dele, só para ver a reação. Ele não pareceu esboçar reação nenhuma. Tive certeza que a sorte estava do meu lado quando a professora selecionou eu e ele para ficarmos em dupla o resto do ano. Agora ele teria que ter contato comigo todo o ano obrigatoriamente, e com certeza teríamos que ir para a casa um do outro e nunca se sabe...
MINUTOS DEPOIS
No intervalo, eu queria falar com ele para saber como ele se chamava, porquê ele tinha tirado o nome da cadeira. Mas o Maicon não saia de perto dele um segundo. Fui seguindo eles, até que vi eles conversarem com a Bibliotecária. Quando eles sairam da Biblioteca, eu entrei.
-Nicole ? - ela tomou um susto que me fez rir quando eu a chamei.
-Porra Fernando, que merda ! O que você quer aqui ?
-Vim te atazanar...
-Mais do que já atazanou ? Diz logo o que tu quer...
-Você sabe o nome daquele garoto que estava junto do Maicon ?
-Sei, mas não vou dizer, só de raiva por você ter me assustado.
-Ah Nicole, diz logo vai...
-Não... E tire o olho de cima dele ouviu bem, ele não é pro seu bico. Ele tem cara de ser sério e descente, não vai ficar com um galinha e inconsequente feito você... - fiquei boquiaberto após ouvir aquilo.
-Ah, vai te lascar ! - falei, saindo com raiva da Biblioteca. Mas logo ela passou, quando eu vi ele dois dentro da sala de Teatro. Olhei por fora, e percebi que ele estava se inscrevendo. Era a minha chance. Assim que eles saíram, eu entrei.
-Vou querer participar do Teatro... - falei, só para ver o nome dele na lista
-Você Fernando ? Eu achava que eu seu forte era dormir – cerrei os olhos.
-Dormi na sua cama um dia desses e você não reclamou... - ele se calou – ande, me dê essa lista que eu estarei no Teatro esse ano. E farei de tudo para que nós dois façamos um casal em cena – o rapaz que controlava o Teatro era um gay enrustido, ou melhor, só ele se achava enrustido porquê todo mundo sabia. Olhei na lista, e o nome estava lá – André... - respirei fundo, e não entendi o porquê
Continua
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