Cap.5
NARRADO POR ANDRÉ
Depois daquela discussão, o dia acalmou-se. A aula logo passou, e logo era hora de ir embora. Sai com Maicon do meu lado.
-Pois é, se quiser eu dou uma carona para você...
-Ah não, minha mãe vem me buscar, mas obrigado...
-Por nada...
-E que história foi aquela de que você discutiu com alguém ?
-Quem te contou ?
-Toda a escola já está sabendo...
-Então essa escola gosta de fofocas...
-E como... Mas enfim, com quem foi ?
-Adivinha – ele pareceu pensar, mas logo se tocou.
-O Fernando ?
-Ele mesmo...
-Mas, porquê ?
-Ele derrubou um sorvete que eu vinha trazendo e nem se desculpou, na maior má educação.
-Ah, esse é o Fernando...
-Só espero que nas aulas de história ele tome tento, porquê eu não tenho paciência para garotos mal educados !
DIAS DEPOIS
As aulas iam passando, e a cada dia eu fui conhecendo mais pessoas, e me dando bem com todas elas. Me aproximava a cada dia de Maicon. A única pessoa que eu não me dava bem era, justamente o Fernando. O problema, é que ele me encantava cada dia mais com aquela beleza. Porquê tão bonito meu Deus ?
-Vamos lá queridos, formem as duplas – nossa “linda” professora falou...
-É, parece que a sorte conspira para nós ficarmos juntos, mesmo não querendo – falou ele, olhando para mim.
-Porquê você sempre usa a palavra “parece” nas suas frases ? É paixão ? Obsessão ? - ele me olhou naquela hora atentamente.
-Andaste reparando no que eu falo é ? Bom saber – falou, sorrindo... Que ódio de mim mesmo...
-Bem queridos, eu sei que ainda está muito no começo e alguns de vocês ainda estão se acostumando a escola, mas o tempo passa rápido. E é exatamente por isso que eu quero passar o primeiro trabalho de vocês – falou ela, sorrindo de forma idêntica a Anabelle.
-Maravilha – falei, ironicamente.
-O trabalho é até ligeiramente simples. Vocês vão para as casinhas dos senhores, fazer pesquisas, na internet, ou com as pessoas mais velhas da família dos senhores, e vão coletar tudo o que encontrarem sobre o Regime Militar. Colocar tudo no papel, como um trabalho de pesquisa, e me entregar. Não quero formalidades ok ? Só uma capa e uma contra capa está bom. Porém, quero essa pesquisa, quero fotos, e entrevistas – ele olhou para mim de uma forma estranha.
-Porquê está me olhando ?
-Não, por nada... Lembra-se que hoje é nossa primeira de Teatro, não ?
-Claro que lembro.
-O quê será que faremos lá ?
-Não sei... - falei, dando de ombros para o que os outros diziam.
-Porquê você sempre se afasta de mim ein ?
NARRADO POR FERNANDO
Fiquei puto com aquilo. Uma semana tentado me aproximar dele e ele não dava uma brecha que fosse...
-Primeiro, porquê você foi um grosso comigo nas duas únicas vezes que conversamos fora desta sala. Segundo... - ele ficou calado, me deixando curioso.
-Fizeram a sua cabeça contra mim... Bando de fofoqueiros...
-Nem precisa... A gente olha para você e nota-se que não é uma boa companhia...
-O quê ? - ele era o primeiro rapaz que dizia algo assim para mim. A maioria deles caia aos meus pés só de olhar para mim. Mas ele não... Ele era duro na queda... - escuta aqui... Eu ainda vou fazer você ser meu amigo. Me aguarde...
-Ha... Só se você mudasse muito ou algo dentro de mim enlouquece...
-Aguarde...
TEMPO DEPOIS
Fomos para a aula de teatro. Da nossa sala, eram apenas nós dois. Eu não sabia o que esperar. Em todos os outros anos eu havia ficado na aula de natação, e de repente troquei de aula. Agora nem mais sabia se havia sido uma boa ideia.
-Fernando, é verdade que você não vai estar mais com a gente esse semestre ? - o treinador de natação me perguntava, ao me encontrar na escada.
-É professor...
-Mas porquê ? Você sempre foi um bom nadador...
-Preferi tentar coisas novas esse semestre. Estarei na Escola de Teatro...
-Ah... Não sabia que você gostava...
-É, nem eu sabia... Mas enfim, vamos ver o que dar. Acho que vou gostar.
MINUTOS DEPOIS
O Teatro dava as suas aulas, no Teatro, obviamente. O Teatro era grande, tinha um espaço para mais de 2 mil pessoas e as peças de lá sempre foram bonitas. Parei para pensar, e tremi só de me imaginar me apresentando ali. No geral, seriam poucas pessoas participantes do Teatro. Umas 50, no máximo. A maioria das outras pessoas detestavam a exposição.
-Olha só quem veio para o Teatro este ano... - o garoto da inscrição logo veio atrás de mim.
-O que foi ? Ficou com saudade do que a gente fez aquele dia foi ? - ele ficou vermelho como pimenta.
-Eu não sou gay !
-Ahram, assim como o papa é brasileiro. Todos nós acreditamos... - eu nunca fui de ficar aguentando desaforo de ninguém. Não sei se isso é bom ou ruim. Via que André olhava para mim naquele momento. E quando viu que eu percebi disfarçou. Eu sorri. Fui andando até ele, e sentei ao lado dele.
-Vai ficar com essa perseguição até quando ?
-Até você me dar atenção... - vi uma olhada de canto de olhou na minha direção, mas nada falei.
-E ai pessoaldos professores de Teatro falou, entrando no palco – olha, vejo gente nova aqui.. É bom saber que esse ano o nosso Teatro será mais diversificado. Bem meus caros, acredito que todos já saibam que a prática do Teatro vale nota, portanto os senhores tem, obrigatoriamente de ter disciplina, comparecer nos horários em que marcamos para os ensaios, ou seja, tem que ter responsabilidade. Nós atuamos em conjunto com a Sala de Música, afinal, Teatro sem música não existe. Aqui ensinaremos a vocês muitas coisas. Desde como se comportar no palco, como encarnar diversos personagens, a conhecer suas feições e saber usar, a como impor a voz, e principalmente a perder a timidez. Afinal ator não pode ser tímido. Ele tem que exibir a imagem dele, caso contrário não tem futuro. Ah, outra coisa... Aqui dentro não existe preconceito, ok ? Portanto, os senhores terão que encenar personagens gays nas aulas, e se vestirão com roupas do sexo contrário. Aliás, esta vai ser a nossa primeira atividade – todos dizemos a mesma coisa.
-O quê ?
-Durante as próximas duas aulas, homem se veste de mulher e mulher de homem. Assim já acabamos com dois problemas, o do preconceito e o da timidez... - nos dois nos olhamos sem acreditar.
Continua
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