Cap.21
Ele veio até mim, me abraçou.
-Nossa, que estranho... - falou ele – você tem certeza que não receitou o remédio errado ?
-Absoluta ! É só eu olhar o meu bloco de receitas, eu receitei o remédio certo.
-Você não registrou no sistema ?
-Não, o sistema tava fora do ar no dia que eu receitei.
-Então ele deve ter tido uma crise mesmo. Deve ter sido isso.
-Só pode... - falei, o abraçando – toda vez que eu perco um paciente, me sinto um péssimo médico...
-Não se sinta assim... Você sabe o quanto a gente luta para salvar todo mundo que nos procura. O quanto as vezes a gente desafia o impossível. Mas as vezes não dá, o jeito é aceitar...
-Ao menos eu tenho você, para me consolar...
-E pode ter certeza que eu vou consolar direitinho – falou ele, beijando o meu pescoço de uma forma que me arrepiou.
-E o que você fez para o jantar... - perguntava eu, já prevendo que aquela noite ia ser longa.
TEMPO DEPOIS
Deitado nos braços dele, ouvia seus batimentos...
-Como será que tudo isso surgiu ?
-Tudo isso o quê ?
-O Universo... O Mundo... A vida... De fora parece ser tão simples, mas é tudo extremamente complexo. E tudo incrivelmente bem feito, bem planejado. Como isso tudo pode ter surgido.
-Eu não sei... E pelo jeito vai demorar muito tempo para o ser humano saber...
-É... Mas pelo menos uma coisa eu sei...
-O que ?
-Como o meu amor por você surgiu... - ele sorriu, deixando eu o beijar de novo
-Ah é ? E como surgiu ?
-Num certo dia aí... Que eu fui contratado como Clínico Geral num grande hospital do Rio. Estava lá você, lindo, com aquele jaleco que eu sempre amei...
-É o mesmo que você usa...
-É por isso mesmo que eu amo kkk Desde então você circulou por entre os meus pensamentos como ninguém mais... Porém, você é hétero... Ou achava que era... E então, eu tive que ficar calado por muito tempo, escondendo os meus pensamentos.
-Eu ainda não acredito que o seu sentimento por mim durou todos esses 2 anos sem nenhuma fagulha.
-Pois é... As vezes ele crescia, as vezes ficava bem pequenino. Mas o meu sentimento por você nunca sumiu... Nunca...
MAIS TARDE
Assumi o plantão pela manhã no dia seguinte. Com ele ao meu lado.
-O que você vai fazer ?
-Visitar alguns pacientes nos apartamentos, atender a alguns que tem consulta marcada e ver aonde está o meu bloco. Só para ter certeza que eu receitei o remédio certo.
-Ok então... Bom dia para você... - falou, indo rumo ao consultório dele. Eu fui direto para o meu. O médico anterior já havia desocupado, então fiz todos os meus preparativos. O armário aonde eu guardava todo o meu material ficava trancado com chave. Porém, quando eu abri, o cadeado estava aberto.
-Ué ?! Eu deixei isso fechado ontem... - quando abri a porta, a surpresa. Não havia nada ali. Absolutamente nada. Todas coisas minhas, que eu deixava no hospital por conveniência havia sumido. Desodorante, alguns materiais para atendimento, meus blocos, tudo havia sumido – não é possível... - peguei o meu telefone imediatamente – chame a segurança !
TEMPO DEPOIS
Fiquei atônito com tudo aquilo. Comecei a procurar para ver se não tinha deixado em outro lugar, mas não estava. Eu tinha certeza que aquilo estava lá. Eu lembrava de ter colocado.
-O que foi que houve doutor ? - a segurança perguntou, abrindo a porta do meu consultório.
-Eu fui roubado !
-Roubado ?
-É, alguém abriu o meu armário e retirou todas as coisas que eu havia deixado.
-O senhor tem certeza ?
-Absoluta ! Olha como está ! - ele foi, olhou o armário, viu o cadeado
-Ele realmente parece arrombado.
-O que vocês vão fazer ?
-Pedir para que o senhor faça um Boletim de Ocorrência. Pode ser até aqui pela internet mesmo. E quando o tiver em mãos levar lá para gente, para poder nós abrirmos o Circuito Interno do seu consultório e ver o que aconteceu.
-Ok... Mas, espera... Mais alguém tem as chaves desses armários ?
-Acho que tem a chave reserva de todos eles, que ficam guardados num cofre na sala da direção geral... Mas porquê ?
-Não, por nada... – por um ligeiro momento me passou pela cabeça que alguém poderia ter pego a chave e aberto o cadeado. Mas não era possível. Só o meu diretor geral entrava na sala da direção geral...
MINUTOS DEPOIS
Fui até a sala do Elias, pois não podia trabalhar sem os blocos.
-Elias ? Você tem alguns blocos sobrando para me dar ? Os meus estão todos em casa...
-Mas porquê ? Você esqueceu hoje ?
-Não... Me roubaram...
-Roubaram ? Mas quem roubariam uns blocos de papel que não valem nada...
-Eu não sei, mas roubaram !
-Você tem certeza que roubaram ?
-Absoluta ! Eu tinha deixado ontem tudo trancado. E agora de manhã está tudo arreganhado. Não tem nada dentro. Todos os blocos, inclusive o que eu receitei do morto estavam lá. E agora sumiram...
-Mas quem poderia ter feito isso ?
-Eu não sei... Mas isso me cheira a algo orquestrado... Primeiro, ele morre sem explicação. E agora a única prova que eu tinha para me ausentar de culpa some.
TEMPO DEPOIS
Entreguei o BO pronto na segurança e fui cumprir as minhas obrigações.
-Então é só isso doutor ?
-Sim, só isso... A sua saúde está perfeita Dona Maria, não tem com o que se preocupar.
-Ah, que bom... Então, até mais...
-Até... - logo quando a paciente saiu, o chefe da segurança entrou.
-Doutor Renato ?
-Entre... - ele entrou – e então, conseguiram as imagens ?
-Não...
-Não... Mas como não ?
-Por algum motivo a câmera da sala não estava gravando as imagens, apenas enviando ao vivo. De modo que nós não temos como ver – me irritei.
-Mas como ? Vocês são pagos para proteger este lugar e não conseguem manter as câmeras em funcionamento ?
-Isso foi um caso isolado doutor, nunca havia acontecido aqui.
-E o que vocês vão fazer agora ? Eu quero saber o que foi que aconteceu aqui ! E saber aonde foram parar as minhas coisas. Tinham laudos importantes ali, exames de pacientes muito debilitados, eu não posso simplesmente esquecer !
-Se acalme doutor ! Nós vamos fazer uma perícia na sua sala e procurar nas câmeras próximas a entrada da sala para ver quem entrou aqui ! Lhe afirmo que saberá quem fez isso !
-Assim eu espero... - não é possível ! Alguém estava fazendo aquelas coisas para tentar me prejudicar... - doutor ? - um enfermeiro bateu na porta.
-Diga ?
-O Lucas quer falar com você...
-Mais essa... Ok, eu já vou lá com ele...
MINUTOS DEPOIS
Subi alguns andares até a sala aonde ficava o diretor geral. Abri a porta, e então dei de cara com ele.
-Posso entrar ? - perguntei. Ele apenas acenou com a cabeça. Entrei em seguida – e então Lucas, o que você queria falar comigo ?
-Doutor Renato ! Estou muito desapontado...
-Desapontado ? Mas porquê ? Eu fiz alguma coisa de errado ?
-Fez... Algo que pode ter matado um paciente
-O quê ? - não entendi nada naquela hora.
-Esse formulário veio parar na minha mão. É daquele paciente que morreu ontem... Aqui diz que você receitou um remédio totalmente errado para aquele paciente, um remédio que poderia matá-lo – arregalei os olhos naquela hora
-Deixa eu ver esse formulário ! - quando eu peguei na minha mão, não era o meu formulário – espera, essa letra não é a minha ! E esse carimbo também não !
-O funcionário que me entregou isso assegura que viu você assinando este formulário...
-Quem !? Quem é esse mentiroso !
-Isso não importa... Esse mesmo funcionário me mostrou provas de que... Você é homossexual... E sabe muito bem o que eu penso de homossexuais. Você está demitido ! E eu contatei o Conselho Federal de Medicina. Está proibido de medicar, até segunda ordem !
Continua
E ai ??? Gostaram ??? Comentem e votem por favor. Beijos :)